Somos prisioneiros das Narrativas?: O debate público em Portugal
Dep.Carlos Coelho
Vamos dar início ao nosso debate da tarde. Esta foi uma
das inovações da Universidade de Verão sugeridas pelos vossos colegas há alguns
anos. A primeira Universidade de Verão não teve um debate oponente, teve só
aulas no sentido clássico. E graças às vossas contribuições, às contribuições
dos vossos colegas, decidimos introduzir um painel oponente.
O painel oponente pretende duas coias: primeiro, discutir
um tema de atualidade; e em segundo lugar proporcionar-vos a experiência de
verem duas personalidades de topo esgrimirem, com convicção, os seus argumentos
diferentes, mas também com inteligência e elegância. Ou seja, um debate não
perde contundência pelo facto de ser bem feito, com regras, com princípios e
com elevação.
Convidamos dois convidados, a Dr.ª Helena Matos e o Dr.
Salvador da Cunha, para estarem connosco esta tarde.
E porquê este tema? Hoje em dia há uma suspeição
relativamente aos grandes centros de poder. Sejam eles de natureza política ou
de natureza económica, a ideia é que a grande concentração de poder tem
consequências na comunicação e que estes centros de poder – por estratégias, ou
políticas ou económicas - constroem narrativas.
Isso pode acontecer quando uma força política dominante
tenta acomodar à sua narrativa toda a realidade. Ou quando, por via da
concentração dos meios de comunicação social, há um poder económico a tentar
vender, através dos media , também uma
narrativa.
Ora, a verdade é que, na sua essência, na sua origem, a
verdade do jornalismo, a ética do jornalismo, era assente nos factos. E um
jornalista, ou alguém que faz opinião no espaço público, ao analisar um facto,
olhava para ele em função da sua verdade intrínseca e não em função da sua
coerência ou da sua utilidade para alimentar ou combater uma narrativa
dominante.
E portanto, é este o tema do nosso debate de hoje. Nós
somos prisioneiros das narrativas, hoje em Portugal, no debate público? As
narrativas estão a esconder os factos, estão a subvalorizar os factos?
Este é o debate em que vamos ouvir a opinião dos nossos
dois convidados. Vai começar a Dr.ª Helena Matos. Ambos os oradores têm um
tempo inicial de quinze minutos, e depois o debate far-se-á em ciclos de duas
perguntas para as quais, de forma alternada, os nossos convidados iniciarão as
respostas com um período de quatro minutos para cada um. Se formos económicos
na gestão do tempo, sobrará tempo, e esperamos que sim, para o catch the eye no final das cinco rondas
de duas perguntas.
E, finalmente, o Paulo Colaço pede-me para vos recordar
que lançou na intranet, há poucos minutos, um novo desafio do JUV que é, no
final deste debate, quem quiser participar, dizer quem ganhou o debate, se
Helena Matos, se Salvador da Cunha, e porquê. Têm que apontar um vencedor e
justificar a vossa escolha. Este é o desafio do JUV que foi lançado há poucos
minutos na intranet. O JUV é o Jornal da Universidade de Verão, o nosso jornal
diário.
Muito bem, estão os dados do jogo na mesa. Dr.ª Helena
Matos, tem a palavra. Muito obrigado.
Helena Matos
Eu, de facto, penso que não medi bem, não alcancei bem,
quando disse ao Duarte que aceitava o convite que me tinha sido feito, mas
talvez as questões regionais tenham ajudado - eu sou de uma localidade aqui ao
pé, como é o Duarte, ou seja, nasci em Lisboa, mas a minha família é toda de
lá.
Quando, nos últimos dias, comecei a tomar um pouco
consciência de que isto era um pouco mais a sério do que aquilo que eu tinha
imaginado, ainda não estava nessa parte de quem é que ia ganhar o debate. E
depois a própria ideia do debate.
Acontece que faz um pouco parte da minha misantropia ser
muito avessa a responder a questionários. Portanto, basicamente, a minha
formação é na área de Letras, e profissionalmente, além daquelas coisas que
escrevo, eu faço alguns trabalhos na área dos arquivos, arquivos de imagem, arquivos
de som da RTP, nas rádios, também. E, portanto, eu tenho uma perspetiva que se
calhar não é muito diferente daquela que terá o Salvador, mas sobretudo eu
tenho uma posição que começou por ser primeiro de espanto, depois de revolta e
neste momento, talvez, de algum desencanto.
Eu escolhi uma imagem para trazer que eu acho que é
aquilo que eu sinto, muito frequentemente, quando vejo os jornais, quando vejo
as televisões, quando vejo as rádios. Eu vejo muitos jornais, talvez conheça
muito bem jornais portugueses dos anos trinta, e também bem os jornais e os
noticiários televisivos – os noticiários televisivos não tanto –, mas a
produção televisiva do período de Marcello Caetano. Portanto, o período que vai
sobretudo de 68/69, até 74. E depois o chamado PREC, que é uma coisa que vai até
75 e se prolonga até ao primeiro Governo Constitucional de 76.
E, se quisermos, esta imagem, que é um daquelas imagens
com aquelas expressões altamente irritantes, que é uma fotografia que se torna
viral – e que não tem gatinhos –, esta imagem ilustra para mim, muito, aquilo
que eu sinto perante a comunicação, e que, se eu trabalhasse na área das
agências de comunicação, como o Salvador, acho que é no espaço que vai entre
aquela baleia que salta e aquelas pessoas que não percebem que têm uma baleia
atrás. Porque, se repararem, a baleia está num lado, e as pessoas estão num
barco, pagaram aquela viagem para ir ver baleias, mas estão a olhar para o lado
contrário. Nenhum deles viu a baleia. E eles, coitados, meteram-se no barco,
aqueles coletes, devem ter feito uma viagem que deve ter demorado o seu
relativo tempo, chegaram lá, e estão todos à espera de ver baleias.
A baleia está exatamente ao lado deles, presumo eu que
até com algum risco, mas não deram pela baleia. E isto é um pouco aquilo que eu
sinto, muitas vezes, perante a comunicação. E que eu acho que é por aí que, se
quisermos, muitas vezes, políticos mais eficazes, agências de comunicação
inteligentes, conseguirão, sobretudo, fazer passar a sua mensagem.
Porque as pessoas, muitas vezes, não percebem
rigorosamente, ou não querem ver rigorosamente aquilo que lhes está a acontecer
ao lado. E é um pouco este lado entre os factos… o jornalismo, realmente, nem
sempre vê os factos. E nós temos, em Portugal, alguns casos evidentes, muito
evidentes, disso, - o jornalismo em Portugal tem, penso eu, uma das grandes
histórias de omissão em termos mundiais – que é, consegue ter o maior êxodo de
portugueses concentrados num determinado período de tempo, que acontece nos
anos 70. Acontece em 1947, 75 e 76, que é o episódio que vulgarmente ficou
conhecido por retornados.
E, hoje, curiosamente, a cobertura que se faz do que
aconteceu é muito superior à cobertura que se fez na época, em que, pensando
que as pessoas começaram a sair de África a partir dos primeiros incidentes dos
musseques de Lunda, em julho de 1974, começa a fuga dos funcionários públicos
em setembro de 74, começa a desarticulação do Estado português nos territórios
ultramarinos em novembro/dezembro de 74 – portanto, as independências só
acontecem em 75.
Mas a verdade é que as pessoas estavam a vir já aos
milhares. Nós só temos notícias a sério, com destaque sobre esse assunto, já em
1975 quando é criado o IARN – o chamado Instituto de Apoio, que não se chama
Instituto de Apoio aos Retornados Nacionais, como frequentemente se diz, mas
Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais, que é criado já em março de 75.
Quer dizer, nós hoje temos uma cobertura para a questão
dos refugiados sírios, por exemplo, muitíssimo superior, em termos visuais e de
reportagem, àquela que aconteceu em 1974 e 75, às centenas de milhares de
portugueses que estavam a chegar. Não há, por exemplo, entrevistas. Eles não
são entrevistados. Não há, na televisão, entrevistas, por exemplo.
Há pessoas que fogem de traineira, já depois das
independências – porque aquilo é uma coisa épica, são pessoas que se metem
numas traineiras, em Angola, e que vêm para Portugal, para poder trazer as
traineiras. Em Olhão estava lá um repórter …
É inimaginável vocês imaginarem um país da dimensão de
Portugal a receber, estima-se, porque nunca foram verdadeiramente
contabilizados – há uns censos a posteriori – mas estimem Portugal a receber
setecentas mil pessoas – poderão ser um bocadinho menos ou um bocadinho mais –
e não pensem que há reportagens com estas pessoas ou que há grandes coisas.
Há umas notícias sobre os problemas do aeroporto da
Portela. De facto, quando eles entopem completamente o aeroporto da Portela, há
fotografias que começam a sair, primeiro na imprensa internacional,
nomeadamente na imprensa inglesa. E, portanto, é espantoso. Pode pensar-se: não
viram? Não quiseram ver? Ou provavelmente acharam, primeiro, que aquilo não
devia acontecer; depois que, acontecendo, não se devia noticiar porque podia
influenciar, no sentido de um voto na direita, as eleições de 1975. Portugal
tem as eleições para a Constituinte em abril de 75, e portanto, de alguma
forma, aquela multidão de gente provava que, se calhar, a narrativa das
independências ou a narrativa da esquerda sobre as independências, não estava a
funcionar.
E nesta narrativa da esquerda é preciso incluir o então
PPD e o CDS, que não se pronunciavam rigorosamente sobre o assunto. E,
portanto, há umas declarações, curiosamente, do Sá Carneiro, mas que em 74 – em
75 adoece – e em 74 tinha ficado numa posição muito fragilizada, se quisermos,
na sua liderança do então PPD, porque, depois do golpe do 28 de setembro, ele
tinha ficado muito associado ao General Spínola, e portanto estava numa
situação muito fragilizada.
Depois o PPD começou naquelas suas profundas convulsões
internas, que me parecem ser, digamos, o seu estado natural. Os outros partidos
têm crises; o PPD nasceu em crise, e vive em crise e tem sempre estes problemas
com os seus líderes, que nunca estão bem. O único líder bom do PPD é o líder
morto ou deposto. Aí tornam-se umas pessoas mediaticamente interessentes. É
talvez o partido onde eu penso que é mais interessante ser ex-líder.
Aliás, o PPD tem características extraordinárias, vistas de
fora, quando se vai fazer comentário a um congresso. Há congressos
interessantíssimos, o caso dos congressos, sobretudo, do PC, que dobram as
cadeiras todas ao mesmo tempo, que é um exercício quase fabuloso de matemática.
E o PPD tem coisas extraordinárias que é aquilo do busto
do Sá Carneiro. Levam o busto, põem o busto, fazem aqueles congressos, onde ali
às duas da manhã podem acontecer as coisas mais extraordinárias, aparecer
alguém a dizer as coisas mais fantásticas, ou mesmo a meio do congresso, nas
horas fortes. Acabam aquilo tudo, pegam outra vez no busto… Reparem no número
de congressos que há tiveram, o número de secretários-gerais que já tiveram. É
muito superior ao dos outros partidos. Isto quer dizer qualquer coisa.
Portanto, em 75 era isto em pior. Também não havia propriamente
declarações… e era dificílimo fazer qualquer declaração que contrariasse aquela
perspetiva das coisas.
E, portanto, os jornalistas portugueses, de alguma forma,
deixaram passar aquela que foi uma das suas grandes histórias do século XX. É a
mesma coisa que não se fazerem notícias sobre o 25 de Abril; ou não se fazerem
notícias sobre a primeira manifestação do primeiro de maio de 1974; ou não se
fazerem notícias agora sobre incêndios. Achariam normal que não se fizessem
notícias sobre os incêndios florestais este verão?
É, de repente, nós termos um tremor de terra…
Salvador da Cunha
Helena, não se deviam fazer notícias sobre incêndios.
Helena Matos
Eu percebo o que quer dizer, sobre as chamas, não é?
Sim. Mas uma coisa é noticiar os incêndios; outra coisa é
mostrar as imagens dos incêndios. E isso, apesar de tudo, tem havido uma
moderação.
Eu estive exatamente a ver no arquivo da RTP de imagens,
para uma pequena peça que não sei exatamente quando será emitida, que em 1966,
uma semana e pouco depois da inauguração da ponte sobre o Tejo – portanto, o
regime estava, digamos, que no seu auge de investimento, obras públicas,
crescimento económico – e acontece em Portugal um desastre terrível que é a
Serra de Sintra arde. E começa, na altura, a haver os grandes incêndios; há
grandes incêndios no norte, Santa Luzia, Águeda. E há o incêndio da Serra de
Sintra.
Os incêndios florestais começam a ganhar uma grande
dimensão nessa época, depois, sobretudo, vão crescer muito nos anos oitenta.
São chamados os militares para combater o incêndio, e morrem, a combater o
incêndio da Serra de Sintra, vinte e cinco soldados. Ficam queimados na Serra
de Sintra, aliás eles morrem por asfixia. Este é um dos grandes problemas, quando
as populações dizem: porque é que os militares não vão combater os incêndios?
Para combater incêndios é preciso saber combater incêndios.
E é completamente diferente a cobertura noticiosa que se
faz nos anos 60, 70 e 80, daquela que se faz dos incêndios. Fazer uma
reportagem sobre incêndios, nessa época, era a câmara parada naquela imagem
quase magnética das chamas que, de facto, se presume que estimula os pirómanos.
Hoje em dia não se faz aquele tipo de cobertura, apesar de tudo, penso que tem
havido alguma autocontenção. Não tenho a certeza, mas saberá melhor do que eu.
Mas terá havido alguma autocontenção…
Se quiserem ver nos anos 60 e 70, a câmara fica fascinada
com o fogo. Sobretudo com uma imagem que é cinematograficamente poderosa que é
o fogo e um homem sozinho a combater o fogo em contraluz. É um plano
extraordinário, mas que a pessoa, muitas vezes, tem de se interrogar se o põe
no ar ou não põe no ar.
Eu tenho, em relação a esta matéria, uma posição. Eu, em
geral, acho que, no caso dos incêndios, se deve noticiar, ter algum cuidado com
a divulgação das imagens, mas tudo o que tenha a ver com a parte económica, com
a parte politica, com a parte social, a não ser que envolva crianças,
deficientes mentais, ou pessoas que, de alguma forma, não estão na posse dos
seus direitos ou de os poder exercer, eu acho que se deve publicar.
Em relação às notícias que nós sabemos que podem
estimular na opinião pública determinado tipo de surtos, acho que se devem
noticiar e seguir aquilo que talvez seja um bocadinho a tendência do momento,
que pode não ser a tendência daí a dez ou quinze anos. Neste momento
acredita-se que, provavelmente, a divulgação de imagens - o Salvador saberá mais
sobre isso que que eu -, pode estimular os incêndios.
Portanto, aquilo que a mim me parece, é que – e porque
estou quase a atingir o limite do meu tempo – é que, na comunicação, para lá
dos factos que se vão relatando, às vezes com algum detalhe, outras com menos,
o lado, se quisermos, mais interessante, mais fascinante e mais perigoso, e no
caso da comunicação social portuguesa, que é uma comunicação relativamente, se
quisermos, domesticada e pacífica, e muitas vezes muito subserviente sobretudo
com o poder económico, e com o poder desportivo – talvez com o poder desportivo
muito mais do que com o poder económico e até do que com o poder político – se
repararmos, qualquer notícia sobre doping não é feita nos jornais desportivos,
as mortes precoces no desporto, as questões das contratações, a corrupção no
desporto, tudo isso nos chega pela outra comunicação.
E, portanto, aquilo que me parece tão interessante quanto
aquilo que se publica, ou ainda mais interessante do que aquilo que se publica,
é aquilo que não se publicou, ou que se publicou poucochinho, e o publicar
poucochinho - sem qualquer conotação para a palavra poucochinho, neste contexto
– é mesmo aquilo que me fascina e interessa.
[Aplausos]
Salvador da Cunha
Eu tenho aqui algumas coisas a dizer. Primeiro quero
agradecer também ao Duarte o convite que foi feito, e aqui à Universidade de
Verão do PSD, é um orgulho estar aqui convosco.
Eu sou independente, não sou do PSD, também não sou do
CDS, mas sou da vossa área política, portanto, claramente vou falar um
bocadinho sobre isso, e vou trazer-nos de volta ao século XXI, se não se
importam, porque, parece-me a mim que ninguém tinha nascido na altura em que as
coisas de que a Helena falou aconteceram.
Antes de entrar no meu tema, eu se calhar vou falar aqui
um bocadinho sobre o que eu acho… alguns exemplos sobre a questão dos
incêndios, por exemplo, ou a questão da subserviência da comunicação social.
Há três semanas atrás estive em Paredes de Coura, nós
fizemos o festival de Paredes de Coura, a Vodafone é um dos nossos clientes, e
portanto produzimos o festival de Paredes de Coura, e quando lá cheguei estava
tudo a arder. Mas não havia uma única notícia sobre incêndios em Paredes de
Coura. E eu perguntei o que é que se está a passar aqui?
Então o Presidente da Câmara – isto, eu não tenho a
certeza de ser verdade, mas disse-me um dos meus colaboradores -, o Presidente
da Câmara, a todos os telefonemas que tinha de jornalistas a perguntar se havia
incêndios, dizia: não, não, há aqui uns fogachos, mas já está tudo apagado.
Não era verdade, estava a arder por todo o lado, mas ele
tinha o festival. E aquilo é muito longe; portanto ninguém vai lá verificar se
há incêndios ou não há incêndios. E aqui está a questão das narrativas. A
verdade pode-se sobrepor ou não se pode sobrepor ao interesse de determinada
região ou determinada situação.
Eu tenho uma agência de comunicação há vinte anos,
chama-se Lift, é uma das maiores, dá-me alguma dor de cabeça do ponto de vista
empresarial, tenho muitas pessoas a trabalhar para mim, mas eu sou um defensor
de interesses e, portanto, eu claramente acho que o Presidente da Câmara de
Paredes de Coura tinha toda a razão em fazer o que fez, porque ele tinha de
defender o festival de Paredes de Coura. E o que é facto que o pessoal esteve
lá, divertiu-se à ufa e os incêndios foram apagados e agora as coisas vão
entrar na normalidade.
E isto tem implicações no facto noticioso? É evidente que
sim. É evidente que ele fez uma coisa que foi uma tentativa de manipulação da
comunicação social. Agora a comunicação social também tem responsabilidades –
não foi lá ver. Não tem de ir lá ver… Estava lá toda, by the way. Só que era uma comunicação social diferente, era uma
comunicação social muito mais vocacionada para a cobertura de eventos musicais,
não estavam tão vocacionados para a cobertura de eventos como os incêndios.
E isto eu acho notável. Porque a comunicação tem muito a
ver com interesses. Se vocês pensarem que talvez 80% de tudo o que leem nos
jornais tem a ver com fontes organizadas de informação, percebem que há um
equilíbrio claríssimo entre as narrativas das várias partes interessadas.
Enfim, na área política, o PS tem as suas narrativas, o
PSD tem as suas narrativas. O PS mais espertalhão, o PSD eventualmente mais
ingénuo – já lá vamos. O PS mais controlador, o PSD mais liberal, e aqui eu acho
que o liberalismo tem que ter alguma… do ponto de vista da eficácia da
comunicação.
Agora, entre um mundo, como a Helena estava há pouco a
falar, em que a liberdade de imprensa é o expoente máximo, que eu acho que é –
acho que os jornalistas têm que ter liberdade para ter as suas próprias
interpretações –, e um mundo em que cada um tem que ter a sua própria narrativa
para defender os seus próprios interesses, e depois cabe ao jornalista, se
tiver tempo e dinheiro, e o grande problema da subserviência é: têm ou não têm
dinheiro para fazer as coisas? E o que é facto é que não têm. Os nossos grupos
de comunicação social estão todos, sem exceção, falidos. Todos, sem exceção,
falidos. Isto é, capitais próprios negativos.
By the way, eu não sou doutor, mas tenho
alguma formação em economia – fiz cinco anos de economia e depois não acabei o
curso. Portanto, ninguém me pode dizer nunca que eu sou doutor. Portanto,
retirem aí o "doutorzinho” do Salvador da Cunha no papel.
Mas tenho alguma formação em economia, e quando faça a
análise das contas dos meios de comunicação social, o que eu verifico é que
eles estão tecnicamente falidos, isto é, têm capitais próprios inferiores a
metade do capital social, ou mesmo negativos.
E estamos a falar dos principais. Estamos a falar da
Media Capital, estamos a falar do grupo Impresa, estamos a falar do grupo do
Estado, da RTP, não sei como se chama agora, mas é RTP, RDP, etc.; estamos a
falar do grupo Cofina, que talvez seja o que está um bocadinho melhor do que os
outros, mas que também tem capitais próprios inferiores a metade do capital
social.
E portanto, o que é que acontece? Acontece que os
jornalistas não têm meios para cobrir os eventos.
Falando agora também um bocadinho dos eventos. Que tipo
de eventos é que nós temos hoje em dia para cobrir? Temos os eventos factuais.
Hoje há uma tempestade nos Açores. Vamos cobrir a tempestade nos Açores, é
factual, toda a gente acredita no que ali está.
Outra coisa é: hoje há uma capitalização da Caixa Geral
de Depósitos, porque há uma narrativa onde alguém se teve de encaixar, para
fazer uma capitalização da Caixa Geral de Depósitos – e isto é muito importante
que vocês entendam isto -, há uma narrativa que é preciso preservar que é a
narrativa de eu não posso ter défices excessivos, não posso entrar no
procedimento de défice excessivo. Portanto, não posso ter ajuda de Estado, e
como não posso ter ajuda de Estado e preciso de capitalizar a Caixa Geral de
Depósitos, vou encontrar manigâncias à la (como é que se chama?) geringonça, para capitalizar a Caixa Geral de Depósitos
sem parecer que eu estou a ajudar a Caixa Geral de Depósitos.
E isto é claramente uma manipulação. O que é que
acontece? Ninguém conseguiu desconstruir esta brincadeira. E portanto, o PS
levou-a avante. Porquê? Ou a malta estava de férias. Perfeito. E isto faz-se
tudo durante as férias. De resto, a novela da administração da Caixa Geral de
Depósitos poderia ter sido um escândalo muito mais aproveitado pelo CDS e pelo
PSD do que foi. Porque eu acho que efetivamente aquilo foi uma escandaleira absolutamente
inacreditável. Mas não foi. Na minha perspetiva, por falta de organização. É
evidente que se falou sobre isso. Mas não houve uma estratégia concertada para
falar sobre isso.
Vamos então falar em equilíbrios. Quais são os
equilíbrios que existem nas narrativas? Para além dos factos, que são os
incêndios, que são as tempestades, que são os desastres de automóvel, que são
as coisas que acontecem e que são factualmente retratadas pela comunicação
social, tudo o resto tem várias versões. E as várias versões têm que se
equilibrar. E para se equilibrarem têm que ter estruturas organizadas, para se
equilibrarem. E a comunicação social tem que ter a independência suficiente
para poder relatar, tentativamente, independentemente, cada uma das versões, e
encontrar aqui um equilíbrio.
E depois os leitores, que são vocês, que são ou não são
leitores, têm que ter o discernimento de acreditar ou não acreditar naquilo que
estão a ouvir. E nós não podemos, na minha perspetiva, ser, entre aspas, mais
papistas do que o papa, ou ser maternalistas ou paternalistas com as pessoas, e
achar que as pessoas não têm, quando leem uma notícia, o discernimento para
acreditar ou não acreditar nessa notícia.
Há sempre um grau de cinzento entre a verdade e a
interpretação da verdade. E há sempre quem tenha uma interpretação e quem tenha
outra interpretação.
E agora entrando dentro da comunicação política, o que eu
acho é que a política tem duas grandes vertentes, ou deveria ter duas grandes
vertentes, e talvez os Estados Unidos seja o país que mais nos ensina isso. Tem
uma vertente ideológica, claríssima, que depois pode ser exercida na oposição
ou no governo. E, portanto, no governo governa-se, na oposição dá-se ideias e
tenta-se desconstruir ideologicamente aquilo que está do outro lado.
Mas depois há uma questão de comunicação que é muito
importante, porque as ideias dos partidos têm que chegar às pessoas. E as
pessoas têm que se rever nessas ideias e, no fundo, têm que perceber aonde é
que vão estar dentro dos equilíbrios daquilo que leem e daquilo que ouvem.
E isto é um ecossistema. E é um ecossistema que existe, é
um ecossistema que está montado e é um ecossistema que, neste momento, na minha
perspetiva, está dominado pela esquerda em Portugal. A comunicação social está
dominada pela esquerda.
Eu vou fazer-vos aqui uma leitura de uma frase
interessantíssima do Pedro Santos Guerreiro, que é diretor do Expresso, e que é
um grande amigo meu, com quem eu trabalhei durante alguns anos no Jornal de
Negócios, que de resto fundei.
E o Pedro diz o seguinte (isto foi há duas semanas, dia
13 de agosto): a diferença é que, enquanto o PS prometeu esperança, o PSD
prometeu desesperança; enquanto o PSD prometeu realismo no discurso e mudança
do que era, o PS prometeu sonho no discurso e mudança para o que era.
Isto é absolutamente verdade. Absolutamente verdade.
Agora vocês dizem: para que é que nós vamos dizer a verdade aos portugueses? Para
que é que nós vamos dizer que lhes vamos tirar as pensões? Para que é que nós
lhes vamos dizer que o défice é absolutamente astronómico, como é que dizia o…
colossal, exatamente, que o défice é colossal e que vamos ter um brutal aumento
de impostos? Quando nós podemos aligeirar isto e não dizer aos portugueses as
coisas que eles não querem ouvir.
O que os portugueses têm que acreditar é que há um
partido que faz as coisas melhor do que outro. E que no fim do dia, a longo
prazo, nós vamos estar todos melhor. Mas as pessoas acreditam muito no curto
prazo. Acreditam sobretudo no curto prazo.
E também sobre narrativas, uma das coisas
interessantíssimas, do ponto de vista de análise política, foi ver porque é que
a Escócia votou para se manter dentro do Reino Unido, quando as sondagens davam
todas o contrário. Porque de repente, houve alguém que se lembrou que se vocês
saem daqui, as vossas pensões estão em causa. Ora bem, isto é o bolso de cada
um, e ao meu bolso ninguém vai. Como ao meu bolso ninguém vai, eu voto naquilo
que não me vai ao bolso.
E eu acho que o PSD nunca percebeu isto. Sinceramente, eu
acho que o PSD nunca percebeu que não podia falar de austeridade. De resto, eu
acho que austeridade devia ser uma palavra proibida dentro do PSD. Não se pode
falar sobre esta palavra. Porque esta é uma palavra que está claramente associada
ao Dr. Pedro Passos Coelho, e é uma palavra que está claramente associada ao
PSD, e que o João Galamba, brilhantemente, faz questão de dizer sempre isso,
sempre isso! O João Galamba tem ali uma coisa que é PSD-austeridade. E está
sempre a dizer a mesma coisa.
Eu também já estou quase dentro do meu tempo. Já falei
aqui um bocadinho sobre aquela questão da Caixa Geral de Depósitos, e gostaria
de terminar a minha intervenção inicial com o seguinte.
Há governos que governam mal e comunicam muito bem. Governam
mal. A geringonça governa mal e o António Costa comunica muito bem. Não é o
governo que comunica bem, é o António Costa, porque o governo do António Costa
praticamente não existe. Só ele é que comunica e está praticamente, só ele, em
cima da comunicação política. E há governos que governam bem e comunicam muito
mal.
O que é que eu acho que os portugueses precisam de ter?
Um governo que governe bem e que comunique bem. E que, portanto, tenha
estruturas de comunicação que não se autocondicionem, que, no fundo, digam às
pessoas aquilo que elas querem ouvir e que façam as coisas de forma a que isto
seja mais ou menos verdade. É evidente que a ideologia tem que se encaixar um
bocadinho nisto. Mas é isso que o PS está a fazer, é isso que a geringonça está
a fazer. Está a tentar enquadrar a comunicação, mas está a fazer coisas
completamente diferentes daquelas que comunica. E a nossa comunicação social
não está a ter a visão para perceber o que se está a passar, até porque
ideologicamente está mais próxima da esquerda.
Helena Matos
Isto seria fácil, esta posição do Salvador, seria fácil
se não houvesse futuro. Ou seja, a questão… em primeiro lugar, eu acho que
austeridade é uma palavra que toda a gente devia ter em conta quando mexe no
dinheiro dos outros. Portanto, a austeridade não me parece sequer que seja uma
opção. Acho que devia ser uma condição quando se mexe no dinheiro dos
contribuintes. Que austeridade seja uma palavra exótica em Portugal é que dá
que pensar.
Porque, de facto, eu posso não ser austera com o meu
dinheiro, mas é minha opção, ele é meu. Quer dizer, depende, grande parte dele
pertence à Direção Geral das Contribuições e Impostos ou Autoridade Tributária
e Aduaneira. Mas daquele pouco que ainda se considera que nos resta, eu poderei
ainda com ele, durante algum tempo, aquilo que quiser.
Salvador da Cunha
Helena, está a falar de austeridade ou seriedade? É
porque austeridade tem um problema, que é: eu não faço investimentos do Estado,
e investimentos do Estado são essenciais para fazer o crescimento do PIB. É uma
das componentes. Seriedade, sim, austeridade, enfim…
Helena Matos
Mas já funcionou mais do que está a funcionar. Há, de
facto, um problema com o século XX, que é – e nós estamos no XXI, eu sei –, mas
é que a classe política portuguesa, tal como os jornalistas não tiveram
capacidade de perceber que estavam a chegar oitocentas mil pessoas, e nunca as
mostraram, ou só as mostraram muito tardiamente e quando os ingleses as
filmaram e as fotografaram, e o Sebastião Salgado também as fotografou, e tudo
isso, nós temos de perceber uma outra coisa: é que a classe política portuguesa
associou, porque não teve qualquer capacidade de contrapor esse discurso à
esquerda, e assim, de facto, tal como o PPD achava que era leninista, ficamos
todos leninistas, nesse sentido, e que é o seguinte: associar-se democracia a
inscrever no Diário do Governo, que depois se torna da República, um conjunto
de direitos independentemente de eles serem passíveis de ser ou não
assegurados.
Se quisermos, nós mantivemo-nos numa ingenuidade de
Estado Novo em relação à riqueza. Os portugueses viveram, de facto, décadas a
achar que o Dr. Salazar dava ou não dava, consoante os bons ou os maus humores
do Dr. Salazar. Depois, claro, veio o crescimento com o Prof. Marcello Caetano,
e dava, os governos davam. O que é espantoso é que se continua a dizer que os
governos dão, quando os governos não dão nada. As únicas pessoas que dão são os
desgraçados dos contribuintes - ninguém mais dá nada.
Eu percebo perfeitamente aquilo que quis dizer, mas é que
– e isso funciona muito bem em termos de agência de comunicação, e tendo em
conta que boa parte da comunicação social é ideologicamente, se quisermos, de
esquerda. Por exemplo, quando se consegue pôr como título que determinado
governante - qualquer um deles, agora não interessa - diz que não vai haver
cortes na Segurança Social, é preciso estar em absoluto… para já, já há cortes.
Depois foi introduzido o chamado índice de sustentabilidade que representa um
corte para todos nós. E que, de alguma forma, para esta nossa plateia, os
deixará ficar com uma pensões muito inferiores - mesmo que não haja cortes,
oficialmente – muito inferiores àquelas que são praticadas hoje em dia.
E depois tem de haver cortes, porque mesmo que fossemos
agora daqui – aqueles que têm idade – fazer filhos, não conseguíamos ter
crianças que chegassem, mesmo que elas tivessem emprego, para assegurar aquilo
que a Segurança Social assegura hoje. Portanto haverá sempre cortes.
Mas, aquilo que me preocupa, é que eu acho que
seguíssemos esse caminho que disse, acabaríamos na Venezuela. Porque…
Salvador da Cunha
Qual caminho, qual caminho?
Helena Matos
O fazer sem dizer. Eu acho que se pode fazer… porque a
determinada altura a décalage entre a realidade e o discurso é tal que, o que
sobra, é a rua. E aí a esquerda será sempre mais eficaz, porque tem sempre um
paraíso, que é o socialismo, para oferecer. Qual é o paraíso do centro-direita?
Não existe, não há paraíso, não há amanhãs que cantam. Não há! Isso dos amanhãs
que cantam… nós gozamos muito com isso, com os amanhãs que cantavam, mas,
apesar de tudo, isso funciona.
Ou seja, sem paraíso para prometer, porque não há socialismo,
o que é que pode prometer?
Salvador da Cunha
O sonho americano, por exemplo.
Helena Matos
Mas o sonho americano, aqui é um crime. O enriquecer, não
é? Nós temos de ser todos iguais.
[Aplausos]
Salvador da Cunha
Aí estamos, seguramente, ideologicamente em consonância.
Dep.Carlos Coelho
Helena, concluiu o seu reparo? Salvador da Cunha.
Salvador da Cunha
Eu há pouco – voltando aqui um bocadinho ao passado e ao
presente – eu falei sobre os grupos de comunicação social estarem falidos.
Acontece que os grupos de comunicação social há quarenta anos atrás eram muito
incipientes. Não sei se a Helena tem a noção, por exemplo, que quando o João
Paulo II foi eleito papa, havia uma televisão do Vaticano a transmitir para
todas as televisões do mundo. Quando o João Paulo II morreu haviam centenas,
senão milhares de canais de televisão, a cobrir o acontecimento. Portanto,
estamos a falar em épocas totalmente diferentes.
Não só estamos a falar em épocas totalmente diferentes do
ponto de vista da comunicação social, como cada um de nós, hoje em dia, é um
jornalista em potência. Esta sala tem cem pessoas, e cada um de vocês tem pelo
menos quinhentos amigos no Facebook. Eu posso dizer que estou a falar para
cinquenta mil pessoas, se vocês forem partilhar tudo o que eu disser aqui. É
evidente que não vão, mas cada um de vocês tem opinião e cada um de vocês pode
dizer o que achar que quer, e tem a liberdade total para o fazer, razão pela
qual nós nunca vamos acabar na Venezuela.
Helena Matos
Não é bem assim. Desculpe, apesar de tudo, eles na
Venezuela têm Youtube, têm Facebook, têm tudo isso, e nós podemos ver como uma
sociedade que, ao contrário das outras – nós estamos é na Europa, não estamos
na América Latina, e a geografia conta. Quer se goste quer não se goste, a geografia
conta -, e o que é espantoso na Venezuela é que, ao contrário dos outros países
da América Latina, até nem tinha tido muito aquelas experiências exóticas de
umas ditaduras, mais ou menos duras, e aqueles regimes mais ou menos
folclóricos. Estamos perante uma das sociedades que até nem era das mais
estrambólicas, neste sentido político, e de repente… é que o populismo é muito
pior do que as cerejas, é mesmo começar.
E aquilo que nós temos visto na Venezuela é a degradação
de uma sociedade e, neste momento, já há total incapacidade. Ou seja, o que é
que restou àquelas oposições? Porque eles, no início, experimentaram tudo.
Experimentaram o discurso mais duro, do equivalente à nossa austeridade, depois
experimentaram a versão também de tentar concorrer no populismo, depois
experimentaram tanto, tanto, tanto, que acabaram na cadeia. E neste momento o
que nós já temos são as manifestações com as mulheres dos líderes políticos à
frente porque os líderes políticos já estão todos presos.
Salvador da Cunha
Tem toda a razão. Quando eu quis dizer que nós não temos
que dizer tudo, não temos que explicar tudo às pessoas, não tem a ver com
esconder. Tem a ver com o facto de as pessoas terem que acreditar que há alguma
honestidade e alguma seriedade por trás do que se está a fazer.
O povo português, há dez anos atrás, não sabia o que era
o défice, não fazia a mínima ideia do que era a dívida. E, portanto, não queria
saber. O défice era pequeno, a dívida era pequena, não havia grande problema. O
que acontece hoje em dia é que, entrando numa crise económica como a que nós
tivemos, todos vocês já ouviram falar do défice, todos vocês já ouviram falar
da dívida.
Agora eu pergunto: quem é que sabe, claramente, o que é o
défice, o que é a dívida? Provavelmente, muito pouca gente, daquela que lê os
jornais, daquela que vê televisão, sabe o que é o défice, sabe o que é a
dívida. Então porque é que nós estamos a falar sobre isso? Para que é que é
preciso falar sobre o défice e sobre a dívida? É só para distrair. Porque as pessoas
não sabem o que isso é. Não entendem o impacto que isso vai ter.
Aumento de impostos? Sim, entendem. Vai ao bolso. Défice
e dívida? Ah!
Transparência não é nudez. Não temos que ser
completamente nus, não temos que estar de maminhas ao léu. Não temos que estar
numa praia de nudismo a mostrar tudo. Temos que mostrar o que as pessoas
compreendem. Portanto, as narrativas servem para isso. Servem para as pessoas,
acreditando que quem lá está é honesto, acreditando que quem lá está é honesto
– não é à toa que o Salazar, tendo sido um ditador, foi eleito o homem do
século, em Portugal, que é uma coisa absolutamente extraordinária, é uma coisa
absolutamente extraordinária. Continua a haver uma certa direita que está
contra o 25 de Abril. Eu também estava contra o 25 de Abril porque o meu pai
foi saneado, mas isso eu tinha oito anos e acabou-me ao doze.
Helena Matos
Mas sabe que eu acho que a explicação para o facto de o
Salazar ter sido eleito o maior português de sempre, foi só por uma birra de
pessoas que acharam que aquilo estava montado para que o Mário Soares fosse
eleito o maior português de sempre. Sinceramente, acho sinceramente que foi
isso.
Isto foi a tal ponto que, nos outros países, os espanhóis
fizeram-no e tiraram o Franco.
Salvador da Cunha
Mas veja que a narrativa do Franco é ao contrário. Foi o
Franco que se auto tirou e pôs lá o rei. Está a ver, a questão das narrativas.
E a História vai dizer o quê? Que foram os espanhóis que tiraram o Franco ou
que foi o Franco que achou que, afinal, aquilo já não resultava e voltou a pôr
o rei? O que a História vai dizer é isto.
Helena Matos
Sim, mas aquilo que eu penso, quando ouço essa questão, o
que é que nós vamos dizer às pessoas ou o que é que nós não vamos dizer às
pessoas? Eu acho que, em termos políticos, há o tal enviesamento de esquerda da
comunicação…
Eu tenho uma posição muito pouco simpática nestas coisas.
Ou seja, eu não tenho a menor paciência para os jornalistas que querem fazer
jornalismo com consciência social, para os pais que querem ser os maiores
amigos dos filhos, para os professores que são uns sujeitos porreiros e se dão
muito bem com os alunos… Para as pessoas que não querem desempenhar a sua
função.
Ou seja, eu se vou ao médico, quero que o médico me trate,
não quero que ele seja o meu maior amigo. Eu não quero que o Presidente da
República me dê abraços, eu tenho no meu agregado quem me dê abraços. E a
simples possibilidade de um Presidente da República me dar um abraço, é uma
coisa que não me agrada.
Eu não quero que o meu senhorio seja social. Eu quero que
ele seja senhorio, que faça as obras que tem de fazer nas escadas, que trate do
que tem de tratar.
Ou seja, nós vivemos há alguns anos numa espécie de
transposição, em que cada um de nós não quer muito bem fazer aquilo que está a
fazer, porque tem essa parte desagradável, e quer fazer a outra parte. Os
juízes querem ser sociólogos, os sociólogos acham-se um bocadinho psicólogos,
os psicólogos acham que são um bocadinho pais, e andamos todos a fazer de conta
que somos outra coisa.
Quando nós chegamos aos políticos e eles resolvem que
querem ser outra coisa, o caso complica-se mesmo muito seriamente. É isso que
me preocupa.
[Aplausos]
Salvador da Cunha
Entrando pelos abraços do Presidente da República – e o
Presidente da República, na minha opinião, é uma pessoa superiormente
inteligente, superiormente inteligente – o Presidente da República é eleito no
meio de uma geringonça, e ele pensa: como é que eu trato disto? Trato disto à
força ou eu trato disto de outra maneira? E está a tratar disto de outra
maneira. Até porque, neste momento, o Presidente da República não se revê na
liderança atual do PSD. Eu também sou independente, posso dizer isto à vontade.
Portanto, se calhar, uma liderança nova no PSD seria
melhor para ele, e portanto o tempo também corre a favor.
Helena Matos
Seria pior, ó Salvador, seria pior, porque se ele, de
facto, não tivesse o sonho ou a intenção, ou a aspiração de conseguir mudar a
liderança do PSD, se tivesse uma liderança do PSD mais próxima de si, seria
muito inconveniente para ele, porque seria colado a essa liderança do PSD pela
geringonça.
Salvador da Cunha
Eu por acaso acho que não, porque acho que ele já não
está nesse estágio. Eu acho que ele, sinceramente, hoje em dia – apesar de ser,
eu diria, "marciavélico”, porque é – eu acho que ele neste momento está
genuinamente interessado em que o país saia de uma situação muito grave onde
está, e que as pessoas não têm consciência onde está. O caminho por onde o país
está a convergir, é um caminho absolutamente inacreditável, que o PSD não está
a saber – o PSD nem o CDS – não está a saber explicar aos portugueses.
Nós estamos a caminho claramente de um segundo resgate, e
as pessoas não têm ideia disso. Não têm ideia disso porque o governo não deixa
e o Marcelo está a fazer, na minha opinião, uma coisa muito bem feita, que é
ser o mais popular de todos os presidentes de sempre e tentar meter, com isso,
medo à geringonça. Eu acho que é isso que ele está a tentar fazer.
Porque ele consegue condicionar algumas das opções do
António Costa pelo populismo dele próprio. Agora, se eu perguntar à audiência,
vocês acham que ele é um bom Presidente da República ou ele é um bom
comunicador?
Helena Matos
A minha opinião é que ele é, de facto, um excelente
comunicador, é alguém notável em termos de comunicação. Mas não creio que a peronização do regime nos traga qualquer
vantagem.
Note, eu tenho uma visão de um Presidente da República
com uma interpretação relativamente aos seus poderes… os poderes do Presidente
da República são o que são. E é óbvio a vontade de usar, se quisermos, agora
não a rua, como usou o Perón, mas o povo da televisão. Usar o povo das
audiências para, de alguma forma, pressionar o governo.
A questão é como é que isso tudo, depois, se pode
traduzir em apoio político. E, passar a mensagem, eu penso que será muito
interessante do ponto de vista do próprio, ser neste momento um Presidente com
fortes índices de popularidade. Tenho sérias dúvidas de que algumas das
mensagens que tem passado sejam as que mais interessam ao país no alertar para
o grave caminho que estamos a tomar.
De facto, o Presidente da República ganha espaço de
manobra, mas a sua mensagem, sobretudo nas áreas económicas, é de tal forma
ligeira e aligeirante, que pode acontecer que, quando o que é inevitável se
tornar óbvio, que os portugueses reajam: ninguém nos avisou.
Dep.Carlos Coelho
Salvador da Cunha, último comentário antes de passarmos para
a fase das perguntas.
Salvador da Cunha
Em relação a isso, eu acho que é uma questão tática e é
uma questão que tem a ver com a eficácia. Provocar eleições agora, se calhar,
não nos leva a lado nenhum. Por essa via, provavelmente, o Presidente da
República não está a querer puxar a corda, está a tentar ver se as coisas não
vão demasiado rápido naquilo que a geringonça quer fazer.
Voltando um bocadinho às narrativas, se não se importam.
É perfeitamente essencial que o PSD estruture – vamos lá a ver, eu não conheço
a estrutura de comunicação do PSD profundamente. Lidei com ela brevemente
durante alguns meses, no princípio do governo do Dr. Passos Coelho, mas
rapidamente me afastei, as coisas não estavam bem organizadas. Não sei como é
que ela está organizada hoje, mas claramente acho que está pior organizada do
que está a estrutura do PS. E acho que tem de ser organizar não só de uma forma
proactiva, como de uma forma reativa.
Ou seja, tem que haver uma estrutura profissional de
comunicação, que não tem a ver só com assessores de imprensa. Os assessores de
imprensa são uma peça de sete peças que são necessárias neste puzzle. Tem a ver
com uma estrutura de combater as narrativas com ideologia, desmontar os mitos,
desmentir as mentiras, e desmentir as mentiras todos os dias, a todas as horas,
com toda a gente.
E agora vou dizer uma frase que é minha, que é: se uma
mentira dita várias vezes se pode tornar verdade, uma mentira desmentida o
dobro das vezes não se torna verdade. Ela tem de ser sempre desmentida. E o PSD
tem que ter esta característica de encontrar uma estrutura que esteja
permanentemente a olhar o que se está a passar e a desmentir tudo o que é
feito, todas as mentiras que são ditas em todas as suas vertentes.
Estou a falar de mentiras, estou a falar de mitos, estou
a falar de desmistificações. E depois estou a falar também de proximidade. O
PSD tem que ter muito mais proximidade com os órgãos de comunicação social. O
PSD não pode achar, como eu já ouvi muitas vezes dizer: os jornalistas não entendem
nada disso, portanto é irrelevante estar-lhes a explicar as coisas.
É o contrário! Tem que haver proximidade. Tem que haver
uma coisa que é o spending time together.
Vocês não podem falar com uma pessoa que não conhecem de lado nenhum, para lhe
explicar uma história, e ela diz assim: este gajo está aqui a vender-me a banha
da cobra. Agora, se vocês jantarem com essa pessoa três vezes por semana – isto
é um exagero, como é óbvio – vocês já conseguem contar uma história e ela
consegue compreender essa história.
É outra das questões que tem que acontecer. Tem que haver
uma estrutura de contextualização, de enquadramento da comunicação social em
relação à ideologia de um lado e do outro. Quando há alguma ideologia que vem
do PS, o PSD tem que a contradizer, tem que fazer a contrabalança, e tem que
fazer isso permanentemente, e tem que fazer isso profissionalmente, e não pode
fazer isso… (acabou o tempo?) e não pode fazer isso de forma ligeira, tem que
fazer isso de forma profissional.
Se eu posso fazer uma recomendação, do ponto de vista
deste assunto, é que haja uma profissionalização à séria da estrutura de
comunicação do PSD.
Duarte Marques
Vamos agora passar para a parte das perguntas de cada
grupo. Vamos fazer blocos de dois. Pedia a atenção ao tempo, façam mesmo só uma
pergunta, porque temos que aproveitar a oportunidade de ter aqui dois oradores.
Como vão ambos comentar pedia-vos que fizessem mesmo só uma pergunta.
A primeira pergunta vai ser do Grupo Roxo, o Hugo
Ferreira, e de seguida o Miguel Sousa Borges, do Grupo Azul.
Hugo Ferreira
Muito boa tarde. Queria agradecer a ambos os oradores,
por um lado o Salvador pela, como hei de dizer, análise que fez que está muito
próxima e, de certo modo, respondeu em parte à pergunta que eu ia fazer no contexto
que é o PSD; e à Helena pelos exemplos históricos que dá e que são muito
valiosos para entender estas questões.
De facto, o PSD tem, a meu ver, um défice, neste momento
muito elevado, no que representa a comunicação. E, como bem disse, depois de
tantas mentiras, depois de tantas falácias, depois de tantas estratégias
falhadas, tantas narrativas, torna-se gritante que o PSD não consiga, de um
modo eficaz, desmenti-las e fazer passar isso para a comunicação social.
Neste sentido, gostava também de saber a opinião da
Helena, e por onde é que pode passar o futuro da narrativa e da comunicação do
PSD, e ao Salvador, desenvolver essa proposta que assinalou, a
profissionalização da comunicação.
Obrigado.
Duarte Marques
Obrigado. Miguel…
Miguel Serra Borges
Boa tarde. A pergunta que tinha para os oradores que aqui
temos esta tarde era a seguinte: há jornais que, na praça pública, são muitas
vezes percebidos como direita e de esquerda, e há muita gente que acha assim,
que temos jornais de direita e de esquerda. E a minha pergunta é: estando vocês
imiscuídos nos órgãos de comunicação social, e tendo participação nos órgãos de
imprensa, se sentem que há jornalistas que sentem algum tipo de pressão para
noticiar de pontos de vista mais favoráveis a um espectro político ou de outro,
porque efetivamente é o que parece que acontece nalguns tipos de comunicação.
Obrigado.
Dep.Carlos Coelho
Quatro minutos em blocos de resposta de cada um dos
oradores. Começa, desta vez, Salvador.
Salvador da Cunha
Respondendo ao Hugo, como é que o PSD deveria estruturar
a sua comunicação. Enfim, eu sou um consultor de comunicação, portanto eu não
deveria fazer isto, a não ser que me pagassem… mas vou fazer, mas vou fazer.
Eu há bocado falei em sete grandes áreas onde a
comunicação se tem que organizar. E a comunicação tem que se organizar junto
das estruturas políticas do partido. E muitas vezes o partido tem que se
submeter à comunicação, e não o contrário. Ou seja, se houver um diretor de
comunicação central do PSD, qualquer ministro, se estiver no governo, ou
qualquer ministeriável, se estiver na oposição, tem que se submeter a esta
pessoa e não o contrário. E o que acontece é exatamente o contrário.
Portanto, a comunicação tem que ser fulcral e tem que ser
estratégica dentro de um partido. Não pode ser o contrário.
Partindo deste princípio, o que é absolutamente
necessário que haja nesta estrutura de comunicação? Uma estrutura de research
que esteja permanentemente à procura de tudo, a investigar tudo o que são as
narrativas da oposição, e a investigar também tudo o que são as notícias
passiveis de serem comentadas pelo partido.
Temos que ter uma rede, tem que ter – temos… eu não sou
do PSD – tem que ter uma rede de especialistas por temas, a quem possa recorrer
cada vez que precisa de desmontar seja o que for. Esse especialista tem que,
tecnicamente, desmontar o tema. Eu, por exemplo, nunca poria o Vítor Gaspar
como Ministro, poria sempre o Vítor Gaspar como Secretário de Estado ou como
especialista para desmontar os temas. Mas nunca o punha à frente da televisão.
Mas já lá vamos.
Depois tem que ter uma estrutura de conteúdos, que pegue no
que os especialistas lhes dão e desconstrua aquilo em linguagem simples para
quem vai ouvir, perceber o que se está a passar. E que se tirem aquelas
palavras chatas, aquelas palavras complicadas, como défice, do discurso. Porque
se são palavras que os portugueses não compreendem, para que é que as vamos
transmitir?
Depois temos que ter uma rede de assessores claramente
forte, não só no ministério, se for governo, como no partido, se for oposição.
Temos que ter uma rede de porta-vozes, que não são os
especialistas. Podem ser, mas não têm que ser. São pessoas que saibam
comunicar. E que se não sabem comunicar que tenham media training várias vezes para passarem a saber comunicar. Esta
estrutura de porta-vozes é uma estrutura absolutamente fulcral.
E depois temos que escolher os canais de comunicação. Onde
é que nós vamos transmitir as mensagens. E os canais de comunicação, hoje em
dia, como vocês sabem, são vários. Nós temos canais próprios. O chamado owned media. São os websites dos
partidos, são os Facebooks dos partidos, são, enfim, todas as redes sociais que
o partido tem ou que o governo tem, ou que os grupos parlamentares têm.
Portanto, tudo o que é controlado por nós, tudo o que é controlado pela
estrutura de comunicação.
Depois temos o paid
media , que tem a ver com aquilo que hoje em dia se utiliza cada vez menos,
mas também tem repercussões na comunicação social, que é pagar à comunicação social
para pôr um anúncio. Vocês compreendem isso, é publicidade tradicional.
E depois temos o earned
media , o earned media que é
aquele media que nós merecemos ter. E
aqui escolhemos quais são os jornais com quem nós queremos falar, quais são os bloggers com quem nós queremos falar,
quais são os influenciadores com quem nós queremos falar. E temos, neste
momento, esses três grandes polos – comunicação social, blogs e
influenciadores. Já não temos só um. E desengane-se quem pense que temos só um,
já não temos só um. Até porque uns se influenciam aos outros.
E depois de escolher os canais de comunicação, meter a
carne no assador e fazer com que as coisas saiam. Isto tanto de um ponto de
vista reativo, ou seja, do ponto de vista em que nós vamos reagir àquilo que
são as provocações da nossa oposição. Ou do ponto de vista proactivo, quando
nós queremos pôr temas em cima da mesa, queremos pôr narrativas em cima da
mesa, e trabalhar em cima delas.
Duarte Marques
Obrigado. Helena…
Helena Matos
Eu acho que se devia seguir o conselho do Salvador se nós
tivéssemos uma boneca insuflável ou um boneco insuflável para líder. Ou seja,
eu não sou nem consultora de comunicação, não sou do PSD, não sou do CDS, vivo
como cidadã com forte apreensão a incapacidade de afirmação de um pensamento, de
centro, centro-direita - sobretudo na área económica –, de um pensamento
liberal.
É alguma coisa que vivo com apreensão, tanto mais que já
não há dinheiro para fazer socialismo. Ou seja, enquanto houve dinheiro para
fazer socialismo, esta podia ser meramente uma questão ideológica. Agora que se
acabou o dinheiro para fazer socialismo, vivo isto com uma forte angústia,
porque isto não é sustentável, nem política, nem economicamente, esta narrativa
de esquerda.
Nesta perspetiva desta minha grande inquietação, esta
incapacidade dos políticos que, não sendo de esquerda, precisam de se
apresentar como sendo um bocadinho de esquerda, e que só não são de esquerda
porque acham que não há dinheiro para dar às pessoas. Porque é, na verdade,
isto que acontece. Se nós virmos – e não é apenas em Portugal –, é como se os políticos
da área, em Portugal, do PSD e do CDS (que noutros países o PSD nem sequer é um
partido de centro-direita, por exemplo quando se compara com o espectro
político espanhol), é como se o seu discurso só tivesse legitimidade porque
eles fazem umas contas que dizem que não dá para dar aquele dinheiro assim. Se
eles achassem que dava, também davam. Não é porque eles tenham outro modelo de
sociedade.
E é aqui que eu acho que está o cerne da questão. Ou há
ideologia, ou então só tem de haver comunicação. Porque, de facto, as pessoas
tem que se perceber o que é que pensam.
Nós temos o caso do Prof. Marcelo. De facto, ninguém sabe
o que é que ele pensa. E temos de perceber que é notável que um homem tenha
conseguido ser eleito Presidente da República, naquelas circunstâncias e com
aquele perfil. Mas, na verdade, se nós perguntarmos às pessoas, nós não sabemos
o que é que ele pensa. Porque, quando um político pensa alguma coisa, ele até
pode ser, conforme dizem os jornalistas, não ter jeito nenhum para comunicar.
Nós temos o caso do Cavaco Silva, não é?
Na verdade, eu acho que a comunicação é essencial, porque
ninguém consegue chegar lá sendo um ilustre desconhecido. Se quisermos, o caso
do Henrique Neto, quando se candidata à Presidência da República… é muito
difícil um semidesconhecido, por muito até interessante ou oportuno que possa
ser o seu discurso, conseguir alguma coisa.
Também podemos ver como uma pessoa conhecida pode ser, em
parte, destruída pela máquina subterrânea da comunicação a funcionar. O caso da
Maria de Belém, por exemplo.
Voz-off
A máquina da comunicação ou a máquina do partido?
Helena Matos
Pois, eu não quis dizer do partido, a máquina do partido
na comunicação.
Mas nós temos de perceber que os políticos têm de ter
espessura. Podem não ter, mas em geral o resultado é, a médio prazo, um
desastre. E se não têm, seguindo a receita que o Salvador disse, pode correr,
não é?
Salvador da Cunha
A minha receita não é essa. A minha receita é muita
comunicação com muita substância. Não pode haver comunicação sem substância
porque nós não podemos enganar toda a gente durante todo o tempo.
Helena Matos
Ó Salvador, não se pode falar às pessoas de défice? Então
se as pessoas aprendem palavras dificílimas. Eu não gosto de futebol, quando
ligo a televisão eu ouço palavras… Quer dizer, se as pessoas aprenderam aqueles
termos todos em inglês para aquelas coisas dos desportos, sabem os nomes dos
jogadores do Manchester, do Paris Saint-Germain, e depois não podem saber o que
é o défice?
[Aplausos]
Salvador da Cunha
Podem saber o que é o défice. A questão não é se as
pessoas podem ou não saber o que é o défice. A Helena, quando compra o
Expresso, não o lê todo. Lê o que lhe interessa. Portanto, esta audiência que
aqui está, se quiser saber o que é o défice, tem toda a liberdade para saber o
que é o défice. Toda a liberdade. Eu é que, como político, não tenho que estar
a explicar às pessoas o que é o défice.
Helena Matos
Mas é que é uma questão de cidadania, porque a dívida
resulta da acumulação do défice e nós vamos pagá-la.
Sobre a questão do jornalismo de esquerda, de direita. É
assim: em Portugal parte-se do princípio de que os jornalistas são todos
independentes. E que os órgãos de comunicação social são todos independentes.
Os países que têm, muitas vezes, uma melhor tradição de imprensa, são os países
onde os jornais até assumem posições ideológicas claras, ou que assumem o apoio
a determinados candidatos. O caso dos Estados Unidos que assumem o apoio a
determinados candidatos presidenciais. Isso nunca os inibiu de serem capazes de
fazer investigação a sério - o célebre caso Watergate.
Nós tivemos em Portugal um caso que eu achei muitíssimo
interessante, que foi o caso da Rádio Renascença, quando foi a questão do
referendo sobre o aborto. E a Rádio Renascença, como se calcula, tem uma
posição que é clara e evidente. A Rádio Renascença tomou essa posição e fez uma
das coberturas mais interessantes e mais independentes, com qualidade, desse
referendo. Eu creio que talvez também seja a altura de se começar a assumir – e
este é um debate que os jornalistas deverão ter de fazer – que há coisas que é
muito mais fácil assumindo-as. Porque não é por nós termos uma determinada
posição que nos tornamos incapazes de fazer a cobertura de uma notícia, de um
facto, de dar uma notícia.
Esta é, de facto, uma situação em Portugal que não tem –
por exemplo, em Espanha as coisas são relativamente mais claras e mais óbvias,
mais assumidas. Nos casos dos países anglo-saxónicos a tradição é mesmo
diferente. Nós temos aqui esta coisa absolutamente espantosa que é ter de fazer
de conta que os jornalistas não têm ideologia, o que é absolutamente contra
natura, porque têm, devem ter e devem expressá-la.
Duarte Marques
Obrigado, Helena. Dou agora a palavra ao Vasco Crufé, do
Grupo Amarelo, e de seguida ao Gonçalo Gomes, do Grupo Laranja.
Recordo, uma pergunta apenas.
Vasco Crufé
Boa tarde. Em primeira mão gostaria de agradecer à Dr.
Helena Matos e ao Dr. Salvador da Cunha pela disponibilidade mostrada em
poderem vir cá orar-nos neste tema tão importante.
A minha questão é para o Dr. Salvador da Cunha. Numa das
passagens o senhor falou que a verdade pode sobrepor-se aos interesses de uma
certa região. Então gostaria de saber em que circunstâncias é que ocorre essa
sobreposição.
Obrigado.
Duarte Marques
Obrigado, Vasco. Nós é que agradecemos, tu vieste de bem
mais longe, e os teus colegas, do que estes nossos dois convidados. Portanto,
nós é que agradecemos que tu tenhas vindo.
Gonçalo Gomes, Grupo Laranja.
Gonçalo Gomes
Boa tarde. A nossa pergunta é bastante simples. Porque é
que se dá cada vez mais tempo de antena, na televisão portuguesa, a banalidades
e a reality shows , em detrimento de
assuntos sérios como a política. Estará a bola do lado dos media ou de quem consome os media ?
Obrigado.
Helena Matos
Sobre a última pergunta, é porque, entre outras razões,
ninguém diz que vê esses programas, mas a verdade é que veem, e, segundo as
audiências, a classe A vê muito.
Depois, porque é baratíssimo. Se nós pensarmos naqueles reality shows que a TVI tem neste
momento no ar… quer dizer, baratíssimo… aquelas pessoas que estão fechadinhas
dentro de uma casa, fazem tudo e mais alguma coisa. Aquilo é bastante mais
artificial do que se pode supor. E portanto as pessoas veem.
Não é sequer muito caro – a questão que o Salvador
referia, da má situação económica dos órgãos de comunicação é verdadeira. E
portanto estamos a falar de uma forma de entretenimento muito em conta. Eu
penso que, a determinada altura, pode até levar quase a uma perversão em
relação à realidade. Causa-me, por exemplo, muita perplexidade como é que,
sobretudo as pessoas que são muito ativas nas questões sociais, muitas vezes
não lhes causa espanto como os filhos das classes mais pobres e mais populares…
Por exemplo, qual é o nível social a que pertencem os
participantes nesses reality shows ?
Os filhos das ditas classes mais cultas participam neles? Não.
Portanto, há ali claramente situações, muitas vezes, de
uma discriminação social. Quando nós vamos ver os prémios que as pessoas obtêm,
eles são muitíssimo insignificantes. Mas é assim, está lá, é barato e rende
muitíssimas audiências. E as pessoas veem.
Porque é verdade que nos inquéritos as pessoas dizem que
gostam – e isto é uma realidade que se vive muito no grupo RTP –, o público diz
que gosta muito de ouvir concertos, ver documentários, ver peças de teatro, mas
a realidade é que depois não vê nada disso. Prefere ver as outras coisas. O
Salvador conhecerá muito melhor o mercado do que eu, não sei se tem uma versão
muito diferente, mas penso que é isto.
Em relação à questão que foi aqui colocada sobre a
sobreposição dos interesses de uma região à verdade… Eu acho que houve uma
palavra que o Salvador disse e que depois foi repetida aqui, que é a palavra
interesses. Eu acho que temos todos de perceber uma questão: todos nós temos
interesses.
Havia até uma pessoa que tinha uma maneira especial de
dizer "interesses”, que era o Louçã. O Louçã dizia interesses de uma forma
enfática, especial. E houve um dia em que o primeiro-ministro José Sócrates
também se passou um bocado num debate parlamentar lhe disse: porque é que o
senhor diz assim "interesses”? O pior de tudo é não se assumir que todos nós
temos interesses.
Aliás, um dos problemas da sociedade portuguesa é querer
fazer-se de conta que nenhum de nós tem interesses. Uma pessoa sem interesses é
não só uma pessoa sem interesse, como um tonto. E um hipócrita. Porque todos
nós temos interesses.
É claro que eu percebo o que fez o Presidente da Câmara.
O problema não é tanto o que fez o Presidente da Câmara em Paredes de Coura. O
problema é, de facto, a comunicação social não ter ido lá. E é o problema da
outra comunicação social – que isso é o que existe também cada vez mais, porque
essa, de alguma forma, é patrocinada, porque tem as viagens pagas, que é a dos
eventos, e a dos espetáculos musicais e a do desporto – que não faz outras
notícias.
Isso é particularmente evidente no desporto. Eles vão com
os clubes, têm acesso às declarações do presidente, entram na sala VIP, vão
para o camarote não sei do quê, e a certa altura perdem completamente o
contacto… quer dizer, não fazem notícias sobre o desporto ele mesmo. E no caso
disto, as pessoas foram lá para dar conta de um festival, e não dão conta de
mais nada.
Nós vivemos anos a contar a anedota daquele jornalista
que tinha ido a um país para entrevistar um presidente; como o presidente tinha
sido deposto, então ele já não tinha mais nada para fazer, e não fez reportagem
alguma. Mas é um pouco isto que deixou de ser uma anedota. É o jornalista que
vai pela farmacêutica e não conta mais nada. É o outro que vai pelo futebol
clube não sei do quê, e também não vê mais nada.
E há política. Basta ver o futebol em Espanha para
perceber a política – o Barça, o Real Madrid… e as notícias chegam do outro
lado.
Portanto, eu acho que o problema não é haver interesses;
é alguns interesses não estarem representados.
Dep.Carlos Coelho
Muito bem. Salvador…
Salvador da Cunha
Eu aqui tenho que discordar complemente do que disse a
Helena, porque eu conheço os órgãos de comunicação social muito bem, trabalho
com eles todos os dias. Nós fazemos, por exemplo, para além do Paredes de
Coura, fazemos a assessoria de imprensa ao Rock in Rio, temos lá oitocentos
jornalistas, eu não pago um único transporte a um único jornalista, como não
pagamos um único transporte a um único jornalista do Paredes de Coura.
Portanto, primeira questão, os jornalistas não pagos. Os
de desporto não faço a mínima ideia, porque…
Helena Matos
É muito mais complicado porque ficam sem acesso às
fontes.
Salvador da Cunha
Claro. Eu nunca comprei um jornal desportivo na vida,
peço imensa desculpa. Sou do Sporting, e soube agora que o Slimani…
[Aplausos]
Curiosamente, trabalho com o Benfica, portanto…
[Aplausos]
Para dizer o seguinte, ao Vasco. A verdade não é
responsabilidade do Presidente da Câmara de Paredes de Coura. A verdade, como a
Helena disse, é responsabilidade da comunicação social.
Agora, a questão é da relevância. É relevante eu cobrir
todos os incêndios que existem em Portugal, com abertura de Telejornal, durante
25 minutos, em cada um dos canais. É relevante, isto? Eu pergunto. Isto é
relevante?
Caramba, nós sabemos que o país está a arder. Não precisamos
de estar a ver toda a gente a lamentar-se que o país está a arder. É evidente
que podemos ajudar, que pode haver solidariedade, e tudo o mais.
By the way, quando foi o festival não
havia incêndios. Os jornalistas que lá estiveram não foram cobrir outras coisas
porque, para já, são jornalistas especializados – e isso também existe -, mas
não houve incêndios naquela altura, houve incêndios nas semanas anteriores. E o
Presidente da Câmara estava cheio de medo que as pessoas não fossem ao festival
por causa dos incêndios.
Como eu acho que os incêndios não são uma notícia muito
relevante, são relevante do ponto de vista de dar a notícia, mas não de filmar
o drama todo associado ao incêndio, eu acho que ele fez muito bem. Mas não é o
papel dele estar a dizer ou não dizer a verdade. Porque a verdade é: há
incêndios muito grandes em Paredes de Coura. O que é um incêndio muito grande?
Um incêndio muito grande são dois hectares, três hectares, cinco hectares,
vinte hectares, quarenta hectares? Se calhar não! São interpretações da
verdade.
Incêndios muito grandes foi o que aconteceu no Canadá,
que durante três meses esteve a arder uma refinaria. Isso é um incêndio muito
grande. Ou os que acontecem na Califórnia todos os anos. Em Portugal, de facto
eu estive lá, e não vi nada ardido. E ardeu muito. Quanto à verdade é isso que
eu queria dizer.
O Gonçalo perguntou sobre os reality shows. Para além da política ser um reality show , nós temos também outros reality shows na comunicação social portuguesa, exatamente pelas
razões que a Helena evocou, por questões financeiras.
Eu não sei se vocês têm consciência ou não, mas o ano
passado 40% das receitas da SIC foram SMS, não foi publicidade. SMS de domingo.
Portanto, ao domingo há aqueles reality
shows , há aquelas meninas a dançar nos palcos, e há malta a mandar SMS à
barda. 40% das receitas da SIC, é um bocadinho menos no restante grupo Impresa,
mas estamos a falar de 40% das receitas da SIC, dos concursos. E estamos a
falar, também, em trinta e muitos por cento das receitas da TVI, que está um
bocadinho abaixo, está menos dependente disso, mas também tem, e a RTP deixou
de fazer isso, portanto deixou de ter essa receita, porque passou a ter outra
vez a subvenção dos Estado, portanto está mais confortável.
E vocês não sei se sabem o que é que se passou esta
semana, mas saiu o Luís Marinho a dizer que aquilo é uma fantochada. E o PSD
ainda não ainda não aproveitou isso, não sei porquê. Mas enfim.
Tendo dito isto, é óbvio que a verdade é uma
interpretação. A verdade não é um valor absoluto, a não ser que seja um facto
que esteja à nossa frente. E o São Tomé dizia ver para crer. Tudo o que não é
ver para crer são interpretações dos factos. E é isso que são as narrativas, e
é isso que tem que ser equilibrado. Não pode ser só um partido, ou só uma área
ideológica a ter narrativas. Ou as duas têm narrativas ou nenhuma tem
narrativas. Mas se elas existem em todos os países do mundo, têm que existir em
Portugal, têm que existir em Portugal e têm que ser bem feitas.
Duarte Marques
Obrigado, Salvador. Dava agora a palavra ao Rodrigo Dias
de Almeida, do Grupo Castanho, e de seguida à Raquel, do Grupo Encarnado.
Rodrigo Dias Almeida
Boa tarde. Começar por cumprimentar todos os presentes, e
em especial os nossos oradores.
A reforma da Segurança Social, um tema caro ao nosso
partido, continua a ser um tabu para o atual governo. Será que o facto de uma
reforma essencial ser uma bandeira de um partido é suficiente para a tornar um
tabu e um tema não grato? Estamos a ser efetivamente reféns de uma jogada
política e a ver os "geringonços” fugir à sua responsabilidade, para não se
renderem às evidências e avançar com uma reforma que defendemos há praticamente
uma década?
Obrigado.
Duarte Marques
Muito bem, obrigado. Raquel Silva.
Raquel Silva
Boa tarde a todos. Todos os portugueses ficaram chocados
com o contorno e a dimensão do caso Panama Papers. Contudo, ao contrário de
outros casos mais localizados sobre os quais não faltam notícias, este
desapareceu tal como apareceu, e até agora nada. O que podemos fazer contra a
não notícia, ou seja, aquela que não é transmitida, e como podemos garantir a
boa prática jornalística?
Obrigado.
Dep.Carlos Coelho
Salvador, quatro minutos.
Salvador da Cunha
Rodrigo, em relação à reforma da Segurança Social, aqui a
grande questão do PS é uma questão de sobrevivência política, não é uma questão
de fazer ou não fazer grandes reformas. Eu acho que não há nenhuma grande
reforma a ser feita neste momento pela geringonça. A não ser que vocês me digam
– eu não sou político, não estou completamente dentro do que se passa todos os
dias na política, gosto de ver o que acontece – mas não me parece que eles
estejam muito preocupados em fazer grandes reformas estruturais do ponto de
vista político. Estão muito mais preocupados em ter alguma popularidade que
lhes permita, com o Bloco de Esquerda, ter uma maioria absoluta, ou não, mas ter
uma maioria absoluta nas próximas eleições, se as houver, se alguém deitar este
governo abaixo. E portanto não me parece que eles estejam muito preocupados em
fazer uma reforma.
E o que é que eu acho que vai acontecer? Acho que eles
vão, com certeza, encontrar uma narrativa para explicar porque é que não fazem.
Isso vai acontecer. E aí, claramente, alguém tem que fazer a contraposição
dessa narrativa. Mas é um tema que o PSD pode lançar para cima da mesa de forma
estruturada. E aí tem que haver especialistas que desconstruam a questão da
Segurança Social.
E depois tem que haver outra coisa que é: vocês estiveram
lá quatro anos, porque é que não fizeram também a reforma? E há razões para que
isso não tenha acontecido, há muitas razões para que isso não tenha acontecido.
E portanto é preciso explicar essas razões. E muitas vezes essas razões não
podem ser explicadas ao público de chofre. Têm que ser explicadas primeiro em
privado a um conjunto de pessoas, para que elas compreendam efetivamente o que
se está a passar, para que possam ter dados suficientes para absorver essa
opinião com esses argumentos.
E aí é uma das falhas que eu verifico. Vamos muito para a
televisão explicar uma coisa que as pessoas não compreendem, quando se calhar é
mais eficaz explicar ao Nicolau Santos, explicar ao José Gomes Ferreira,
explicar aos opinion makers que estão
lá todos os dias, para que eles possam ficar com a opinião bem fundamentada e
que possam fazer dessa opinião também a sua opinião. E isto é uma influência
indireta que é muito importante fazer.
Em relação ao Panama Papers, claramente acho que a
montanha pariu um rato em relação a Portugal. Acho que não há grandes
escândalos em Portugal em relação ao Panama Papers, e acho que aqui houve
muitos interesses de muita gente, de muitos países, que fizeram com que o caso
começasse a ser abafado internacionalmente. Também louvo um bocadinho o
consórcio de jornalistas que investigou este caso, mas eu acho que eles
investigaram mas não foram ao fundo do caso e, portanto, não conseguiram fazer
com que aquilo fosse uma coisa estruturante do ponto de vista internacional.
Em Portugal, como há muito poucos casos que possam ser
interessantes, eu nem sei se o Ministério Público levantou algum auto em
relação a algum caso que fosse lançado pelo Expresso. Agora, o que eu sei é que
o Expresso perdeu muito mais tempo do que devia com isso.
Duarte Marques
Obrigado. Helena, quatro minutos.
Helena Matos
Eu, na verdade, só me lembro de um nome que era o senhor
Idalécio, no caso dos Panama Papers, foi o único que fixei.
Os Panama Papers, aliás, remetem para coisas muito mais
complicadas. Eu tenho grandes reservas, cada vez mais reservas em relação a uma
coisa que hoje se chama jornalismo. É claro que o jornalismo sempre dependeu de
fontes e sempre precisou de fontes. Mas tornarmos os órgãos de comunicação
dependentes de fugas de informação é exatamente a mesma coisa que torná-los absolutamente
dependentes das agências de comunicação. Não quer dizer que a informação não
seja boa, não seja relevante e não seja séria. Mas quer dizer que estamos a
ficar nas mãos de outrem; e ninguém dá uma informação desinteressadamente.
Portanto, eu acho que se pode e deve publicar. Agora, tornarmos os jornais - e
não só, a comunicação -, viciados, neste caso, em fugas de informação, coisa
muito mais facilmente manipulável do que se possa pensar, acho que é um risco
extraordinário.
Depois acho, particularmente em relação aos Panama
Papers, que em Portugal a não divulgação da lista que tinha sido prometida é
muito reveladora do país que somos. Acresce a isto que se meteu tudo no mesmo
saco. Violadores, pedófilos, empresários que tinham ganho o seu dinheiro
normalmente e pago os seus impostos. O caso do Messi, que é óbvio, no caso
espanhol, que se percebe como é que ganhou o dinheiro, não foi em nenhuma
atividade ilícita – podemos discutir se deve ganhar tanto ou tão pouco, não me
interessa.
E aquele ódio latente que existe na sociedade, e que é
muito fácil estimular, em relação a ganhar dinheiro, de repente estava tudo e
está tudo no mesmo saco. O senhor que ganha dinheiro a vender droga do México e
a pessoa que tem uma empresa de móveis, de medicamentos, de sapatos e que
resolveu pôr o seu dinheiro, depois de cumpridas as suas obrigações fiscais,
resolveu pôr o seu dinheiro num local ou num procedimento que ele entende ser
mais seguro.
Portanto, eu acho que, para além do mais, os Panama
Papers incentivaram o que há de pior em nós na relação que temos com a riqueza
e com os bens, lícita ou ilicitamente adquiridos, que são coisas completamente
diferentes.
Em relação à questão da segurança social, eu penso que a
questão é muito simples. O assunto é gravíssimo. Não consegue passar sem um
acordo de regime.
Quero chamar a atenção que não é justo, de alguma forma,
acusar o Partido Socialista de ter sido insensível à questão. A tentativa mais
séria para se perceber a situação da segurança social em Portugal começa com o
chamado Livro Branco que foi feito a pedido do então governo Guterres. E aí
começou a perceber-se logo o que é que ia acontecer na sociedade portuguesa. Um
homem que os jornais crucificaram na época como liberal, que se chama Correia
de Campos, foi apresentado como o adepto do plafonamento, do lóbi das
seguradoras. Portanto a ideia de que se queria privatizar a segurança social.
E a grande questão é: ou os principais partidos, e aí
claramente tem que ser também o Partido Socialista, o PSD e o CDS, têm um
discurso sério sobre esta matéria, ou nós estamos, de facto, a lavrar naquele
que pode ser um dos maiores crimes da sociedade portuguesa. Aquilo que não se
vai poder assegurar aos atuais jovens contribuintes, condenados de facto a
terem pensões de reforma e miséria, é absolutamente criminoso.
E acho que aí, ou o PSD e o CDS perdem o medo de ter um
discurso muito sério nesta matéria e de denúncia nesta matéria, do crime que se
está a cometer em nome dos direitos adquiridos dos atuais reformados, ou temos
um problema seriíssimo dentro de alguns anos. Ele só se resolve – como se viu
pela atitude do Tribunal Constitucional – com um pacto de regime.
É de facto o que existe de mais impopular para qualquer
líder. Eu sei que morrer cheio de razão ou perder eleições cheio de razão deve
ser terrível para o líder de qualquer partido. Mas, nesta matéria, ou se faz um
discurso de verdade dentro em breve ou a situação é absolutamente desastrosa.
Aí penso que as juventudes partidárias podem ter um papel importante.
[Aplausos]
Duarte Marques
Obrigado, Helena.
Adriano Silva, do Grupo Rosa, e a Vânia Tomás do Grupo
Verde.
Adriano Silva
Boa tarde. Desde já quero dizer que sou solidário com o
Salvador; também sou do Sporting. Quero agradecer a presença aos dois oradores.
O Salvador distingue verdade de interpretação da verdade.
Mas será que tudo o que passa nos media é verdade? Vou-vos contar um caso. Há uns tempos jantei com um senhor da RTP 1,
onde ele próprio disse que nem ele sabe se o que se passa nos media é verdade. Isto vai de encontro ao
que o Salvador disse quando afirmou que o interesse se sobrepõe à verdade. Já
sabemos um bocado a sua opinião e também gostaria de saber a opinião da Dr.ª
Helena.
Obrigado e bom debate.
Vânia Tomaz
Boa tarde. A questão do Grupo Verde é a seguinte: o que
se pode fazer para melhorar a imagem política em Portugal e no estrageiro?
Obrigada.
Helena Matos
As duas questões não são propriamente muito divergentes.
Em primeiro lugar, em relação às questões da verdade, eu acho que a aproximação
mais real ou mais próxima da realidade resulta, não de um jornal ou de uma
televisão nos dizer a verdade, mas de existirem muitos jornais, muitos canais
de televisão e, neste momento, a própria participação das pessoas. É
completamente diferente viver numa sociedade que tem um canal de televisão ou
numa sociedade que tem vários canais de televisão e acesso a canais
internacionais de televisão.
A perceção das coisas torna-se completamente diferente,
se quisermos, mais complexa. Uma das coisas que é muito constrangedora no
século passado é, muitas vezes, uma visão quase unidimensional dos conflitos,
como se de um lado estivessem bons, do outo lado estivessem maus. Isso às vezes
nota-se um pouco agora, por exemplo, nestas questões dos refugiados… é sempre
uma imagem que enternece todo o mundo, e que comove, e que nos choca, e que é
terrível, que é a imagem das crianças nos conflitos. Mas nós temos que perceber
que, para lá das crianças nos conflitos, das crianças refugiadas, das crianças
que sofreram um bombardeamento, temos de perceber o que é que está. E a
realidade é sempre muito mais complexa do que isso.
Eu não creio que haja algum órgão de comunicação que dê,
de facto… é claro que alguns são mais aproximados do que os outros. São
proverbiais as notícias da Reuters sobre a Palestina e o Estado de Israel. Mas,
para lá desses casos de enviesamento óbvio, a verdade resulta não de alguém a
dizer, mas das parcialidades de cada um. É como as sociedades. As democracias
resultam da regulação dos interesses dos diferentes grupos e de cada grupo
aceitar os interesses dos outros. E aqui é exatamente a mesma coisa.
Eu tenho essa perceção, que resultará da soma das
parcialidades, ou da visão de cada um, nós conseguirmos construir uma visão
mais aproximada da realidade e dos conflitos. Isso é particularmente evidente
quando nós olhamos para alguns conflitos que acompanhámos no passado e que só
tínhamos um dos lados. E isso é muito redutor.
Portanto, várias parcialidades, nunca tenhamos a
pretensão de que nós estamos a transmitir a verdade. E muitas vezes aquilo que
é a verdade única para nós agora, não o é daqui a muitos anos. Quando nós vemos
estas questões, por exemplo, dos burquinis, dos niqabs, dos véus islâmicos, e
tudo isso, nós percebemos como o facto de durante muito tempo não se ter dado
atenção a essa questão, aquilo a que os políticos da área democrática não dão
atenção, porque acham que não interessa, que não vale a pena, acaba mais tarde
por explodir à disposição dos radicais e dos populistas.
E aí, pegando naquela pergunta que foi feita, como é que
se pode melhorar a imagem dos políticos, eu acho que há uma coisa que tem de se
perceber.
Em primeiro lugar, há uma grande dificuldade dos
políticos das áreas de centro, centro-direita e centro-esquerda, em
afirmarem-se de uma forma positiva. Digamos que as elites europeias - sobretudo
mais europeias que norte-americanas, nos Estados Estados muito mais as suas
universidades, e no caso europeu muito as suas elites culturais – não há nada
que adorem mais do que um bom líder radical.
Um líder radical é sempre uma pessoa inteligentíssima,
esforçadíssima, com enorme consciência intelectual e social. Os líderes do
centro têm, em geral, um lindo enterro e grandes textos depois de mortos. Isto
pode tornar-se uma evidência trágica para grandes líderes que a Europa teve e
que, mesmo quando acabaram o seu percurso político de uma forma que foi um
calvário - estou a pensar, por exemplo, no caso do Aldo Moro -, acaba por só
depois de morto se perceber… ou o caso do Adolfo Suárez. Houve uma entrevista
do Adolfo Suárez ao El Pais – hoje toda a gente adora o Adolfo Suárez, não é?
Um grande líder espanhol, não é? Um grande político, o maior político espanhol
da transição. Há uma entrevista dele ao ABC onde ele diz à jornalista: eu sou o
homem mais desprezado de Espanha. O título foi tão forte que a assessoria de
comunicação conseguiu que não fosse publicada. Só foi dada a conhecer depois de
ele ter morrido.
Salvador da Cunha
Adriano, interpretação da verdade. Os equilíbrios estão
em todos nós. Há a realidade, e essa realidade é interpretada pelos Gate Keepers , e depois é interpretada
por quem lê os Gate Keepers. Ou seja,
temos aqui três níveis e aqui criam-se as perceções.
Portanto, há uma realidade e há alguém que explica essa
realidade, há alguém que contrapõe essa realidade. E depois cabe a cada um de
nós descobrir qual é que é a nossa verdade em relação a esse facto.
O miúdo que foi agora agredido pelos iraquianos, nós
tivemos a possibilidade de ouvir várias versões. A primeira versão que eu vi no
observador foi que um santinho, que estava a ir tomar um café, foi abordado por
dois iraquianos e que lhe deram um enxerto de pancadaria e que ele foi parar ao
hospital, e se era legítimo ou não que quem tivesse imunidade diplomática
pudesse fazer isso sem ser…
E depois, de repente, os iraquianos vieram falar à SIC e
começamos a mudar um bocadinho a perceção. Agora os pais da criança já não
querem pôr um processo em tribunal, querem é dinheiro.
Onde é que está a verdade nesta brincadeira toda? Ele era
santinho, não era santinho? Fez mal, não fez mal? Quem é que fez mal, quem é
que não fez mal? A verdade não existe. A verdade é uma interpretação das vossas
perceções.
O Carlos Cruz é ou não é culpado de pedofilia? Alguém tem
a certeza absoluta de que ele é culpado ou não é culpado? Ninguém tem.
Portanto, a verdade é uma coisa que cada um de nós vai criar a sua.
O que é uma verdade coletiva? É uma perceção coletiva de
que… começa-se a perceber que toda a gente, a determinada altura, tem a mesma
opinião sobre determinado assunto. Então essa passa a ser a versão mais
democrática da verdade. Agora a verdade em si, desculpem lá, não existe. A não
ser que caia uma árvore e a verdade é que a árvore caiu. Isso é um facto
indesmentível, real. São coisas que acontecem, que podem ser relatadas e que
estão lá.
Quando tem a ver com interpretações de várias versões,
que é o que nós estamos aqui a falar, são as narrativas de partes opostas, a
verdade não existe, a verdade está lá no meio. Como dizia um amigo meu, no meio
é onde está a virtude, ou pelo menos onde já esteve.
Agora, como é que se melhora a imagem dos políticos?
Vânia, eu acho que a imagem dos políticos tem que melhorar muito com… não quero
que me interpretem mal, eu sou um fortíssimo adepto da comunicação, mas sou um
fortíssimo adepto da substância por trás da comunicação. Um fortíssimo adepto
da substância por trás da comunicação.
Tem que haver líderes fortes, tem que haver lideranças
fortes, tem que haver lideranças com ideologia que expliquem a sua ideologia,
mas que a saibam explicar. Tem que haver lideranças que não se autocondicionem,
e que não façam o mínimo denominador comum. Eu acho que o Estado tem que ter
dignidade. Eu acho que os governantes não têm que andar de Fiat Punto, peço
imensa desculpa. Não têm que andar em segunda, também peço imensa desculpa.
Podem utilizar o Falcon à vontade. E têm que se marimbar para o que os
jornalistas dizem nessa altura. E nem sequer responder a essas provocações. Mas
isso, lá está, é comunicação.
Mas no fim tem que haver substância. Tem que haver
ideologia e substância por detrás e lideranças fortes. Se isto acontecer e se
as pessoas forem honestas e se as pessoas demonstrarem que não têm interesses
nenhuns para além daqueles que são ajudar o seu país, a imagem dos políticos
melhora.
Mas também passa muito por vocês, que aqui estão, dar o
exemplo à vossa geração de que estão interessados neste tema. Eu tenho imenso
prazer em falar com cem pessoas que estão muito interessadas no tema da
política, porque eu dei várias aulas a várias turmas nas áreas da comunicação,
e ninguém estava interessado em saber de política. As pessoas fartam-se desse
assunto, não querem saber e alheiam-se um bocadinho desse tema.
Portanto, acho muito interessante que vocês estejam
interessados. Mas, lá está, o fundamento e a substância é o que faz melhorar a
imagem na política.
Duarte Marques
Obrigado. Agora vou dar a palavra ao João Pedro Luís, do
Grupo Cinzento, e ao Ricardo Grilo, do Grupo Bege, e vamos ter tempo para fazer
duas perguntas em catch the eye.
João Pedro Luís
Muito boa tarde a todos. Gostaria de começar por saudar a
Mesa, em especial os nossos convidados, a Dr.ª Helena Matos e o Dr. Salvador da
Cunha, assim como todos os deputados presentes.
A questão do Grupo Cinzento é a seguinte: na vossa
opinião, quais são os principais fatores que contribuem para que a comunicação
social portuguesa seja tendencialmente de esquerda?
Muito Obrigado.
Ricardo Grilo
Boa tarde. A minha dúvida é: nós, em dezembro de 2015,
tivemos a notícia da TVI sobre o Banif, e para mim esse é um caso bastante
paradigmático daquilo que é a influência dos media na sociedade, mas também esses interesses que os media têm. E a minha dúvida é: o que é
que justifica esta dificuldade em assumirem os seus interesses? E a ser
importante assumi-los, quem é que deveria garantir que são assumidos? Se são os
próprios órgãos de comunicação social, se são os media concorrentes, se é a ERC, se deveria ser a Assembleia da
República, enfim, quem são os responsáveis por garantir que esses interesses
são revelados de forma transparente.
Obrigado.
Dep.Carlos Coelho
Salvador, quatro minutos.
Salvador da Cunha
Eu tenho uma interpretação relativamente pessoal sobre
esta questão dos órgãos de comunicação social serem tendencialmente de
esquerda. Tem a ver com questões históricas e tem a ver com questões históricas
de uma inteligência absolutamente brilhante de um ex-ministro do PS chamado
Jorge Coelho, que, de facto, no final da década de noventa, conseguiu eliminar
todos os jornalistas de direita, e todos os diretores de direita de todos os
jornais – eu falava disto, ao almoço, com o Duarte – conseguiu fazer com que
eles fossem eliminados.
No fundo, houve aqui uma limpeza dos jornais de direita,
e houve uma limpeza dos jornais que poderiam contestar, o que fosse algum jornalismo
mais de direita. Eu lembro-me que o Independente, que não era nem de direita
nem esquerda, era só um jornal que contestava, deixou de existir. O Liberal
deixou de existir. O Semanário deixou de existir. O Europeu deixou de existir.
Todos os projetos de jornais de direita deixaram de existir, e isso teve
efetivamente uma pessoa que teve um papel ativo nesse tema. Eu na altura não
era já jornalista, mas assisti muito de perto a essa questão.
Mas não é só essa questão que influencia o facto de o
jornalismo ser de esquerda. Eu não sei se vocês têm ideia de quanto é que ganha
um jornalista, mas um jornalista ganha menos de mil euros por mês. E quem ganha
menos de mil euros por mês não percebe porque é que alguém ganha três mil
euros, ou quatro mil ou cinco mil euros por mês. E acha que quem ganha cinco
mil euros por mês é milionário. É mentira. Quem ganha cinco mil euros por mês
não é milionário.
Portanto, é muito difícil que um jornalista consiga
defender uma pessoa como o Eng.º Jardim Gonçalves, por exemplo, que ganha cento
e sessenta mil euros por mês, porque fez seguros nesse sentido. E é muito
difícil que o Eng.º Jardim Gonçalves consiga justificar porque é que ganha esse
dinheiro em reformas e em seguros.
Portanto, objetivamente, há aqui – e aí também a Helena
há pouco falou sobre isso – há aqui um país que tendencialmente não gosta do
rico. Alguém dizia que em Portugal temos que acabar com os ricos. Em Espanha
diziam: não, mas nós aqui em Espanha gostávamos era de acabar com os pobres. E
é isto que eu acho que, ideologicamente, nós temos que defender.
E a direita, e o centro-direita, tem vergonha de assumir
que é de centro-direita. E isso também é uma questão que faz com que os
jornalistas sejam tendencialmente de esquerda.
Em relação à questão do Banif, é uma questão bastante
complicada. Eu conheço muito bem o Sérgio Figueiredo, é meu amigo há muitos
anos, que é o diretor da TVI que depois foi à Comissão de Inquérito explicar
este caso.
Isto tem a ver, clarissimamente com uma fonte muito
interessada em que aquela notícia saísse para que houvesse uma resolução na
sexta-feira seguinte do tema do Banif. E ninguém me convence do contrário,
tenho a certeza de que isto aconteceu. A questão do Banif foi uma narrativa do
PS para justificar o défice, e uma narrativa do PS que custou quatro mil
milhões de euros aos portugueses, e que não foi rebatida pelo PSD.
E aqui eu acho que isso é muito importante. Não foi
rebatida suficientemente. Puseram, desculpe lá, a Maria Luís Albuquerque a
autodefender-se, em vez de explicar porque é que aquilo estava mal feito.
Aquilo foi entregue de mão beijada a outro banco e foi
para explicar o défice. E isto, ninguém me tira da cabeça que não foi assim.
Aqui está um caso claro de que há uma realidade que se
ajusta a uma narrativa. Eu preciso de ter uma narrativa para justificar o
défice e, ao mesmo tempo, preciso de resolver um problema chamado Banif. Então
bora lá resolver o problema desta maneira. E ninguém desconstruiu isto, ninguém
desconstruiu isto à séria. Porquê? Porque efetivamente existiam problemas no
Banif, como existem problemas em todos os bancos, e agora também se vê na Caixa
Geral de Depósitos.
Mas esses problemas não têm que ser postos na praça
pública, porque esses problemas podem ser resolvidos com tempo. Agora, quando
se põem na praça pública, não há nada a fazer. E o que aconteceu foi isso.
Alguém disse ao Sérgio Figueiredo, ao próprio diretor do jornal, o Banif na
segunda-feira vai fechar as portas, e ele, como bom jornalista, tinha que
escrever, porque acreditava naquela fonte. Perguntam-me: continua a acreditar
naquela fonte? Eu tenho algumas dúvidas.
Duarte Marques
Obrigado. A fonte não estava errada, que ele fechou
mesmo. Resta saber é quem é que teve interesse nisso. Passo a palavra à Helena,
e faremos o debate a seguir.
Helena Matos
A questão que o Salvador aqui colocou em relação aos
vencimentos dos jornalistas, nós temos de perceber que não explicarão, de modo
algum, tudo. E não explicam tudo porquê?
Porque, de facto, os jornalistas hoje ganham muito mal,
mas, por exemplo, nos anos setenta eles ganhavam bem. Não ganhavam assim tão
mal, comparativamente com os outros portugueses. E eu creio que, ao contrário da
imagem que nós temos cultivado muitos dos jornalistas, sobretudo porque vemos
muitos filmes americanos, é a ideia de que o jornalista é alguém que vai contra
a corrente, ou que tem uma capacidade ou um interesse, muitas vezes, em
investigar para lá do óbvio.
Eu não creio que isso seja assim tão verdadeiro, e, aí, a
minha experiência com jornais dos anos setenta é, de facto, muito, muito
perturbante. Porque eu encontro umas pessoas que escreviam umas coisas até ao
dia 25 de abril de 1974, e a censura portuguesa não acrescentava nada, só
cortava. Nunca acrescentou aquelas coisas maravilhosas sobre o senhor
Presidente do Conselho. E que depois estão a escrever exatamente as mesmas
coisas sobre o Dr. Álvaro Cunhal. Ou o caso do General Spínola, que tinha sido
um grande, grande Governador da Guiné, e depois tinha sido um grande, grande
líder do 25 de Abril, e depois tinha sido um tremendo fascista – isto tudo,
coitado, entre janeiro de 1974 e setembro de 1974.
E portanto, como algumas notícias estão assinadas, temos
de perceber que, muitas vezes, os jornalistas, porque são humanos, digamos que
se adequam aos tempos e às verdades de cada tempo. Portanto, temos também de
perceber que os jornalistas, além de notícias, também fazem as verdades de cada
tempo. Para lá desta questão de que eles fazem parte da verdade de cada tempo –
e os próprios precisam dessas verdades para viver – temos de perceber uma outra
coisa, que é aquilo que a Estrela Serrano (que foi assessora do Sampaio, do Guterres)
uma vez escreveu que é: mais importante do que, às vezes, a ideologia, é a
questão do chamado sentimento de pena do líder. Ela escreve sobre isto num dos
livros que faz.
E nós temos de perceber o seguinte: como é que se
explica, a não ser por sentimento de pena do líder, ou se quisermos de algum
amparo, notícias como aquela que tivemos hoje, sobre o primeiro-ministro
António Costa que pensa levar à Conferencia dos Líderes dos Países do Sul da
Europa, uma proposta para combater o terrorismo islâmico, que o Público
apresenta como uma coisa extraordinária, maravilhosa e encantadora, que passa
por uma questão imobiliária de construção de raiz dos bairros periféricos. Quer
dizer, nenhum terrorista, me parece, que até hoje tenha ido pôr bombas porque
não tinha casa. Isto é uma coisa que não bate certo com a realidade.
Ou a questão, por exemplo, daquela entrevista ao
Secretário de Estado do Ambiente sobre as rendas, e em que ao longo de toda a
entrevista nunca se fala… que ali é sempre apresentada como a questão do
prolongamento do congelamento, para a proteção do inquilino. Para a proteção do
inquilino? Mas a legislação, o que previa, é que a renda, a diferença que o
inquilino não pudesse pagar passava agora a ser paga pelo Estado. E a única
coisa que mudou, nesta alegada proteção ao inquilino, é que continua a ser paga
pelo senhorio. E a pessoa que fez a entrevista, que é uma pessoa claramente
informada, como é que nunca perguntou: então foi revogada aquela legislação que
previa que, a partir de determinado momento, o Estado assumisse o pagamento das
rendas daqueles inquilinos com determinada idade, com determinados graus de
deficiência.
Para lá da questão ideológica, há também este fazer parte
de uma verdade, em que tudo o que se diz que tenha as palavras proteção,
solidariedade e dar é como uma coisa mágica e encantatória. Para lá daquela
questão do sentimento de pena e de apoio ao líder, que leva a coisas anedóticas
como acreditar que se vai combater o terrorismo islâmico derrubando bairros de
raiz e construindo-os, que me parece ser um ótimo slogan para o J. Pimenta, mas não mais do que isso.
Duarte Marques
Fez lembrar aquela tirada do Dr. Almeida Santos sobre as
pontes que estavam em perigo.
Vamos ter só duas perguntas de catch the eye. Nós optamos, daqueles que pediram e que eu consegui
anotar, pelos alunos que têm menos perguntas em plenário feitas.
Portanto, vou dar a palavra ao Gonçalo Armindo, do Grupo
Cinzento, e ao António Domingos, do Grupo Bege.
Gonçalo Armindo
Antes de mais, cumprimentar os oradores. É sempre bom
virem pessoas de fora para dentro do partido, e neste caso aqui a esta
Universidade, para podermos, nós internamente, refletir, melhorar e entender
formas de agir.
O Dr. Salvador disse que, de facto, vamos a caminho do
seguindo resgate. E que o PSD não consegue passar essa mensagem. E temos, de
facto, uns media que desvalorizam e
descredibilizam o PSD, ou pelo menos tentam. E o PSD, com os outros partidos
que passam a vida mais preocupados em desfazer a nossa comunicação do que
governar bem um país, em explicar as medidas aos portugueses.
Nós comunicamos a verdade e a esquerda esconde a verdade,
mostrando que só com eles é que as vacas voam. Sabendo que o PSD tem esta
postura, será que por muita comunicação que o PSD invista, conseguimos obter
resultados dessa comunicação? E sabendo que, infelizmente, a classe política
está descredibilizada, como devemos, no vosso entender, atuar, para voltar a
ter os portugueses interessados e ativos na política?
Duarte Marques
Obrigado, Gonçalo. António Domingos, Grupo Bege.
Então passo a palavra ao Bruno Santos, do Grupo Amarelo.
Bruno Dias Santos
Boa tarde. Introduzo esta questão com uma história em que
faço um inquestionável mea culpa.
Corria o ano de 2014 e estávamos em vésperas de eleições
europeias. Em conversa com um ex-aluno da Universidade de Verão, queixei-me de
conhecer mal os candidatos e de, numa lista nacional, provavelmente nem ter
ninguém do meu distrito. Acontece que eu sou – ou era na altura – de Santarém.
Como me é agora evidente, tal como eu e todos nós aqui
faremos daqui em diante, ele, orgulhoso ex-aluno, passou a meia hora seguinte a
defender o mérito, a valia e o trabalho reconhecido do Carlos Coelho.
Eu tento informar-me em cada eleição, mas dada a
quantidade de candidatos e de ideias, que existem, sinto que é difícil avaliar
a verdadeira valia de pouco mais do que os cabeças de lista a cada eleição,
sejam elas autárquicas, sejam elas legislativas, sejam elas europeias.
Feita esta confissão, a minha pergunta é: a sociedade
como um todo consegue garantir o reconhecimento devido a pessoas de enorme
valia, de créditos firmados, como o próprio Carlos, ou é uma questão que só se
resolve com círculos de eleição uninominais, de um para um, ou passa por uma
reforma da narrativa dos próprios partidos, de forma a garantir o destaque
devido às pessoas e às ideias que se distinguem pelo mérito e não apenas pela
visibilidade do que fazem, ou simplesmente por serem mais histéricos do que os
outros.
Obrigado.
Helena Matos
Em relação à questão da reforma eleitoral em Portugal,
penso que tudo aquilo que possa levar à aproximação aos eleitores será
essencial. Mas, de qualquer forma, devemos sempre pensar que não é por nós
mudarmos muitas vezes o quadro legislativo, embora a questão dos círculos
uninominais possa parecer apelativa em determinados momentos, eu creio que em
Portugal, a depreciação da política e a depreciação dos líderes - e não só em
Portugal - faz também, muitas vezes, parte do discurso de sociedades de que as
pessoas se habituaram a ser usufrutuários, mas partem em posição não
responsável.
Não há atitude mais prática, mais cómoda e mais simpática
do que a pessoa que quer sempre fazer de conta que não tem quaisquer responsabilidades,
sem abdicar de quaisquer das vantagens. É uma atitude muito cultivada, só que
nós não temos nenhum discurso de censura sobre isso. Ou seja, se alguém nos
disser eu não me interesso por política, mas depois aquelas pessoas têm
reforma, beneficiam de tudo o que é desta sociedade, do seu Serviço Nacional de
Saúde, embora passem a dizer mal dela.
Mas vocês vêm isso nas reuniões de condomínio, nas
associações de pais. Não há coisa pior do que aquele condómino que nunca pôr os
pés na reunião de condomínio, e que depois protesta todos os dias por todas as
coisas. Com a empresa que gere o condomínio, com a senhora que limpa as
escadas. Mas depois nunca quer ser administrador, porque nunca tem tempo, e
porque nunca pode ter qualquer responsabilidade.
Se quisermos, a reunião de condomínio é um bom símbolo
daquilo que às vezes somos como sociedade. Ou as associações de pais. Portanto,
nós temos, na prática, uma sociedade civil muito inventada, muito artificial. A
maior parte daquelas associações que aparecem, e que as pessoas passam a vida a
dizer que estão nas mãos da esquerda, o SOS Racismo, o LGTB, o não sei quê, mas
a verdade é que ninguém constituiu outras. E quando se constitui elas ficam
muito frequentemente vazias.
Eu sempre que me vêm com a ideia de que as pessoas não
podem estar nas associações de pais, ou que não querem ir às reuniões de
condomínios, presumo que as pessoas abdicarão de todos os privilégios e
direitos que isso lhes dá. E tenho um discurso muito censório em relação a
isso. Mas noto que estou bastante isolada porque não é uma atitude nada
simpática. O que é simpático é entrar imediatamente no "ah, pois são todos
iguais, não querem saber…”.
Há, na prática, uma grande tolerância em relação a este
tipo de discurso, que não é neutro. É um discurso profundamente egoísta. Talvez
se ficássemos um bocadinho menos tolerantes em relação a este discurso, talvez
as coisas começassem por mudar. Acredite, não é apenas na política, é muito em
todo o lado. Não nos admiremos que depois, sobretudo os setores mais ativos
politicamente, que são tradicionalmente de esquerda, multipliquem as
associações e as comissões disto e daquilo. Mas vai lá mais alguém sem serem
eles? Pois, provavelmente não.
Esta é uma das questões. Em relação às questões da
comunicação, é uma pergunta que recorrentemente se faz, sobretudo o PSD -
porque o CDS, até por outra história e pela personalidade do seu antigo líder,
o Paulo Portas, tem uma relação completamente diferente com a comunicação
social, e se quisermos muito mais eficaz, nesse sentido -, que é porque é que a
nossa mensagem não passa?
Bem, eu não sei, como vos disse, não estou filiada em
partido algum. Mas a mim parece-me que enquanto as pessoas tiverem dificuldade
em assumir claramente o que são, e que são o que são, não apenas porque não há
dinheiro para serem mais socialistas, mas porque são assim, porque defendem
outro modelo de sociedade. É certo que o PSD se constituiu como um partido sem
ideologia, no início, mas ou apresentam de facto um modelo de sociedade, ou viverão
sempre a achar que aquilo que são é porque não podem ser outra coisa.
E apenas para acabar, acho que o medo de não ser popular
é a coisa pior que pode acontecer a um líder. Os líderes melhor sucedidos são
aqueles que são capazes de enfrentar o medo… eu presumo que deve ser um terror,
o medo da impopularidade. Não imagino o que seja. Não imagino o que seja estar
uma noite à espera do resultado de umas eleições. Não imagino o que seja estar
no fim de um debate a ouvir aquelas pessoas, como eu, que escavacam as que
participaram no debate. Não imagino o que seja, e acredito que são pessoas que
têm de ter um determinado perfil.
Mas como as pessoas escolheram ir para lá, eu acho que o
essencial é pensar em duas, três ou quatro coisas que acreditam ideologicamente
certas, com o seu perfil; isso é válido da direita à esquerda.
E saberem que o momento mais importante não é o da
vitória, é como é que se consegue reagir a uma derrota e a uma má notícia. Eu
penso que o medo da impopularidade é hoje algo que faz com que muitas pessoas
se afastem da política e tenham medo da política. Porque nós somos, na prática,
educados para o sucesso, e não percebemos que do sucesso, penso eu, faz parte o
sermos capazes de lidar com as derrotas. Aí o Salvador poderá explicar isto melhor
do que eu.
Mas eu penso que muitos dos nossos líderes, hoje, até
porque as lideranças são muito breves. Reparem como o PSD despacha líderes
sucessivamente. Como, por exemplo, mesmo tendo um líder que ganhou eleições já
acham que têm de ter outro líder. Reparem como o António José Seguro sai.
Tudo isso, de alguma forma faz, para ser líder, a questão
do tempo. Quanto tempo é que um homem pode estar à frente de um partido? E aí
Portugal é completamente diferente, porque se vocês virem o Mariano Rajoy está
à frente do PP há vários ciclos eleitorais, perdeu eleições. Temos agora o caso
da França em que o Sarkozy se recandidata outra vez, tendo perdido eleições.
Digamos que Portugal dá pouco tempo – estou a falar,
claramente, do PSD e se quisermos mais do PS; os outros partidos, até porque
são pequenos partidos, não se podem permitir isso -, dá pouco tempo, ou seja,
não lhes permite uma derrota.
Como eu penso que a maior parte de vocês serão militantes
do PSD, ou simpatizantes, talvez valesse a pena ter esta pergunta: que tipo de
pessoas é que não podem ter como líderes, quando na prática não lhes admitem
uma derrota. Eu penso que isso condiciona claramente o perfil.
Duarte Marques
Muito obrigado. Salvador…
Eu peço desculpa, vou aproveitar para dizer isto. Vamos
ter mais algumas perguntas de catch the
eye , e portanto avisava os senhores oradores de que ainda têm de responder
a mais algumas perguntas.
Salvador da Cunha
Respondendo ao Bruno, eu não sei muito bem o que lhe
diga. Eu não sou político, sou um especialista em comunicação, portanto eu aqui
não lhe consigo dar uma resposta clara em relação à sua pergunta. E portanto
vou responder essencialmente ao Gonçalo.
Como é que o PSD pode fazer uma melhor comunicação? No
fundo, esta é a questão que está subjacente à pergunta que fez. Como é que a
mensagem pode passar? Primeiro tem que acreditar na comunicação. Tem que
acreditar que a comunicação é essencial.
O PSD quando foi governo acreditou que tinha que
governar, não acreditou que tinha que comunicar enquanto governava. E depois
acreditou que tinha que ser honesto e tinha que explicar aos portugueses o que
se estava a passar. Evidentemente que tem de ser honesto, mas como eu disse há
pouco, a transparência não é nudez, e portanto dizer tudo não vale a pena.
Dizer que as pessoas vão ter que enfrentar a maior austeridade de sempre, e
depois aplicar-lhes a maior austeridade de sempre, não é eficaz.
Eu lembro-me, na década de oitenta, com o Mário Soares,
em que tínhamos inflação de 15%, isso era austeridade à séria, só que as
pessoas não faziam a mínima ideia. Porque as pessoas não percebiam a inflação.
E a inflação é austeridade. A austeridade, como a Helena disse há bocado, não é
o Estado tratar bem do nosso dinheiro, é nós perdermos rendimento.
Helena Matos
Mas havia um mecanismo que permitia camuflar a
austeridade, que era a moeda própria.
Salvador da Cunha
Que era a moeda própria, exatamente, que não temos neste
momento. Portanto, graus de liberdade diferentes. O fundamento disto é: a
política faz-se de governação, quando se está no governo, e comunicação. Faz-se
de ideologia e comunicação, quando se está na oposição. Mas não pode deixar de
se fazer comunicação.
E comunicação não é aparecer no Telejornal, comunicação
não é dar uma entrevista à Judite de Sousa, comunicação não é dar uma
entrevista ao Público. Comunicação é estar todos os dias, a todas as horas a
combater as narrativas do adversário. É estar todos os dias, a todas as horas a
impor a nossa ideologia e a explicar a nossa ideologia a todas as pessoas que a
podem entender e que a querem entender. Trazer pessoas para o nosso lado.
Eu pergunto: qual é o comentador político, da área do
PSD, que neste momento está numa televisão de grande audiência? É o Marques
Mendes? Não. O Marques Mendes não é do PSD, é dele próprio. Peço desculpa dizer
isto, mas esta é a verdade. O Marques Mendes não defende o PSD.
É o Pacheco Pereira?
[Risos]
Risos, não é? Aquilo chama-se a quadratura do círculo
porque é suposto ter lá um elemento de cada um dos principais partidos. Enfim,
o Pacheco Pereira não representa o PSD, pelo contrário.
Foi o Marcelo, durante algum tempo? Não foi o Marcelo.
Portanto, o PSD não tem ninguém, não tem ninguém
objetivamente, numa televisão de grande audiência a defender os seus temas.
Mesmo o Pedro Santana Lopes, que está, salvo erro, na SIC Notícias (não sei se
é SIC Notícias se é TVI 24) também não é um porta-voz do PSD.
Portanto, o PSD tem que ter alguém de grande craveira a
fazer comentário político permanentemente. Não tem.
Qual é o ponto que eu quero significar? É alguma
ingenuidade deste partido em relação aos temas de comunicação. Há alguma
perceção de que não vale a pena, que os jornalistas não vão pegar. Há alguma
perceção de que eu explico mas eles não entendem. E isto é uma coisa que dá
muito trabalho, tem que ser feito diariamente, horariamente, e com uma equipa
grande.
Portanto, tem que ser uma aposta estratégica do partido,
não pode ser uma coisa que tenha ali três ou quatro assessores de imprensa a
tratar de um assunto. Tem que ser uma coisa que seja coordenada, que seja
coordenada por vários especialistas, esteja coordenada por vários produtores de
conteúdos, que saibam escrever, que saibam o que estão a dizer, para que as
mensagens efetivamente passem.
E eu não sei se o PS tem isto tão bem organizado como
isso. Enfim, vendo o Manuel Caldeira Cabral, que por acaso é amigo de infância,
é a maior nulidade de comunicação que eu já vi na minha vida. O que acontece é
que o António Costa é um perito em comunicação e consegue fazer as coisas à
maneira dele.
Duarte Marques
Mas ele faz muitos quilómetros, o Ministro da Economia,
diz que faz muitos quilómetros. No carro dele.
Gustavo Pereira, do Grupo Rosa, e o José Guilherme, do
Grupo Azul.
Gustavo Pereira
Boa tarde. Nós hoje vivemos um grave problema, a
descredibilização da classe política, que afasta os jovens desta, da política.
Nós estamos aqui um pouco para contrariar essa ideia, mas com base naquilo que
nos disse, o caro Salvador, eu fiquei pelo menos com a ideia de que nós não
devemos fazer política séria, ou seja, no seguimento do que disse relativamente
ao PSD, que não deve tocar nos pontos onde dói, não deve falar em austeridade.
Se não devemos ter uma postura séria, e se eu estou aqui
é também, em parte, pela postura séria do partido, devemos fazer aquilo que
este governo faz? Mentir aos portugueses?
José Guilherme Sousa
Agradeço, naturalmente, o contributo dos dois oradores
neste debate.
Por várias vezes, neste debate, já vimos apontados alguns
defeitos à estrutura de comunicação do PSD, mas se nos recordarmos - mesmo
sendo perito em comunicação, como disse, o António Costa – a verdade é que, se
nos recordarmos das últimas eleições legislativas, tiveram também alguns erros,
e portanto eu gostava de não sobrevalorizar tanto esse ponto.
E a minha questão seria então até que ponto o cerne da
questão não está na comunicação de políticas de esquerda ser um fardo menor em
relação à comunicação de políticas de direita? Políticas de esquerda essas que
mostram muito mais claramente, e de uma forma mais direta, essa solidariedade e
proteção, como muito bem apontou a nossa convidada.
Duarte Marques
A narrativa da Helena convenceu os últimos alunos.
Salvador da Cunha
Eu acho que nós, pelo contrário, temos que ser muito
sérios. Temos é que comunicar. Efetivamente, a esquerda apropriou-se de um
conjunto de temas que lhes são muito queridos, que têm a ver com proteção
social. E isso interessa muito às pessoas e, de facto, são talvez muito mais
humanistas, ou são percecionados como muito mais humanistas do que os partidos
mais de centro ou mais de direita, que são muito mais individualistas e muito
mais vocacionados para o empreendedorismo e para outras situações.
Agora, as pessoas têm que ser sérias, as pessoas têm que
ser sérias. Eu nunca vou tirar a substância da comunicação. O que eu digo é que
não tem que se dizer tudo e não temos que nos autocondicionar. Um líder do
partido não pode, a primeira coisa que faz, dizer eu não vou andar nunca em
classe executiva num avião, porque a primeira vez que ele andar em classe
executiva num avião, vai ser criticado por toda a comunicação social e por toda
a oposição. Isso é um autocondicionamento claríssimo que aconteceu uma vez, mas
que aconteceu imensas vezes ao longo da vida do governo do PSD.
A questão do enorme aumento de impostos. Para que é que
eu vou dizer que há um enorme aumento de impostos? Eu tenho que ser tão claro
assim? Se nós estamos numa democracia em que as pessoas votam em nós, e se eu
vou dizer às pessoas "eu vou-te dar estaladas todos os dias e tu vais votar em
mim daqui a quatro anos”, as pessoas não votam. Porque as pessoas não acreditam
naquilo que lhes faz mal. Não querem aquilo que lhes faz mal.
Mesmo que racionalmente – e eu tive imensos exemplos disto
– mesmo que racionalmente as pessoas pensem assim: o PSD, ou melhor, a
coligação PSD/CDS, vai levar o país para um sítio melhor onde ele já esteve.
Quer dizer, vai conseguir conduzir o país no sentido em que nós vamos melhorar
todos a nossa condição de vida. Mas com tanta austeridade e com tantos impostos
e com tantas questões negativas que foram sendo postas ao longo do tempo,
também por condicionamentos europeus e por condicionamentos da Troika, havia
pessoas que já não podiam olhar para o PSD, e que sabiam racionalmente que o
PSD é que nos ia safar deste tema. Essas mesmas pessoas são aquelas que
continuam a saber que o PS nos vai enterrar outra vez. Mas enquanto o pau vai e
volta, folgam as costas. E é isto que acontece.
Nós temos que ser, desculpem lá, um bocadinho de nada
cínicos. Nós temos que ser um bocadinho de nada demagógicos. Não muito, não
muito, mas um bocadinho de nada.
Se a substância e a seriedade e as políticas estiverem
cá, e se as coisas forem bem feitas, se não houver corrupção, se não houver
apropriação de situações complicadas, portanto, se a substância for
genuinamente boa, nós não podemos dizer a um povo que não percebe o que nós
estamos a dizer que lhes vamos tirar tudo para não lhes dar nada.
E eu aí, peço imensa desculpa, mas vocês vejam o que está
a acontecer nos Estados Unidos. Temos um facínora como o Trump que tem umas
sondagens absolutamente inacreditáveis. Vocês acham que aquilo é sustância?
Pergunto: o que é que interessa, é ganhar as eleições ou… e aquilo é um produto
de comunicação. E eu não acredito nada naquilo. Sendo que a esquerda nos
Estados Unidos é igual à direita em Portugal; e a direita nos Estados Unidos é
igual à extrema-direita em Portugal. É a minha opinião.
Mas vocês vêm o que é um produto de comunicação sem
substância. E eu não acredito nisso. Eu acredito no produto de comunicação com
substância. Eu acredito primeiro na substância, mas acredito muito na
comunicação a seguir à substância. Porque se não comunicar ou se disser toda a
verdade, isto é, vamos ter um brutal aumento de impostos, as pessoas zangam-se.
[Aplausos]
Duarte Marques
Obrigado. Helena…
Helena Matos
Eu creio que há duas coisas. O problema é mesmo quando a
relação com a comunicação começa a determinar o resultado eleitoral. Isso é
particularmente visível não apenas nos Estados Unidos – podemos falar de um
produto de comunicação – mas nós temos aqui, no caso europeu, provavelmente nas
próximas eleições francesas estaremos perante uma discussão não muito diferente
com a questão da Marine Le Pen.
Quando nós lemos as caixas de comentários dos jornais franceses
ficamos claramente aterrados. Temos de perceber: o sítio mais importante das
nossas sociedades é uma recriação do antigo confessionário das igrejas, é a
urna de voto. Ninguém vê em quem é que nós votamos. O voto secreto.
E quando as pessoas passam a votar não para escolher quem
os quer governar, mas como se estivessem a escolher o maior português de
sempre, que era um concurso televisivo e não contava para nada, na realidade – estão
a dizer: eu quero vingar-me disto.
Isso nota-se muito nos jornais franceses quando nós
percebemos porque é que a Marine Le Pen pode vir a ganhar as eleições, que é:
os jornais não falaram da selva de Calais, os problemas das pessoas que têm
aquele afluxo enorme de imigrantes; é a velhinha que perdeu a casa; é o outro
que vive nos tais bairros que o nosso primeiro-ministro acha que têm de ser
arrasados de raiz, mas que são umas magníficas casas, e que de repente, viviam
ali não sei quantas pessoas, não sei quantas nacionalidades diferentes, e agora
tem o problema de uma vizinha que anda tapada dos pés à cabeça, apesar de a
burca ser proibida; e depois mais o problema da insegurança e do carro que foi
partido e ninguém fez nada.
E quando as pessoas transformam o seu voto numa forma de
vingança, numa forma de repúdio, e quando os políticos do chamado centro
democrático – e eu, no centro democrático, incluo claramente os socialistas
democráticos e o centro-direita – deixaram esses assuntos nas mãos dos
radicais. E aí, de facto, é muito fácil um populista cavalgar este tipo de
comunicação social que temos. Um tipo de comunicação que, claramente, penaliza
mais os líderes de centro e não consegue enfrentar os chamados líderes radicais.
Eu há bocado dei-vos o exemplo da condescendência, da
enorme admiração, que a nossa classe jornalística tem tido desde o Arnaldo de
Matos ao Francisco Louçã. Aquele discurso nunca foi, na prática, muito
desmontado. E se quiséssemos, em Espanha, poderíamos prosseguir aí para outras
figuras ainda mais complicadas e controversas, sobretudo das áreas dos
independentismos e das questões dos terrorismos e tudo isso.
E depois, de repente, o monstro apareceu à direita. E
portanto, quando o monstro apareceu à direita, pareceu muito estranho e toda a
gente ficou muito indignada. Nós, na verdade, vivemos vários anos com eles à
esquerda. E agora que existe esta possibilidade à direita, percebeu-se, de
facto, os líderes dos partidos democráticos têm de perceber que não há temas
tabus, porque o populismo é como os gases: ocupa todos os espaços vazios.
Em relação à questão da dificuldade e da questão dos
interesses, governar bem, governar mal e da mensagem que não passa, eu creio
que de facto aquilo a que nós estamos a assistir hoje é algo que eu não sei se
os partidos estão mais ou menos preparados para isso. E que é: nós passamos da
tradicional luta de classes, que fazia movimentar a História, para uma coisa
que é, se quisermos, uma divisão etária. A geringonça, na prática, o que tem
feito é assegurar os direitos dos mais velhos, dos funcionários públicos que
estavam no fim de carreira, dos topos de carreira. Se quisermos, é uma questão
etária e corporativa, do chamado setor Estado, e dentro do setor Estado,
aqueles que já tinham atingido o topo das carreiras, ou que tinham tido as suas
reformas calculadas de forma particularmente generosa.
E temos do outro lado uma sociedade que está no setor
privado e dos mais jovens. Houve aqui uma mudança: o discurso político continua
a ser muito eficaz na solidariedade, no apoio aos pobrezinhos, no dar, e tudo
isso, mas aquilo que nós temos hoje, se quisermos, é: a geringonça é claramente
um governo para defender os interesses do setor Estado, e dentro do setor
Estado, dos privilegiados do setor Estado.
Dep.Carlos Coelho
Obrigado. Vamos então sim para a última ronda de
perguntas, e vou dar a palavra ao David Luís, do Grupo Verde, e ao Rodrigo Azevedo
Mendes, do Grupo Encarnado.
David Luís
Muito boa tarde a todos. A minha pergunta é naturalmente
para os dois oradores, mas gostaria posteriormente que outros que tiverem
interesse na matéria que me dessem também a sua opinião, porque me toca mesmo
diretamente.
Faz agora cerca um ano que um projeto caiu-me no colo, uma
associação de solidariedade, e no início foi fácil, era uma coisa nova, era de
iniciativa universitária, que não é comum, quem estava à frente era um miúdo, e
tivemos muita atenção dos media regionais e alguns nacionais, também.
Agora, passados seis/oito meses, estamos a trabalhar e a
ajudar verdadeiramente, e precisamos de voluntários, parceiros, patrocinadores,
essa atenção desapareceu, porque já não é novidade, já não é fashion.
E eu queria perguntar se esta tendência sensacionalista
dos media , noticiar só aquilo que é
uau, que é diferente, que nos chama a atenção, se isso é um fenómeno perpétuo,
e se nós devemos aceitar a nossa impotência e assimilar essa realidade, ou se
podemos contrariar isso de alguma forma.
Obrigado.
Dep.Carlos Coelho
Rodrigo.
Rodrigo Azevedo Mendes
Boa tarde. O senhor Salvador da Cunha a certa altura, em
certos momentos do debate, disse umas seguintes frases, que não sei se era exatamente
isto que queria dizer, mas pelo menos foi o que eu interpretei.
Primeiro que devíamos confiar que existe alguma
honestidade no governo. Depois também disse que o senhor António Costa diz uma
coisa e depois faz exatamente a outra. E também disse que o governo não tem
obrigação de falar sobre défice e esses sistemas chatos.
O que eu gostaria de perguntar, primeiro uma introdução…
Nós vivemos numa democracia e todos sabem o que significa
democracia – poder no povo. E toda a gente provavelmente já ouviu que o saber é
poder. Então, para nós podermos exercer corretamente o nosso poder, temos que
saber, temos que saber o que se passa. E se nós não soubermos o que se passa e
a única coisa que ouvimos é o senhor António Costa a dizer: está tudo bem, vai
correr tudo bem, a culpa não foi minha. E ainda ontem disse que a política de
anti austeridade estava a melhorar a nossa economia…
Dep.Carlos Coelho
Rodrigo, e a pergunta é…
Rodrigo Azevedo Mendes
Sim, vou chegar agora, vou começar agora. Se só ouvimos
isto, este nosso poder que nós temos obrigação de exercer, não se torna
corrompido? Não se torna um poder corrompido este poder que temos que exercer?
Dep.Carlos Coelho
Para as últimas respostas, Helena Matos, primeiro,
Salvador da Cunha, depois. Quatro minutos a cada um.
Helena Matos
Em relação à questão que foi colocada de início, eu creio
que esse é o problema dos gatinhos no Facebook. De facto, uma pessoa
interroga-se muitas vezes sobre isso. E isso tem a ver com uma questão que eu
aqui referi já, que é: o tempo da comunicação é muito breve. Muito, muito
breve, é muito fugaz. Como é que se consegue permanecer… se quisermos, o
exemplo máximo disso é a liderança do vosso partido, que tende a ser muito combustível.
Como é que se consegue sobreviver e transmitir uma
mensagem de forma continuada – penso que o salvador poderá explicar como é que
isso se faz bem –, mas como é que se consegue transmitir uma mensagem de forma
continuada sem andar com gatinhos ao colo ou, na política, criando factos que
são o equivalente aos gatinhos. Esse é, de facto, um drama.
A convicção que eu tenho é que, quando se aposta numa
estratégia de médio e longo prazo, acaba por compensar. Agora, é preciso
conseguir chegar ao médio prazo. E se nas associações se consegue chegar ao
médio prazo, e se continuarem a trabalhar dentro de algum tempo verão o vosso
trabalho reconhecido, na política, o político pode não sobreviver o suficiente,
particularmente se esse político for, até agora, do PSD - não sei qual será o
caminho que o CDS vai tomar nessa matéria –, que é em que medida é que um líder
consegue permanecer no cargo o suficiente sem ter de criar fenómenos todos os
dias.
E aí, é claramente diferente ser Presidente da República,
do que ser candidato a primeiro-ministro. Porque um Presidente da República,
pela natureza do cargo, tem uma capacidade de criar acontecimentos, sobretudo
se lhe estiver no ADN, do que um primeiro-ministro, até pelos constrangimentos
dos factos, as coisas são diferentes.
Eu creio que isso, a questão dos gatinhos, não é
irrelevante. A questão que colocou em relação à associação, transposta para a
política, é um problema muito sério. E é um problema mais sério ainda em
Portugal, em que se habituou a que um líder vai a umas eleições, perde, sai.
Vai a outras… mesmo um líder que ganhou, pode ter de sair. Ou temos o caso do
PS onde tinha sido uma vitória por poucochinho do António José Seguro.
Esse é um problema que eu acho que temos de debater de
uma forma muito séria em Portugal, porque eu não acredito que seja possível ter
pessoas de qualidade, na política, com estas circunstâncias. Esta é uma
circunstância da política portuguesa que eu penso que marca claramente as
opções que têm de ser tomadas.
Penso que já esgotei o meu tempo…
Salvador da Cunha
David, em relação à sua associação, a pergunta que eu lhe
vou fazer a seguir é: por que razão é que você necessita de estar na
comunicação social?
David Luís
Nós temos uma necessidade enorme, como eu referi, de
voluntários, parceiros, em termos, neste caso, como nós é no âmbito da comida,
a restauração, e também de patrocinadores, porque nós não temos qualquer tipo
de financiamento público, e portanto precisamos mesmo dessa ajuda.
Salvador da Cunha
Então, sugiro que faça isso diretamente e não vá pela
comunicação social. Porque a comunicação social interessa-se por notícias. Você
foi notícia quando criou, deixou de ser notícia quando continua a fazer.
Portanto, enverede por outras estratégias de marketing que não comunicação.
Eu estou-lhe a dizer isto, mas nós ajudamos, por exemplo,
o Banco Alimentar Contra a Fome, ajudamos a Caritas, ajudamos uma série de
instituições nacionais, IPSS que têm programas muito específicos. A Caritas,
ajudamos na altura dos peditórios, o Banco Alimentar, ajudamos na altura da
recolha de alimentos, mas obviamente têm interesse mediático porque são coisas
de âmbito nacional. Coisas de âmbito regional, quando não são relevantes do
ponto de vista jornalístico, vai ter muito mais dificuldades em lá chegar.
Portanto, eu sugiro que faça coisas nas redes sociais e
que faça protocolos diretos com os parceiros certos e que vá crescendo
devagarinho. Esta é a minha sugestão, do ponto de vista do marketing.
Falando do Rodrigo. O Rodrigo está a confundir uma coisa,
na minha perspetiva, que é a sua possibilidade de se informar quando quiser…
você tem toda a informação à sua disposição, toda. Vai à internet, vai aos
programas dos partidos, pode ouvir os telejornais que quiser, pode ler os
jornais que quiser, pode ouvir as opiniões que quiser, e pode formar a sua
opinião da forma como quiser. Todos os portugueses têm esta possibilidade. Isto
é uma coisa.
Vocês não se deixem, nunca, manipular pela comunicação
social. Vão sempre à procura de fontes alternativas de informação para formarem
a vossa opinião. A comunicação social não é, não pode ser nunca a vossa única
fonte – principalmente na área política -, não pode ser nunca a vossa única
fonte de informação e a vossa única fonte de formação de opinião. Isto é uma
coisa.
A sua capacidade democrática de escolher em quem quer
votar, depende muito de si, depende muito de vocês todos. Da forma como vocês
vão, ou não vão, à procura de informação, ou vão ou não vão interpretar essa
informação, e como é que vocês se reveem nas ideologias que estão escritas em
determinadas situações.
A experiência diz-nos que muito pouca gente lê, na
íntegra – talvez alguns jornalistas o façam para fazerem resumos – os programas
dos partidos. Isto efetivamente não acontece. Agora, devia acontecer. Por isso
é que os programas dos partidos têm tendência a ser cada vez mais curtos e cada
vez mais incisivos. Acontece é em áreas diferentes. Você pode-se interessar por
uma área e não se interessar por outra. Pode-se interessar pelo Serviço
Nacional de Saúde, mas não se interessar pela área do empreendedorismo, por
exemplo.
E portanto, eu acho que a sua capacidade democrática não
está em causa. Ninguém está a querer que você seja manipulado, porque você só é
manipulado, numa sociedade de informação como nós a temos hoje, se quiser.
Porque tem acesso a todas as fontes. Nunca ninguém teve tanto acesso a tantas
fontes como nós temos hoje.
A Helena já falou aqui muitas vezes do que se passava na
década de setenta. Na década de setenta, de facto, as pessoas não tinham acesso
à informação. Não tinham. Tinham muito pouco acesso à informação. Havia
radionovelas, não havia novelas na RTP, havia novelas na rádio. E havia uns
fascículos, que também traziam umas telenovelas em fascículos.
Portanto, vocês estão a ver que a informação na altura
era completamente diferente daquela que nós temos hoje. Se nós partirmos do
princípio de que nós não nos deixamos manipular pela comunicação social, temos
que perceber que temos todas as nossas liberdades intactas, e que não há nada
melhor do que termos essas liberdades intactas.
Tendo dito isto, eu acho que, de facto, o que a
geringonça está a fazer é desonesto do ponto de vista estrutural. Mas que está
a comunicar muito bem, está. É a minha opinião.
Eu não sei se isto vai durar muito tempo, porque eu acho
que as pessoas não conseguem enganar toda a gente durante todo o tempo.
Conseguem enganar muita gente durante muito tempo, mas não conseguem enganar
toda a gente durante todo o tempo. A determinada altura vai-se perceber as
fragilidades de tudo o que está a acontecer, até porque eu acho que se vai
desfazer por dentro. Às tantas o PCP, o Bloco, vão… Mas o problema deles é que
eles não querem governar o país. O principal objetivo deles é que a direita não
volte ao poder. O principal objetivo deles não é que o país esteja bem, é que a
direita não volte ao poder.
E portanto, se eles mantiverem essa narrativa e se
mantiverem tudo dentro dessa narrativa, vão engolir sapos e vão-se arrepender
todos os dias, mas o objetivo está intacto – a direita não vai voltar ao poder
enquanto eles tiverem maioria na Assembleia da República.
Dep.Carlos Coelho
Eu peço ao Nuno, ao Pedro Esteves e à Margarida para
virem continuar os procedimentos aqui. O Duarte Marques e eu vamos acompanhar
os nossos convidados à saída.
Em nome de nós todos quero agradecer aos nossos dois
oradores o muito interessante debate que nos proporcionaram.