Completando a licenciatura em medicina, teria, em tese, um emprego mais estável. Ao invés disso, decidiu optar por uma opção mais ousada e ingressar no mundo da música. De certa forma, seguiu o seu sonho. Aconselha os jovens de hoje em dia a seguirem os seus "sonhos" ou a optarem pela estabilidade?
O meu conselho para todos os jovens seria, sem dúvida, o de seguirem os seus sonhos. Optei pela música por sentir que era a minha vocação, sem ponderar qual das vias seria mais estável. O que tenho aprendido ao longo da minha carreira académica e profissional é que o cumprimento dos nossos sonhos depende de alguma dose de sorte, mas muito diretamente do que nós conseguimos controlar: a preparação máxima em cada tarefa que nos é confiada, consistência e antecipação de cada etapa que se avizinha.
Que solução vê para uma maior afirmação da cultura musical portuguesa no mundo?
Não consigo identificar uma solução única, mas acredito que existem formas de contribuir para o desenvolvimento da nossa identidade. Por um lado, assegurando a estabilidade das nossas instituições culturais, garantido que têm capacidade humana e financeira para se desenvolverem a curto, médio e longo prazo; por outro, investindo numa educação para as artes acessível a todos os portugueses. Não se trata de uma opinião mas sim de um facto: existem inúmeros estudos que correlacionam o ensino das artes e em particular da música (universo que conheço melhor) com o desenvolvimento de importantes capacidades intelectuais (i.e. memória, capacidade de abstração) e de relação social (i.e. disciplina, contribuição para a criação de um bem comum).
Sabendo que a diminuição do investimento da cultura é (quase) um paradigma aquando das crises económicas, qual considera serem as consequências mais graves a médio/longo prazo na identidade cultural, e também na formação artística, do povo desse(s) país(es)?
Quem já assistiu a diversas sessões do Festival no Largo (junto ao Teatro Nacional de São Carlos) sob a batuta de Joana Carneiro, saberá certamente reconhecer que estamos perante uma das grandes maestrinas da nova geração. A pergunta que interessa colocar a Joana Carneiro centra-se no futuro do programa do São Carlos, qual é o projecto de Joana Carneiro para a orquestra do São Carlos e numa outra prespectiva, qual é o futuro da música clássica em Portugal? Será que faltam mais programas culturais que aproximem as pessoas da música dita erudita?
Na sua opinião, quais são os maiores impedimentos para que a cultura produzida em Portugal assuma um papel de destaque na dinamização social e económica do país o que acontece, por exemplo, na Islândia?
Paabéns pela coragem e persistência no alcançar de um sonho. Quando abdicou de um curso de medicina e apostou no percurso musical certamente houve factores que a fizeram vacilar na escolha. Porém quais foram as certezas que a fizeram avançar?