Vamos então começar a nossa Simulação de Assembleia.
Estamos num quadro parlamentar, como o cenário indica, e vamos ter uma tarde
dividida em duas metades, antes e depois do lanche, com cinco simulações em
cada uma das metades.
Os lugares na sala correspondem àquilo que vocês já
viram. E chamo a atenção para os sete grupos neutros desta sessão.
O governo, neste caso o Governo Laranja, já está nos seus
lugares; as oposições já estão nos seus lugares, neste caso a Oposição Bege e
Verde. E chamo a atenção para a circunstância de a Oposição 1 estar sempre à
minha esquerda, portanto à vossa direita, e a Oposição 2 à minha direita, ou
seja, à vossa esquerda.
Quem usa da palavra em cada uma das oposições tem que se
sentar no centro da mesa, de forma a estar enquadrado pela imagem. Eu peço aos
dois oradores para acenarem, para vocês verem porquê. Porque todos os grupos
neutros – os sete grupos neutros – vão avaliar quem ganhou o debate, e para
vocês poderem fazê-lo têm de ver de frente os oradores. Como a disposição da
sala não nos permitia outra solução para vocês verem de frente os oradores,
socorremo-nos dos ecrãs para terem essa imagem. Vocês veem de frente o governo
e veem nos ecrãs as oposições.
A Mesa é ocupada pelo Nuno Matias, diretor adjunto da
Universidade de Verão, e pela Joana Barata Lopes. A Joana Barata Lopes foi
aluna da Universidade de Verão, foi uma das dez melhores alunas de 2006. Foi
dirigente nacional da JSD e é atualmente deputada à Assembleia da República.
Eles têm um mandato desagradável, que é o mandato de
serem muito rigorosos com os tempos. Portanto, não vai haver tolerância com os
tempos. O Governo tem cinco minutos, e só cinco minutos, para apresentar o seu
trabalho; as oposições, cada uma delas, têm três minutos, e só três minutos,
para fazer a sua oposição; e o Governo tem três minutos, e só três minutos,
para responder às críticas da oposição.
Por uma questão de cortesia - isto não tem nenhuma
relevância para nenhum outro aspeto; portanto, não pensem que isto altera a
perceção que nós temos do papel de cada grupo – mas por razões de etiqueta,
sempre que em nome do Governo falar o coordenador, nós vamos tratá-lo, ou tratá-la,
por senhor Primeiro-ministro ou senhora Primeira-ministra. Sempre que for outro
membro do grupo, será senhor Ministro ou senhora Ministra. A Mesa dará logo o
mote, porque dará a palavra nessa qualidade, e as oposições terão isso em
atenção quando fizerem o seu ataque, se for o Primeiro-ministro a apresentar o
trabalho do grupo que exerce as funções de governo.
Finalmente, vocês têm dois papéis que vos foram
distribuídos, são dois boletins de voto, que só irão depositar no final das
duas sessões, entre as sete e as sete e meia. O primeiro chama-se avaliação de
utilidade, corresponde à pergunta se esta Assembleia foi útil, e é, na prática,
o mesmo exercício que vocês estão habituados a fazer com os cartões coloridos.
Aquela votação instantânea em que vocês respondem se esta sessão foi útil, será
feita em relação a cada Assembleia - portanto podem preencher logo o boletim no
fim de cada Assembleia -, para dizerem se consideraram cada exercício útil –
pode haver uns exercícios que vocês acharam mais úteis e outros que acharam
menos úteis.
O outro boletim de voto chama-se avaliação dos grupos, é
mais preciso, e visa que vocês avaliem, na escala de 5 a 1 – 5, muito bom; 4,
bom; 3, suficiente; 2, medíocre e 1, mau –, as prestações do Governo, da
Oposição 1 e da Oposição 2. Qual é aqui a diferença? Os sete grupos neutros vão
fazer esta votação de braço no ar, vão dizer se ganhou o Governo ou se ganharam
as oposições. Mas é totalmente diferente o Governo ganhar à justinha, isto é,
ganhar por uma unha negra ou ganhar de forma estrondosa. Portanto, vocês, ao
levantar o cartão, só fazem um voto fechado – dizem quem ganhou o debate.
Nós gostaríamos de ter a vossa opinião mais fina, e
portanto vamos pedir para avaliarem as prestações do Governo e de cada uma das
oposições, numa escala de 1 a 5. E para esta avaliação todos podem votar. Ou
seja, mesmo aqueles que são governo, aqueles que são oposição, podem fazer essa
avaliação honesta. Não tem relevância para outros efeitos senão para nós nos apercebermos
qual é a vossa sensibilidade relativamente à prestação das oposições. Portanto,
podem ser honestos na autoavaliação.
Eu presumo que de pormenores organizativos não falta mais
nada. Alguma dúvida relativamente àquilo que eu disse?
O micro, para todos ouvirem.
Aluno
O senhor Reitor tinha dito que o coordenador seria o Primeiro-ministro.
No entanto, num dos nossos discursos não está assim configurado. Há algum
problema?
Carlos Coelho
Não há problema nenhum, o grupo é soberano em estabelecer
quem deve intervir… Por uma razão de dar mais realismo à simulação, se for o
coordenador a apresentar o programa do Governo, portanto, a primeira fala do Governo,
será tratado por todos como Primeiro-ministro. Se for o coordenador apenas a
defender o Governo no final, já não é interpelado pelas oposições, só a Mesa é
que se lhe pode dirigir, e ainda assim a Mesa dar-lhe-á a palavra na qualidade
de Primeiro-ministro ou Primeira-ministra, conforme se for um homem ou uma
mulher. Mas é só por uma questão de dar mais realismo à simulação, não tem
nenhuma outra relevância.
Mais alguma dúvida? Não sendo o caso, devolvo o papel à
Mesa, não sem deixar de fazer aquilo que é uma tradição da Universidade de
Verão. Recordar que a senhora deputada Joana Barata Lopes tem como hobby
descontrair-se a ler livros atrás de livros e andar de carro com música muito
alta (portanto, ficam a saber que há uma deputada à Assembleia da República
responsável pela poluição sonora); se jantar com amigos, qualquer convívio é o
hobby perfeito. A comida preferida é toda, para desgraça da linha, e a
tradicional portuguesa de uma forma especial. O animal preferido é o mais
votado, é o cão. O livro que sugere é o PPJP, o Programa Político para a
Juventude Portuguesa, uma edição da JSD de 1982. O filme que sugere, "América
Proibida”, para que reflitam no poder de lutar por causas. E a qualidade que
mais aprecia, a lealdade e a capacidade de sentir a amizade até ao tutano.
E a palavra está com a Mesa.
Joana Barata Lopes
Muito boa tarde a todos, senhoras e senhores Deputados,
senhores membros do Governo, vamos iniciar a nossa sessão parlamentar. Para
iniciar os trabalhos, primeiro ponto temos a temática da legalização da
prostituição. Para apresentar a proposta em nome do Governo Laranja, tem a
palavra o senhor Primeiro-ministro Aleksei Chemisov.
Dispõe de cinco minutos.
Aleksei Chemisov
Exma. Presidente da Assembleia da República, senhoras e
senhores Deputados,
O ponto que viemos apesentar do programa de governo é o
da legalização da prostituição. Todos nós sabemos que é um tema controverso, no
entanto, hoje, este limita-se à controvérsia e não existe ação para o
solucionar.
A prostituição está diretamente relacionada com uma série
de outros problemas sociais que não podem ser menosprezados, tal como: o
tráfico humano, a emigração ilegal, a exploração sexual infantil, o crime
organizado, o mercado paralelo e, claro, a saúde pública.
Hoje, a situação legal no nosso país não reconhece a
prostituição como uma profissão, e só existe contexto legal sobre o
proxenetismo, portanto, quem explora essa atividade. O atrigo 176.º do Código
Penal, que estabelece medidas penais sobre aqueles que, profissionalmente ou
com intenção lucrativa, fomentam, favorecem ou facilitam o exercício, por outra
pessoa, da prostituição, é a única referência do nosso quadro jurídico sobre
esta matéria.
Esta abordagem já demonstrou que só dá azo à permanência
do problema. Por isto, o Governo Laranja considera que este, para ser
resolvido, deve ser abordado pela lógica do próprio agente central desta
realidade. Acreditamos, portanto, que só ao regular esta profissão criaremos o
verdadeiro pilar para chegar aos resultados e progressos que ambicionamos.
Só ao enquadrar esta profissão em termos
jurídico-profissionais poderemos ter uma base legal que permita a criação de
medidas que combatam, de facto, os problemas inerentes. Dentro das medidas
sugeridas no nosso programa de governo, pretendemos restringir o acesso à
profissão por via de licença, seguindo critérios etários e sanitários.
Assim, ambicionamos minimizar a prostituição de menores,
atribuindo a licença somente a maiores de idade. Poderemos criar um mecanismo
de recolha de dados para fins estatísticos que nos permita, finalmente, medir
resultados, ter fundamento para criar outras medidas e, mais importante,
conhecer os números e a realidade deste problema.
Com a atribuição de licenças, ajudaremos a elevar a saúde
pública, promovendo condições para uma vida saudável, estabelecendo normas de
controlo médico, garantindo assim um acompanhamento contínuo.
Em matérias de segurança, chocam-nos notícias como:
"Prostituta encontrada morta, depois de estrangulada num pinhal perto de
Leiria”, Diário de Notícias, março de 2016. "Profissional do sexo de vinte anos
encontrada morta na zona industrial de Oiã”, Expresso.
A nossa medida que define zonas geográficas estratégicas,
onde a prática seja permitida, garantirá condições de segurança e,
consequentemente, minimizaremos a violência de que são alvo os agentes que
atuam na via pública de forma clandestina. Pretendemos afastar os mesmos dos habituais
locais perigosos onde esta prática é frequente, como zonas industriais ou
sítios sem iluminação, permitindo assim, também, uma vigia policial frequente
que facilite a ação das autoridades.
Queremos criar programas de apoio para a transição para o
mercado tradicional. Garantindo o reconhecimento legal desta profissão, é
possível criar programas especiais de retoma ao ensino, aconselhamento
específico, deixando finalmente assim aberta uma porta para a saída.
Ao criar regulações tributárias e incorporação dos
agentes na segurança social, ambicionamos não só implementar a justiça e
igualdade contributiva, mas garantir condições de igualdade enquanto agentes na
sociedade. Como é que alguém consegue pedir um crédito de habitação sem
demonstrar rendimentos? Vamos proibir a possibilidade de alguém querer uma casa
para viver com os seus filhos só pelo facto de que a sociedade não aceita a sua
profissão?
Mas, para além de criar uma base legal para aplicar
possíveis medidas, o mais importante na regulação desta profissão resume-se em
atribuir dignidade humana. Acabar com a discriminação e, consequentemente,
marginalização. Permitir que a sociedade reconheça estes profissionais, mesmo
que gradualmente, como cidadãos, tal como nós aqui presentes, somos o bem maior
da sociedade.
Senhoras e senhores Deputados, aceitámos o casamento
homossexual, legálizamos o aborto, descriminálizamos as drogas, mas não
conseguimos reconhecer uma profissão, um cidadão, um ser humano? [ Joana Barata Lopes : Senhor
Primeiro-ministro, dispõe de 30 segundos.] Isto, caros colegas, é uma
hipocrisia, num país que é considerado liberal, tolerante e progressivo na
medida social.
Por fim, deixo-vos uma questão. Os senhores consideram a
prostituição um problema? Caso não considerem, a legalização não tem qualquer
entrave e não traz qualquer incómodo. Mas se a resposta dos senhores é sim,
então a legalização é o único meio possível para resolver este problema.
Obrigado.
[Aplausos]
Joana Barata Lopes
Muito obrigada, senhor Primeiro-ministro.
Para a primeira interpelação ao Governo, pela Oposição 1,
do Partido Bege, tem a palavra o senhor Deputado Tiago Dinis. Dispõe de 3
minutos.
Tiago Diniz
Muito obrigado. Permitam-me primeiro saudar a Exma. senhora
Presidente da Assembleia, Exmo. senhor Primeiro-Ministro, restantes membros do
Governo e demais Deputados.
Analisando a vossa proposta, notamos claramente que há
aqui alguma falta de coerência. Primeira medida, legalizar a prostituição, e
esperam disso reduzir o número de pessoas que irão trabalhar nesse ramo, ou
seja, trabalhadores no ramo da indústria sexual. Ou seja, vamos estar a
legalizar para reduzir.
Mesmo que seja legislado, e existam licenças, acham que
iremos conseguir diminuir o mercado paralelo que há? Vamos ter em atenção aqui
alguns países, como a Holanda. Tenho a certeza de que se basearam nisso.
A Holanda já impõe esta legislação. E o que é que
acontece? E vou aqui às minha cábulas, permitam-me… Na Holanda, esta prática…
Permitam-me… não, estou apenas a estruturar.
O que é que acontece? Ao estarmos aqui a vincular certas
pessoas à prostituição, vai criar um certo desconforto. Ou seja, existirá muita
gente que não irá declarar impostos simplesmente porque ainda existe esse preconceito,
com medo de represálias. Vão tentar mudar a pedagogia, mas isto são medidas de
agora.
Passando a outro ponto, focam aqui a saúde. Certamente
que existirá legislação que irá medir, irá tentar controlar a prática dos
trabalhadores. E os clientes? Como é que irão fazer? Irão criar um cartão de
sócio? Será o cartão de sócio onde atestamos que este sócio está apto? Temos
que ter aqui atenção.
E ainda… Há aqui uma situação que toca especialmente às
mulheres, ou seja, como todos sabemos, qualquer método contracetivo tem uma
percentagem de falha. Ou seja, vamos impor que as mulheres tenham um cliente
por noite? Tenham quatro clientes por noite? Vamos impor um exame a seguir a
cada cliente? Nunca saberemos a taxa que poderá falhar. Nunca saberemos.
Passando ao próximo ponto, voltando aqui às zonas
geográficas. Nós vamos simplesmente decidir que uma terra vai ser vinculada à
prostituição? [ Joana Barata Lopes :
Dispõe de 30 segundos, senhor deputado] Muito obrigado. Vamos simplesmente
dizer que uma terra será vinculada à prostituição? As pessoas que lá vivem,
agora, estão preparadas para isso?
Parece-me que a resposta ainda não está bem definida.
Parece-me que, de momento, é tudo.
Joana Barata Lopes
Muito obrigada, senhor Deputado.
Para a segunda interpelação ao Governo Laranja, tem a
palavra pela Oposição 2, do Partido Verde, o senhor Deputado Tiago Lorga.
Dispõe de três minutos.
Tiago Lorga
Desde já quero agradecer a palavra à senhora Presidente
da Assembleia e dirigir-me ao Exmo. senhor Primeiro-ministro.
Antes de mais, quero-lhe dar os sinceros parabéns pela
sua criatividade. Se eu bem entendi a sua proposta, pretende legalizar a
prostituição em Portugal. Ou seja, dou-lhe imenso valor por tentar fazer deste
país um bordel ainda maior do que ele já é.
Sobre o dito respeito pela liberdade de escolha que tanto
prometeu, devo dizer-lhe que é absurdo. A maioria dos trabalhadores e
profissionais do sexo não pratica voluntariamente, mas sim como último recurso
e por uma questão de sobrevivência. A legalização da profissão mais antiga do
mundo é um atentado aos valores e à moral do nosso país, bem como à nossa
própria humanidade.
Em segundo ponto, quando à licença que propôs, não
poderia ter ouvido nada mais patético. Tiraria o anonimato, incitaria maior
estigma e discriminação social e conduziria esta situação à clandestinidade,
agravando a situação atual.
E assim sendo, lanço-lhe uma questão diretamente. Como é
que faria em caso de a licença não ser aprovada, para os 10% dos trabalhadores
do sexo em Portugal HIV positivos? De que forma é que impediria que estes
fossem exercer fora do sistema?
Já relativamente ao Serviço Nacional de Saúde, o que
propõe é uma utopia. Propõe uma medida dirigida aos trabalhadores mas que não
os protege minimamente. A medida visa sim proteger os clientes. E dada a
legalização, haverá um maior contacto com este mundo perverso e conduzirá a uma
maior quantidade de parceiros sexuais e transformará este bordel numa autêntica
caldeirada de doenças sexualmente transmissíveis.
Já… (anda não acabei, tenha calma) já sobre as regulações
tribuárias, o que lhe pergunto, muito honestamente, é como é que vai conseguir
dormir à noite, sabendo que no meio de dinheiro público corre dinheiro obtido
através de um meio eticamente reprovável, dinheiro sujo obtido pelo suor, pelo
sangue e pelas lágrimas da humilhação e do desespero humano.
Mas o cúmulo, o cúmulo da sua proposta, foi quando disse
que ela visava a diminuição dos trabalhadores do sexo. Como sabe, ou como pode
não saber, ficará agora a saber, em todos os países em que houve legalização
verificou-se um aumento explosivo da prostituição. As barreiras legais caem, a
par das éticas e sociais, levando à banalização da obscenidade e da
perversidade, [ Joana Barata Lopes :
Dispõe de 30 segundos, senhor Deputado] tratando serem humanos como mercadoria
e contribuindo para o seu tráfico.
Como nós queremos o bem para o país, deixamos-lhe aqui e
dizemos para pôr os olhos no modelo sueco que tão bem, tão bem procura não a
manutenção da prostituição, deste ciclo, mas sim a sua quebra através da
criminalização do cliente.
Por favor, isto é uma medida real, concentrem-se no que
realmente importa e não a legitimar o ilegítimo.
Obrigado.
[Aplausos]
Joana Barata Lopes
Muito obrigada, senhor Deputado. Para responder, tem a
palavra, pelo Governo Laranja, o senhor Primeiro-ministro, e agora vamos dizer
o nome de forma correta, Aleksei Chemisov.
Aleksei Chemisov
Antes de mais, entristece-me o facto de os senhores
deputados, durante uma discussão tão séria como esta, não tenham vergonha em
fazer piadas, como a do cartão de sócio, não só por estarmos num contexto
formal como a Assembleia da República, mas principalmente porque estamos a
discutir matéria puramente social.
Ainda bem que estamos de porta fechada e os nossos
colegas dos outros países não nos ouvem, para não saberem da forma como alguns
de vós lidam com temas de cariz tão humano, numa altura em que, pela primeira
vez, temos um candidato e possível Secretário-Geral das Nações Unidas.
Em relação aos números que refere da Suécia e do aumento
da prostituição, tais números só existem porque a legalização permite que eles
existam. Antes não haveria, havia especulações, haveria estatísticas. Aconteceu
o mesmo em Portugal quando a violência doméstica se tornou um crime público,
houve um aumento do fenómeno. Não houve um aumento do fenómeno. Houve aumento
de segurança daqueles que sofrem desse fenómeno e conseguiram ter garantias de
queixar-se e defender-se dele.
A nível da questão dos valores humanos, que tanto vos
indigna. A definição de Kant da dignidade humana, é um conceito que é adequável
à realidade e à modernização da sociedade, devendo este estar em conluio com a
evolução e as tendências do ser humano.
Sendo nós um país que está a acompanhar o desenvolvimento
e todas as vertentes sociais, temos que aceitar também a existência de fatores
como a prostituição.
Para terminar gostaria de falar-vos não como Primeiro-ministro
que apresenta um ponto do programa de governo para os senhores deputados na
Assembleia da República, queria-vos antes fazer um apelo como cidadão – de
cidadão para outros cidadãos. Vamos reconhecer e regulamentar uma atividade que
os nossos concidadãos realizam. Vamos deixar a discriminação de lado e ajudar a
acabar com todos os problemas associados a esta. Vamos finalmente tratá-los
como verdadeiros seres humanos.
Caros colegas, sejamos humanos.
[Aplausos]
Joana Barata Lopes
Muito obrigada, senhor Primeiro-ministro. Nós vamos agora
responder às avaliações que foram explicadas no início. Pergunto aos grupos que
não participaram no debate, quem entende que foi o Governo que ganhou o debate.
Se puderem achar tudo ao mesmo tempo, é melhor, mas…
Muito obrigada, podem baixar.
Quem entende que foi a Oposição 1, do Grupo Bege, que
ganhou o debate, por favor levante o braço.
Muito obrigada.
Quem entente que foi a Oposição 2, do Grupo Verde…
Creio que é inequívoco. Ganhou o debate o Grupo Verde.
Muitos parabéns.
Pedia agora que votassem – agora todos os grupos – a
substância da matéria, ou seja, quem é a favor da legalização da prostituição,
por favor levante o braço.
Ok, outra vez.
Obrigada. Podem baixar.
Quem é contra a legalização da prostituição, por favor,
levante o braço.
Creio que é inequívoco, há mais pessoas a entenderem que
deve ser legalizada a prostituição em Portugal.
Muito obrigada.
E agora para comentar passo a palavra ao magnífico Reitor
Carlos Coelho.
Dep.Carlos Coelho
Muito bem, fizemos a primeira simulação. Dou-vos os
parabéns pelo trabalho que fizerem de apresentar documentos e de estruturar as
vossas defesas.
O Aleksei esteve sereno e abordou o tema com seriedade.
Aqui e ali foi um bocadinho redondo. Vocês não podem pensar, mesmo num quadro
parlamentar, que estão necessariamente a falar para os colegas. A Assembleia da
República, um parlamento aberto, é um órgão de soberania que debate e decide à
porta aberta. Portanto, de certa forma, não é muito diferente daquilo que eu
vos disse no Falar Claro sobre a relação com os jornalistas – é um pretexto
para falar para fora. Isto é, quando os deputados estão a falar entre eles, a
maior parte das vezes não estão a falar para os outros, estão a falar para a
opinião pública.
E quando o Aleksei usa expressões como "é necessário
regular a base legal face aos problemas inerentes”, isto é elegante num texto
escrito, mas em termos de mensagem verbal carece de força. E isso foi o único
problema do Aleksei, a meu ver.
Ele fez um discurso estruturado, sobretudo o primeiro -
gostei mais do primeiro do que depois nas respostas -, e aquilo que ele tinha
de mais forte, quando fala na dignidade da pessoa humana e quer explorar casos
concretos, ele tinha que tornar esses casos concretos presentes no debate. E
eles passaram fugazmente na sua intervenção.
Nas oposições – acho que as oposições ganharam o debate
–, entre o Tiago Dinis e o Tiago Lorga, dois Tiagos. O Tiago Dinis esteve
melhor na forma, do que o Tiago Lorga. O único defeito do Tiago Dinis foi
ter-se apoiado na mesa com as mãos. De resto, o Tiago tem uma excelente voz, teve
uma excelente postura e esteve melhor na comunicação verbal, melhor do que o
Tiago Lorga.
Onde é que ele falhou? Falhou por não ter as notas
devidamente arrumadas, e portanto deu uma ideia de alguma atrapalhação, bastava
que elas estivessem mais arrumadas, e faltou-lhe um punch final. Ou seja, uma
frase forte, uma ideia contundente para terminar o seu discurso.
O Tiago Lorga foi o melhor na substância. Foi demolidor
para o Governo. Teve sound bites fantásticos: fazer de Portugal um bordel, o dinheiro sujo, sangue suor e
lágrimas (nunca o Churchill pensou que a sua frase iria ser adaptada à
prostituição), a prostituição é um recurso de sobrevivência – uma coisa
fantástica!
[Aplausos]
Uma coisa que quer o Tiago 1 quer o Tiago 2 fizeram muito
bem, e tiro-vos o meu chapéu porque não é fácil, é não se prejudicarem com os
apartes. O Governo mandou dois apartes muito bons, e o Tiago Dinis disse estou
apenas a estruturar-me (o senhor perdeu-se; estou apenas a estruturar-me). O
Tiago podia ter sucumbido ao nervosismo e ter ficado mais atrapalhado – nada! E
a mesma coisa o Tiago Lorga, foi um bocadinho mais sacudido: tenha calma, tenha
calma.
Vocês não se deixaram atrapalhar. Esta é uma lição
essencial nas assembleias. As bocas dos outros são para esquecer, são ruído. Eu
gosto sempre de citar o aforismo os "cães ladram, mas a caravana passa”. É isso
que vocês têm que fazer.
Finalmente, na última intervenção do Aleksei, outro
registo. Só vale a pena citar argumentos de autoridade – o Aleksei citou o Kant
- quando eles são evidentes, eles são percetíveis, eles são partilhados e eles
são úteis no contexto. Aqui a pura filosofia era para dar alavanca à frase
final do Aleksei, que era: sejamos humanos, mas isto não teve tanto impacto
quanto os sound bites do Tiago Lorga.
Parabéns a todos, grande exercício.
[Aplausos]
Duarte Marques
Boa tarde a todos. Eu não vou acrescentar muito mais, nós
vamos dividir isto entre os dois.
Eu acho que, de facto, o Tiago Lorga ganhou, ganhou muito
bem. O outro Tiago, o teu erro foi andares aos papéis, porque tu tinhas bons sound bites , tens uma voz até acho que
melhor. Mas isto é um exemplo para todos vocês. Vejam os erros que eles
cometeram, ir para ali com papéis e não saber onde é que eles estão e o que tem
que se dizer, é meio caminho andado para dar asneira. E isso é uma lição, é um
erro que eu acho que ele nunca mais vai cometer, e aprendeu-o hoje. Mas esteve
muito bem, os sound bites também eram
bons.
O Tiago Lorga acho que, sob todos os pontos de vista,
esteve muito bem. Consegui não se baixar, conseguiu ler à distância, conseguiu
mexer bem as mãos.
O Tiago, ou outro Tiago, só uma coisa: tem cuidado ao
apontar, tu ali estavas a apontar. Isto não fica muito bem. Mais vale fazer
assim, ou pores assim a mão. Apontar o dedo não é grande coisa, é muito
agressivo, às vezes.
O Aleksei, eu acho que ele foi o mais honesto de todos no
debate, porque levou isto muito a sério, até demasiado a sério. Quem está no Governo
não pode fazer as piadas que vocês fazem, tem que ter uma postura muito séria,
e tu só não ganhaste porque levaste isto a sério e foste demasiado sério, e não
tiveste a simpatia nem o punch dos outros. Eu acho que o discurso dele era o
mais razoável, mas demasiado… Como o Carlos dizia, não vale a pena citar as
frases se as pessoas nem sequer as conhecem, não percebem a ligação, e tu não
tiveste emoção nenhuma.
Como não há aqui imprensa, eu posso dizer isto. Tu
fizeste-me lembrar o um bocado o Passos Coelho, às vezes, que está ali, tem o
discurso todo sério, todo bem estruturado, muito honesto, muito rigoroso, mas
aquilo depois não chega às pessoas, não tem punch. E tu não és um tipo de
grandes emoções e isso revelou-se aqui. Mas para mim foi o mais sério de todos
na discussão.
E o equilíbrio, como abordámos ontem naquele debate, tem
que estar aqui no meio entre todos. É óbvio que, para ganhar eleições, o Tiago,
do Grupo Verde, neste caso, tinha conseguido recolher mais votos, e esse foi o
resultado final.
Muito obrigado, parabéns, e que os seguintes aprendam com
estes.