ACTAS  
 
03/09/2016
Simulação de Assembleia: Legalizar a prostituição
 
Dep.Carlos Coelho

Vamos então começar a nossa Simulação de Assembleia. Estamos num quadro parlamentar, como o cenário indica, e vamos ter uma tarde dividida em duas metades, antes e depois do lanche, com cinco simulações em cada uma das metades.

Os lugares na sala correspondem àquilo que vocês já viram. E chamo a atenção para os sete grupos neutros desta sessão.

O governo, neste caso o Governo Laranja, já está nos seus lugares; as oposições já estão nos seus lugares, neste caso a Oposição Bege e Verde. E chamo a atenção para a circunstância de a Oposição 1 estar sempre à minha esquerda, portanto à vossa direita, e a Oposição 2 à minha direita, ou seja, à vossa esquerda.

Quem usa da palavra em cada uma das oposições tem que se sentar no centro da mesa, de forma a estar enquadrado pela imagem. Eu peço aos dois oradores para acenarem, para vocês verem porquê. Porque todos os grupos neutros – os sete grupos neutros – vão avaliar quem ganhou o debate, e para vocês poderem fazê-lo têm de ver de frente os oradores. Como a disposição da sala não nos permitia outra solução para vocês verem de frente os oradores, socorremo-nos dos ecrãs para terem essa imagem. Vocês veem de frente o governo e veem nos ecrãs as oposições.

A Mesa é ocupada pelo Nuno Matias, diretor adjunto da Universidade de Verão, e pela Joana Barata Lopes. A Joana Barata Lopes foi aluna da Universidade de Verão, foi uma das dez melhores alunas de 2006. Foi dirigente nacional da JSD e é atualmente deputada à Assembleia da República.

Eles têm um mandato desagradável, que é o mandato de serem muito rigorosos com os tempos. Portanto, não vai haver tolerância com os tempos. O Governo tem cinco minutos, e só cinco minutos, para apresentar o seu trabalho; as oposições, cada uma delas, têm três minutos, e só três minutos, para fazer a sua oposição; e o Governo tem três minutos, e só três minutos, para responder às críticas da oposição.

Por uma questão de cortesia - isto não tem nenhuma relevância para nenhum outro aspeto; portanto, não pensem que isto altera a perceção que nós temos do papel de cada grupo – mas por razões de etiqueta, sempre que em nome do Governo falar o coordenador, nós vamos tratá-lo, ou tratá-la, por senhor Primeiro-ministro ou senhora Primeira-ministra. Sempre que for outro membro do grupo, será senhor Ministro ou senhora Ministra. A Mesa dará logo o mote, porque dará a palavra nessa qualidade, e as oposições terão isso em atenção quando fizerem o seu ataque, se for o Primeiro-ministro a apresentar o trabalho do grupo que exerce as funções de governo.

Finalmente, vocês têm dois papéis que vos foram distribuídos, são dois boletins de voto, que só irão depositar no final das duas sessões, entre as sete e as sete e meia. O primeiro chama-se avaliação de utilidade, corresponde à pergunta se esta Assembleia foi útil, e é, na prática, o mesmo exercício que vocês estão habituados a fazer com os cartões coloridos. Aquela votação instantânea em que vocês respondem se esta sessão foi útil, será feita em relação a cada Assembleia - portanto podem preencher logo o boletim no fim de cada Assembleia -, para dizerem se consideraram cada exercício útil – pode haver uns exercícios que vocês acharam mais úteis e outros que acharam menos úteis.

O outro boletim de voto chama-se avaliação dos grupos, é mais preciso, e visa que vocês avaliem, na escala de 5 a 1 – 5, muito bom; 4, bom; 3, suficiente; 2, medíocre e 1, mau –, as prestações do Governo, da Oposição 1 e da Oposição 2. Qual é aqui a diferença? Os sete grupos neutros vão fazer esta votação de braço no ar, vão dizer se ganhou o Governo ou se ganharam as oposições. Mas é totalmente diferente o Governo ganhar à justinha, isto é, ganhar por uma unha negra ou ganhar de forma estrondosa. Portanto, vocês, ao levantar o cartão, só fazem um voto fechado – dizem quem ganhou o debate.

Nós gostaríamos de ter a vossa opinião mais fina, e portanto vamos pedir para avaliarem as prestações do Governo e de cada uma das oposições, numa escala de 1 a 5. E para esta avaliação todos podem votar. Ou seja, mesmo aqueles que são governo, aqueles que são oposição, podem fazer essa avaliação honesta. Não tem relevância para outros efeitos senão para nós nos apercebermos qual é a vossa sensibilidade relativamente à prestação das oposições. Portanto, podem ser honestos na autoavaliação.

Eu presumo que de pormenores organizativos não falta mais nada. Alguma dúvida relativamente àquilo que eu disse?

O micro, para todos ouvirem.

Aluno

O senhor Reitor tinha dito que o coordenador seria o Primeiro-ministro. No entanto, num dos nossos discursos não está assim configurado. Há algum problema?

Carlos Coelho

Não há problema nenhum, o grupo é soberano em estabelecer quem deve intervir… Por uma razão de dar mais realismo à simulação, se for o coordenador a apresentar o programa do Governo, portanto, a primeira fala do Governo, será tratado por todos como Primeiro-ministro. Se for o coordenador apenas a defender o Governo no final, já não é interpelado pelas oposições, só a Mesa é que se lhe pode dirigir, e ainda assim a Mesa dar-lhe-á a palavra na qualidade de Primeiro-ministro ou Primeira-ministra, conforme se for um homem ou uma mulher. Mas é só por uma questão de dar mais realismo à simulação, não tem nenhuma outra relevância.

Mais alguma dúvida? Não sendo o caso, devolvo o papel à Mesa, não sem deixar de fazer aquilo que é uma tradição da Universidade de Verão. Recordar que a senhora deputada Joana Barata Lopes tem como hobby descontrair-se a ler livros atrás de livros e andar de carro com música muito alta (portanto, ficam a saber que há uma deputada à Assembleia da República responsável pela poluição sonora); se jantar com amigos, qualquer convívio é o hobby perfeito. A comida preferida é toda, para desgraça da linha, e a tradicional portuguesa de uma forma especial. O animal preferido é o mais votado, é o cão. O livro que sugere é o PPJP, o Programa Político para a Juventude Portuguesa, uma edição da JSD de 1982. O filme que sugere, "América Proibida”, para que reflitam no poder de lutar por causas. E a qualidade que mais aprecia, a lealdade e a capacidade de sentir a amizade até ao tutano.

E a palavra está com a Mesa.

 
Joana Barata Lopes

Muito boa tarde a todos, senhoras e senhores Deputados, senhores membros do Governo, vamos iniciar a nossa sessão parlamentar. Para iniciar os trabalhos, primeiro ponto temos a temática da legalização da prostituição. Para apresentar a proposta em nome do Governo Laranja, tem a palavra o senhor Primeiro-ministro Aleksei Chemisov.

Dispõe de cinco minutos.

 
Aleksei Chemisov

Exma. Presidente da Assembleia da República, senhoras e senhores Deputados,

O ponto que viemos apesentar do programa de governo é o da legalização da prostituição. Todos nós sabemos que é um tema controverso, no entanto, hoje, este limita-se à controvérsia e não existe ação para o solucionar.

A prostituição está diretamente relacionada com uma série de outros problemas sociais que não podem ser menosprezados, tal como: o tráfico humano, a emigração ilegal, a exploração sexual infantil, o crime organizado, o mercado paralelo e, claro, a saúde pública.

Hoje, a situação legal no nosso país não reconhece a prostituição como uma profissão, e só existe contexto legal sobre o proxenetismo, portanto, quem explora essa atividade. O atrigo 176.º do Código Penal, que estabelece medidas penais sobre aqueles que, profissionalmente ou com intenção lucrativa, fomentam, favorecem ou facilitam o exercício, por outra pessoa, da prostituição, é a única referência do nosso quadro jurídico sobre esta matéria.

Esta abordagem já demonstrou que só dá azo à permanência do problema. Por isto, o Governo Laranja considera que este, para ser resolvido, deve ser abordado pela lógica do próprio agente central desta realidade. Acreditamos, portanto, que só ao regular esta profissão criaremos o verdadeiro pilar para chegar aos resultados e progressos que ambicionamos.

Só ao enquadrar esta profissão em termos jurídico-profissionais poderemos ter uma base legal que permita a criação de medidas que combatam, de facto, os problemas inerentes. Dentro das medidas sugeridas no nosso programa de governo, pretendemos restringir o acesso à profissão por via de licença, seguindo critérios etários e sanitários.

Assim, ambicionamos minimizar a prostituição de menores, atribuindo a licença somente a maiores de idade. Poderemos criar um mecanismo de recolha de dados para fins estatísticos que nos permita, finalmente, medir resultados, ter fundamento para criar outras medidas e, mais importante, conhecer os números e a realidade deste problema.

Com a atribuição de licenças, ajudaremos a elevar a saúde pública, promovendo condições para uma vida saudável, estabelecendo normas de controlo médico, garantindo assim um acompanhamento contínuo.

Em matérias de segurança, chocam-nos notícias como: "Prostituta encontrada morta, depois de estrangulada num pinhal perto de Leiria”, Diário de Notícias, março de 2016. "Profissional do sexo de vinte anos encontrada morta na zona industrial de Oiã”, Expresso.

A nossa medida que define zonas geográficas estratégicas, onde a prática seja permitida, garantirá condições de segurança e, consequentemente, minimizaremos a violência de que são alvo os agentes que atuam na via pública de forma clandestina. Pretendemos afastar os mesmos dos habituais locais perigosos onde esta prática é frequente, como zonas industriais ou sítios sem iluminação, permitindo assim, também, uma vigia policial frequente que facilite a ação das autoridades.

Queremos criar programas de apoio para a transição para o mercado tradicional. Garantindo o reconhecimento legal desta profissão, é possível criar programas especiais de retoma ao ensino, aconselhamento específico, deixando finalmente assim aberta uma porta para a saída.

Ao criar regulações tributárias e incorporação dos agentes na segurança social, ambicionamos não só implementar a justiça e igualdade contributiva, mas garantir condições de igualdade enquanto agentes na sociedade. Como é que alguém consegue pedir um crédito de habitação sem demonstrar rendimentos? Vamos proibir a possibilidade de alguém querer uma casa para viver com os seus filhos só pelo facto de que a sociedade não aceita a sua profissão?

Mas, para além de criar uma base legal para aplicar possíveis medidas, o mais importante na regulação desta profissão resume-se em atribuir dignidade humana. Acabar com a discriminação e, consequentemente, marginalização. Permitir que a sociedade reconheça estes profissionais, mesmo que gradualmente, como cidadãos, tal como nós aqui presentes, somos o bem maior da sociedade.

Senhoras e senhores Deputados, aceitámos o casamento homossexual, legálizamos o aborto, descriminálizamos as drogas, mas não conseguimos reconhecer uma profissão, um cidadão, um ser humano? [ Joana Barata Lopes : Senhor Primeiro-ministro, dispõe de 30 segundos.] Isto, caros colegas, é uma hipocrisia, num país que é considerado liberal, tolerante e progressivo na medida social.

Por fim, deixo-vos uma questão. Os senhores consideram a prostituição um problema? Caso não considerem, a legalização não tem qualquer entrave e não traz qualquer incómodo. Mas se a resposta dos senhores é sim, então a legalização é o único meio possível para resolver este problema.

Obrigado.

[Aplausos]

 
Joana Barata Lopes

Muito obrigada, senhor Primeiro-ministro.

Para a primeira interpelação ao Governo, pela Oposição 1, do Partido Bege, tem a palavra o senhor Deputado Tiago Dinis. Dispõe de 3 minutos.

 
Tiago Diniz

Muito obrigado. Permitam-me primeiro saudar a Exma. senhora Presidente da Assembleia, Exmo. senhor Primeiro-Ministro, restantes membros do Governo e demais Deputados.

Analisando a vossa proposta, notamos claramente que há aqui alguma falta de coerência. Primeira medida, legalizar a prostituição, e esperam disso reduzir o número de pessoas que irão trabalhar nesse ramo, ou seja, trabalhadores no ramo da indústria sexual. Ou seja, vamos estar a legalizar para reduzir.

Mesmo que seja legislado, e existam licenças, acham que iremos conseguir diminuir o mercado paralelo que há? Vamos ter em atenção aqui alguns países, como a Holanda. Tenho a certeza de que se basearam nisso.

A Holanda já impõe esta legislação. E o que é que acontece? E vou aqui às minha cábulas, permitam-me… Na Holanda, esta prática… Permitam-me… não, estou apenas a estruturar.

O que é que acontece? Ao estarmos aqui a vincular certas pessoas à prostituição, vai criar um certo desconforto. Ou seja, existirá muita gente que não irá declarar impostos simplesmente porque ainda existe esse preconceito, com medo de represálias. Vão tentar mudar a pedagogia, mas isto são medidas de agora.

Passando a outro ponto, focam aqui a saúde. Certamente que existirá legislação que irá medir, irá tentar controlar a prática dos trabalhadores. E os clientes? Como é que irão fazer? Irão criar um cartão de sócio? Será o cartão de sócio onde atestamos que este sócio está apto? Temos que ter aqui atenção.

E ainda… Há aqui uma situação que toca especialmente às mulheres, ou seja, como todos sabemos, qualquer método contracetivo tem uma percentagem de falha. Ou seja, vamos impor que as mulheres tenham um cliente por noite? Tenham quatro clientes por noite? Vamos impor um exame a seguir a cada cliente? Nunca saberemos a taxa que poderá falhar. Nunca saberemos.

Passando ao próximo ponto, voltando aqui às zonas geográficas. Nós vamos simplesmente decidir que uma terra vai ser vinculada à prostituição? [ Joana Barata Lopes : Dispõe de 30 segundos, senhor deputado] Muito obrigado. Vamos simplesmente dizer que uma terra será vinculada à prostituição? As pessoas que lá vivem, agora, estão preparadas para isso?

Parece-me que a resposta ainda não está bem definida.

Parece-me que, de momento, é tudo.

 
Joana Barata Lopes

Muito obrigada, senhor Deputado.

Para a segunda interpelação ao Governo Laranja, tem a palavra pela Oposição 2, do Partido Verde, o senhor Deputado Tiago Lorga. Dispõe de três minutos.

 
Tiago Lorga

Desde já quero agradecer a palavra à senhora Presidente da Assembleia e dirigir-me ao Exmo. senhor Primeiro-ministro.

Antes de mais, quero-lhe dar os sinceros parabéns pela sua criatividade. Se eu bem entendi a sua proposta, pretende legalizar a prostituição em Portugal. Ou seja, dou-lhe imenso valor por tentar fazer deste país um bordel ainda maior do que ele já é.

Sobre o dito respeito pela liberdade de escolha que tanto prometeu, devo dizer-lhe que é absurdo. A maioria dos trabalhadores e profissionais do sexo não pratica voluntariamente, mas sim como último recurso e por uma questão de sobrevivência. A legalização da profissão mais antiga do mundo é um atentado aos valores e à moral do nosso país, bem como à nossa própria humanidade.

Em segundo ponto, quando à licença que propôs, não poderia ter ouvido nada mais patético. Tiraria o anonimato, incitaria maior estigma e discriminação social e conduziria esta situação à clandestinidade, agravando a situação atual.

E assim sendo, lanço-lhe uma questão diretamente. Como é que faria em caso de a licença não ser aprovada, para os 10% dos trabalhadores do sexo em Portugal HIV positivos? De que forma é que impediria que estes fossem exercer fora do sistema?

Já relativamente ao Serviço Nacional de Saúde, o que propõe é uma utopia. Propõe uma medida dirigida aos trabalhadores mas que não os protege minimamente. A medida visa sim proteger os clientes. E dada a legalização, haverá um maior contacto com este mundo perverso e conduzirá a uma maior quantidade de parceiros sexuais e transformará este bordel numa autêntica caldeirada de doenças sexualmente transmissíveis.

Já… (anda não acabei, tenha calma) já sobre as regulações tribuárias, o que lhe pergunto, muito honestamente, é como é que vai conseguir dormir à noite, sabendo que no meio de dinheiro público corre dinheiro obtido através de um meio eticamente reprovável, dinheiro sujo obtido pelo suor, pelo sangue e pelas lágrimas da humilhação e do desespero humano.

Mas o cúmulo, o cúmulo da sua proposta, foi quando disse que ela visava a diminuição dos trabalhadores do sexo. Como sabe, ou como pode não saber, ficará agora a saber, em todos os países em que houve legalização verificou-se um aumento explosivo da prostituição. As barreiras legais caem, a par das éticas e sociais, levando à banalização da obscenidade e da perversidade, [ Joana Barata Lopes : Dispõe de 30 segundos, senhor Deputado] tratando serem humanos como mercadoria e contribuindo para o seu tráfico.

Como nós queremos o bem para o país, deixamos-lhe aqui e dizemos para pôr os olhos no modelo sueco que tão bem, tão bem procura não a manutenção da prostituição, deste ciclo, mas sim a sua quebra através da criminalização do cliente.

Por favor, isto é uma medida real, concentrem-se no que realmente importa e não a legitimar o ilegítimo.

Obrigado.

[Aplausos]

 
Joana Barata Lopes

Muito obrigada, senhor Deputado. Para responder, tem a palavra, pelo Governo Laranja, o senhor Primeiro-ministro, e agora vamos dizer o nome de forma correta, Aleksei Chemisov.

 
Aleksei Chemisov

Antes de mais, entristece-me o facto de os senhores deputados, durante uma discussão tão séria como esta, não tenham vergonha em fazer piadas, como a do cartão de sócio, não só por estarmos num contexto formal como a Assembleia da República, mas principalmente porque estamos a discutir matéria puramente social.

Ainda bem que estamos de porta fechada e os nossos colegas dos outros países não nos ouvem, para não saberem da forma como alguns de vós lidam com temas de cariz tão humano, numa altura em que, pela primeira vez, temos um candidato e possível Secretário-Geral das Nações Unidas.

Em relação aos números que refere da Suécia e do aumento da prostituição, tais números só existem porque a legalização permite que eles existam. Antes não haveria, havia especulações, haveria estatísticas. Aconteceu o mesmo em Portugal quando a violência doméstica se tornou um crime público, houve um aumento do fenómeno. Não houve um aumento do fenómeno. Houve aumento de segurança daqueles que sofrem desse fenómeno e conseguiram ter garantias de queixar-se e defender-se dele.

A nível da questão dos valores humanos, que tanto vos indigna. A definição de Kant da dignidade humana, é um conceito que é adequável
à realidade e à modernização da sociedade, devendo este estar em conluio com a evolução e as tendências do ser humano.

Sendo nós um país que está a acompanhar o desenvolvimento e todas as vertentes sociais, temos que aceitar também a existência de fatores como a prostituição.

Para terminar gostaria de falar-vos não como Primeiro-ministro que apresenta um ponto do programa de governo para os senhores deputados na Assembleia da República, queria-vos antes fazer um apelo como cidadão – de cidadão para outros cidadãos. Vamos reconhecer e regulamentar uma atividade que os nossos concidadãos realizam. Vamos deixar a discriminação de lado e ajudar a acabar com todos os problemas associados a esta. Vamos finalmente tratá-los como verdadeiros seres humanos.

Caros colegas, sejamos humanos.

[Aplausos]

 
Joana Barata Lopes

Muito obrigada, senhor Primeiro-ministro. Nós vamos agora responder às avaliações que foram explicadas no início. Pergunto aos grupos que não participaram no debate, quem entende que foi o Governo que ganhou o debate.

Se puderem achar tudo ao mesmo tempo, é melhor, mas…

Muito obrigada, podem baixar.

Quem entende que foi a Oposição 1, do Grupo Bege, que ganhou o debate, por favor levante o braço.

Muito obrigada.

Quem entente que foi a Oposição 2, do Grupo Verde…

Creio que é inequívoco. Ganhou o debate o Grupo Verde. Muitos parabéns.

Pedia agora que votassem – agora todos os grupos – a substância da matéria, ou seja, quem é a favor da legalização da prostituição, por favor levante o braço.

Ok, outra vez.

Obrigada. Podem baixar.

Quem é contra a legalização da prostituição, por favor, levante o braço.

Creio que é inequívoco, há mais pessoas a entenderem que deve ser legalizada a prostituição em Portugal.

Muito obrigada.

E agora para comentar passo a palavra ao magnífico Reitor Carlos Coelho.

 
Dep.Carlos Coelho

Muito bem, fizemos a primeira simulação. Dou-vos os parabéns pelo trabalho que fizerem de apresentar documentos e de estruturar as vossas defesas.

O Aleksei esteve sereno e abordou o tema com seriedade. Aqui e ali foi um bocadinho redondo. Vocês não podem pensar, mesmo num quadro parlamentar, que estão necessariamente a falar para os colegas. A Assembleia da República, um parlamento aberto, é um órgão de soberania que debate e decide à porta aberta. Portanto, de certa forma, não é muito diferente daquilo que eu vos disse no Falar Claro sobre a relação com os jornalistas – é um pretexto para falar para fora. Isto é, quando os deputados estão a falar entre eles, a maior parte das vezes não estão a falar para os outros, estão a falar para a opinião pública.

E quando o Aleksei usa expressões como "é necessário regular a base legal face aos problemas inerentes”, isto é elegante num texto escrito, mas em termos de mensagem verbal carece de força. E isso foi o único problema do Aleksei, a meu ver.

Ele fez um discurso estruturado, sobretudo o primeiro - gostei mais do primeiro do que depois nas respostas -, e aquilo que ele tinha de mais forte, quando fala na dignidade da pessoa humana e quer explorar casos concretos, ele tinha que tornar esses casos concretos presentes no debate. E eles passaram fugazmente na sua intervenção.

Nas oposições – acho que as oposições ganharam o debate –, entre o Tiago Dinis e o Tiago Lorga, dois Tiagos. O Tiago Dinis esteve melhor na forma, do que o Tiago Lorga. O único defeito do Tiago Dinis foi ter-se apoiado na mesa com as mãos. De resto, o Tiago tem uma excelente voz, teve uma excelente postura e esteve melhor na comunicação verbal, melhor do que o Tiago Lorga.

Onde é que ele falhou? Falhou por não ter as notas devidamente arrumadas, e portanto deu uma ideia de alguma atrapalhação, bastava que elas estivessem mais arrumadas, e faltou-lhe um punch final. Ou seja, uma frase forte, uma ideia contundente para terminar o seu discurso.

O Tiago Lorga foi o melhor na substância. Foi demolidor para o Governo. Teve sound bites fantásticos: fazer de Portugal um bordel, o dinheiro sujo, sangue suor e lágrimas (nunca o Churchill pensou que a sua frase iria ser adaptada à prostituição), a prostituição é um recurso de sobrevivência – uma coisa fantástica!

[Aplausos]

Uma coisa que quer o Tiago 1 quer o Tiago 2 fizeram muito bem, e tiro-vos o meu chapéu porque não é fácil, é não se prejudicarem com os apartes. O Governo mandou dois apartes muito bons, e o Tiago Dinis disse estou apenas a estruturar-me (o senhor perdeu-se; estou apenas a estruturar-me). O Tiago podia ter sucumbido ao nervosismo e ter ficado mais atrapalhado – nada! E a mesma coisa o Tiago Lorga, foi um bocadinho mais sacudido: tenha calma, tenha calma.

Vocês não se deixaram atrapalhar. Esta é uma lição essencial nas assembleias. As bocas dos outros são para esquecer, são ruído. Eu gosto sempre de citar o aforismo os "cães ladram, mas a caravana passa”. É isso que vocês têm que fazer.

Finalmente, na última intervenção do Aleksei, outro registo. Só vale a pena citar argumentos de autoridade – o Aleksei citou o Kant - quando eles são evidentes, eles são percetíveis, eles são partilhados e eles são úteis no contexto. Aqui a pura filosofia era para dar alavanca à frase final do Aleksei, que era: sejamos humanos, mas isto não teve tanto impacto quanto os sound bites do Tiago Lorga.

Parabéns a todos, grande exercício.

[Aplausos]

 
Duarte Marques

Boa tarde a todos. Eu não vou acrescentar muito mais, nós vamos dividir isto entre os dois.

Eu acho que, de facto, o Tiago Lorga ganhou, ganhou muito bem. O outro Tiago, o teu erro foi andares aos papéis, porque tu tinhas bons sound bites , tens uma voz até acho que melhor. Mas isto é um exemplo para todos vocês. Vejam os erros que eles cometeram, ir para ali com papéis e não saber onde é que eles estão e o que tem que se dizer, é meio caminho andado para dar asneira. E isso é uma lição, é um erro que eu acho que ele nunca mais vai cometer, e aprendeu-o hoje. Mas esteve muito bem, os sound bites também eram bons.

O Tiago Lorga acho que, sob todos os pontos de vista, esteve muito bem. Consegui não se baixar, conseguiu ler à distância, conseguiu mexer bem as mãos.

O Tiago, ou outro Tiago, só uma coisa: tem cuidado ao apontar, tu ali estavas a apontar. Isto não fica muito bem. Mais vale fazer assim, ou pores assim a mão. Apontar o dedo não é grande coisa, é muito agressivo, às vezes.

O Aleksei, eu acho que ele foi o mais honesto de todos no debate, porque levou isto muito a sério, até demasiado a sério. Quem está no Governo não pode fazer as piadas que vocês fazem, tem que ter uma postura muito séria, e tu só não ganhaste porque levaste isto a sério e foste demasiado sério, e não tiveste a simpatia nem o punch dos outros. Eu acho que o discurso dele era o mais razoável, mas demasiado… Como o Carlos dizia, não vale a pena citar as frases se as pessoas nem sequer as conhecem, não percebem a ligação, e tu não tiveste emoção nenhuma.

Como não há aqui imprensa, eu posso dizer isto. Tu fizeste-me lembrar o um bocado o Passos Coelho, às vezes, que está ali, tem o discurso todo sério, todo bem estruturado, muito honesto, muito rigoroso, mas aquilo depois não chega às pessoas, não tem punch. E tu não és um tipo de grandes emoções e isso revelou-se aqui. Mas para mim foi o mais sério de todos na discussão.

E o equilíbrio, como abordámos ontem naquele debate, tem que estar aqui no meio entre todos. É óbvio que, para ganhar eleições, o Tiago, do Grupo Verde, neste caso, tinha conseguido recolher mais votos, e esse foi o resultado final.

Muito obrigado, parabéns, e que os seguintes aprendam com estes.

[Aplausos]