Vamos dar início à nossa sessão da tarde. "Ser
social-democrata hoje” era o tema que ao longo de vários anos foi feito pelo
Prof. Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, quase sempre, com poucas exceções. O Prof.
Dr. Miguel Poiares Maduro não é a primeira vez que está na Universidade de
Verão. Em bom rigor é um dos nossos oradores mais requisitados e vão ver
porquê. Já cá esteve seis vezes, esta é a sétima.
A primeira vez em 2007 para dar uma aula sobre Europa, o
que tornou a fazer em 2013.
Em 2008 para animar um debate sobre valores - direitos e
valores - que quem viveu ainda se recorda.
Em 2010 para fazer um jantar-conferência sobre ciência.
Em 2014 para fazer um frente a frente, um debate, com o
Rui Tavares, do Livre, sobre se a direita e a esquerda ainda são barreiras que
fazem sentido no mundo de hoje.
E o ano passado, juntamente com o Dr. Manuel Castro
Almeida, para nos falar sobre o Portugal 2020, crescimento e emprego.
Portanto, é a sétima presença do Prof. Miguel Poiares
Maduro, e agradeço-lhe muito o facto de, uma vez mais, ter aceite o nosso
convite.
O nosso convidado de hoje tem como hobby o hedonismo em
geral, mas em particular cinema, cozinhar e jogar futebol. A comida preferida é
a que está constantemente a ser reinventada. O animal preferido é o cavalo. O
livro que nos sugere é "Imperfect Alternatives”. O filme que nos sugere é "Mr.
Smith Goes to Washington” e "Unforgiven”; e a qualidade que mais aprecia é a
honestidade, qualidade, aliás, de que ele deu sobejas provas, quer no percurso
europeu que desenvolveu com muito brilho e mérito, no Tribunal de Justiça da
União Europeia, quer enquanto professor universitário, diretor num centro de
reflexão em Florença, quer como ministro do último governo. O nosso convidado
que foi galardoado, em 2010, com o prémio Gulbenkian Ciência.
Senhor Prof. Dr. Miguel Poiares Maduro, o palco é todo
seu, e muito obrigado.
Miguel Poiares Maduro
Muito obrigado eu, pelo convite. Eu não tinha feito essas
contas, que já é a sétima vez, mas é sempre um gosto enorme estar aqui. E frequentemente
com temas novos, e é a primeira vez que eu venho aqui falar sobre o que
significa ser social-democrata hoje. E devo dizer que foi uma oportunidade para
mim, também, para refletir com mais profundidade, não apenas sobre aquilo que é
ser social-democrata hoje.
Nós praticamos a social-democracia, digamos que
intuitivamente. Temos uma perceção sobre aquilo que é ser social-democrata e
ajustamos a nossa prática política a isso, mas raramente temos a oportunidade
de nos afastarmos um bocadinho e pensarmos com mais profundidade sobre exatamente
o que isso é, e procurar explicitar com maior clareza aquilo que significa a
social-democracia hoje.
Eu vou procurar fazer isso convosco em três momentos
fundamentais. O primeiro é refletindo sobre as origens da social-democracia,
qual é a identidade histórica da social-democracia, enquanto doutrina política
que, ao mesmo tempo, decorreu do socialismo e do próprio socialismo marxista,
mas se diferenciou e se contrapôs a esse socialismo.
Em segundo lugar, partindo dessa identificação da
identidade política e ideológica da social-democracia na sua origem, em que
medida é que isso se refletiu na própria identidade política do PSD, do PPD,
originalmente, e do PSD. Em que aspetos – e eu irei procurar identificar três
aspetos que estão na origem da social-democracia e que depois estão claramente
refletidos também na identidade política do PSD – é que a social-democracia, ao
longo da história do nosso partido, e ainda hoje, se manifesta claramente como
aquilo que confere identidade a este projeto político que o nosso partido
reflete.
E em terceiro lugar, em que medida é que esses três
aspetos são fundamentais, e são particularmente importantes, eu diria, hoje,
para enfrentarmos desafios económicos, sociais, que enfrentamos, desafios
também políticos que enfrentamos. Desafios, alguns de origem interna, outros de
origem externa.
Deixem-me começar… quando eu procurei pensar um pouco
sobre o que iria dizer hoje aqui, fui ler, fui procurar ler e procurar
encontrar alguns textos históricos do PSD. E há um acervo de livros do meu pai
– talvez alguns de vocês saibam, o meu pai chegou a ser quer deputado quer
Presidente de Câmara, foi um dos primeiros Presidentes de Câmara eleitos na
democracia – e fui a um acervo de livros que tinha lá em casa, alguns deles
textos históricos de Sá Carneiro, do PPD, fui ler o programa original do PPD,
na altura, e encontrei este livro, que é o livro do Eduard Bernstein, que
muitos consideram como a obra fundamental da social-democracia, que diz os
pressupostos do socialismo e as tarefas da social-democracia.
Mas particularmente interessante para mim foi quando eu
peguei no livro, abri, e encontrei esta carta. Esta é uma carta do, na altura,
presidente do PPD, Francisco Sá Carneiro, dirigida ao meu pai que tinha acabado
de ser eleito Presidente da Câmara pelo PPD, dizendo precisamente – não apenas
dando os parabéns, congratulando, pela vitória nas eleições autárquicas, e pelo
início das funções, mas sobretudo para aconselhar este livro como, digamos, um
livro inspirador, um livro fundamental da prática política do PPD.
Isso foi particularmente revelador para mim, porque
demonstrava… pensem bem isto, imagino que este livro terá sido entregue não
apenas ao meu pai, mas provavelmente a todos os presidentes de Câmara eleitos
pelo PPD nas primeiras eleições autárquicas democráticas. E portanto significava
bem a importância que Sá Carneiro atribuía a este livro, a esta obra, enquanto
matriz ideológica do PPD, hoje PSD. E portanto, eu resolvi partir precisamente
desta obra; voltei a ler esta obra do Bernstein, e se nós lermos esta obra do
Bernstein, e lermos um pouco mais sobre o Bernstein, nós percebemos desde logo
onde está a identidade, não apenas da social-democracia, mas a identidade do
nosso partido.
Bernstein era originalmente um socialista marxista, ele
foi, aliás, amigo do Marx e particularmente do Engels. Mas isso não o impediu,
bem pelo contrário, de colocar em causa quer os pressupostos do socialismo
marxista, quer a estratégia política prevista e defendida pelo socialismo
marxista.
E isso, lendo o livro, nós percebemos, decorre de duas
circunstâncias fundamentais. Uma de cariz metodológico e outra de cariz
filosófico. A primeira, de cariz metodológico, tem a ver com aquilo que o
Bernstein observava na realidade, ou seja, com uma análise empírica. E ele não
observava na realidade a evolução histórica antecipada pelo materialismo
histórico, pelo marxismo. Não observava na realidade nem essa evolução
histórica, e mais, entendia que a evolução que ele observava, por exemplo, com
o crescimento da riqueza, era importante para permitir a obtenção dos próprios
objetivos socialistas. Porque que sentido faria alargar a esfera dos
beneficiários da riqueza, a todos, aos trabalhadores, sobretudo, aos operários,
que era a preocupação na altura, se não houvesse riqueza para distribuir? Ele
tinha desde logo essa preocupação.
E tinha, em segundo lugar, uma reserva muito grande
através da observação da realidade, de que realmente a ideia do conflito de
classes que depois iria, num determinado momento, tornar-se insustentável,
gerando uma revolução, ele não via esses pressupostos a verificarem-se.
E mais – e esta é a segunda influência que o leva a
reconstruir o socialismo –, ele achava que havia um risco, no entendimento
dessa evolução histórica de forma determinista, como inevitável. E esse risco
era um risco autoritário. Isso tem a ver com a tal influência, se quiserem, de
cariz filosófico. Bernstein, ao contrário de Marx e Engels, que eram muito
influenciados por Hegel, um filósofo que tem uma visão da História muito
determinista, foi muito influenciado por Kant, que é o filósofo que está na
origem do liberalismo político. Estamos a falar aqui de liberalismo – quando se
utiliza a palavra liberalismo, ela hoje em dia já é tão manipulada, tão usada,
tão abusada, que frequentemente há equívocos quanto ao uso da palavra.
O liberalismo, na sua origem, é sobretudo uma ideia de
universalidade, por um lado, kantiana, a ideia de que devemos tratar todos como
desejaríamos ser tratados, e que todos merecem um reconhecimento de dignidade
igual. E que implícito nisso está a ideia de que cada um deve ter a liberdade
de determinar o seu próprio destino. Ora, estes pressupostos do liberalismo do
Kant influenciaram o Bernstein muito mais do que a filosofia do Hegel. Pelo
contrário, ele achava que a importância da filosofia do Hegel, com aquele
determinismo histórico, tinha o risco de conferir um caráter autoritário ao
socialismo.
E portanto, num certo sentido, o Bernstein, com a sua social-democracia,
antecipa – e há até quem relacione de forma próxima – aquilo que outros vieram
a chamar de socialismo liberal, se quiserem.
Ora, estes dois pontos de partida do Bernstein, que se
refletem claramente neste livro, por um lado, uma visão da realidade, e uma
leitura da realidade como não correspondendo ao que tinha sido antecipado pelo
materialismo histórico, pelo socialismo marxista; por outro, uma preocupação
grande com elementos liberais na interpretação e na estratégia do socialismo,
para que não tivesse desvios autoritários, levaram-no a reconstruir o
socialismo. Ele na altura via este projeto como - ele era parte do partido
socialista na altura – como uma reconstrução do projeto socialista, como
reconstruindo o projeto socialista com um conjunto de valores diferentes e uma
estratégia política diferente.
Desde logo, uma defesa clara de que o futuro é aberto. Ao
contrário do materialismo histórico, que via a evolução histórica como
determinada, inevitável, ele pelo contrário acha que o futuro estava nas mãos
dos próprios trabalhadores, dependia deles. E a evolução desse futuro e as
formas que poderia vir a concretizar-se, dependia do próprio exercício da
liberdade.
Em segundo lugar, uma substituição da utopia pelo
idealismo. E relacionado com isto, uma aposta e uma ênfase muito grande no
exercício da política com cariz reformador e não com cariz revolucionário. Ele
acreditava e passou a defender as reformas, e não a revolução, ao contrário do
socialismo marxista.
Uma consequência fundamental desta reinterpretação, desta
reconstrução do socialismo, pelo Bernstein, é que o socialismo, os valores, os
objetivos, as finalidades do socialismo que ele defendia só poderiam ser
atingidos, de forma fiel aos próprios pressupostos do socialismo, se o fossem
por via democrática. E este é desde logo um elemento marcante, uma divisória
marcante com o socialismo, como era interpretado até essa altura.
O Bernstein tem uma frase que diz que – neste livro,
precisamente – a democracia é um meio e um fim. Porquê? Porque a democracia é,
em si mesmo, para ele, a maior realização do socialismo. E é a maior realização
do socialismo porque a democracia significa a igualdade de direitos para todos
os membros da comunidade humana. Portanto, a maior concretização do objetivo da
igualdade, da promoção da igualdade, está desde logo na própria democracia.
Mas, em segundo lugar, esta igualdade, esta promoção da
igualdade - e desde logo nessa relação com a democracia – está em relação
estreita com a liberdade. E isso tem muito a ver com a tal influência kantiana.
Há consequências que resultam daí, e que estão claras
também neste livro e naquilo que o Bernstein explicita sobre a conceção da
social-democracia. A primeira é que a democracia não deve ser vista apenas como
a regra da maioria. Isto é muito importante, já vou falar mais à frente, porque
hoje em dia há conceções políticas crescentes, na esquerda e na direita, de
cariz populista, que ainda se dizem e são, num certo sentido, democráticas, mas
democráticas naquilo que na teoria política se chama a democracia iliberal, ou
seja, uma democracia que vê a democracia como esgotando-se apenas na regra da
maioria. Sem uma lógica de contrapoderes, sem uma lógica de proteção das
minorias, sem uma lógica de proteção de liberdades fundamentais, sem uma
preocupação grande com a qualidade da participação no processo democrático.
Não é a visão da democracia do Bernstein, que ele defende
neste livro. Pelo contrário, ele vê a democracia como tendo limites que
decorrem da proteção da liberdade, limites que têm de ser impostos à vontade da
maioria, sob pena de a maioria se transformar numa tirania dessa maioria sobre
os outros. Em segundo lugar – aspeto importante - o Bernstein concebe a
social-democracia como uma continuação do liberalismo, do liberalismo político.
Isto é muito interessante para aqueles que, hoje em dia, acham que de um lado
está o liberalismo, do outro está a social-democracia. Não é.
O Bernstein diz que o socialismo não é apenas o sucessor
no tempo do liberalismo, mas é o seu herdeiro espiritual legítimo. Isto é uma
frase do próprio Bernstein.
Isto não é estranho se reconhecermos e se entendermos o
liberalismo, precisamente, como um projeto que visa reconciliar igualdade e
liberdade, através do princípio da universalidade. Como vos dizia, o Kant,
precisamente, a ideia de princípio de universalidade, a ideia de que todos têm
uma igual dignidade política e social que deve ser reconhecida por todos. Mas
também a ideia desse princípio da universalidade como manifestando-se, depois,
numa concretização do funcionamento do sistema político e da democracia como
tendo por base um consenso entre todos os membros da sociedade quanto às regras
que vão gerir esse processo democrático. Isso leva precisamente a ter na origem
da social-democracia esta reconciliação entre igualdade e liberdade.
E isto está muito presente – estes três pressupostos que
vos manifestei – estão muito presentes quer no programa original do PPD, quer
no programa, hoje, do PSD. Há três pontos que me parece que correspondem à
identidade da social-democracia, tal como o Bernstein a definiu, e que hoje em
dia ainda permanecem como parte da identidade política do PPD/PSD.
Às vezes, nós ouvimos dizer que o PPD, e o PSD, hoje em
dia, é um partido – ouvimos isso nos comentários – é um partido sem grande
identidade ideológica, é um partido que inclui visões políticas muito
diferentes – e seguramente há diferentes sensibilidades dentro do nosso
partido, como dentro de qualquer partido, como dentro de qualquer grupo de pessoas
–, mas, aquilo que eu procurarei demonstrar e dizer é que, quanto àqueles que
são os três princípios basilares, se quiserem, as três preocupações basilares
que estão na origem do projeto social-democrata, eles não apenas se
concretizaram no projeto e no programa fundador do PPD, como ainda hoje
permanecem como os princípios fundamentais que regem e determinam a identidade
política do PSD.
Desde logo, primeiro, a promoção e a valorização da
igualdade e liberdade, ao mesmo tempo que se entende essa igualdade e liberdade
como não estando em tensão, mas sim reconciliando-as. Como? Se vocês forem ler
o programa original do PPD, está lá definido, por exemplo, qual é finalidade
última da sociedade que o partido vai promover. E isso vem escrito como o livre
desenvolvimento da personalidade integral de cada ser humano. E esta - depois é
concretizado mais à frente - para se conseguir a promoção deste livre
desenvolvimento da personalidade integral de cada ser humano, é necessário
garantir a igualdade de oportunidades.
Portanto, vejam a relação que desde logo no próprio programa
original do PPD é feita entre a promoção da igualdade e a liberdade. É
importante, é fundamental que haja igualdade, mas essa igualdade deve ser
dirigida não a impor um modelo de vida comum, através do Estado, a todos os
indivíduos, mas, pelo contrário, essa igualdade deve ser dirigida a garantir a
cada um dos indivíduos, a cada um dos cidadãos, a cada uma das pessoas, a
capacidade de se poder realizar individualmente, de poder livremente escolher o
seu modelo de vida e a sua forma de realização pessoal. Portanto, há uma
relação muito próxima que é estabelecida entre igualdade e liberdade, que são
colocadas, não em contraposição, mas, pelo contrário, ao serviço da mesma
finalidade, que é esse reconhecimento de que cada indivíduo deve poder exprimir
na sociedade aquilo que é o seu projeto de vida pessoal e a forma de se
realizar individualmente.
Isto leva também a que, desde o início, na preocupação
com a igualdade, que compõe o programa político do PSD, e que compôs sempre a
ação política do PSD, a preocupação com a igualdade esteja muito próxima de uma
preocupação com a mobilidade social.
Reparem que – e aliás o próprio Bernstein também
reconhece isso – nós não podemos esperar que as pessoas sejam todas iguais, nem
devemos esperar, na sociedade, que as pessoas sejam todas iguais. Há
diferenças. E dentro dessas diferenças, vão existir naturalmente algumas
desigualdades. Mas o que é fundamental é que cada um possa ter na sociedade a
possibilidade de poder, de acordo com o seu mérito e com o seu esforço,
ambicionar chegar a qualquer posição social nessa sociedade. Esta é a ideia da
mobilidade social.
A não existência da mobilidade social é a ideia de que as
pessoas não podem progredir, estão para sempre circunscritas a uma determinada
posição social – quem é pobre permanece pobre, quem é rico permanece rico, por
exemplo. Ora, o objetivo da mobilidade social é que, pelo contrário, cada um
deve ter a oportunidade, de acordo com o seu esforço e o seu mérito, de atingir
aquilo que ambiciona, o que quer que isso venha a ser.
Portanto, esta é a primeira grande herança do Bernstein
que está presente no programa do PPD original e está hoje em dia, ainda,
presente também no programa do PSD. Uma preocupação e uma valorização da igualdade
e da liberdade, vistas como não estando em contraposição, mas, pelo contrário,
ao serviço da mesma finalidade
A segunda grande herança resulta da tal perspetiva
empírica de que o Bernstein partiu quando quis reavaliar, colocar em causa, o
socialismo marxista, que é uma conceção realista da sociedade e da prática
política. Isso que esteve na origem da reconstrução do socialismo pelo
Bernstein, que esteve na origem da criação e desenvolvimento da
social-democracia, é um aspeto fundamental na prática política do PSD, mas
também reconhecido explicitamente nos seus programas.
No programa original do PPD, por exemplo, lê-se que tem
de existir uma adequação constante e realista da ação política. E mesmo no
atual programa, por exemplo, diz-se que o PSD assume a rejeição de uma
ideologia fechada à realidade. Porquê esta preocupação? Porque os projetos
políticos que ignoram a realidade, ou se traduzem, necessariamente, depois, em
projetos de experimentação social, em que os cidadãos, as pessoas, são
instrumentalizados enquanto objetos de uma experiência ideológica e de formas
de engenharia social. Ou, e isso foi o que nós vimos em muitos regimes
comunistas, a ideologia, o projeto político, afastado da realidade, transformou
esses povos em objeto de uma experiência política desastrosa.
Ou, quando isso não acontece, acontece algo que é também
negativo, embora possa não ser tão catastrófico, que é: a política é
transformada em pura demagogia. Um discurso político que não pode ser
concretizado na realidade é demagogia, não é nada mais do que simplesmente
demagogia. Ora, se há aspeto que é fundamental na social-democracia, na sua
origem, enquanto teoria política, e que é fundamental na prática política do
PSD, eu direi, é esse reconhecimento, é essa relação profunda com uma abordagem
e uma prática política realista, que fazem da social-democracia, por definição,
uma ideologia que não é fechada nem dogmática.
E é por isso, só a título de exemplo, que a
social-democracia não se confunde nem com o Estado, nem com o mercado. O
Bernstein disse, de forma muito famosa, que mercados quanto possível, Estado
quando necessário. O que isso, sobretudo, reflete, é uma ideia de ausência de
preconceitos. Porquê? Porque o Estado e o mercado não são, em si mesmo,
ideologias, não são um conjunto de valores. São processos, são formas de
decisão.
No Estado, as vontades e as preferências individuais são
agregadas através dos mecanismos tradicionais de funcionamento do Estado, que
vai do voto às pressões, por exemplo, através de manifestações ou de greves, ou
de formas até de lóbi político. Há muitas formas de participação no Estado.
No mercado, se quiserem, os bens, os serviços, as
preferências individuais, são distribuídas, são agregadas, são tratadas através
daquilo que são as transações do mercado. Em si mesmo, Estado e mercado não são
ideologias. E sobretudo isso é visível se nós reconstruirmos a tradicional
associação que é feita entre Estado e mercado. Porque é que Estado e mercado se
transformaram, do meu ponto de vista de forma artificial, em instrumentos de
divisão política? Porque se tendeu, historicamente, a dizer que onde existia o Estado
era assegurada igualdade. O Estado era o mecanismo de assegurar a igualdade. O
mercado é o mecanismo de assegurar a liberdade.
Ora, isto não é necessariamente assim. Porquê? Porque os
mecanismos de participação no Estado muitas vezes dão mais poder a alguns do
que a outros. E isso significa que nem sempre as políticas que um Estado acaba
por adotar são políticas que promovem a igualdade, pelo contrário, podem ser um
simples reflexo das estruturas de poder, se quiserem, dos equilíbrios de poder
internos nos mecanismos de participação no Estado. É por isso que, por vezes, e
historicamente nós podemos ver isso, políticas desenvolvidas pelo Estado não
promoveram a igualdade, pelo contrário, agravaram situações de desigualdade.
Mas o mesmo acontece com o mercado. A ideia de que o
mercado é liberdade, e é sempre o garante de liberdade, é falsa. Nós temos
imensos exemplos de formas de concentração de poder no mercado que levam a que
alguns atores económicos, alguns agentes económicos nesse mercado, com esse
poder, possam limitar a liberdade dos outros.
Hoje em dia, por exemplo, no domínio tecnológico vemos
isso crescentemente. Não sei se vocês têm o Whatsapp. Para quem tem o Whatsapp,
nos últimos dias, de certeza que estão sempre a receber o aviso para aceitarem
a nova política de privacidade, que implica que o Whatsapp vai dar o vosso número
de telefone à Facebook, que comprou o Whatsapp. Que liberdade é que vocês têm
para realmente recusarem isso? Vão abdicar do Whatsapp, que se tornou dominante
e detém praticamente o monopólio?
Esse é apenas um exemplo, se quiserem anedótico, mas real
e importante, de como o mercado muitas vezes não é o garante da liberdade. Só a
intervenção do Estado, por vezes, garante a liberdade no mercado, em certas
circunstâncias.
Mas eu dei estes exemplos só para demonstrar como fazer
divisões ideológicas através da divisão Estado/mercado é falso. E uma das
grandes vantagens da social-democracia é não ter esse preconceito. Nem a favor
nem contra o Estado, nem a favor nem contra o mercado. A nossa preocupação é de
que forma é que esses instrumentos podem ser utilizados para promover os
objetivos que nós temos para a sociedade, da tal promoção da igualdade e da
liberdade, da capacidade de cada um se poder realizar nessa sociedade.
O terceiro princípio fundamental, terceira herança da
social-democracia do Bernstein, que encontramos quer nos programas políticos,
quer na prática do PPD/PSD, é uma preocupação muito grande com a qualidade da
democracia. E desde logo, não confundir a democracia apenas com a regra da
maioria. A democracia não é apenas contar cabeças. Nós vimos isso, desde logo,
no programa do PPD. Uma ideia de que a democracia se faz de acordo com regras,
uma ideia de que é preciso investir – e vemos isso também no programa atual do
PSD –, é preciso investir na qualidade da participação democrática. Que a democracia
se faça em relação com os outros; a democracia não é apenas juntar-nos e votarmos.
A democracia é sujeitar-nos a um debate com os outros, a deliberarmos e a
discutirmos sobre as nossas ideias.
Portanto, essa preocupação muito forte com a qualidade da
democracia está também, desde sempre, na origem e, digamos, faz parte desta
identidade do projeto político do PSD.
Aquilo que que quero defender a seguir é que estes três
pilares que vêm da história da social-democracia, e que encontramos refletidos
quer nos programas do PPD/PSD, quer na sua prática política ao longo destes
quarenta anos de democracia, são talvez hoje mais importantes do que nunca. E
são talvez hoje mais importantes do que nunca devido aos desafios, quer
nacionais, quer globais e europeus, que enfrentamos.
O primeiro desafio que nós temos é um desafio que diz
respeito à igualdade e à mobilidade social. Esse desafio é, desde logo,
particularmente importante em Portugal. Nós temos dois problemas estruturais no
nosso país. Um que tem a ver com a criação de riqueza e que tem a ver com a
competitividade da nossa economia; e outro que é um desafio de justiça social.
E esse desafio de justiça social é visível, desde logo,
na circunstância de nós sermos, há muitas décadas, um dos países mais desiguais
da Europa e com menos mobilidade social. Têm aí esse exemplo, nesse quadro, e
podem ver que Portugal é um dos países mais desiguais, penso que neste momento
somos o quinto país mais desigual da União Europeia. E isto não é de agora,
isto é estrutural de há muitas décadas no nosso país.
Outro aspeto, já agora, interessante para olharem nesse
quadro. Esse quadro utiliza o índice de Gini, que é um índice que verifica, no
fundo, a distribuição da riqueza entre as diferentes pessoas na sociedade.
Talvez o índice mais utilizado para medir a desigualdade. E têm-no aí antes e
após transferências, ou seja, se quiserem, antes e após a intervenção do Estado.
E um aspeto que nos deve fazer refletir muito enquanto país, é que, em
Portugal, o impacto das políticas redistributivas, do papel do Estado na
redistribuição, parece ser um dos mais baixos entre os países europeus.
Ou seja, não apenas nós temos, desde logo como ponto de
partida, uma forte desigualdade, mas, em segundo lugar, as políticas públicas
que desenvolvemos ao longo de anos, têm um papel muito menor na correção dessa
desigualdade do que assistimos em outros Estados europeus. E essa deve ser uma
preocupação que nós devemos ter na reflexão sobre aquilo que têm sido as nossas
políticas públicas. E muitas vezes – e nós tivemos durante muitos anos –
políticas públicas que são apresentadas, defendidas, hoje em dia, ainda,
defendidas fortemente, como sendo fundamentais precisamente para promover a
igualdade. Na realidade elas não têm esse impacto desejado.
Um segundo aspeto interessante, é que, curiosamente - e
isto, se quiserem, desmente um dos mitos que foi criado nos últimos anos -, a
desigualdade não se agravou em Portugal durante o período da crise que tivemos
nos últimos cinco anos. De acordo com o índice Gini, que têm aí, como disse é a
medida mais comum da desigualdade, mas também, por exemplo, se formos ver um outro
índice, que tem a ver com a distribuição por quintis, ou seja, por diferentes
classes de rendimento na sociedade. Eu posso dizer-vos que em 2010 o índice de
Gini, ou seja, a medição da desigualdade em Portugal, era 34,2. Em 2014 ele é
de 34.
Ou seja, houve uma ligeira descida da desigualdade em
Portugal. Não apenas a desigualdade não se agravou, como houve uma ligeira
redução da desigualdade. Isto é extraordinário num período de forte crise económica
e social do país. O que é que isto significa? Isto não significa, atenção, que
eu esteja a dizer que não houve perda de rendimentos no país, nos últimos anos.
Houve, naturalmente. Em consequência da crise financeira, em consequência de
não nos podermos financiar, o país teve que fazer um forte ajustamento, teve de
adotar medidas de austeridade em função dessa crise, e isso teve como
consequência uma diminuição do rendimento disponível para os portugueses.
Mas o que é interessante notar é que essa diminuição de
rendimento não levou a um agravamento da desigualdade, ao contrário daquilo que
muitos disseram. E não levou porquê? Porque o desenho das medidas de
austeridade teve uma forte preocupação social. É isto que esta evolução do
índice da desigualdade demonstra. Demonstra que é verdade que todos em Portugal
perderam rendimento, mas, ao contrário do que se diz, aqueles que tinham mais
perderam mais, em termos proporcionais, do que aqueles que tinham menos. De
novo, não estou aqui a desvalorizar os sacrifícios sociais que foram feitos, os
sacrifícios que os portugueses fizeram.
O que estou a dizer é que o discurso, a narrativa, do
agravamento da desigualdade, não teve correspondência na realidade. E mais, eu
anteciparia já que provavelmente em 2015 - que não existem ainda os números - a
desigualdade provavelmente ainda diminuiu mais. Porquê? Porque o desemprego
caiu. Normalmente quem está em desemprego automaticamente agrava as
circunstâncias e a medição da desigualdade.
Mas aqui eu queria também centrar-me de novo neste
desafio estrutural que nós temos, que é um desafio de desigualdade. E que tem
uma relação muito forte… há muitas variáveis para explicar o porquê da
desigualdade. Uma delas, seguramente, uma das mais usadas, e uma das
correlações mais fortes que é estabelecida em termos de desigualdade é com a
educação. E vocês podem ver como Portugal continua a ser um país, a nível das
qualificações, no nível da educação, muito mais baixo do que o resto da Europa.
É um país que tem evoluído muito, incluindo nos últimos
anos. Mesmo em situação difícil, por exemplo ao nível da taxa de participação
escolar, do sucesso escolar, Portugal melhorou muito. Foi possível, com menos
dinheiro, mesmo assim, melhorar muito nesses índices. Mas o atraso que o nosso
país tem é extraordinariamente forte e isso dificulta muito, desde logo, essa
recuperação.
Este combate à desigualdade e a promoção da mobilidade
social são fundamentais para o futuro do país. Têm de ser a prioridade política
em termos de justiça social. Mas eles vão ocorrer num contexto nacional e
global extremamente negativo e difícil para esse combate da desigualdade. O
contexto nacional é definido pela circunstância de, depois de termos convergido
com a Europa, durante mais de vinte anos, nos primeiros vinte anos do processo
de integração europeia – podem ver aí -, a partir de, aproximadamente, 1994
Portugal voltou a divergir com a Europa. Ou seja, nós tivemos durante os nossos
anos de adesão à União Europeia, vinte anos de forte convergência com a União
Europeia, e depois de divergência. Ou seja, voltamos a empobrecer face à
Europa.
De forma interessante, só no último ano é que Portugal
voltou a convergir de novo com a Europa. No ano passado, Portugal tinha
retomado uma trajetória de convergência com a Europa. Infelizmente, os dados que
temos relativamente a este ano – e ainda hoje tivemos confirmação disso –
determinam que o país voltou a divergir da Europa. Se quiserem, mais do que as
reversões de políticas, preocupa-me a reversão da convergência que tínhamos
reiniciado com a Europa. Esta, em termos estruturais, de criação de riqueza
para podermos ter a riqueza que depois possamos distribuir para promover a
igualdade e a mobilidade social, tem de ser a nossa grande preocupação.
Se nós não conseguirmos voltar a convergir com a Europa,
e infelizmente estamos há muitos anos a divergir da Europa, tivemos um ligeiro
período, o ano passado, em que voltámos a convergir com a Europa, e agora
retomamos uma estratégia de divergência com a Europa, se nós não conseguirmos
resolver os problemas estruturais que determinam esta divergência com a Europa,
também não vamos conseguir prosseguir de forma eficaz aquele que deve ser o
nosso objetivo último, que é a promoção da igualdade e da mobilidade social.
Que é oferecer a cada português a oportunidade de livremente desenvolver o seu
projeto de vida. Essa tem de ser uma grande preocupação.
Ora, esta dificuldade, que é uma dificuldade estrutural
nossa, é agravada por um contexto internacional em que a desigualdade tem
aumentado e a mobilidade social também. A nível internacional, se nós virmos a
nível da evolução do mundo, a nossa grande preocupação deve ser com o
agravamento das desigualdades e com a redução da mobilidade social.
Curiosamente, o mundo tem crescido mais. De novo, é
importante não confundir as coisas. E em segundo lugar, as economias menos
desenvolvidas têm convergido com as economias mais desenvolvidas. Por isso é
que eu dizia que o caso português ainda é mais grave. Porque não apenas no
mundo está a agravar-se a desigualdade, mas a desigualdade está a agravar-se no
mundo num contexto em que os países têm vindo a convergir. Mas nós estamos a
divergir da Europa, o que ainda é pior. Para além da desigualdade, nem sequer
os pressupostos económicos que nos podem oferecer os mecanismos para combater
essa desigualdade, nós estamos a conseguir garantir e promover.
Mas no mundo temos assistido a uma convergência
económica, ou seja, os países menos desenvolvidos, as economias emergentes, têm
convergido com as economias mais desenvolvidas. Portanto, entre Estados tem
existido convergência económica. É por isso, também, que a pobreza tem
diminuído no mundo.
No entanto, esta convergência entre Estados, esconde que
dentro de cada sociedade, se quiserem, dentro de cada Estado, a desigualdade se
tem vindo a agravar de forma exponencial. E têm aí um gráfico que demonstra
claramente como a desigualdade tem vindo a aumentar e constitui hoje,
realmente, um grande desafio a nível global.
Isto diz-nos o quê? Isto explica, se quiserem, alguns dos
receios, das insatisfações, que têm vindo a ocorrer com a globalização. Isto
exprime que a globalização promove a criação de riqueza, e tem ajudado a
combater a pobreza, mas ao mesmo tempo afeta a distribuição de riqueza dentro
dos Estados.
Há várias variáveis que o podem explicar, não vou aqui falar
de todas, mas há uma que é uma variável nova, que é introduzida, realmente,
pela globalização. Que tem a ver com a redução substancial da tributação sobre
os capitais e as empresas. Ou seja, num mundo economicamente integrado, num
mundo globalizado, as empresas e os capitais têm uma mobilidade que os outros
fatores não têm. E isso leva a que possam, se quiserem, escolher graus de fiscalidade
mais baixos. E portanto leva, em termos agregados, em termos globais, a que
empresas e capital contribuam fiscalmente, hoje, menos do que os particulares.
Têm aqui um exemplo da redução do imposto pago pelas empesas a nível europeu
nos últimos doze anos – reduziu quase 50%.
Atenção, isto não quer dizer que isto possa ser resolvido
a nível nacional. Já vou falar disso, brevemente. Um Estado, individualmente -
e este é que é o desafio -, individualmente, do ponto de vista do Estado, o que
faz sentido, para atrair investimento, num contexto de competição no mercado
global, é ter um imposto sobre as empresas mais baixo - porque isso atrai
investimento e gera emprego.
Mas não podemos ignorar que isto cria um problema de
redistribuição. Porquê? Porque a nível global leva a que, em todas as
sociedades, a contribuição que é feita pelas empresas, pelo capital associado a
essas empesas, diminui face à contribuição que é feita pelos trabalhadores,
pelos indivíduos. Esta é uma preocupação que nós temos de ter. E isto explica
parte do agravamento da desigualdade dentro das sociedades.
Este desafio, em termos de desigualdade, que é criada
pelos processos de globalização, que, como disse, tem ajudado a combater a
riqueza, tem promovido a convergência entre sociedades. Se quiserem, o que tem
acontecido é: tem havido um crescimento da riqueza, mas com um alargamento da
disparidade. Quem tem menos tem vindo a ter mais, mas quem tem mais tem vindo a
ter ainda mais.
E portanto, essa desigualdade extrema que, nalguns casos,
se está a começar a verificar, tem duas consequências, que é criar tensões
sociais muito fortes; e em segundo lugar, quando a desigualdade é muito grande,
aquilo que se verifica é que a própria mobilidade social deixa de existir. Ou
seja, começa a existir a perceção de que aqueles que estão em determinados
setores da sociedade, que têm menos, têm poucas possibilidades de poder vir a
ter mais, de progredir de acordo com o seu mérito e o seu esforço. E isso é um
problema fundamental.
E este desafio é agravado pela nova economia digital e da
inovação. Vocês têm aí um gráfico que procura ilustrar aquilo que é o impacto
potencial da robótica, da inteligência artificial, na economia. E há vários
estudos, hoje em dia, que apontam para isto, embora este tipo de previsões,
deve dizer-se, é muito difícil de ser feito. E que indicam que, em
relativamente poucos anos, 50% do emprego associado à manufaturação, pode estar
em risco. 50% desse emprego.
E, já agora, notem como Portugal é um dos países mais
expostos a esse risco, de acordo com esse estudo.
Em segundo lugar, a economia da inovação e a economia digital,
e de novo – isto não é uma crítica à economia digital e à economia da inovação,
que produz imensas vantagens na sociedade; traz acesso a novos bens, a novos
serviços, melhora a qualidade de vida, promove a criação de riqueza, estimula a
inovação - mas tem um impacto negativo em termos de distribuição de riqueza.
Pelo impacto que pode ter no emprego, em determinado tipo de empregos, e também
porque a economia digital, sendo daquelas que tem uma taxa, por vezes, de falhanço muito elevada, ou seja, há muitos
projetos da economia digital que falham, mais do que do que projetos
tradicionais, mas quando têm sucesso, a sua taxa de retorno é muito maior e
frequentemente mais concentrada. Porquê? Porque grande parte da mais-valia
económica está onde? Está na propriedade intelectual; está na criação, na ideia
por detrás de um projeto inovador, por detrás de um projeto da economia
digital. Isto leva a que o retorno económico se concentre em quem teve essa
ideia – os autores dessa ideia, se quiserem.
Ainda ontem tivemos um exemplo de uma empresa ícone desta
economia digital, como a Apple, e de uma multa milionária que lhe foi aplicada
que reflete, precisamente, a circunstância de essas empresas, também por
poderem circular, na economia digital da inovação, de forma muito mais fácil do
que outras empresas, poderem tirar partido também da tal mobilidade para
diminuírem aquilo que são os seus encargos fiscais face aos encargos dos outros
membros da sociedade.
Este conjunto de elementos, os desafios que decorrem da
globalização e desta nova economia digital e da inovação, colocam-nos, do meu
ponto de vista, num momento semelhante àquele que originou o aparecimento do
Estado Social, e que, curiosamente, coincidiu historicamente com a emergência
da social-democracia. Muitos historiadores identificam o aparecimento do Estado
Social, ou seja, a atribuição ao Estado de um papel de proteção social, de
garantia de redistribuição, à Revolução Industrial. Porque a Revolução
Industrial, por um lado, reduziu formas tradicionais de solidariedade, assentes
na família, por exemplo, na medida em que as pessoas passaram a ir trabalhar,
tinham um ritmo de trabalho diferente. Mudou a forma de organização da
sociedade, e mudando essa forma de organização da sociedade, colocou em causa
as formas de apoio social espontâneas que existiam nessa sociedade. Portanto,
gerou a necessidade de criar outras formas de apoio social que deram origem ao
Estado Social.
E depois há outros historiadores que veem no aparecimento
do Estado Social também um compromisso político e social, se quiserem,
implícito. Porquê? Porque a Revolução Industrial também estava a produzir um
forte agravamento da desigualdade, e uma forte concentração de riqueza em
certos setores da sociedade. Portanto, digamos que o aparecimento do Estado
Social foi uma forma de apaziguar, trazer paz social, face aos riscos que poderiam
daí decorrer.
Eu acho que nós hoje estamos perante um desafio
semelhante. A social-democracia tem hoje de contribuir para responder a um
desafio semelhante àquele que levou ao aparecimento do Estado Social aquando da
Revolução Industrial. Um desafio que consiste na reconstrução do contrato
social, no contexto de uma revolução económica e social que está a ser
produzida, quer pela globalização, quer pela economia digital. Este é o grande
desafio político e social que nós temos. Globalmente, mas com uma expressão, eu
direi, ainda mais grave, mais importante, no nosso país.
E tem de o fazer, temos de fazer isso, respondendo
simultaneamente a desafios políticos, que são cada vez mais visíveis, nos quais
os outros dois pilares fundamentais da social-democracia – a preocupação com
uma prática política realista e com a qualidade da democracia – são
fundamentais.
E essa relação entre a prática política e a qualidade da
democracia é fundamental e é muito próxima. Uma prática política que ignora a
realidade é uma das coisas que mais contribui para a perda de qualidade da
democracia. Essa prática adultera os juízos políticos que os cidadãos podem
fazer e falsifica os instrumentos de responsabilização política.
Um exemplo é aquilo que é o discurso sobre a Europa que
tem acontecido em Portugal. Se vocês pensarem no discurso político que foi feito
durante o período de ajustamento em Portugal, um aspeto notável foi a
circunstância de muitos assumirem nesse discurso político que os sacrifícios
que nós fizemos, enquanto país, que os portugueses fizeram, era uma escolha e
não uma necessidade.
Essa narrativa política, só era possível ser promovida –
e foi promovida por muitos (essa narrativa de que, de alguma forma, aqueles
sacrifícios que nós fizemos, nós não tínhamos que ter feito aquilo, foi uma
escolha, era um projeto ideológico, não era uma necessidade). O pressuposto
fundamental para essa narrativa política era que, de alguma forma, isso seria
possível, realmente, se a União Europeia nos desse mais dinheiro, mais tempo e
nos perdoasse parte do dinheiro que nos viesse a dar.
O que acontece é que quando esse discurso político se
confronta com a realidade da União Europeia - que é que essa União Europeia,
uma União Europeia que nos iria dar dinheiro de graça todo o dinheiro que nós
quiséssemos -, quando a realidade europeia não é essa, esse discurso político
muda. E então começa a ser o discurso de que, na realidade, o que acontece é
que nós não queremos mudar a realidade. Bastava nós querermos mudar a Europa. A
Europa seria o que nós quiséssemos.
A primeira coisa era que nós não tínhamos que fazer os
sacrifícios, porque na realidade se a Europa fizesse outras coisas, nós não
tínhamos que fazer esses sacrifícios. Como a Europa não é essa, então o
problema passa a ser: nós não queremos mudar a Europa. E depois quando se vê
que a Europa realmente não muda para aquilo que nós até poderíamos gostar que
ele fosse, este discurso político, em vez de falar de soluções, passa a falar
de bodes expiatórios. É um discurso que já não apresenta soluções, apresenta é
culpados. Diz: a culpa não é nossa, a culpa é deles. Porque se a Europa fosse
diferente, isto não teria que ser assim.
Este discurso político, que é demagógico, porque longe da
realidade, que é sobretudo, e de forma ainda mais preocupante, improdutivo,
porque a única coisa que no final deste caminho ele nos oferece não é uma
solução, mas é um bode expiatório, esse discurso político está hoje dominante
na coligação que governa o país. E é um discurso político que tem como marca
fundamental colocar a estratégia política à frente da realidade em que o país vive.
E nesse contexto é cada vez mais importante fazer um
discurso político que tenha como pressuposto, desde logo, a realidade. Este
discurso político, o discurso político que domina a atual coligação que governa
o país, é um discurso político em que a política, se quiserem, se transforma em
populismo. E o problema do populismo é que o populismo não oferece soluções, só
oferece culpados.
Os populistas têm uma aptidão: eles captam os medos, os
receios, dos cidadãos, das pessoas e identificam-se com estas. O seu sucesso,
se quiserem, está em identificar esses receios e esses medos e em exacerbar
esses receios e esses medos, mas não em os solucionar. Apenas alimentam e se
alimentam da frustração política que isto vai causar nos cidadãos. No final de
uma prática política distante da realidade, a única coisa que temos e que
teremos são bodes expiatórios, culpados, mas não soluções para os portugueses.
Claro que este não é um fenómeno apenas português, é um
fenómeno de toda a Europa. O populismo tem vindo a crescer em toda a Europa. E
na direita e na esquerda. E uma das minhas preocupações fundamentais é a
circunstância de nós, hoje, termos partidos populistas que estão no poder já.
De direita, partidos populistas de direita, como na Polónia e na Hungria. Mas
partidos populistas de esquerda também no poder. Na Grécia, e em Portugal, se
quiserem, chamemos-lhe um caso híbrido de populismo. E eu não gosto de ver
Portugal incluído nestes quatro exemplos de discurso e prática populista
dominante na Europa.
Esta deve ser uma das nossas preocupações fundamentais,
mas não é fácil de solucionar. O problema da prática política realista é que
ela tem de apresentar soluções que reconhecem a complexidade dos problemas que
enfrentamos. E que, reconhecendo essa complexidade dos problemas,
frequentemente também não nos pode oferecer soluções simples, e oferece antes
soluções gradualistas.
Mas, paradoxalmente, num contexto em que temos um reforço
de uma democracia que é cada vez mais direta, mais imediatista, isso é pouco
conciliável com uma prática política que reconhece a complexidade dos problemas
que enfrentamos. Essa é uma das grandes dificuldades de fazer política hoje, e
fazer política com seriedade. É que aquilo que funciona, muitas vezes, do ponto
de vista de comunicação, tende a assentar numa simplificação dos problemas que
enfrentamos, quando os problemas que enfrentamos e a solução para esses
problemas é, frequentemente, extraordinariamente complexa. E é um bocadinho
como estar a combater com armas desiguais.
Neste contexto, e para concluir a minha intervenção, as
prioridades da social-democracia em Portugal começam a ser claras, do meu ponto
de vista, hoje.
Primeiro, contribuir para reconstruir o contrato social,
face aos desafios da globalização e da nova economia digital, mas agravados por
um contexto nacional de retoma da divergência económica com a Europa, e de
fortes constrangimentos financeiros que permanecem no nosso país e com uma
desigualdade e uma mobilidade social que são problemas estruturais do nosso
país.
Em segundo lugar, a nossa segunda grande prioridade, deve
ser contribuir para melhorar a democracia num contexto de crescente complexidade
e de dificuldade em lidar com o mundo interdependente em que vivemos. Mas
também aqui a resposta a este desafio é agravada, no nosso caso português, por
uma cultura política recheada de vícios muito negativos.
A relação entre estes dois desafios, entre estes dois
objetivos - que é reconstruir o contrato social em que se fundam as nossas
sociedades hoje, e melhorar a qualidade da nossa democracia, retomando um
discurso e uma prática política racional e realista dentro dessa democracia, e
adaptando as nossas democracias a este contexto de interdependência do mundo em
que vivemos - a relação entre estes dois objetivos é fortíssima.
Porque, quanto maior for a qualidade da nossa democracia,
maior a probabilidade de conseguir enfrentar com sucesso os desafios económicos
e sociais que enfrentamos.
Permitam-me que lhes dê um exemplo: a Suécia. Um país,
aliás, emblemático da social-democracia, foi por isso também que o escolhi. Nos
anos noventa a Suécia teve uma crise extraordinariamente grave, tal como
Portugal teve recentemente. Tinha pouco crescimento e uma enorme despesa
pública. Isso levou a que as taxas de juro rapidamente quadruplicassem, e a que
o desemprego na Suécia, por exemplo, tivesse triplicado em pouco tempo.
Curiosamente, o diagnóstico dos problemas estruturais da Suécia tinha algumas
semelhanças, embora não todas, com Portugal. Uma população envelhecida, baixas
taxas de natalidade, um sistema de Segurança Social insustentável, um sistema
educativo onde, ainda que com fortes investimentos, o retorno não era
correspondente a esse investimento que era feito em termos de qualidade de
ensino e dos resultados da educação. E uma crescente perceção na sociedade de
que esta estava dividida entre aqueles que já estavam dentro do sistema e
beneficiavam dele, e os que estavam fora do sistema e tinham poucas
probabilidades de poder vir a beneficiar desse sistema.
A Suécia é tida, no entanto, como um dos Estados que
melhor se adaptou à globalização. Eu não vou apresentar aqui as reformas que a
Suécia adotou, mas notaria dois aspetos muito importantes naquilo que a Suécia
fez para conseguir dar resposta a isso.
Por um lado, salvaguardar o princípio da universalidade,
que é a expressão dessa reconciliação entre igualdade e liberdade, que é traço
fundamental da social-democracia. E em segundo lugar, a circunstância de essas
reformas terem sido feitas sem preconceitos. Não se identificou a garantia de
universalidade no acesso a esses serviços e prestações públicas com eles terem
de ser prestados pelo Estado. Mas isso foi possível porquê? Porque é que isso
foi possível na Suécia?
Isso foi possível na Suécia devido a uma cultura política
que assentava em certos pressupostos e que é geradora de uma forte confiança
nas próprias instituições políticas. Na Suécia há, desde logo, uma grande
tradição de procura de compromissos e consensos políticos estruturais. Mas isso
é possível, também, porquê? Porque funciona com base numa cultura política que,
desde logo, aceita como comum a todos os campos políticos o reconhecimento da
realidade.
Há, desde logo, uma aposta muito grande, e há literatura
que explica isso, explica em que medida, por exemplo, é que foi essa cultura
política na Suécia que permitiu estas reformas estruturais. E um dos aspetos
fundamentais é a circunstância de aquilo que é, se quiserem, que são os factos,
aquilo que é a realidade, ser apoiado num conhecimento técnico, numa informação
do processo político por uma base técnica que é consensual e reconhecida por
todos.
Se quiserem não se utilizam como instrumento de combate
político argumentos que estão fora da realidade. Isso desde logo permite, por
um lado, compromissos, porque há uma base para permitir esses compromissos que
não existirá de outra forma. E, em segundo lugar, mesmo quando existem
divergências, essas divergências têm pontos de contacto em comum, assentam na
realidade.
Se quiserem, e para concluir, um dos problemas, para mim,
fundamentais em Portugal, e um dos piores problemas da nossa cultura política,
tem a ver com a circunstância de ser tão fácil fazer debate político fora da
realidade, sem que ninguém seja controlado, sem que ninguém seja
responsabilizado por isso.
Permitam-me que lhes dê um exemplo da minha área, em que
tive experiência no governo, dos fundos europeus, e das consequências que isso
tem, e termino depois com isso, até porque o Carlos já me está aqui a
massacrar, quase. Devem ter ouvido, muitas vezes, o Dr. António Costa – aliás,
na sequência do que já dizia relativamente ao programa anterior de fundos, o
QREN – dizer que os fundos europeus, em Portugal, estavam atrasados quando ele
chegou ao governo. Primeiro era o QREN que estava atrasado, que era o programa
de fundos europeus anterior, agora é o Portugal 2020 que estaria atrasado,
quando ele chegou ao governo.
Isto não tem a mínima adesão à realidade, e era muito
fácil qualquer pessoa confirmar isso. Basta fazer a comparação desses dados de
execução com o histórico em Portugal ou fazer a comparação com os outros
Estados membros. E esses dados são públicos, podem ser obtidos ou podem ser
solicitados à Comissão Europeia.
Deixem-me que vos diga os dois pontos que talvez mais
fundamentalmente comprovam isso. Primeiro, no quadro anterior, no QREN, no
período correspondente ao primeiro ano de execução do que é agora o Portugal
2020, e em que estava até um governo socialista em funções, nessa altura, a
execução do QREN foi de 1,9%. No ano passado, no período correspondente do novo
programa de fundos, do Portugal 2020, a execução foi de 4,5%, mais do dobro.
Portanto, se compararmos o início da execução deste novo quadro, com o início
da execução do quadro anterior, quando estava um governo socialista em funções,
a execução de fundos foi mais do dobro. Como é que se podia estar atrasado
quando é mais do dobro do que aconteceu no histórico passado?
Segundo lugar. Os dados da Comissão Europeia demonstram
que em dezembro de 2015, portanto, um mês depois de o nosso governo ter deixado
funções, a execução do novo quadro financeiro de fundos europeus, entre todos
os Estados membros, demonstrava que o Estado-Membro da União Europeia com maior
execução de fundos era Portugal. Ou seja, como é que o Estado que era o
primeiro Estado da União Europeia em execução de fundos do novo quadro pode
estar atrasado?
Podemos comparar ou historicamente com o quadro anterior,
em que ainda por cima era um governo socialista que estava em funções, ou com
todos os outros Estados-Membros, e Portugal ou era o dobro face ao anterior ou
é primeiro entre todos os Estados-Membros. Mais, não se viram até um artigo
recente, por exemplo do Expresso, que dizia que mais de 40% dos incentivos às
empresas, previstos no novo quadro de fundos europeus que vai, potencialmente,
até 2022 (que é 2020 mais dois anos), mais de 40% já estavam atribuídos. Mas se
mais de 40% já estão atribuídos, como é que pode existir um atraso? Os atrasos
neste momento já não são porque os fundos não foram atribuídos… nós já tínhamos
aberto concursos no valor superior a oito mil milhões de euros, quando saímos
do governo.
Portanto, se há atrasos neste momento, já não tem a ver
com a atribuição de fundos, tem a ver com uma de duas coisas. Primeiro: ou as
empresas, apesar de terem sido escolhidas, terem sido selecionados os seus
projetos nos concursos de fundos europeus, decidiram não começar a executar já,
ou não executar de todo esses projetos – e isso tem a ver com quê? Com a perda
de confiança dos empresários na nossa economia. Ou, segundo aspeto, já não tem
a ver com o aspeto do funcionamento dos fundos do anterior governo, tem a ver
com um aspeto do novo governo, que é: podem estar a existir atrasos no
pagamento das faturas pelas autoridades que atualmente gerem os fundos.
E isso eu não me surpreenderia, porque, por exemplo, um
dos aspetos que o atual governo já mudou, é algo que vai desacelerar a chegada
do dinheiro às empresas. Nós tínhamos passado a fazer os pagamentos dos fundos
europeus diretamente através da agência, que demorava quarenta e oito horas. E
tínhamos eliminado o papel de caixa dos chamados organismos intermédios, que
são os serviços públicos como o IAPMEI, que recebe o dinheiro da agência e
depois dá às empresas. Qual é o problema disto? É que, frequentemente, estas
entidades públicas depois demoram a dar às empresas porque têm problemas
orçamentais próprios. E, portanto, gerem aquele dinheiro para a caixa para
despesas correntes, por exemplo, se houver constrangimentos orçamentais – e é
possível que isso esteja a ocorrer – e vão atrasar com a chegada do dinheiro à
economia. Ora, esta eliminação da regra que nós tínhamos criado, pode estar a
atrasar - não digo que esteja, não sei, não tenho conhecimento, embora tenha
ouvido empresários a dizer que há atrasos muito superiores no pagamento por
parte dessas entidades, face ao que existia quando o nosso governo estava em
funções. E isso é que pode estar a fazer atrasar a chegada do dinheiro às
empresas.
Mas só um ponto ulterior, e concluo mesmo, que é: o que
me preocupa também, o que é demonstrativo também, dos nossos problemas em
termos de cultura política, é que o foco todo em matéria de fundos europeus, em
execução, é errado. Historicamente, ao longo das décadas em que nós tivemos
fundos da União Europeia, o nosso problema não foi um problema de execução.
Umas vezes melhores, outras vezes piores, mas globalmente nós fomos dos
melhores países a executar todos os fundos que nos eram atribuídos.
O nosso problema é um problema de qualidade de execução.
De garantir que esses fundos servem para apoiar projetos que são realmente
projetos transformadores da nossa economia e da nossa sociedade. E nós, de
novo, ao falarmos só da execução, ao falarmos só da quantidade do que gastamos,
estamos a ignorar esse aspeto que é fundamental, que é a qualidade das nossas
políticas públicas, a qualidade dos incentivos que geram, a qualidade dos
projetos que depois vão ou não apoiar, porque é isso que vai garantir,
realmente, a melhoria das condições de competitividade da nossa economia, e é
isso que pode garantir uma transformação do nosso país, que permita, como eu
dizia, realmente responder com sucesso a este grande desafio que nós temos, que
é um desafio estrutural de desigualdade e de pouca mobilidade social, num
contexto internacional em que essa desigualdade e essa pouca mobilidade social
se têm, infelizmente, vindo a agravar.
Muito obrigado.
[Aplausos]
Simão Ribeiro
Muito obrigado, Prof. Poiares Maduro. Partimos então para
a ronda de questões; e a primeira, Maria de Melo, do Grupo Castanho.
Maria Pereira de Melo
Desde já, boa tarde a todos. Gostaria de saudar a Mesa,
em especial o nosso orador, e em nome do Grupo Castanho perguntar o seguinte:
como é que nós, juventude social-democrata, podemos ter um papel mais ativo a
reforçar o poder local, isto no sentido de melhorar a qualidade da nossa
democracia, como tinha dito. Obrigada.
Miguel Poiares Maduro
Eu vou fazer uma coisa muito de política tradicional,
paradoxalmente, que é utilizar a vossa pergunta para também introduzir algo que
eu já tinha pensado dizer e não tive oportunidade de dizer. Mas ao mesmo tempo
respondendo genuinamente à vossa pergunta.
O principal conselho que eu diria, desde logo, o primeiro
é participem, participem fortemente politicamente. Um dos grandes problemas da
nossa democracia, hoje, é a fraca e a pouca participação política. E é muito
simples: se vocês não participarem, se a grande maioria das pessoas não
participar, os poucos que participam, dominam. E uma democracia dominada por
poucos não é uma democracia genuína.
Portanto, o primeiro conselho e o primeiro incentivo que
eu vos diria é: participem politicamente, exprimam as vossas opiniões,
candidatem-se.
Depois, segundo conselho que eu vos diria: procurem fazer
política de acordo com aquilo que são estes princípios que eu mencionei da
social-democracia. Desde logo, um princípio fundamentalmente ideológico que tem
a ver com a promoção e a valorização da igualdade e da liberdade, entendidas
não como em contraposição, mas sim, pelo contrário, como unidas relativamente a
um mesmo fim. E em segundo lugar, com uma prática política que, por um lado,
seja assente no tal realismo. Isto pode parecer – vir dizer, façam prática
política realista –, pode parecer pouco sexy politicamente, eu sei. Mas isto
não tem nada a ver com abandonar o idealismo. A nossa ação política deve ser
alimentada pelos nossos desejos, mas as alternativas e as propostas políticas
que propusermos têm de ser assentes no que podemos fazer. Portanto, nós temos
que ter as duas coisas. É importante desejar, é importante sonhar, é importante
ter ideais. Mas é importante perceber que tentar promover esses ideais fora da
realidade, só nos vai tornar ou demagogos, ou, no pior dos casos, se quiserem,
como vimos historicamente, é aquilo que conduz ao autoritarismo, é aquilo que
conduz à tirania, frequentemente.
E último ponto – e é aqui que eu vou introduzir um
bocadinho algo que eu já tinha pensado dizer -, libertem-se de alguns vícios
que infelizmente têm alimentado alguma da nossa cultura política,
tradicionalmente. E dou-vos um ou dois exemplos, se quiserem. O primeiro tem a
ver com a circunstância de ser importante valorizar, mas também reconhecer,
qual é o lugar exato e as fronteiras da política.
Não saber reconhecer qual é o papel da política, versus o
papel da economia, versus o papel dos media ,
versus o papel da técnica, está por trás de alguns dos piores aspetos do
funcionamento do nosso Estado, da nossa economia, da nossa sociedade. Tem a ver
com uma excessiva proximidade entre poder político e poder económico, que é
clássica na nossa prática política e no funcionamento da nossa sociedade, e por
vezes, também, com uma excessiva proximidade entre o poder político e o poder
mediático. Com uma falta de valorização e respeito pela autonomia e
independência técnicas.
Eu dou-vos dois exemplos muito breves. Não sei se leram
um artigo do Expresso – acho que era do Expresso desta semana – que falava de
todo um projeto, de todo um programa de intervenção do atual governo, para
reconfigurar o sistema financeiro, antecipando uma reorganização dos principais
acionistas e proprietários daquele banco ou do outro banco.
Lembram-se quando o Dr. Pedro Passos Coelho criticou a
circunstância de o Dr. António Costa ter – e isso não foi desmentido – reunido
com um acionista de um importante banco, para promover que um determinado
negócio privado tivesse lugar, para garantir eventualmente uma certa solução
para um banco, e não outra. Isso foi muito criticado. E o que para mim foi
interessante, foi ver a forma como a crítica era apresentada, que era: então,
mas o governo não deve intervir para assegurar a estabilidade do sistema
financeiro? Eu direi: claro que deve intervir.
Mas a questão que nós, como país, e na conceção do nosso
sistema político devemos pensar é qual é a forma correta de intervenção de um
governo, relativamente ao sistema financeiro. Será que nós achamos que essa
forma de intervenção deve ser no sentido – ainda por cima, de forma não
transparente – de favorecer certos negócios ou certos agentes económicos, em
vez de outros?
E reparem: eu não estou aqui a fazer nenhuma acusação,
sequer, de algo mais oculto ou de uma finalidade perversa. Seguramente que
muitas das pessoas que defenderam que isto é natural, e que defendem hoje, que
é natural um governo intervir desta forma, acham genuinamente que é positivo um
governo intervir desta forma. Se o governo puder garantir que um banco, no qual
parece existirem alguns problemas acionistas, que isso estabiliza, garantindo
que um determinado acionista vai comprar aquele banco e outro vai comprar outro
banco, isso parece, imediatamente e intuitivamente, interessante.
Portanto, não estou a colocar em causa que as intenções
podem ser boas, nem sequer que, em certos casos, no imediato, isso até pode não
ter um efeito positivo. O problema é que, no médio e longo prazo, essa forma de
intervenção gera uma cultura de proximidade muito próxima da promiscuidade, e
uma dependência mútua entre o sistema político e o sistema económico, que é
muito mais prejudicial do que as eventuais vantagens imediatas que possam ser
criadas. E é dessa forma que nós temos de pensar naquilo que é aceitável ou não
no sistema político. É no impacto estrutural que vai ter no nosso Estado.
Porque foi essa cultura política que levou aos problemas
todos que hoje conhecemos de BES, PT, e tudo isso. E nós queremos voltar a
repetir o mesmo, esperando ter resultados diferentes? O Einstein dizia que a
definição de insanidade é continuar a fazer sempre o mesmo, esperando ter
resultados diferentes. Parece, às vezes, que é isso que se pretende e que é
esse o caminho que vamos trilhar.
Essa cultura de proximidade, essa cultura de dependência
mútua, essa cultura de intervencionismo, dessa forma, de uma forma não
transparente, aquilo que gera é conflitos de interesse, e aquilo que premeia na
sociedade é quem conhece quem e não quem tem mais mérito.
E sejamos muito claros: se um governo pede um favor, até
com a melhor das intenções, a um acionista privado, a um empresário, num dia,
na semana seguinte esse empresário vai estar à porta do governo, se necessitar,
a pedir um favor em troca. É essa cultura de ação política que nós queremos
promover? Do meu ponto de vista, não é!
Portanto, e já não vou dar o segundo exemplo, só dou o
primeiro.
Terceiro conselho que eu vos dou – ou quarto, neste caso
–, não ajudem a contribuir para mudar esta forma de fazer política, esta
perceção de qual é a forma correta de fazer política. Isto custa, porque, como
vos disse, intuitivamente, as pessoas pensam: se nós podemos, imediatamente,
até resolver um problema, porque é que não o havemos de fazer desta forma?
Nunca pensamos nas consequências seguintes, que é criar a tal prática de
dependência mútua entre o sistema económico e o sistema político, que foi das
coisas mais prejudiciais para o nosso país nas últimas décadas.
Simão Ribeiro
Muito obrigado. Rodrigo Mendes, Grupo Encarnado.
Rodrigo Azevedo Mendes
Boa tarde. Primeiro, gostaria de agradecer ao professor
pela palestra.
Gostaria, em nome do Grupo Encarnado, de fazer uma
pergunta sobre um tema que já foi abordado, que é a emergência dos partidos
populistas na Europa. Como já disse, hoje em dia estamos a assistir à
emergência de cada vez mais partidos de extrema radical na Europa, tanto de
esquerda, como o Syriza , o Podemos ou, cá em Portugal, o BE; como
de direita, o AFD.
Portanto, gostaria de lhe perguntar o que é que a
social-democracia e os partidos social-democratas europeus podem fazer para se
reafirmarem e para diminuírem ou travarem a adesão a estes partidos radicais?
Miguel Poiares Maduro
Aquilo que nós devemos fazer é dar resposta, do meu ponto
de vista, a construir um projeto político que responda ao desafio de
reconfiguração do contrato social que as nossas sociedades hoje enfrentam.
Como eu vos disse, nós hoje temos, quer por via da
globalização, quer por via do impacto desta nova economia, um desafio muito
grande em termos de garantia de condições de igualdade de oportunidades e de
mobilidade social nas nossas sociedades. O desafio principal que nós vamos ter
no futuro, e aqui não estou a falar só de Portugal, estou a falar a nível
global, não é um desafio de progresso económico, é sobretudo um desafio de
justiça social na partilha desse progresso económico e do progresso daquilo que
resulta das novas tecnologias, por exemplo, desta nova economia e de todas as
oportunidades que a globalização também oferece.
A resposta, do meu ponto de vista, não pode estar num
regresso ao nacionalismo, em isolar-nos. Eu costumo dizer: não é que o mundo
tenha de ser interdependente. Nós podemos tentar, de novo, regressar a viver de
forma totalmente independente, se quiserem. Mas isso é um bocadinho – eu dou
sempre esse exemplo – como alguém que é deixado no meio do deserto, sem
ninguém, nenhuma vivalma próxima, sem ninguém que lhe possa impor fisicamente
nada, e essa pessoa, no meio do deserto, dizer: sou finalmente livre para fazer
e ser o que sempre quis. Isso não faz grande sentido estando sozinho no meio do
deserto. Porquê? Porque nós realizamo-nos em relação com os outros. É um aspeto
fundamental da natureza humana, somos seres sociais, realizamo-nos na relação
com os outros.
E hoje em dia, no mundo que temos, a nossa realização
passa imenso por essa interdependência, por aquilo que nos oferece, também, o
mundo globalizado. Portanto, abdicar da globalização, regressar ao nacionalismo
é uma falsa resposta. A nossa qualidade de vida iria piorar em muitos aspetos.
Portanto, hoje o desafio que nós temos, e que a
social-democracia tem de ter e assumir como projeto, e aqui, como digo, estou a
falar não apenas a nível de Portugal, mas a nível global, é aquele de ser quem
oferece esta nova reconfiguração do contrato social em que as nossas sociedades
assentam, mas uma reconfiguração que seja aberta a um mundo global, e que tenha
lugar num contexto de discurso, debate e prática política racional, com a tal
adesão à realidade que eu já falei várias vezes.
E essa é a grande visão que nós estamos a ter hoje. É que
eu acho, precisamente, que aquilo a que nós estamos a assistir é que este que é
o grande desafio que existe hoje em dia a nível global, está a traduzir-se
também numa reconfiguração das linhas de visão ideológicas e
político-partidárias.
De um lado, temos aqueles que promovem uma política sem
adesão à realidade, uma política que cavalga as pulsões nacionalistas. E temos
quem faz isso, já o disse, do lado da direita e quem faz isso do lado da
esquerda. E com grande preocupação minha, porque estes partidos populistas,
estes partidos de caráter nacionalista perverso até há muito pouco tempo não
eram partidos de poder. Hoje em dia eles já estão no poder – dei exemplos
disso. Sejam partidos de direita, seja de esquerda, já estão no poder. E,
noutros casos, não estão no poder, mas estão já muito próximos do poder – o Podemos , por exemplo, em Espanha.
Aquilo que me preocupa também, embora, devo dizer, é uma
oportunidade para o PSD, é a circunstância de em Portugal um partido como o
Partido Socialista, que é um partido classicamente defensor de uma democracia e
de uma sociedade abertas, e não populista, um partido de matriz não populista,
estar hoje deslocado – no contexto desta reconfiguração, desta nova divisão da
política -, estar hoje próximo, aliado com partidos de caráter claramente
populista e que cavalgam essas pulsões nacionalistas perversas.
Mas do ponto de vista do PSD, como vos dizia, é uma
oportunidade. Porque significa que nós podemos ser o partido que assume claramente
a defesa dessa democracia, que é uma democracia que promove uma sociedade
aberta ao mundo, e uma democracia e uma prática política que rejeitam
claramente e frontalmente o populismo. E esse é o lugar do centro político, que
é o lugar que corresponde também à nossa história política – moderada,
reformadora, aberta ao mundo. E é isso que eu acho que nós temos que tornar
cada vez mais claro.
Simão Ribeiro
Muito obrigado. Joana Lima, Grupo Rosa.
Joana Tocha Lima
Boa tarde. Tal como disse, há quem diga que o PSD começou
a perder desde há quatro anos a sua identidade política e que só a política do
atual governo pode ser capaz de figurar no espectro do tradicional quadro da
social-democracia.
Falar de Estado Social é falar necessariamente falar de social-democracia?
Obrigada.
Miguel Poiares Maduro
Eu não acho que o PSD tenha perdido a sua identidade
política. Pelo contrário. Eu sei que – aliás eu disse isso – essa é uma
narrativa política que por vezes é alimentada. Mas, pelo contrário, eu acho que
o PSD conseguiu, num contexto extraordinariamente difícil, preservar o
fundamental dessa identidade política. E isso manifesta-se em dois pontos.
É verdade que, infelizmente, enquanto governo, tivemos de
adotar políticas que exigiram sacrifícios muito fortes aos portugueses. Não
porque as desejávamos, mas porque elas eram infelizmente necessárias, devido às
circunstâncias em que o país se encontrou. Mas aquilo que demonstra que não
perdemos essa identidade política é aqueles resultados, em matéria de evolução
de desigualdade, que vos demonstrei. Ou seja, que mesmo num contexto de enormes
sacrifícios, paradoxalmente, e ao contrário do que é até a tradição estrutural
em Portugal, a desigualdade não se agravou.
Isso demonstra que as políticas adotadas tinham uma
preocupação, em termos do seu desenho, de procurar mitigar o seu impacto
naqueles que menos tinham. É verdade que pessoas, incluindo pessoas com
rendimentos baixos e sobretudo classe média, tiveram de fazer sacrifícios
fortíssimos. Mas a repartição desses sacrifícios, podendo nós sempre discutir
se, num ponto ou noutro, poderia ser melhor – e poderia sempre ser melhor
nalguns pontos. À medida que vamos desenvolvendo políticas é que vamos vendo,
também, aquilo em que podemos ir melhorando essas políticas. Essa é uma boa
prática política. Ir medindo os resultados, avaliando, e melhorando essas
políticas. Mas, no fundamental, os resultados em matéria do impacto na
desigualdade comprovam que essa preocupação social existia.
E em segundo lugar, essa prática política manifestou a
tal adesão a uma preocupação com a realidade, que é aquilo que mais garante que
são os cidadãos que estão no centro da ação política. Porque, como vos disse, o
problema fundamental de uma prática política que não tem adesão à realidade, ou
de um discurso político que é feito, elaborado, defendido fora dos parâmetros
da realidade, é que ele acaba por nunca depois poder oferecer soluções
verdadeiras aos cidadãos. E portanto, aquilo que está a fazer é
instrumentalizar esses cidadãos e a retórica sobre os cidadãos, para efeitos de
ganhos políticos.
Quem faz uma política reconhecendo os constrangimentos
que a realidade nos impõe, é quem mais respeita os cidadãos, quem mais está a
colocar as pessoas no centro da ação política. E o PSD teve essa preocupação. E
teve, por último, também, uma preocupação grande que é própria da tradição
política do PSD, reformista. Foi um dos períodos em que mais reformas se
fizeram em Portugal.
Aliás, curiosamente, também aí, durante muito tempo na
narrativa, disse-se que poucas reformas tinham sido feitas. Mas como é que
poucas reformas foram feitas se, hoje em dia, tantas são revertidas. Estão a
reverter o quê? Já repararam nisso, nessa contradição?
Portanto, essa preocupação reformista esteve presente,
também, ao longo destes anos.
Segundo aspeto. É verdade que mais reformas continuam a
ser necessárias e são importantes. Mas também é verdade que há um determinado
conjunto de reformas que é difícil de fazer com certos constrangimentos
financeiros e económicos. Há reformas que eu acho extraordinariamente
importantes para melhorar a qualidade das políticas públicas, que têm a ver,
por exemplo, com a qualificação da administração pública, que exigem que o
Estado tenha meios financeiros que num período de ajustamento e de austeridade
não tem.
Há reformas, por exemplo, que têm a ver com a
simplificação, por exemplo, eliminação de certos licenciamentos, que sabem
porque é que são muito difíceis de fazer em períodos de grande dificuldade
financeira? Porque alguns dos licenciamentos e alguns dos obstáculos
burocráticos que existem no país, têm a ver, e hoje em dia explicam-se, pela
necessidade, num contexto de constrangimentos financeiros, que os serviços têm
de obter receitas próprias. Portanto, por vezes, há obstáculos burocráticos que
são sobretudo dirigidos à necessidade que cada serviço público tem de conseguir
receitas próprias para combater as dificuldades financeiras que enfrenta.
Portanto, há um outro conjunto de reformas que,
seguramente, num programa social-democrata, têm de ser empreendidas, e seriam
empreendidas à medida que o país, tal como estava a acontecer, saísse da crise
económica e financeira em que se encontrava
Simão Ribeiro
Muito obrigado. João Vieira, Grupo Verde.
João Vieira
Boa tarde. A nossa pergunta é: acha que Sá Carneiro se
identificava com os atuais ideais do partido?
Obrigado.
Miguel Poiares Maduro
É uma pergunta semelhante à anterior. Por isso, desta vez
vou ser breve, para grande satisfação do Carlos Coelho. Espero não estar a
prometer e depois não conseguir…
Acho que sim, pelas razões que vos disse. Aquilo que eu
vos procurei dizer é que, do meu ponto de vista, há três grandes aspetos de
identidade social-democrata, quer da ideologia social-democrática, quer do PPD/PSD,
tal como ele foi concebido por Sá Carneiro. Essa preocupação com a valorização
da igualdade e liberdade, em relação íntima entre as duas; uma preocupação com
uma prática política que reconhecesse a realidade, se ajustasse à realidade,
portanto que fosse reformista, não revolucionária; fosse verdadeira para os
cidadãos, não demagógica. E, por último, uma conceção da democracia como
apostando na qualidade dessa democracia, nos mecanismos que qualifiquem essa
democracia.
E eu acho que esses três vetores, pelas razões que eu
disse, continuam hoje bem presentes no PSD.
Simão Ribeiro
Muito obrigado. João Pedro Luís, Grupo Cinzento.
João Pedro Luís
Muito boa tarde a todos. Gostaria desde já de saudar a
Mesa, em especial o nosso convidado, o Prof. Dr. Miguel Poiares Maduro, e todos
os colegas presentes.
A questão do grupo cinzento é a seguinte: na sua opinião,
face ao crescente desinteresse dos jovens em relação à causa pública, qual deve
ser a forma de os políticos conseguirem cativar a população mais jovem?
E também outra questão: como é que é possível que os
jovens consigam interiorizar melhor o que é ser social-democrata nos dias de
hoje?
Muito obrigado.
Miguel Poiares Maduro
Uma das formas de promover e cativar os jovens, é esta. É
verdade. É esta iniciativa. E, já agora, isto permite-me dar aqui os parabéns,
congratular o Carlos Coelho, que é a alma desta iniciativa. E necessitamos de
mais iniciativas como esta.
Mas é importante também que a vossa participação na
política não fique por estes dias. Que isto seja apenas uma semente que vos
estimule a continuar essa participação. E para isso acontecer têm de estar
preparados para uma coisa: quem quer estar na política, vocês vão ter
desilusões, vão ter frustrações. Eu costumo dizer que estar na política,
exercer política é um estado permanente de frustração, com momentos ocasionais
de enorme euforia, quando conseguimos realizar alguma coisa.
E vocês têm de estar preparados para lidar com isso,
também. Mas eu diria que, quando nós somos mais jovens, ainda mais capacidade
temos de o fazer.
Do ponto de vista das lideranças políticas, para além da
organização de iniciativas como esta, nós temos de falar com realismo mas
também com um sentido de diálogo, com um projeto de futuro para os jovens. E quando
eu digo que o grande desafio que nós temos, hoje em dia, é esse de reconstruir
os pressupostos do contrato social – reparem que a minha avaliação, e eu faço-a
honestamente, faço-a até mais como académico, que voltei a ser, do que como
político. A minha avaliação é de que nós estamos hoje, realmente, num momento
histórico que só tem paralelo com aquilo que aconteceu depois da Revolução
Industrial.
Isso significa que nós temos, enquanto sociedade, de
conseguir reinventar as condições que garantem a sustentabilidade e a
preservação e a paz social dessa sociedade, que é o contrato social. Digamos
que é o acordo básico na nossa sociedade para podermos viver em conjunto. E é
isso que nós somos chamados hoje a reconstruir. E somos chamados a reconstruir
isso num contexto global extraordinariamente diferente, quer em função, como
disse, da globalização, quer em função desta nova economia do digital, da inovação,
da inteligência artificial, que cria o tal paralelo com a Revolução industrial
que ocorreu.
Eu diria que a extensão deste desafio, e tornar clara a
natureza deste desafio, é talvez aquilo que mais pode apelar aos jovens para os
envolver na política. Perceberem a profundidade e a extensão do desafio que
nós, socialmente, hoje, enfrentamos, é aquilo que pode ser a maior motivação
para participar politicamente.
Mas, como disse, para que essa participação política seja
efetiva, para que a política seja efetiva, não apenas temos de melhorar a nossa
cultura política, ou seja, a nossa prática da política, mas temos também de
alargar, cada vez mais, a participação política. E isso, eu voltaria a repetir,
é uma preocupação muito grande que eu tenho, e por isso é que eu valorizo muito
uma iniciativa como a Universidade de Verão, e acho notável o que o Carlos
Coelho tem feito a esse nível, e todos os outros que têm participado, e a JSD
que tem estado sempre tão proximamente envolvida com isso.
Porque para a política poder funcionar e para a política
poder ser o instrumento da democracia, a participação tem de ser diversa, a
participação tem de ser ampla. E isso compete a cada um de vocês, também,
motivar todos os outros jovens que vocês conhecem para participarem
politicamente. Uma política com participação limitada é uma política que é
capturada apenas por alguns. Vocês não podem deixar que isso aconteça e é
sobretudo a vós que compete evitar que isso aconteça.
Simão Ribeiro
Muito bem. Nem eu diria melhor.
[Risos]
Miguel Poiares Maduro
É o maior elogio que eu podia ter.
Simão Ribeiro
Sem dúvida. Mas não acontece sempre.
António Cruz, Grupo Bege.
António Cruz
Muito boa tarde a todos. A pergunta que o grupo bege lhe gostaria
de endereçar vinha no seguimento do facto de a direita e a esquerda serem
conceitos cada vez menos caros e elucidativos. Assim sendo, na sua opinião,
existem ainda políticos, hoje, que se aguentem numa posição coerente, do ponto
de vista da filosofia e da ideologia de matriz e de raiz inicial do que é ser
de direita e de esquerda?
Muito obrigado.
Miguel Poiares Maduro
O Carlos está a lembrar, e muito bem, que isso me levaria
a revisitar o debate que eu tive com o Rui Tavares. E se se lembram, a minha
posição nesse debate, e não foi uma posição que eu assumi para efeitos de
debate, é uma posição genuína que eu já defendo há vários anos, é que a divisão
tradicional entre direita e esquerda já não faz sentido.
Isto não quer dizer que classificações políticas não
sejam úteis, são. São referenciais, é um bocadinho como um mapa. Um mapa nunca
é uma reflexão perfeita da realidade, mas é uma escala que nos dá pontos de
referência. E as classificações dão-nos esses pontos de referência.
O problema, do meu ponto de vista, é que a classificação
tradicional que é feita de direita e a classificação tradicional que é feita de
esquerda, já não dão pontos úteis de referência. Porquê? Porque elas confundem
mais do que iluminam. Uma das razões é porque parte da divisão é considerar que
direita é mercado, esquerda é Estado, e eu já vos disse porque é que acho que
essa divisão é uma divisão falsa. E Estado e mercado não é uma questão
ideológica, não devia ser uma questão ideológica, já vos expliquei porquê.
Outra, é porque hoje em dia, frequentemente, as
diferenças dentro daquilo que é o espaço político de direita ou as diferenças
dentro daquilo que é o espaço político de esquerda, frequentemente são maiores
do que diferenças entre alguma pessoas que estão na direita e algumas pessoas
que estão na esquerda. E quando assim é, isso devia-nos dizer que, afinal, já
não é uma classificação útil, porque a diversidade interna ao grupo já é maior
entre aquela de pessoas que são classificadas num grupo ou noutro grupo.
Isto lembra-me também um exemplo interessante de quando
eu vim cá a esse debate das dificuldades de fazer política hoje. Eu quando
estive nesse debate, um dos aspetos que eu defendia era, precisamente, que a
diferença esquerda/direita não fazia sentido. E um dos exemplos que eu dava
era… por um lado citava alguns autores de esquerda que, por exemplo, dizem hoje
que o liberalismo é que é a verdadeira doutrina de esquerda, e, por outro lado,
dizia que um governo tradicionalmente qualificado como de centro-direita, como
o nosso, tinha adotado medidas muito progressivas em termos de redistribuição
dos rendimentos, no desenho das medidas de austeridade. Nessa altura ainda não
existiam estes dados que comprovam isso mesmo, mas havia um estudo
internacional que demonstrava que em todos os países que tinham adotado medidas
de austeridade, que tinham feito programas de ajustamento, as medidas
portuguesas eram aquelas que tinham penalizado mais quem tinha mais dinheiro e
tinham procurado proteger as classes sociais com menos. Esse estudo
internacional defendia isso.
Curiosamente, enquanto eu estava aqui, uma hora depois
saía uma notícia na rádio – reparem: a tese que estava a defender, e eu estava
a defender isto, para dizer que esquerda e direita não faziam sentido – sai uma
notícia na rádio que diz: Poiares Maduro defende que o governo português é o
governo mais à esquerda da Europa. A jornalista – acho que era uma jornalista –
tinha feito a leitura de dizer: como o Poiares Maduro está a dizer que o
governo adotou medidas com forte caráter progressivo, e ela, a jornalista,
identifica isso com esquerda, ele estava a dizer que era o governo mais à
esquerda. Quando eu estava a utilizar isso para dizer que um governo que era
tradicionalmente qualificado como não sendo de esquerda adotava medidas
fortemente progressivas e, portanto, a classificação tradicional
esquerda/direita não fazia sentido.
O que foi extraordinário é que, entre procurar comunicar
com a rádio, porque havia um lead , e
confrontarem depois com as declarações que eu realmente tinha feito, demorou
quatro horas. Durante essas quatro horas esteve o lead que eu tinha dito que eu era o governo mais à esquerda da
Europa.
Isso significou que durante a semana seguinte eu fui
massacrado, quer por comentaristas políticas de direita – ou que se auto
qualificavam de direita –, como é que eu tinha vergonha de ser um governo de
centro-direita; ou de esquerda, como é que eu me arrogava a dizer que era um
governo de esquerda.
Quando o objetivo da explicação que eu dava era
exatamente o contrário. Mas digamos que a classificação esquerda/direita estava
tão forte na mente da jornalista, que a jornalista – a meu ver sem má vontade –
alterou o total sentido das palavras que eu tinha utilizado.
Mas eu estou a dar este exemplo para demonstrar a
dificuldade que é. Porquê? Porque daquela comunicação que eu fiz, aquilo que se
discutiu ao longo de uma semana, foi uma coisa que eu não disse. E ainda hoje
em dia, se vocês forem para a internet, ainda hão de estar lá as declarações
com alguns a dizerem… ainda há pessoas daqui a uns anos vão dizer: tu uma vez
até disseste que o teu governo era o mais à esquerda… Reparem, isto diz muito
da dificuldade. Que isto é uma dificuldade também para os jornalistas, porque,
como eu disse, não creio que tivesse havido qualquer má-fé da jornalista. Mas
demonstra bem a dificuldade do funcionamento da política, hoje em dia, num
ciclo imediato, mas é ao mesmo tempo tão imediato e tão permanente.
Por um lado, há uma leitura política imediata, e como é
tão imediata, pode ser equívoca, pode ser errada. Mas depois fica lá, fica na
internet, para sempre, e torna-se permanente. E depois há uma discussão sobre
algo que, na realidade, não aconteceu, não foi dito. E isto é uma das grandes
dificuldades que nós enfrentamos hoje.
Simão Ribeiro
Diana Camões, Grupo Roxo.
Diana Camões
"Saber estar e romper a tempo, correr os riscos da adesão
e da renúncia, pôr a sinceridade das posições acima dos jogos pessoais, isso é
a política que vale a pena.” – Francisco Sá Carneiro
Não citei aqui o nome de Francisco Sá Carneiro à toa,
pois é sempre importante relembrar quem ele foi. Para além de ter sido um dos
fundadores do PPD/PSD, foi acima de tudo um político notável e um estadista que
contribuiu bastante para a História da nossa democracia.
A frase que eu citei aqui vai também ao encontro da
pergunta que eu vou fazer. Atualmente temos assistido, cada vez mais, a um
afastamento das pessoas em geral em relação à política. Isso deve-se em parte,
também, ao comportamento dos nossos políticos. Como é que nós podemos pedir à
sociedade portuguesa que acredite na atividade política quando muitos dos
nossos governantes ignoram por completo todos os princípios éticos que devem
estar no topo da pirâmide do pensamento político?
Para além disso, tendo em conta que os princípios da
social-democracia, como o Doutor Miguel Poiares Maduro mencionou – liberdade,
igualdade e solidariedade – são intemporais, não considera que seria necessário
fomentar um debate público e profundo acerca destes princípios fundamentais
para conseguir atrair o cidadão comum, não só para a social-democracia, mas
também para a política em geral?
Muito obrigado, e desde já quero também agradecer pela
aula fantástica que nos forneceu aqui hoje.
Miguel Poiares Maduro
Muito obrigado.
Essa perda de confiança nos políticos, na classe
política, nas instituições políticas, é um dos fenómenos a que estamos a
assistir hoje em dia, na Europa desde logo, e em Portugal também. Tem havido
uma perda crescente da confiança que os cidadãos têm nas instituições
políticas, reflexo da perda de confiança na própria classe política.
Eu acho que isso tem razões que são razões de caráter
social. Há uma predisposição mais forte das pessoas ao populismo e há uma
predisposição mais forte das pessoas… uma frustração com a política que resulta
da insegurança económica e social que hoje existe. Que é uma insegurança
física, até, porque tem a ver com o terrorismo também, que é uma insegurança
económica, devido aos desafios que a globalização traz, devido aos desafios que
a nova economia traz, e que eu já tive oportunidade de mencionar.
Portanto, estruturalmente isto alimenta o receio, e o
receio alimenta, se quiserem, a irracionalidade. Vocês conhecem a Guerra das
Estrelas, seguramente, Star Wars. Há um grande filósofo na Guerra das Estrelas,
que é o Obi-Wan Kenobi. Costumo dizer que é um dos grandes filósofos da
história contemporânea. E o Obi-Wan Kenobi diz, na Guerra das Estrelas, ao
jovem que mais tarde acaba por se transformar no Darth Vader, ele diz quendo
ele é jovem, e preocupado com ele, fala-lhe sobre o receio, precisamente, e diz
que o medo gera incerteza, a incerteza gera insegurança, a insegurança gera
raiva e a raiva é o caminho para o mal.
Esta mensagem filosófica, na realidade, reflete todo o
conjunto de filmes da épica… é uma espécie de uma epopeia contemporânea, uma
obra épica contemporânea, a Guerra das Estrelas. E se vocês repararem, num dos
últimos episódios, há um momento em que a democracia, a República que existia,
é substituída pela ditadura. E esse é o momento em que a insegurança e o medo é
mais forte. É o reflexo precisamente, se quiserem, dessa frase que o Obi-Wan
Kenobi tinha dito. Ou seja… até há uma parte fantástica que é uma imagem em que
o imperador, que era o Chanceler, está a subir e está a ser aplaudido por
todos. Porquê? Porque ele assume o poder da autoridade devido aos receios que
toda a população sentia, que as diferentes partes da República sentiam, o medo
levou a que aceitassem a ditadura. E a princesa Leia diz, nesse momento: "então
é assim que a democracia acaba, através de um estrondoso aplauso.”
Eu estou a dizer isto porquê? Porque aquilo que me
preocupa profundamente, sem querer ser catastrofista, é que hoje em dia nós
estamos a assistir de novo a uma conjugação extraordinariamente perigosa, entre
uma sociedade dominada pelo medo e pelo receio, e uma prática política em que o
populismo é cada mais crescente. E o outro período da história em que nós
tivemos isso na Europa foi precisamente o período que levou ao aparecimento do
nacional-socialismo, do nazismo. Eu não estou a dizer que nós vamos ter uma
situação desse tipo. Mas estou a chamar a atenção para essa coincidência. E
lembrem-se que o nacional-socialismo chegou ao poder por via democrática, tal
como na Guerra das Estrelas, através de um estrondoso aplauso.
O que me preocupa, portanto, é que haja um conjunto de
políticos – e é isso que nós temos de combater – que, em vez de combaterem o
medo, se alimentem do medo e desse receio. E essa é a diferença. Aquilo que
define os populistas, por aquilo que eu vos disse, através da tal não adesão,
tendo como ponto de partida não aderindo à realidade, é a circunstância de que
eles não oferecem soluções, de facto. A única coisa que eles fazem é
identificarem-se com o medo e os receios das pessoas. E com base nisso,
identificam culpados.
E uma coisa que me preocupa em Portugal, e na narrativa
da atual coligação, é que ela é, sobretudo… se vocês repararem, não há qualquer
justificação apresentada para o falhanço da recuperação económica que tinham
anunciado. Tinham anunciado que a recuperação económica que estava a ocorrer
era muito frágil, que tinha de ser reforçada, tinha de ser aumentada.
E em vez de assistirmos a uma explicação disso, em vez de
assistirmos, ou ao anúncio de alguma outra política alternativa que iria ser
desenvolvida para nos trazer, de novo, o regresso à convergência económica, o
que é que nos oferecem? Culpados. O que é que nos vêm dizer? Sim, nós
partilhamos da vossa dor, mas os culpados estão ali. Mas nós estamos aqui
convosco, a identificar os culpados, a berrar contra os culpados, a bater pé
aos culpados. Soluções? Nenhuma.
Isto é populismo, não é política. Política é vir dizer às
pessoas: isto é difícil, isto é complicado, é complexo, não vai ser fácil. Mas
aqui estão algumas alternativas, que ainda difíceis, nos vão, pouco a pouco,
permitir sair da situação em que nos encontramos. E isso corresponde à ética
política de Sá Carneiro que está expressa nessa frase que citou.
Simão Ribeiro
Obrigado. Luís Antunes, Grupo Azul.
Luis Alcaide Antunes
Muito boa tarde. Doutor Poiares Maduro, desde já muito
obrigado pela fantástica aula que nos proporcionou aqui hoje.
Começo por referir uma frase que achei bastante
interessante quando se referiu a democracia. Uma democracia com promoção da
igualdade de oportunidades. Oportunidades essas que não são iguais em todos os
municípios ao longo de Portugal. Oportunidades essas que fazem grandes
diferenças em todos os municípios onde vivemos hoje em dia.
Eu sou de um município que é Mira, conhece muito bem,
certamente. Obviamente que as nossas oportunidades são totalmente diferentes das
oportunidades de um município que seja do sul, do norte ou do interior. A mesma
coisa acontece com esses municípios. Falo obviamente de uma descentralização,
até de uma desconcentração, mas descentralização de competências. Há cerca de
um ano e meio, no congresso da Associação Nacional de Municípios, referiu que
esta descentralização de competências é uma prioridade inadiável.
Eu pergunto: esta prioridade inadiável, como acha que
devemos olhar, fazer, face a esta prioridade, a esta desconcentração,
descentralização, melhor dizendo, de competências, de que falava, e às
diferenças de igualdade que existem nos diversos municípios que temos em
Portugal.
Obrigado.
Miguel Poiares Maduro
Obrigado. E permita-me dizer que é um gosto muito
particular responder a alguém de Mira. Este livro e esta carta era dirigida,
precisamente, ao Presidente de Câmara de Mira, que era o meu pai. Foi o
primeiro Presidente de Câmara de Mira eleito democraticamente.
E, já agora, permitam-me que diga que é também com grande
felicidade que vejo que, nos últimos anos, Mira voltou a ter um excelente
Presidente de Câmara. Acho que realmente o PSD tem de ter orgulho no candidato
que elegeu e na pessoa que atualmente desempenha as funções de Presidente de
Câmara em Mira. É alguém, como outros autarcas, que valoriza o poder local em
Portugal e que demonstra a importância que o poder local pode ter no nosso
país. Aliás, o poder local tem sido, por vezes, injustamente criticado. É
verdade que ocorreram muitos erros em matéria de gestão do poder local, no
passado. Mas é igualmente verdade, senão mais verdade, que o poder local
contribuiu, como talvez poucos poderes e poucos atores políticos em Portugal,
para a melhoria da qualidade de vida das populações em Portugal.
E demonstrou, nos últimos anos, uma capacidade de
ajustamento às boas práticas de governo que, nalguns aspetos, a administração
central ainda não conseguiu demonstrar da mesma forma. Não é pela administração
local que o país tem hoje défice orçamental. A administração local tem hoje
excedentes orçamentais, reduziu fortemente o seu endividamento, mas continua,
ao mesmo tempo, também, a trabalhar para o bem-estar das populações e a
redefinir o seu papel.
O que é importantíssimo é que o poder local, cada vez
mais, deve estar menos centrado na chamada obra física, nas infraestruturas,
nos equipamentos, domínios em que Portugal, hoje em dia, já está, em muitos
aspetos, até acima da média europeia. E cada vez mais concentrado naquilo que
podíamos designar do software, e no investimento, no desenvolvimento e na
inclusão social nas autarquias, nos municípios, e no desenvolvimento, na
promoção da competitividade económica desses municípios em relação com os
recursos endógenos de cada um desses municípios, de cada uma das parcelas do
nosso território.
E é a essa luz, também, que nós devemos pensar em
atribuir novas competências aos municípios. Eu acho que – e era algo que, por
acaso, eu não cheguei a abordar, mas tinha previsto na minha intervenção inicial
– que uma das reformas mais importantes que nós temos de fazer, para responder
aos desafios que temos, é uma reorganização de competências, que nalguns
domínios pode passar até por transferir certas competências, por exemplo,
algumas das competências no domínio fiscal, para responder aos desafios que
mencionei nessa matéria, para níveis supranacionais. Mas ao nosso nível
interno, em muitos domínios, também, descentralizar. Descentralizar para os
municípios ou para as comunidades intermunicipais.
Porquê? Porque a descentralização, em muitos domínios,
traduz-se, por um lado, em melhor e mais informação sobre a matéria que tem de
ser tratada, que tem de ser resolvida. Quem está mais próximo, frequentemente,
tem mais e melhor informação, pode responder mais rapidamente e de forma mais
adequada. Em segundo lugar, porque essa proximidade, que a descentralização
traz, frequentemente permite também, um melhor ajustamento, adequação das
políticas, às diferentes realidades do território. Por exemplo, parte da oferta
das escolas não deve ser exatamente a mesma, pode depender da realidade
económica e social de cada um dos territórios em que essas escolas se inserem.
Em terceiro lugar, porque essa proximidade se traduz em
maior responsabilidade, também. Uma responsabilização política mais imediata. É
mais fácil aos cidadãos, se o teto de uma escola não está a funcionar, pedir
uma responsabilização, uma resposta imediata ao Presidente de Câmara, do que ir
à 5 de Outubro , ou aos serviços do
Ministério da Educação.
E em quarto lugar, porque a descentralização, muitas
vezes, permite também outra coisa, que é experimentação. Que é através da inovação,
da capacidade de iniciativa, dos diferentes autarcas ou das populações desses
municípios, desenvolver respostas inovadoras, diferentes, para um determinado
problema social. Testá-las nesse município, e se elas funcionarem bem, depois
então alargá-las ao resto do país, alargar essas soluções a outros municípios.
É por isso que eu acho que a descentralização – concordo
consigo – é extraordinariamente importante. E, na realidade, nós iniciámo-la,
no governo anterior. Fizemo-lo em matéria de educação, demos os primeiros
passos, também, em matéria de saúde, social e cultura. Um dos aspetos que eu
gostava de saber é… nós iniciámo-la de forma progressiva. Como eu costumo
dizer, citando o Martin Luther King, em vez de estarmos sempre a falar da
reforma, da descentralização global do país como a reforma mais importante de
todas, mas depois, em concreto, não se faz nada, começamos a fazer
projetos-piloto de descentralização.
Porque, já agora permitam-me que diga, um dos problemas
da famosa reforma do Estado, em Portugal, tem a ver, por um lado, com a
dificuldade de ter compromissos e consensos estruturais no país, e a
dificuldade de conseguir esses compromissos e consensos tem muito a ver, lá
está, com o facto de a política se fazer frequentemente, ou poder ser feita, de
forma impune, fora dos parâmetros da realidade. Portanto, isso leva a que o
debate político, muitas vezes, seja puramente demagógico, retórico, sem
qualquer adesão.
E aí é muito fácil falar da reforma do Estado. Eu costumo
brincar e dizer que, em Portugal, a reforma do Estado está para o nosso
discurso e comentário políticos um bocadinho como a paz no mundo está para os
concursos das misses universo. Fica sempre bem dizer, falar da reforma do
Estado, mas nunca se concretiza em concreto o que se quer dizer com isso, nem
ninguém sabe muito bem a que é que se estão a referir.
E é por isso que nós, citando Martin Luther King, em vez
de olharmos apenas para o cimo das escadas, começamos a subir os degraus. E
desde logo em matéria de educação, mas como disse também cultura, social,
iniciámos um conjunto de projetos-piloto de descentralização, que era suposto
serem avaliados, para depois poderem ser alargados. Onde é que está a sua
avaliação? Eu gostava de saber. Até para, nalguns aspetos, que se calhar não
funcionaram bem, poderem ser melhorados. Mas para um governo que tem falado
tanto de descentralização, para um primeiro-ministro que disse que era a
reforma das reformas, de descentralização a única coisa que se ouviu de novo é
retórica. Para além de uma questão que tem a ver com a eleição dos presidentes
das CCDRs pelos presidentes de Câmaras, que aliás é contrária à prática política
que fez quando esteve no governo antes e que está a fazer agora, também.
E já agora, que tem muito que se lhe diga, porque as
CCDRs não tem apenas a ver com os interesses das câmaras, e pode haver aí uma
questão complicada em matéria de gestão de fundos, porque os municípios são um,
mas não o único, dos interessados na distribuição de fundos. E se são apenas
eles que passam a eleger os presidentes das CCDRs, há aí um problema potencial.
Isso seguramente não é descentralização. Descentralização
é transferir competências, com meios, como nós estávamos a fazer. Através de
projetos-piloto, mas estávamos a fazer. Eu acho que, o que era importante… e lá
está, de novo tem a ver com a tal importância de uma política ancorada na
realidade, para ter compromissos estruturais e, com isso, ter estabilidade de
políticas públicas. Nós só temos verdadeiras reformas se tivermos estabilidade
de políticas públicas, nalguns domínios. E aí a avaliação dessas políticas
públicas é fundamental. Eu gostava que essa avaliação fosse feita, para vermos
o que é que, se calhar, podíamos generalizar já, em matéria desses
projetos-piloto de descentralização, e o que é que poderíamos ter de alterar,
ou até, decidir que afinal ali era melhor não descentralizar. Era fundamental
fazer isso.
Simão Ribeiro
Grupo Amarelo, Filipe Veiga.
Filipe Veiga
Muito boa tarde. A nossa pergunta é a seguinte: se
tivesse de escrever um livro sobre as bases ideológicas do PSD de hoje, o
conteúdo desse livro seria muito diferente daquele que leu no livro de
Bernstein que nos apresentou?
Miguel Poiares Maduro
Como tive oportunidade de dizer, aquilo que, se quiserem,
é a influência filosófica, de raiz kantiana – perdoem-me agora aqui a natureza
muito académica talvez do discurso -, e de natureza metodológica, que é a tal
ideia de atender à realidade, e que para mim são os aspetos que mais determinam
a social-democracia, tal como Bernstein a elaborou, permanecem, hoje em dia,
tão válidos como eram. Mas esses mesmos princípios determinam uma diferença
muito grande entre aquilo que é a finalidade da social-democracia, que é a
ideia de garantir a todo e qualquer indivíduo, as oportunidades e os meios para
procurar desenhar, desenvolver, implementar o seu projeto de vida pessoal, a
diferença entre isso e os instrumentos para o conseguir, é extraordinariamente
importante.
A finalidade é a mesma, permanece a mesma, mas a própria
social-democracia, pela tal constante adaptação à realidade, configura a
importância de nós irmos, à medida que o contexto económico e social, à medida
que a realidade vai mudando, os instrumentos, os meios, as formas através das
quais atingimos essa finalidade, vão mudando.
Portanto, se nos pressupostos fundamentais, eu
continuaria, se tivesse de escrever um livro, a seguir o Bernstein, há outros
aspetos sobre a forma, sobre os meios, em que mudaria, como seguramente se
calhar, muito provavelmente, o próprio Bernstein, se escrevesse hoje, também
mudaria.
Simão Ribeiro
Vítor Nascimento, Grupo Laranja.
Vitor Nascimento
Boa tarde. Miguel, numa das primeiras formações que fiz,
assim que cheguei à JSD, perguntaram-nos numa escala de dez a menos dez, onde
colocaríamos o PSD no espectro político. O PSD encaixa sensivelmente entre o menos
três e o seis, mais número menos número, também não vamos muito por aí.
Temos nas nossas fileiras várias correntes de pensamento,
desde os mais liberais, aos puros sociais-democratas, aos mais socialistas.
Lembro também aos presentes, alguns não se lembram ou podem não saber, que não
foi assim há tanto tempo que Sá Carneiro fez o pedido da filiação à
Internacional Socialista. Parece-me, do meu fraco conhecimento, também, que o
PSD sempre se foi adaptando ideologicamente, para corresponder aos desafios que
os tempos foram apresentando, claramente essa adaptação tem sido uma mais-valia
para o PSD.
No entanto, faço duas pequenas perguntas. Conseguirá o
PSD vencer o teste do tempo, quando existem grandes diferenças ideológicas
entre os militantes? E até que ponto a adaptação é um risco para alienar
limitantes ativos, ou mesmo os possíveis novos militantes, ou até mesmo ser um
ponto de ataque da nossa oposição por não sermos coerentes ao longo do tempo?
Obrigado.
Miguel Poiares Maduro
Por boa parte das razões que já mencionei, eu acho que há
uma identidade política de fundo do PSD, que vem desde as origens do próprio
projeto político da social-democracia, como o Bernstein o desenvolveu, e que se
exprime quer nos programas, quer no programa original quer no programa atual,
do nosso partido, quer na sua prática política.
E acho que esses aspetos de identidade que eu mencionei,
são comuns, são partilhados por todos, e é aquilo que mais nos define. É uma
preocupação com a igualdade e liberdade, e com a reconciliação desses dois
valores, e é uma prática política de um certo tipo. Uma prática política não
populista, com adesão à realidade e que defende uma sociedade aberta. E por
isso, o que eu também procurei demonstrar foi que, aquilo que às vezes são
apesentadas como contraposições ou oposições, são falsas oposições. E deve ser
mais tratado como um debate quase técnico, do que um debate de uma verdadeira
divergência ideológica.
Há uma piada de alguém que perde um relógio num passeio e
depois é encontrado a procurar esse relógio no passeio oposto. E perguntam-lhe:
mas tu não perdeste o relógio daquele lado? Porque é que estás a procurar o
relógio neste passeio e não no passeio que é do outro lado? E ele responde:
porque este passeio tem iluminação e aquele não.
[Risos]
No debate político, infelizmente, nós, muitas vezes,
estamos a discutir coisas que não são aquelas que verdadeiramente interessam,
nem são as divisões provavelmente ideológicas mais relevantes, mas apenas e só
porque se tornou hábito discutir essas coisas. Portanto, por vezes estamos a
fazer falsas discussões, em vez de fazer as discussões que verdadeiramente
importam.
E depois há outra coisa. Como a manipulação das palavras
é poderosíssima e contamina todo o discurso. Já tive oportunidade de dizer…
quando se diz que há uns mais liberais e outros menos liberais, eu perguntaria:
o que se quer dizer com liberal nessa circunstância? Porque uma das coisas mais
comuns que se diz é: o PSD ainda tem alguns sociais-democratas genuínos – por
exemplo, aqui o Carlos Coelho, toda a gente diria - e depois tem uns liberais.
Mas o Bernstein disse, por exemplo, que a social-democracia era a herdeira
legítima do liberalismo. Depende do que se quer…
É porque muitas vezes, quando se fala de liberalismo,
está-se a pensar em quem defende políticas de laissez-faire , mercado só. Não é seguramente esse o meu
entendimento de liberalismo. O meu entendimento de liberalismo é que a ação
política, incluindo a promoção da igualdade, deve estar dirigida, não à
imposição de um modelo comum de vida a todas as pessoas, mas sim à salvaguarda
e à proteção de que cada um possa desenvolver o seu modelo individual de vida.
E, nesse sentido, o liberalismo não está em contraposição com a
social-democracia. Está na base da social-democracia, como o próprio Bernstein
diz.
E, nesse sentido, como eu também procurei dizer, a
divisão mercado e Estado, para mim, é uma falsa divisão. São instrumentos. Por
vezes aquilo que se atribui ao Estado, na realidade, o Estado acaba é por não
prosseguir esse fim e prosseguir o fim contrário. E vice-versa relativamente ao
mercado.
Portanto, eu acho que, na realidade, mesmo os debates que
temos dentro do PSD, são debates que, no entanto, são reconduzíveis a
preocupações fundamentais comuns entre todos nós. E é isso que faz com que
tenha sentido que estejamos no mesmo partido. Não é estranho que existam
diferenças no PSD, nem é estranho que existam diferentes soluções e diferentes
perceções de qual é a melhor forma de prosseguir um objetivo ou outro objetivo,
ou de atingir um determinado objetivo social, de finalidade social, ou um bem
social.
É normal, porque nós temos desde logo uma avaliação da
realidade distinta. Agora, o que é fundamental é que a nossa finalidade última
é a mesma, a nossa preocupação social é comum.
E segundo, é que, mesmo dentro da nossa divisão da
realidade, dentro da nossa divisão que tenhamos, nós partimos de uma
preocupação de apurar o que existe na realidade.
E depois, segundo aspeto que eu acho que tem de ser
fundamental, e que tem de continuar a ser a base, é a tal preocupação com uma
prática política distinta. E aí nós temos de contribuir e fazer cada vez mais
para mudar a prática política que tenhamos. Como disse, eu tive oportunidade de
dizer a importância que há de mudar, de saber qual é o lugar e as fronteiras da
política, para não contribuirmos, como infelizmente vejo na prática política do
atual governo e da atual coligação, para o regresso, para o reforço, da
política sem fronteiras claras entre a política e a economia, entre a política
e outros domínios.
E da mesma forma, procurando criar as condições, desde
logo a tal adesão à realidade, a valorização e o respeito da independência
técnica. Foi algo que eu ainda não tive a oportunidade de falar, mas também
tinha previsto aqui. Dar-vos como exemplo, porque eu acho que é um dos aspetos
que dificulta a que a nossa política seja produtiva, dificulta a concretização
de compromissos em Portugal, dificulta a existência de estabilidade nas
políticas públicas, é o facto de nós não valorizarmos suficientemente o
reconhecimento da independência e da autonomia técnica.
Eu dou-vos um exemplo nessa matéria, que também tem a ver
com a prática política atual, e que me parece importante. E que, já agora,
decorre dos fundos europeus, também. E de um dos tais aspetos de substância que
é fundamental prestar atenção nos fundos europeus. Não só a quantidade – quanto
é que se gasta -, mas como se gasta, e isso inclui o modelo de governação dos
fundos, como é que eles são geridos.
Uma das diferenças no novo programa do Portugal 2020, que
eu, com o Dr. Castro Almeida, o Secretário de Estado do Desenvolvimento
Regional, e com todo o governo, desenhámos, e que é uma diferença muito
importante face ao passado dos fundos europeus, foi a atribuição de uma
autonomia forte às autoridades de gestão. E isso tem a ver precisamente com a
tal noção diferente, e promoção de uma cultura política diferente.
Porquê? A nossa leitura é que a função de um governo
nessa matéria deve ser a de estabelecer as prioridades políticas públicas e dar
orientações estratégicas. Mas não deve ser o governo nem a abrir concursos
públicos nem a selecionar os projetos. Porquê? Porque se é o governo que faz
estas segundas tarefas, o risco é que essa abertura de concursos e a seleção de
projetos passe a ser instrumentalizada por objetivos político-partidários.
O risco é que os governos, ou o sistema político, através
das pressões políticas, das pulsões políticas imediatas, respondam a interesses
político-partidários e a interesses políticos imediatos, e não às próprias
orientações estratégicas que podem ser definidas e as prioridades estruturais
de que o país necessita.
E foi por isso que nós entendemos que era muito importante
definir essa linha estratégica e conferir verdadeira autonomia e independência
técnica às autoridades de gestão dos fundos. Devo dizer que me preocupa muito
ver que o atual governo, também aí, está a fazer uma regressão que, do meu
ponto de vista, é extraordinariamente grave, e que é um exemplo péssimo dessa
cultura política.
Não sei se lembram do caso que envolveu e que levou à
demissão do presidente da CCDR Norte, do Prof. Emídio Gomes. De acordo com
aquilo que eu li nos jornais – vivendo fora, li isso nos jornais e não tinha
outra informação privilegiada, mas não vi desmentido, pelo contrário, vi
implicitamente confirmado -, a demissão do Dr. Emídio Gomes terá sido pelo
facto de ele não ter cumprido uma ordem direta que lhe foi dada para abrir um
concurso, de forma a atribuir certo financiamento a algumas autarquias, até com
instruções já sobre o resultado desse concurso que ia ser aberto. Isto é
gravíssimo, do meu ponto de vista. É gravíssimo porque é uma violação – a ser
verdade – da lei, tal como ela existe. Que eu saiba, ela não foi alterada. E é
gravíssimo também porque demonstra a tal conceção de uma cultura política em
que os fundos podem, de novo, passar a ser instrumentalizados por razões
político-partidárias, e não pelos interesses estruturais necessários. É o risco
disso.
Eu diria que, infelizmente, só numa cultura política
pouco desenvolvida é que um comportamento destes leva à demissão do presidente
da CCDR e não à demissão do ministro.
[Aplausos]
Portanto, eu acho que é na defesa deste tipo de uma
política que se oponha a este tipo de cultura política que também tem de estar
a nossa identidade política. Eu acho que, seguramente, existem diferenças,
divergências dentro do PSD, mas como a nossa finalidade é a mesma, mas como
quero acreditar, e acredito, que globalmente todos partilhamos e todos temos de
partilhar desta forma diferente de fazer política, que no fundamental o PSD
continua com uma identidade política fiel à social-democracia e continua com
uma identidade política forte de todos os seus membros.
Muito obrigado.
[Aplausos]
Dep.Carlos Coelho
Eu vou pedir ao Simão Ribeiro e à Margarida Balseiro
Lopes que acompanhem o nosso convidado à saída, eu depois irei lá fora para dar
um abraço de despedida, mas tenho que ficar aqui dentro para uma coisa que vos
queria dizer. E peço aos conselheiros que acompanham o Nuno Matias nos
procedimentos seguintes que venham aqui para a Mesa.
Enquanto esperamos que sejam reunidas as condições na
sala, vocês vão, à saída, no momento em que vão depositar o "Aprendi que…” e a
"Avaliação do tema”, vão recolher um impresso que tem a ver com a visita a
Castelo de Vide. Esse impresso visa que nós possamos apurar qual é a quantidade
de participantes que querem fazer a visita para dar indicação à Câmara, ou
seja, para efeitos de organização, do número de guias, etc. Não há nenhuma
obrigação de fazerem a visita. Eu recomendo que façam a visita, que é rápida,
demora uma hora. É uma visita a pé. Subimos até ao castelo. Portanto, quem
estiver a pensar em calçados mais elegantes, estou a pensar sobretudo nas
senhoras, esqueçam. É melhor calçados mais práticos.
Eu próprio farei a visita e vários membros da
organização, embora já conheçamos a maior parte do trajeto, mas há sempre
qualquer coisa de novo para aprender. É interessante, e portanto recomendo que
façam. Mas, repito, não é obrigatório, é completamente voluntário, só vai quem
quer e quem não quer não vai. Mas para nós apurarmos o número de pessoas
agradecia que preenchessem esse papel.
Esse papel pode ser preenchido durante todo o dia,
durante a noite, até depois de vocês organizarem os vossos trabalhos de grupo.
Pode ser entregue aos vossos conselheiros ou pode ser depositado amanhã de
manhã, aqui quando chegarem para a aula da manhã com o Eng.º Carlos Moedas. É
só isto, não tem outra razão de ser, mas agradecia que respondessem, que é para
nós termos a ideia se estamos a falar de dez, se estamos a falar de cinquenta,
se estamos a falar de cem. Isso é determinante para que a Câmara possa
organizar a logística da visita.
Relativamente à apresentação de trabalhos de grupo de
amanhã, há alguma dúvida?