O papel do Estado: amigo do crescimento ou cúmplice da crise?
Dep.Carlos Coelho
Muito bom dia. Antes de mais, parabéns, começamos da
melhor forma a Universidade de Verão 2016. Estão todos cá a horas, felicito-vos
por terem correspondido ao apelo que vos fiz ontem na sessão de abertura de que
10.0 são 10.0 e não dez ponto outra coisa qualquer.
Há um currículo obrigatório na Universidade de Verão, há
cinco temas que se repetem sempre, um deles é uma aula sobre economia e
finanças. Temos o prazer de ter entre nós a Prof.ª Maria Luís Albuquerque, já é
a terceira vez que está na Universidade de Verão; a primeira para dar uma aula
sobre Europa, segunda para dar uma aula de economia e finanças e a terceira é
hoje. Atribuímos à aula de hoje o tema "O papel do Estado: deve ser amigo do crescimento ou
está resignado a ser cúmplice da crise?”
A Prof.ª Maria Luís Albuquerque é por demais conhecida. É
Mestrada, foi professora universitária e foi Ministra de Estado e das Finanças.
Atualmente é deputada à Assembleia da República e Vice-presidente do Partido
Social Democrata.
A nossa convidada tem como hobby a leitura. Como comida
preferida o bife na pedra – esperemos que coma a parte de cima e não a parte de
baixo [risos]. O animal preferido é o gato; o livro que nos sugere "Viva o Povo
Brasileiro” de João Ubaldo Ribeiro; o filme que sugere "Extremamente Alto,
Incrivelmente Perto”, e a qualidade que mais aprecia é a coragem, e ela é sem
dúvida uma mulher corajosa.
Para iniciarmos com o pé direito a Universidade de Verão
2016, agradeço a presença e dou a palavra à Prof.ª Maria Luís Albuquerque.
Maria Luís Albuquerque
Muito obrigada, Carlos. Muito bom dia a todos; é um
prazer estar aqui de volta. Começarmos esta aula a horas é, de facto,
simpático. Ver que estão todos aqui prontos para termos esta conversa. Mais do
que uma aula como habitualmente vocês têm na Universidade, eu farei, como
habitualmente, uma intervenção inicial, que espero que não seja demasiado
longa, que é para ver se consigo manter a vossa atenção. E depois deixarei
tempo para termos um diálogo, para colocarem as vossas questões, para
eventualmente me falarem de temas que querem que eu foque nesta intervenção.
Como disse o Carlos Coelho, a questão da economia e
finanças é incontornável numa análise que se faça sempre na Universidade de
Verão do PSD, é uma matéria sempre importante. E, não necessariamente pelas
melhores razões, é uma matéria que no nosso país tem de estar sempre no topo da
agenda. Quer a parte da economia, quer aquela que está muito intimamente
relacionada, como causa e como consequência, e que tem a ver com as Finanças
Públicas, nomeadamente o défice e a dívida pública.
O tema escolhido para esta aula de hoje, do papel do
Estado, se é amigo do crescimento ou cúmplice da crise, é uma questão muito
importante e muito oportuna nos tempos que nós vivemos. De facto, o papel do Estado
é fundamental e pode assumir os dois papéis – pode ser amigo do crescimento,
promover o crescimento ou pode ser cúmplice da crise ao atuar de forma a
agravar os problemas que a economia tem, a potenciar os riscos externos que
eventualmente nos ameassem, e é de facto fundamental fazer a discussão desta
questão.
E a questão do papel do Estado é, até do ponto de vista
ideológico, aquela que mais separa ou que mais pode separar partidos que se
apresentam às eleições e, também desse ponto de vista, do ponto de vista
ideológico, do ponto de vista daquilo que cada partido defende, é importante
percebermos qual é o papel do Estado. Se o Estado deve ser dominador da
economia, se o Estado deve ser o detentor da atividade produtiva ou se o Estado
deve desempenhar funções que lhe estão naturalmente confiadas, mas estimular
também e promover a iniciativa privada.
E essa é uma diferença fundamental que separa o PSD dos
partidos da maioria que hoje estão no Governo. O PSD sempre foi um partido
amigo da iniciativa privada, sempre foi um partido que governou e apresentou
propostas para estimular a atividade privada, porque acreditamos que são os
agentes privados, agindo num mercado regulado, com o Estado que cria as
condições adequadas, que têm melhores condições para criar riqueza e para criar
as condições para que o Estado depois possa desempenhar a sua função. E esta
diferença não é de todo irrelevante quando olhamos para a situação do nosso
país.
Os diagnósticos estão feitos há muito tempo e, portanto,
aquilo que são as debilidades estruturais de Portugal são já bem conhecidas.
Nós temos, do ponto de vista das Finanças Públicas, um problema longo, já com
muitos anos de défices recorrentes (e eu estou sempre a recordar este ponto
porque me parece que ele não está suficientemente interiorizado). O País vive
com o objetivo de ter um défice abaixo de 3%, que é obviamente importante, na
medida em que isso tem a ver com as regras do Tratado Orçamental, as regras do
Pacto de Estabilidade e Crescimento, e da nossa pertença à Moeda Única, mas
esquecemo-nos, aparentemente, que 3% é o máximo que se deve atingir, mas não é
o objetivo – o objetivo tem de ser não ter défice. E quando um país tem o nível
de dívida pública que Portugal tem, o objetivo só pode ser de ter excedente
orçamental, que é para conseguirmos reduzir a dívida pública em valor absoluto
e não apenas em percentagem do PIB, que obviamente é fundamental, porque o peso
da dívida é tão mais relevante quanto mais representa naquilo que é a riqueza
que o país produz em cada ano. Mas o nosso objetivo tem de ser,
tendencialmente, um orçamento equilibrado, mas durante o tempo mais longo que
for possível ter um orçamento excedentário para podemos reduzir o valor da
dívida pública.
E, portanto, ficar abaixo de 3% é um objetivo de passagem,
digamos, no caminho daquele que deve ser o nosso verdadeiro objetivo de médio
prazo. Mas como, até desde que estamos em democracias, desde que aderimos às
então Comunidades Europeias, e desde que aderimos ao Euro, esse é um objetivo
que não tem sido alcançado, a verdade é que tendemos a esquecer-nos de que
temos de ir mais longe, temos de ser mais ambiciosos, temos de querer mais em
termos de controlo das nossas Finanças Públicas. E aqui o papel do Estado é
obviamente determinante, porque são as decisões do Estado, as decisões do
Governo, que têm uma enorme influência sobre a evolução das Finanças Públicas.
E isso manifesta-se de muitas formas. Manifesta-se, desde logo, nas escolhas
que o Governo, o Estado – enfim, vou falar aqui de forma um pouco indiferenciada,
embora, obviamente, os conceitos não sejam coincidentes -, faz opções
relativamente à despesa. O Governo decide o que é que vai gastar, quanto vai
gastar, como vai gastar. E essa é a primeira e fundamental decisão.
É também importante perceber que há um conjunto de
compromissos assumidos que limitam a liberdade de escolha de cada Governo
quanto a essa despesa. Há encargos com salários, há encargos com pensões, há
contratos que foram celebrados e que implicam despesa para o Estado no futuro,
e a margem que fica para uma decisão discricionária acaba por ser, numa
situação como a nossa, menor do que seria desejável.
Temos também uma outra componente muito pesada, que é a
componente do serviço da dívida pública, dos juros da dívida pública e que, resultando
de compromissos assumidos no passado, não pode também deixar de ser um
compromisso a honrar.
Mas é com este conjunto de despesas – algumas mais
rígidas do que outras –, é neste conjunto de despesas, que se centra o início
da decisão de um governo e os sinais que depois isso vai transmitir e os
impactos que vai ter para a economia. Porque a política fiscal, a decisão sobre
os impostos que são cobrados, é uma decisão que resulta da despesa que se quer
fazer. Ou seja, nós quando decidimos, quando o Estado, quando o Governo decide
gastar dinheiro, está a tomar uma decisão para cobrar impostos. Sejam impostos
presentes, sejam impostos futuros, porque aquilo que é o défice, a diferença
entre receitas e despesas – que, no nosso caso, é sempre negativa, mais despesa
do que receita – dá origem a dívida, a dívida dá origem a despesa futura, logo
dá origem a impostos futuros.
E, portanto, é importante percebermos que no papel do
Estado está este elemento essencial das decisões sobre a despesa. Aquilo que
decorre, em termos de cobrança de impostos, é uma consequência. E, portanto,
quando nós dizemos – nós, portugueses, ou quaisquer outros cidadãos dizem - que
querem pagar menos impostos, a pergunta que se tem de fazer é, em primeira
linha, então quais são as despesas que nós vamos deixar de fazer para poder
pagar menos impostos. E depois ver quais são as consequências que isso tem
sobre a economia e, naturalmente, sobre o bem-estar dos cidadãos e a capacidade
do Estado de assegurar a provisão de serviços essenciais. Portanto, são estas
decisões fundamentais que o Estado tem de tomar e que têm depois consequências.
Depois, quando entramos na política fiscal propriamente
dita, uma vez determinado qual é o volume de receita fiscal que se pretende
obter, há também decisões diferentes que podem ser tomadas. Pode-se fazer mais
tributação sobre o rendimento – podemos optar mais por impostos diretos – ou
fazer tributação via impostos indiretos – tributar o consumo de determinados
bens ou serviços. Ou ainda tributar o património.
Aquilo a que nós assistimos em Portugal é uma tributação
muito elevada em qualquer uma das componentes – sobre o rendimento, sobre o
consumo e também sobre o património – mas que decorre, também ela, das decisões
de despesa que foram sendo feitas ao longo dos anos e que originaram um encargo
para o Estado que é, também ele, muito pesado. E, portanto, a decisão dos
impostos decorre daí.
Mas não é indiferente, quando se fazem as escolhas de
política fiscal, se se vai tributar rendimento, se se vai tributar consumo ou
se se vai tributar património. Porque isso transmite sinais e estímulos aos
agentes económicos. Um exemplo muito oportuno, parece-me, é a questão da
reforma do IRC, que foi posta em prática pelo Governo anterior com o acordo do
Partido Socialista, quando a reforma foi lançada, mas que entretanto já foi
revertida com este acordo de maioria que temos agora, e antes mesmo das
eleições já o Partido Socialista tinha renegado o acordo a que tinha chegado
connosco para esta reforma do IRC.
O que é que nós entendemos, na altura, no âmbito destas
escolhas? Que era importante começar a reduzir o peso dos impostos, mas,
atendendo às limitações impostas pela despesa elevada, pela necessidade de
cumprir metas do défice, não era possível promover uma descida generalizada dos
impostos. E, então, entendemos que deveríamos começar por baixar um imposto que
fosse o mais eficaz para induzir comportamentos adequados nos agentes
económicos, nomeadamente para estimular o investimento.
Porque aquilo que nós temos em Portugal é um problema de
falta de competitividade, precisamos de mais investimento; a crise,
nomeadamente o período de ajustamento, levou-nos a assistir a uma redução muito
significativa do investimento, e, portanto, promover o investimento,
nomeadamente o investimento privado, e muito o investimento estrangeiro, não
pode deixar de ser um objetivo para qualquer governo que queira pôr o país a
crescer. Porque, se não houver investimento, todos os outros objetivos, mais
tarde ou mais cedo, acabarão por falhar. Nós precisamos de pôr o país a crescer
e, por isso, é que fizemos a reforma do IRC e tínhamos no nosso Programa
Eleitoral o objetivo de continuar essa reforma, reduzindo gradualmente a taxa
de IRC.
E aquilo a que assistimos com a entrada em vigor desta
reforma foi a um aumento da receita do IRC, apesar da redução da taxa, e a uma
retoma do investimento, que o ano passado, na primeira metade do ano – depois começamos
a sentir algum efeito de incerteza sobre o que seria o resultado das eleições
–, mas assistimos, com a reforma do IRC, a uma retoma significativa do
investimento e conseguimos, apesar da reforma, ter um aumento de receita.
E, portanto, a ideia deve ser tentar reduzir todos os impostos,
menos aqueles que tenham objetivos específicos que tenham a ver com a saúde
pública, como o imposto sobre o tabaco, etc., pois aí é uma discussão
diferente. Mas aqueles que incidem sobre o rendimento, sobre o consumo da
generalidade dos bens ou sobre o património, todos eles, idealmente, deveriam
diminuir, mas devemos começar por diminuir aqueles que possam ter um efeito
mais positivo e que possam criar mais espaço.
Foi esta a nossa opção, era esta a nossa opção no
programa eleitoral que foi sufragado pelos portugueses. Infelizmente não foi
essa a opção seguida, e infelizmente também, aquilo a que temos vindo a
assistir é a uma queda muito significativa do investimento que é provocada pela
instabilidade, pela falta de confiança que algumas decisões da atual maioria
induziram nos investidores. Uma delas é precisamente a reforma do IRC – a
previsibilidade fiscal é um elemento muito importante para quem investe. Não é,
obviamente, o único, mas é um elemento muito importante. Saber que vou fazer um
investimento, como é que eu vou ser tributado quando obtiver lucros sobre este
investimento, porque a ideia de qualquer investidor privado é, necessariamente
e naturalmente, obter lucros. É isso que remunera o seu capital e é isso que
faz com que faça sentido correr o risco de avançar com um projeto e de realizar
um investimento. E, portanto, a imprevisibilidade fiscal que voltou a ser
lançada abalou a confiança dos investidores.
Não foi, mais uma vez infelizmente, a única das ações da
atual maioria que levou a uma redução da confiança por parte dos investidores.
Tem havido, desde o final do ano passado, um conjunto de decisões de reversão
de medidas e de decisões tomadas pelo Governo anterior.
Esta imprevisibilidade tem também consequências muito
negativas sobre os investimentos. Quando assistimos a uma transição dentro das
regras democráticas (pode até ter sido um pouco diferente, mas respeita
formalmente aquilo que são as regras democráticas) e o governo que vem se
dedica a desfazer aquilo que tinha sido o trabalho do governo anterior, isso
leva os investidores a olhar para Portugal, necessariamente, com enorme
preocupação. Quer os investidores nacionais, quer os investidores estrangeiros.
Porque tanto os investidores nacionais como os investidores estrangeiros têm
muitas opções, e é isso que é fundamental que quem decide no Estado perceba.
Quem tem capital para investir, tem um conjunto imenso de
localizações para o fazer; tem mais vantagens nuns sítios do que noutros, mas
pode escolher se investe para construir uma fábrica em Portugal, em Espanha, na
Alemanha, na República Checa, ou até se vai construir essa fábrica no
continente americano ou no continente africano, ou em qualquer outro sítio.
Quem tem capital – o capital desloca-se livremente – escolhe. É fundamental que
o Estado, que o governo de cada país que queira atrair o investimento, crie as
condições para que, quando os investidores olham para o leque de escolhas,
olhem para o seu país, para Portugal, e digam: este é o melhor local para
investir. Porque tem condições fiscais que são atrativas, porque tem recursos
humanos que são atrativos, porque tem uma localização que é atrativa, enfim,
dependendo, naturalmente, do investimento, por uma multiplicidade de razões.
Mas há muitas delas que dependem do Estado. Nomeadamente, dar segurança ao
investidor sobre o que vai acontecer àquilo que é a sua propriedade – o
resultado do risco que correu, nomeadamente em termos fiscais. Mas também em
termos de não haver decisões de reverter negócios que tenham sido feitos pelo
governo anterior e que criaram nos investidores a perceção de que não estarão
seguros se fizerem um investimento em Portugal.
Quando nós olhamos para a situação do nosso país, vemos
qual é o nível de poupança que temos. Temos um cenário muitíssimo preocupante.
A poupança dos portugueses atingiu pela primeira vez valores negativos este
ano, algo que nunca tinha sido registado, e isso é o pior dos sinais. O pior
dos sinais porque nós já tínhamos uma poupança muito baixa, o que significa que
dependemos criticamente do financiamento que venha do exterior. Dependemos dos
capitais de estrangeiros para investir em Portugal, porque em Portugal não há
recursos suficientes para investir na nossa economia e pôr a economia a
crescer.
E quando olhamos para estes sinais negativos internos e
olhamos para a falta de confiança dos investidores externos, compreendemos que
os resultados económicos não podiam ser diferentes daqueles que são. Ou seja,
quando não conseguimos criar confiança, nem interna nem externamente, quando
não temos recursos internos e não atraímos recursos externos, não podemos
esperar obter crescimento. E é por isso que o modelo económico no qual
assentava, teoricamente, na altura em que isto foi apresentado aos eleitores,
um crescimento muito mais robusto da economia portuguesa, não está a funcionar
e não vai funcionar.
Aliás, não era sequer preciso tê-lo testado novamente,
porque este modelo já foi testado. A aposta no consumo, na distribuição de
recursos internos para consumo interno, já foi testada no passado e resultou da
forma que todos nós sabemos – uma crise financeira que obrigou a um pedido de
resgate e obrigou ao pedido de apoio financeiro por parte dos nossos parceiros
europeus e do FMI.
Porque o que é que acontece quando se devolve mais
rendimento às pessoas, estimulando-as a consumir? A maior parte desse consumo
vai dirigir-se a bens importados – as pessoas vão comprar mais carros, vão
comprar mais telemóveis, vão comprar mais televisões. Não vão, na maior parte
dos casos, comprar mais comida, ou mais sapatos, ou mais roupa produzidos em
Portugal. Também há alguma, também vão consumir alguma coisa mais que seja
produzida cá, até em termos de serviços. Mas o impacto mais significativo
verifica-se no aumento das importações. E o que isso significa - tirando a
margem que ficará para os distribuidores e os comerciantes – é que a maior
parte dessa riqueza tem um impacto positivo mas não é em Portugal, é nos países
que produzem esses bens e desequilibrando novamente a nossa balança - que é um
problema crónico que nós tivemos durante muitos anos e que tínhamos já
conseguido inverter durante o período de ajustamento graças ao sucesso das
políticas que foram postas em prática.
E, portanto, quando se transmitem estes sinais, quando se
desenvolve um modelo que diz que é com o aumento do consumo, com o estímulo da
procura interna que nós vamos conseguir crescimento, aquilo que nós podemos
estranhar é porque é que alguém se surpreende com o resultado a que estamos a
assistir.
O resultado a que estamos a assistir era o único possível
porque é uma repetição do que já foi feito antes e, naturalmente, se fazemos a
mesma coisa da mesma maneira, vamos obter o mesmo resultado. Não há alternativa
a isso.
Portanto, desse ponto de vista, conhecendo nós aquilo que
são as dificuldades do país, as suas debilidades estruturais, e o caminho que
tem de ser percorrido para as ultrapassar – e que estava a ser percorrido e que
era nossa intenção continuar -, não podemos deixar de colocar esta questão do
papel do Estado de uma forma absolutamente atual.
O Estado deveria ser um amigo do crescimento, deveria pôr
em prática políticas que estimulassem o crescimento, mas, ao escolher as
políticas erradas, ao optar por um modelo económico que tem consequências
negativas, aquilo que faz é, de facto, tornar-se cúmplice da crise.
E assistimos depois às… desculpas - não tem outro nome –
sobre porque é que o modelo não funcionou. E é o inimigo do costume: a crise
externa, as circunstâncias externas, as crises dos nossos parceiros. Independentemente
de parte desses argumentos serem ou não serem verdadeiros – e há de facto
alguns parceiros relevantes de Portugal, como é o caso de Angola, que estão
numa situação difícil -, a verdade é que justificar tudo com a crise externa é
um argumento que não colhe.
E não colhe porque basta olhar para Espanha, que está
mesmo aqui ao lado, ou para a Irlanda, que teve um programa de ajustamento como
Portugal, para perceber que, com a mesma envolvente externa - não com a mesma
dependência de Angola, naturalmente, mas também não é isso que justifica tudo
–estamos a ver países com taxas de crescimento que são um múltiplo da taxa de
crescimento que Portugal regista. E isto é a demonstração de que dentro da
Europa, na periferia da Europa, no Sul ou mais a Norte, é possível, com este
enquadramento externo, ter maior crescimento, desde que se façam as escolhas
políticas certas. E é isso que, infelizmente, não temos vindo a assistir em Portugal.
Quais são as consequências mais imediatas? Eu devo dizer
que, em termos dos números do crescimento, apesar de tudo, surpreende-me um
pouco o comportamento do consumo, ou seja, o consumo não estar a ter um
contributo mais elevado nesta primeira fase para o crescimento, na medida em
que o crédito ao consumo, por exemplo, voltou a aumentar, e muito. O que é
outro sinal preocupante – uma poupança negativa e aumento do crédito ao consumo
faz prever que as famílias portuguesas possam, a curto prazo, vir a encontrar-se,
novamente, numa situação de extrema dificuldade de que mal tinham começado a
sair.
E, portanto, todos estes estímulos são os estímulos
errados.
Quando nós olhamos também para as consequências que isto
tem, temos de pensar nas consequências em termos das Finanças Públicas. As
Finanças Públicas – o défice – depende (criticamente, como já disse) da despesa
que se faz, mas também da receita que se vai obter. Quando se aplica o modelo
de crescimento que não dá o crescimento que era suposto gerar, a receita fiscal
é inferior. Como as despesas têm a maior rigidez, e têm, inclusive, associados
compromissos políticos de que a atual maioria não quer – pelo menos para já –
abdicar, vai ter um problema de défice mais elevado. Um défice mais elevado faz
aumentar mais a dívida pública, aumenta os encargos da dívida pública, e temos
aqui o efeito bola de neve.
Portanto, as políticas são erradas nos estímulos que dão
aos agentes económicos e têm consequências erradas sobre as Finanças Públicas.
Quando se tem de se compor esse estrago sobre as Finanças Públicas, induzindo
uma redução da despesa e/ou um aumento dos impostos, isto volta a ter um
impacto negativo sobre o rendimento, afeta a confiança, no caso em particular,
dos consumidores domésticos e temos outra vez um período de ajustamento que
implica sacrifícios.
E aquilo que é verdadeiramente penoso, é perceber como
tão rapidamente se destrói aquilo que é tão difícil de construir e que exigiu
tantos sacrifícios aos portugueses. Basta olharmos para a imprensa
internacional, para os researchs que
os bancos de investimento publicam, para os avisos das agências de rating , para termos uma sensação de dejà vu que é verdadeiramente
preocupante.
Não foi assim há tanto tempo que começamos a ver toda a
atenção internacional focada em Portugal pelos piores motivos. As taxas de juro
a subir (as taxas de juro da dívida pública, portanto, a taxa de juro que
Portugal paga, não as taxas de juro no geral), os avisos recorrentes sobre o
caminho que está a ser seguido e os riscos que o país enfrenta. E isso, todos
os dias, de uma forma ou de outra, nos aparece através da Comunicação Social,
através da Internet, para quem olha com mais atenção, para quem segue o research dos bancos, todas estas
preocupações são manifestadas e vão aparecendo de forma crescente.
E nós olhamos para aquilo que acontece na nossa dívida
pública e não podemos deixar de nos preocupar. Apesar do programa de compras do
BCE, apesar de o BCE estar hoje – hoje, enfim, de há uns meses largos a esta
parte – …a agir de forma mais agressiva no mercado porque aumentou o seu
programa de compras, as taxas de juro de referência estarem muito baixas, nós
assistimos a uma taxa de juro absoluta para Portugal que não parece muito alta,
mas é perfeitamente ilusório.
Quando nós vemos que Portugal se financia a dez anos a
uma taxa que ronda os 3% - tem andado em torno dos 3%, um bocadinho abaixo, um
bocadinho acima, nas últimas semanas; já teve valores mais elevados, mas tem
andado à volta deste valor – e olhamos para a Irlanda que se financia a uma
taxa de 0,7% ou 0,8% para o mesmo prazo, ou para a Alemanha que se financia a
taxas negativas, não podemos deixar de nos perguntar por que razão é que isto
se passa, porque é que esse diferencial está a aumentar e quais são as
consequências que isso tem para nós.
Apesar da taxa de juro, mais uma vez, em termos
absolutos, não me parecer muito elevada, quando olhamos para o nível de
inflação, quando olhamos para a taxa de juro de referência, quando comparamos
com outros países europeus – e podemos fazer a comparação com Itália, por
exemplo, porque estivemos com as nossas taxas de juro ao nível de Itália e,
neste momento, descolámos e a nossa taxa de juro é muito superior àquela que
paga a dívida pública italiana.
E isto é uma manifestação clara das dúvidas que os
investidores começam a ter relativamente àquilo que será o futuro da economia
portuguesa. E estes são sinais de alerta que o passado nos devia ter ensinado
que não podem ser ignorados. Porque, tipicamente, o mercado é muito permissivo
durante muito tempo, continua a financiar e as taxas não disparam,
necessariamente, de forma muito rápida, mas quando acontece é de um momento
para o outro. Quando o mercado decidir que Portugal é um risco demasiado grande
para correr, é tarde para atuar.
Nessa altura as consequências já serão muito mais graves
do que se tivéssemos agido mais cedo. E foi essa lição que, desejavelmente,
deveríamos ter aprendido em 2010/2011, quando começámos a ter sérias
dificuldades de financiar a dívida pública. Até a procura começou a ser muito
menor, apesar dos juros mais elevados que se prometia pagar, mas que,
infelizmente, parece não ter sido interiorizada, porque aos sucessivos avisos,
e a esta tendência de crescimento das taxas de juro não se tem seguido uma
correção do rumo político, nem um reconhecimento de que aquilo que eram os
pressupostos das políticas que estão a ser postas em prática não funcionam na
realidade e que é preciso agir de uma outra forma.
Aquilo que nós propusemos (propusemos nas eleições do ano
passado) e que os portugueses reconheceram e aceitaram ser o melhor caminho,
era um caminho muito diferente daquele que é seguido. Era uma trajetória de
crescimento assente sobretudo na recuperação do investimento, na aceleração do
crescimento, e com essa aceleração do crescimento ir gradualmente repondo
aqueles rendimentos que tinham sido diminuídos.
Mas reparem nesta nuance muito importante: aquilo a que nós assistimos na maioria de esquerda é uma
enorme preocupação de distribuir riqueza, uma enorme vontade de distribuir
riqueza; mas, em compensação, uma total incapacidade e aparente falta de
vontade de criar riqueza para ela ser distribuída.
E esse é que é o principal problema: se não se cria
riqueza não há nada para distribuir. Ao procurar distribuir o que não se tem, a
única coisa que estamos a fazer é, de facto, distribuir mais dívida. Mais
dívida privada, mais dívida pública, mais impostos e mais encargos para as
gerações futuras. A principal preocupação do país não pode deixar de ser criar
riqueza, tornar-se competitivo, crescer mais, e com essa riqueza criada, com
certeza, devolver os rendimentos que foram reduzidos, e mais, aumentar os
rendimentos. Tem de ser essa a finalidade de qualquer governo de um regime
democrático, e é claramente essa a ambição do PSD. É criar condições para que os
salários em Portugal sejam melhores, para que as empresas tenham mais lucro,
para que os impostos possam ser mais baixos, para que os portugueses possam
viver melhor.
Mas isso exige capacidade para criar riqueza, exige
políticas económicas adequadas a essa finalidade.
Aquilo que nós estamos a ver, receio que vá ainda
agravar-se mais. As notícias dos últimos dias falam-nos de aumento de despesa
em determinadas áreas, nomeadamente relacionadas com os chamados direitos
adquiridos dos trabalhadores da Administração Pública, aumento das despesas com
pensões de reforma, mas também aumento de tributação, nomeadamente na área do
património.
Este caminho é um caminho que vai continuar a agravar os
problemas a que nós já estamos a assistir. Não pretendemos aqui dizer que as
pessoas têm rendimentos muito elevados ou que as pensões são muito elevadas.
Nós sabemos – conhecemos muito bem essa realidade – e sabemos como há em
Portugal, infelizmente, demasiada gente com pensões muito baixas, demasiada
gente com salários muito baixos, mas aumentar esses rendimentos sem ter onde ir
buscar, sem a criação de riqueza que permitiria cobrir essa despesa, é agravar
o problema e é criar mais dificuldades ainda para o futuro.
Porque a preocupação – e isso também foi uma discussão a
que assistimos muito intensamente durante os anos do período de ajustamento –
era a suposta preocupação, ou a obsessão, que nós temos, ou que nós tínhamos,
com os números. Que só nos preocupávamos com os números e não nos preocupávamos
com as pessoas. E a verdade é que, mais uma vez, quem parece não se preocupar
com os números acabará a prejudicar as pessoas.
Eu diria até que nem se pode dizer que este governo não
se preocupa com os números porque, dia sim dia sim, fala no objetivo do défice.
Nós estávamos obcecados, não sei exatamente qual é o termo que aplicam à
preocupação que têm, que é legítima e que eu, apesar de tudo, espero que seja
defendida. Mas admito que connosco seria uma obsessão, com eles será outra
coisa qualquer, mas têm também, aparentemente, o objetivo de cumprir a meta do
défice. Tenho as minhas dúvidas de que o consigam, mas proclamam, pelo menos,
ter esse objetivo.
Aquilo que nós sabemos, efetivamente, é que esta ideia de
cada decisão ser sempre no mesmo sentido, de aumentar a despesa para ir
satisfazendo cada grupo de interesses, vai deixando numa situação mais frágil
todos aqueles que não estão nesses grupos de interesses, que não essa força de
pressão, ou essa capacidade de pressão, que não são o eleitorado do Partido
Comunista ou aqueles que estão próximos dos sindicatos do Partido Comunista ou
aqueles que estão mais próximos do Bloco de Esquerda. E esses outros, que são
milhões de portugueses, que são os pequenos empresários que lutam no dia-a-dia
para manter o seu negócio à tona, para conseguir tirar o rendimento para
sustentar a sua família, aqueles que procuram emprego e que optam por ir lá para
fora porque não encontram oportunidades cá dentro. Aqueles que, tendo ido para
fora, querem regressar a Portugal, e procuram em Portugal encontrar essas
oportunidades – a esses, com essa política, aparentemente não há quem os
defenda. E esses são a maioria dos portugueses e merecem tanto respeito como
todos os outros: tanto respeito como os funcionários públicos, tanto respeito
como os pensionistas, tanta preocupação como todos esses outros grupos, como
nos mereceram a nós.
Eu sou funcionária pública, trabalhei para o Estado desde
sempre, tenho o maior respeito pelos trabalhadores da Função Pública, pelos
trabalhadores do Setor Público, mas também tenho um enorme respeito pelos
trabalhadores do setor privado e tivemos sempre a consciência de que as políticas
devem ser definidas e seguidas de forma a criar condições adequadas para todos
os portugueses, quer trabalhem no setor público, quer trabalhem no setor
privado. Porque aqueles que perderam o emprego foram claramente mais
prejudicados do que aqueles que perderam uma parte do seu rendimento. Quem
perdeu o emprego perdeu o rendimento todo, ficou numa situação de total
fragilidade, totalmente exposto. Um governo responsável não pode deixar de se
preocupar com essas variáveis. E não estamos a falar de criar emprego sazonal,
estamos a falar de criar emprego sustentadamente, estamos a falar de alterar a
tendência e de reduzir aquilo que é a nossa taxa estrutural de desemprego,
aquela que, independentemente do ciclo económico, persiste e que se mantém
demasiado elevada.
E para isso, mais uma vez, temos de elevar as condições
de competitividade e a capacidade de crescimento da economia. Temos de atrair
investimento estrangeiro, temos de ser capazes de demonstrar que Portugal tem a
mesma capacidade que os seus parceiros europeus para atrair projetos de
investimento válidos, e que tem, para além disso, um conjunto de vantagens que
podem e devem ser melhor exploradas, como as nossas relações privilegiadas com outros
países, como a nossa localização geográfica que, sendo periférica na Europa, é
muito central no mundo, e o mundo, sabemos, é muito mais do que a Europa. E
temos de ter capacidade de explorar essas vantagens.
Aquilo que é essencial é que nós criemos condições de
confiança para que tudo, todo esse investimento, para que toda essa melhoria,
se traduza no dia-a-dia dos portugueses, gradualmente. Aquilo a que nós
assistimos, com aquilo que tem sido posto em prática, é uma pressa imensa em
cumprir os compromissos eleitorais… eu não diria os compromissos eleitorais,
porque esses não mereceram o voto maioritário dos portugueses, mas os
compromissos do acordo que foi feito depois para a formação do governo, mais
corretamente.
A pressa em cumprir esses compromissos está, de facto, a
comprometer todos os outros resultados. E vamos assistindo à revisão sucessiva
em baixa das metas para o crescimento e vamos seguramente assistir a uma
revisão das metas para o próprio orçamento. Ou seja, não é possível que com uma
previsão de crescimento de 1,8 inscrita no orçamento, com uma taxa registada no
primeiro semestre - ainda uma taxa provisória, mas, ainda assim, já uma
estimativa por parte do INE - de 0,8, estamos demasiado longe daquele que era o
objetivo para que isto não tenha consequências orçamentais e, portanto, vamos
ver certamente essas consequências também a serem refletidas numa revisão do
cenário macroeconómico e nas consequências que isso tem sobre as Finanças
Públicas.
As escolhas de um Estado são, de facto, determinantes,
para a definição se é amigo do crescimento ou se é cúmplice da crise. Cada
Estado, em cada momento, faz aquilo que são as escolhas intertemporais e decide
se deve gastar mais hoje, empurrado dívida para o futuro, para atingir um
determinado objetivo. Essas escolhas são válidas, e frequentemente devem ser
feitas. O problema é quando se decide gastar mais hoje em algo que não traz
retorno no futuro. E foi isso a que nós assistimos.
Assistimos, no anterior governo socialista, com um
frenesi de investimento público que estamos a pagar e estaremos a pagar durante
muitos anos, nomeadamente com as PPPs e com muitas autoestradas que não têm
tráfego e cujo retorno nunca será suficiente, sequer, para a sua manutenção,
quanto mais para recuperar o custo da sua construção.
Mas assistimos, hoje, curiosamente, a uma redução
drástica do investimento público. Todas as opções que foram feitas estão a ser
as opções erradas. Porque quase acabar com o investimento público - o
investimento público está a níveis tão baixos como nunca tinha sido visto - é
também particularmente errado. Não pode ser um excesso de investimento público,
mas também não pode ser uma total ausência de investimento público. Porque o
investimento público cumpre também uma função importante, e porque nós estamos
num quadro comunitário que foi negociado com muito sucesso pelo governo
anterior e que permite a Portugal beneficiar, ainda, de um montante muito
significativo de fundos estruturais, mas isso exige o empenho também do Estado,
também do investimento público e na promoção do investimento privado com este
financiamento, para gerar o crescimento.
Quanto mais se adiar este processo, menores serão os
benefícios que nós poderemos recolher dos fundos estruturais a que ainda temos
direito. E não é de esperar que, no quadro que se seguirá a 2020, Portugal
venha a conseguir as mesmas condições que consegue agora. Nós estamos a receber
fundos estruturais para convergir para a economia europeia desde a nossa
adesão, tínhamos iniciado um caminho de convergência desde que recuperamos da
pior fase da crise. Em cada trimestre crescíamos mais do que a área do Euro e
crescíamos mais do que a União Europeia, e aquilo a que já vimos assistindo nos
últimos dois trimestres é a reversão dessa tendência. Voltamos a divergir,
voltamos a crescer menos do que a área do Euro, voltamos a crescer menos do que
a União Europeia.
Portanto, estamos a afastar-nos novamente daquele que
devia ser o nosso caminho. E quando olhamos para as componentes do crescimento
percebemos claramente porquê: o investimento afunda, o privado por falta de
confiança, o investimento público porque é aquilo, suponho, onde o governo –
que não está obcecado com o défice – vai podendo cortar mais, porque,
aparentemente, os seus parceiros de maioria não lhe fazem tantas exigências
nessa matéria. O que não deixa de ser curioso, para quem sempre proclamou que
nós eramos os grandes inimigos do país por não estimularmos o investimento
público, estarem silenciosos perante a queda brutal do investimento público, e
a redução efetiva de investimento público por comparação com o ano passado, que
agora estejam muito sossegados. Mas imagino que os lóbis do investimento púbico,
por alguma razão, sejam menos poderosos do que outros que estão a levar a outro
tipo de atuação.
Portanto, as escolhas estão a ter esta consequência:
temos o investimento a cair, temos o consumo a gerar menos crescimento do que
aquele que era esperado, apesar de haver aqui algum elemento talvez um pouco
surpreendente, como já referi. E temos, claramente, uma perspetiva mais
negativa para o futuro.
Portugal tem de mudar de vida, nós não podemos desistir
do país, somos tão bons ou melhores do que qualquer dos nossos parceiros
europeus, temos múltiplas qualidades, temos muito potencial para explorar, mas
temos de ser capazes de fazer as escolhas certas e temos também de interiorizar
que as escolhas erradas do futuro exigem um caminho algo penoso para serem
corrigidas. Nós não podemos simplesmente passar uma esponja sobre o passado e
dizer: começamos agora, como se não houvesse passado, como se não houvesse uma
herança que tem de ser gerida. Há uma herança que tem de ser gerida, há uma
herança de endividamento pesado (público e privado) que tem de ser pago, há uma
herança de défices crónicos que têm de ser revertidos, há uma herança de falta
de competitividade que nos coloca, numa primeira análise, numa posição sempre
mais desfavorável quando somos olhados por investidores externos.
Reconhecer essa herança implica reconhecer quais foram os
erros cometidos que nos trouxeram até aqui, porque enquanto não se reconhecerem
os erros eles não se podem corrigir.
E esse é o problema desta maioria. Aquilo que está a
acontecer é uma tentativa de recuperar um passado que já não existe, e que
ainda bem que já não existe, porque esse passado, que foi aparentemente bom
durante algum tempo, foi aquele que nos conduziu à crise e aos grandes
sacrifícios que todos tivemos que fazer. Não reconhecer esses erros, não
reconhecer que essa estratégia é errada, significa condenar o país a cometer os
mesmos erros e a seguir o mesmo caminho, sendo que nós sabemos que cada vez que
os erros se repetem, as consequências são piores e são mais difíceis.
O PSD propôs quando se apresentou às eleições que ganhou (e
continua a propor enquanto está na oposição) 222 propostas concretas para o
programa de estabilidade.
Aquilo que o PSD quer é um país que seja capaz de
explorar o seu potencial, que seja capaz de dar esperança aos seus jovens, e
que seja capaz de garantir uma vida digna a todos os portugueses,
independentemente da idade. A combater as desigualdades sociais; temos uma
enorme preocupação com o Estado Social, mas, mais uma vez, numa perspetiva que
é diferente daquela que é a perspetiva da maioria que nos governa. A nossa
preocupação com o Estado Social começa por dizer: nós termos de criar riqueza
para garantir que temos condições financeiras para assegurar educação a todos,
saúde a todos, justiça a todos, crescimento, melhores condições de vida,
criação de emprego.
O Estado Social, o combate às desigualdades, faz-se desta
forma, não se faz distribuindo o que não se tem, de forma que é necessariamente
injusta e que vai, a prazo – infelizmente a curto prazo -, agravar as
dificuldades que são as dificuldades dos portugueses.
Nós não desistimos do nosso projeto, não desistimos na
oposição, que é o papel que desempenhamos neste momento, de defender as nossas
ideias, de defender o nosso projeto para o país, de explicar aos portugueses
que o caminho que estava a ser seguido, apesar dos muitos sacrifícios, estava a
dar resultados positivos. Tínhamos uma trajetória de crescimento recuperada,
uma trajetória de desemprego a descer, de criação líquida de emprego, de
equilíbrio das contas externas, de termos reconquistado a confiança dos
investidores…
E pensem só: no final do ano passado chegamos a ter a
nossa taxa de juro a 10 anos a metade do que está agora. O que isso representa
de poupança dos impostos que vamos pagar no futuro é imenso. Poupança para os
portugueses que terão de pagar a dívida pública, mas também para todos aqueles
que se financiam em Portugal, através dos bancos portugueses e que sentem nas
taxas de juro que lhes são pedidas o reflexo do custo da dívida pública.
O aumento da dívida, da taxa de juro a 10 anos para o
dobro, que não foi sentido nos outros países que referi há pouco, é um
indicador muito preocupante e mostra claramente como foi possível, rapidamente,
destruir a confiança que todos, coletivamente, tanto nos esforçamos por reconquistar.
Mais uma vez, não desistimos deste nosso papel, temos um
projeto para o país, queremos… faz parte daquilo que é o nosso papel e a nossa
obrigação alertar para os erros que estão a ser cometidos, apelar para que eles
sejam corrigidos, e oferecer uma via alternativa aos portugueses, quando a
questão de uma nova escolha vier a ser colocada. Estaremos cá para assumir o
papel de amigo do crescimento e não o papel de cúmplice da crise que, infelizmente,
é aquele que temos vindo a ver o Estado desempenhar desde que o atual governo
tomou funções no final do ano passado.
E agora acho que vou deixar o resto do tempo para
responder às vossas perguntas. Obrigada.
[APLAUSOS]
Nuno Matias
Muito obrigado pela brilhante exposição. Vamos então
entrar no período de questões e, em primeiro lugar pelo Grupo Roxo, tem a
palavra o Pedro Abreu.
Pedro Abreu
Antes de mais, bom dia. Quero, em nome do Grupo Roxo,
agradecer à organização da Universidade de Verão e à Prof.ª Maria Luís
Albuquerque pela sua presença.
Como lidou com situações nas quais teve de executar
medidas que entrassem em conflito com as suas convicções ideológicas dentro do
quadro do seu mandato político? Muito obrigado.
Maria Luís Albuquerque
Obrigada, Pedro.
Pergunta interessante a propósito das medidas que entram
em conflito com convicções ideológicas. Um governante tem, necessariamente,
sempre, escolhas muito difíceis para fazer. Faz parte das responsabilidades que
se aceitam, saber que vai haver decisões difíceis. Que, em 99% dos casos, a
decisão não é a ideal – isto numa situação de crise. Eu não tenho a experiência
suficientemente longa de governar fora da crise; deve ser bastante mais
simpático. Mas, em particular em tempos de crise, a esmagadora maioria das
decisões conduz a um resultado que não é o ótimo. Portanto, em cada momento,
têm de ser ponderadas as condicionantes e as alternativas que estão à
disposição.
Nós tomámos, enquanto governo, medidas muito difíceis,
nomeadamente aquelas que têm uma consequência direta no rendimento dos
cidadãos, quer na redução de rendimentos nominais, quer no aumento de impostos.
Qualquer delas tem impacto sobre os cidadãos – não necessariamente sobre os
mesmos grupos -, mas tem impacto sobre os cidadãos: reduz o seu rendimento,
reduz a sua capacidade de consumo e, dessa forma, reduz aquilo que é o seu
bem-estar ou, no mínimo, a sua perceção de bem-estar, e o seu bem-estar, mesmo.
E estas decisões são obviamente difíceis.
Mas não se trata aqui de um conflito com uma convicção
ideológica, trata-se de uma definição de qual é o objetivo maior, qual é o
alcance das medidas que estão a ser tomadas e a ponderação sobre se os
sacrifícios que estão a ser pedidos são ou não justificáveis pelos objetivos que
se pretendem atingir. E, apesar das enormes dificuldades que tivemos durante a
aplicação do programa de ajustamento e das medidas muito duras que tivemos de
tomar, o facto de termos conseguido concluir esse programa de forma
bem-sucedida, com um regresso a financiamento de mercado sem nenhum apoio
particular, com a confiança reconquistada e com a recuperação da crise – voltamos
a crescer, reduzimos a taxa de desemprego, registamos crescimento no
investimento, o consumo também recuperou, os níveis de confiança estavam em
máximos históricos -, eu diria que os sacrifícios, tendo sido duros e tendo
sido muito penosos para muitas famílias, para muitos portugueses, permitiram
alcançar um objetivo maior que era a salvaguarda do nosso futuro.
Portanto, eu não colocaria as coisas como algum conflito
com uma convicção ideológica, a minha principal convicção ideóloga - como estou
certa que é a convicção ideológica do PSD – é fazer o nosso trabalho para que
Portugal tenha um futuro melhor. E se isso implicar, em determinadas
circunstâncias, tomar medidas difíceis, impopulares, ter de as explicar, ter de
pagar o preço por isso, foi algo que nós nos dispusemos a fazer e que, tenho a
certeza, o PSD sempre estará disponível para fazer.
A nossa mais forte convicção ideológica é – e não pode
deixar de ser essa – trabalhar para garantir um futuro melhor para Portugal. As
medidas difíceis que temos de tomar, se fizerem parte do nosso caminho, serão
assumidas frontalmente, com coragem, explicando por que é que elas são necessárias,
porque é que as alternativas são piores – porque há sempre, de facto,
alterativas, a nossa convicção é que as alternativas eram piores e tinham
consequências mais negativas.
Assumiremos sempre essa responsabilidade e essas decisões
difíceis, frontalmente, explicando aos portugueses porquê e tendo sempre como
pano de fundo esta nossa convicção maior de que devemos trabalhar para garantir
um futuro melhor para todos nós.
Nuno Matias
Muito obrigado. Tem agora a palavra, pelo Grupo Azul, o
Inácio Prieto.
Inacío Prieto
Antes de mais, obrigado à Prof.ª Maria Luís Albuquerque
por responder às nossas perguntas e obrigado à organização, também, que tem
sido bastante competente.
Vendo o partido, o PSD, não só esquerda/direita, mas
também esquerda liberal/estatista onde se situaria o PSD de agora e onde a
Professora o gostaria de ver. Para responder a esta pergunta lanço este pequeno
repto: ao longo dos anos, o PSD tem sido obrigado a ser o governo da
responsabilidade, tornando a direita portuguesa um bocado o bicho-papão da
economia.
Pergunto: será que o PSD se foi tornando um partido mais
liberal por obrigação e sentido de responsabilidade ou porque houve também uma
pequena evolução ideológica, por consequência.
Para responder a isto gostaria que usasse um caso prático
atual que seria a sua posição perante a Caixa Geral de Depósitos – o que faria
de diferente do atual governo, visto que mesmo entre eles não se entendem muito
bem.
Obrigado.
Maria Luís Albuquerque
Obrigada, Inácio.
Isto dava para uma outra aula…
Esta questão da suposta evolução do PSD e do suposto
abandono da social-democracia foi usada, relativamente ao governo anterior, de
uma forma sempre pouco elogiosa, o contexto era sempre pouco elogioso, de… acho
que era neoliberais.
É um conceito que, da forma como foi utilizado, eu nunca
percebi exatamente o que queriam dizer, mas era sempre utilizado com uma
conotação como se fosse muito horrível. E, portanto, o que era muito horrível
era a atuação necessária para tirar o país da situação em que o encontramos, com
um programa de resgate, sem capacidade de se financiar que não fosse através
dos parceiros europeus e do Fundo Monetário Internacional, sem qualquer
confiança por parte de qualquer agente externo que olhava para o país, e com
objetivos que tinham sido definidos por quem provocou a crise – quem estava
antes de nós e que negociou o memorando - que eram muitíssimo exigentes.
E portanto, mais uma vez voltando à nossa convicção mais
profunda, de que a nossa primeira obrigação é assegurar um futuro melhor,
aquilo que nós fizemos foi executar da melhor forma que conseguimos esse
programa de ajustamento, para o cumprir, para nos libertarmos dessa restrição
de uma forma responsável. Porque não era só a preocupação de acabar aquele programa,
era a preocupação de colocar o país em situação de não precisar de outro, de
não se ver na contingência de voltar a passar pelo mesmo.
A forma como a nossa atuação foi depois classificada
resultou muito mais de uma tentativa de distrair as atenções sobre a
responsabilidade da situação a que tínhamos chegado, do que algum tipo de
deriva ideológica que o PSD possa ter atravessado.
A questão de se o PSD é mais ou menos liberal – eu já o
disse hoje aqui: o PSD é um partido que sempre teve um enorme respeito pela
iniciativa privada; nós sempre captámos eleitorado entre os pequenos e médios
empresários, entre aqueles que acreditam que, com o seu esforço, trabalhando
por conta própria, correndo os seus riscos, conseguem melhorar a sua vida.
Sempre tivemos um profundo respeito por todas essas pessoas.
Eu não sei se se chama a isso ser liberal, a esse
respeito pela iniciativa privada e achar que o Estado não tem de,
necessariamente, fazer tudo numa economia. Se isso é liberal, então eu diria
que nós somos liberais; se isso significa renegar o nosso passado, de todo -
não vejo em nada do passado do PSD, nada que seja incompatível com aquilo que
acabei de afirmar.
O PSD sempre teve esta postura, sempre teve esta atitude,
sempre teve esta implantação junto deste eleitorado, porque sempre teve este
respeito por esta forma de estar na vida e por esta atitude combativa e
lutadora dos portugueses. Sem qualquer desrespeito por todos os outros que não
são empreendedores, que estão no setor público, obviamente. Mas com a noção e
com a consciência que temos de que a criação de riqueza vem, essencialmente,
destes agentes do setor privado, mais do que vem do Estado.
Mais uma vez, se isso é liberal, no sentido em que nos
estão a atribuir, então, nesse caso, seremos liberais. Se alguma vez fomos
diferentes - não, fomos sempre assim.
Naturalmente que os tempos são outros, os líderes mudam,
a forma como apresentam as questões pode ser diferente, mas o essencial da
nossa matriz está cá, como sempre esteve, e a esmagadora maioria do que é dito
é exatamente aquilo que era dito há 40 anos, adaptado necessariamente às
circunstâncias que o país tem hoje.
Não gostaria nunca de ver o PSD caminhar para um partido
estatista, que entende que o Estado deve dominar tudo, que deve tomar todas as
decisões sobre os agentes individuais e que deve desrespeitar a liberdade de
iniciativa – isso eu não gostaria de ver o PSD fazer, não acredito que o PSD o
faça, não foi esse nunca o nosso caminho e não acredito que venha a ser para o
futuro.
Temos vindo a assumir responsabilidades, é verdade. Como
já respondi aqui na pergunta anterior, porque temos a convicção de que se as
medidas difíceis são as necessárias para levar o país no bom caminho, pois
temos a coragem e a capacidade para as pôr em prática, temos essa
disponibilidade. Mas isso não significa que seja esse o papel que nós queremos.
O PSD não quer ser o partido que governa quando é preciso
compor o que outros estragaram. Nós temos capacidade de fazer mais e melhor do
que isso. Também somos capazes de compor, como já demonstramos, mas também
seremos capazes – ainda melhor – de pôr o país a crescer em circunstâncias mais
favoráveis. De tomar as decisões certas para acelerar o crescimento, para
combater as debilidades estruturais que nós temos, com o gradualismo, com a
prudência essencial para evitar que se volte a cair no mesmo.
Temos essa ambição, era essa ambição que tínhamos para
esta legislatura, podermos governar em condições mais fáceis e termos maior
liberdade de escolha e de decisão. Não é essa a circunstância em que estamos
hoje, mas temos naturalmente a ambição de governar nessas melhores
circunstâncias e não apenas de compor, porque quem comete os erros tem a
obrigação, também, de fazer o que for necessário para os corrigir e de assumir
o ónus e as consequências políticas que daí possam decorrer.
Quanto à Caixa Geral de Depósitos, o que é que eu faria
de diferente? Enfim, daquilo que já se sabe, eu diria praticamente tudo. Porque
– e a frase não é minha – aquilo que tem sido feito é um manual do que não se
deve fazer ou de como não se deve fazer.
Tem sido uma sucessão de trapalhadas que desrespeita a
instituição, desrespeita o Conselho de Administração que ainda está em funções,
de forma, aliás, que deve ser elogiada a sua retidão e a sua disponibilidade
para manter a instituição a funcionar apesar das dificuldades que sabemos que
existem e do manifesto desrespeito com que foram brindados.
Eu acho que a administração que agora está de saída
merece essa palavra de elogio. A administração que vai entrar, fruto do
processo, da forma como ele foi seguido, entra desnecessariamente fragilizada.
É algo que nunca se deve pretender para uma instituição com a importância e a
relevância que tem a Caixa Geral de Depósitos. Há muitas coisas que ainda não
sabemos e que é fundamental que se venham a saber, nomeadamente, quanto é que
isto custa aos portugueses, e quanto custa de várias formas.
Sabemos, ao que parece, que há um acordo de princípio,
cujos contornos não conhecemos. Já está a ser negociado desde abril, já se
chegou a um acordo de princípio, mas o Governo diz que quem vai anunciar,
tratar, resolver – ainda não percebi muito bem – há de ser a administração. Não
é o Governo, não sei porquê. Atendendo a que, se já há um acordo de princípio,
não se percebe porque é que ele não é explicado com clareza aos portugueses,
nomeadamente, os custos associados a este plano. Os custos em termos de
atividade da Caixa Geral de Depósitos, quais são os custos de restruturação, o
que é que isso tem de implicação na atividade da Caixa, na sua implantação no
território. Aquilo que tem de impacto na sua componente de negócio
internacional, o que é que vai acontecer também nessa frente e - muito
importante - para quê?
Porque é que está a ser feito isto na Caixa Geral de
Depósitos, o que é que a Caixa Geral de Depósitos vai ser capaz de fazer, mais
e melhor, com as condições que este plano lhe dará?
Isto dito, com, infelizmente, ainda falta de conhecimento
de muito do que se passa, que o Governo, sistematicamente desde o início, se
tem recusado a esclarecer. Por isso avançámos para uma Comissão Eventual de
Inquérito porque não conseguimos obter resposta, apesar das múltiplas
interpelações, públicas, por escrito, em plenário, em todas as oportunidades
que fomos colocando sucessivamente ao Governo.
Obrigada.
Nuno Matias
Muito obrigado. Tem agora a palavra, pelo Grupo Amarelo,
o Bruno Garcia.
Eu chamava apenas a atenção, até por uma questão de
respeito pelos colegas, que tentem ser um pouco mais concisos na questão e,
sobretudo, se cinjam apenas a uma, até para termos mais algum tempo a seguir,
para o Catch the Eye.
Bruno Garcia, Grupo Amarelo.
Bruno Garcia
Bom dia a todos. Saúdo a mesa, e mais concretamente a
convidada, Prof.ª Maria Luís Albuquerque.
Vou passar à pergunta. Assistimos a uma instabilidade
constante na economia em cada mudança de governo. Urge encontrarmos uma solução
conjunta, cabe a todos construir uma solução, porque chega de haver políticas
em que os sucessivos governos acabem com as políticas dos antigos.
Ou seja, têm que ser criadas políticas a longo prazo com
a aprovação e o compromisso dos vários partidos políticos. Acha exequível, ou o
orgulho partidário fala sempre mais alto?
Muito obrigado.
Maria Luís Albuquerque
Obrigada, Bruno.
Eu não lhe chamaria orgulho partidário; chamar-lhe-ia um
caso eventualmente mais de conveniência ou interesse, no caso que vou referir
concretamente, da indisponibilidade para que, de facto, se consiga uma
trajetória estável de longo prazo relativamente a matérias fundamentais.
O exemplo é, quanto a mim, muito óbvio. O PSD tem
insistido na importância da reforma da Segurança Social. É um tema que tem de
ser debatido, que é fundamental para o país a médio e a longo prazo, e que é
muitíssimo urgente.
A resposta que obtivemos da atual maioria é que nem
sentar-se para conversar querem. Portanto, é essa a atitude que encontramos. Eu
diria que não é uma questão de orgulho, é uma questão, de facto, de interesse
partidário conjuntural. E partidário aqui aplica-se aos três partidos da
maioria (e mais um bocadinho, três e mais um bocadinho…). E portanto, aplica-se
a todos eles esta indisponibilidade sequer para entrar em diálogo.
Da parte dos partidos da extrema-esquerda é menos
surpreendente, porque há um conjunto de valores que a esmagadora maioria dos
portugueses defende e nos quais se revê que esses partidos não representam. E
aquilo a que nós assistimos ao longo de sucessivas eleições é que houve sempre
uma esmagadora maioria de votos em partidos que defendem uma participação na
União Europeia, uma abertura ao mundo, uma continuação em alianças
estratégicas, como é o caso da NATO, e um conjunto de valores que têm uma
matriz que é comum.
Mas há depois uma forma de traduzir esses valores na
decisão e na escolha política que nos distingue profundamente. Eu diria que o
PS, atualmente, está muito mais próximo dessa extrema-esquerda, até
desviando-se de muitos dos seus valores, mas é uma alteração no seu
posicionamento político. O tempo dirá se é uma transformação estrutural do
Partido Socialista ou se é meramente uma posição de conveniência nas atuais
circunstâncias.
Mas assistimos a uma comunhão de valores com partidos
mais à esquerda a que nunca tínhamos assistido no passado. Que geram depois
conflitos que é difícil, neste momento, perceber como é que terminarão.
Nomeadamente, a necessidade de satisfazer exigências desses partidos com o
compromisso de respeitar as regras europeias que esses outros partidos renegam
e que dizem que o país não devia seguir e não devia cumprir.
Embora eles próprios também tenham feito já algum caminho
e estejam mais abertos para aceitar determinadas condições. Mas, efetivamente,
há uma deslocação para essa esquerda mais radical e que mudou o comportamento
daquilo que foi tradicionalmente a posição do Partido Socialista, que nos
permitiu, por exemplo, ter um acordo para a reforma do IRC, mas que quando esse
posicionamento se alterou levou a que esse acordo fosse rompido.
É um exemplo que eu já utilizei aqui hoje, mas que também
me parece ilustrativo desta incapacidade de honrar estes compromissos mais a
prazo. Houve um partido que subscreveu uma decisão política que era importante,
e o acordo do Partido Socialista foi visto pelos investidores com muitos bons
olhos, porque foi uma garantia adicional de que esta reforma iria de facto
prosseguir, e a mudança de líder do Partido Socialista levou à mudança de
posição do partido.
Isso torna muito difícil que se encontrem esses acordos
de mais longo prazo. Mas é verdade que o país precisa desesperadamente desse
caminho. Precisa de ter um acordo sobre matérias tão fundamentais como a
Educação, porque a Educação é algo em que podemos ter medidas a curto prazo com
consequências a curto prazo, mas as consequências a longo prazo serão sempre mais
relevantes – quer das coisas que se fazem bem quer das coisas que se fazem mal.
É uma das áreas em que, claramente, devíamos ter uma
maioria que garantisse que não há a instabilidade a que voltámos a assistir
recentemente no setor da Educação. Tanto mais quanto as políticas anteriores
estavam já a produzir resultados positivos. Não se compreende que, por alguma…
cegueira ideológica, se estejam a pôr em causa resultados que já eram positivos
e que precisavam, claramente, de mais tempo para se afirmarem.
Eu acho que Portugal precisa, e os portugueses precisarão
de o dizer muito claramente aos partidos políticos, que querem que haja um
entendimento que não necessariamente traduzido em coligações de governo. Não se
traduz, de todo, na indiferenciação entre partidos. A diferenciação entre os
partidos, os caminhos, o enunciar de alternativas, é fundamental em democracia
e é muito saudável. O que não pode é a alternância democrática colocar
constantemente em causa o futuro do país. A Democracia tem de ser capaz de proceder
à alternância com diferenças de atuação, com medidas políticas diferentes, mas
que não ponham em causa aquele que é o rumo fundamental de escolhas que foram
feitas para o país de sermos um país europeu, integrado na moeda única, com
compromissos assumidos que queremos viver dentro daquilo que é o modelo social
europeu.
Aquilo que tenha de ser acordado para, a longo prazo,
seremos capazes de garantir estas condições, nomeadamente, traduzindo-as em
competitividade e crescimento, deve ser matéria de entendimento entre os
partidos que tenham a ambição de governar para um futuro melhor.
Nuno Matias
Muito bem, muito obrigado. Tem agora a palavra pelo Grupo
Laranja, o Gonçalo Gomes.
Gonçalo Gomes
Sou Gonçalo, tenho 18 anos e vou agora para o primeiro
ano de Economia da Universidade Nova de Lisboa.
Dr.ª Maria Luís Albuquerque, em 2013 disse, e passo a
citar: "A prioridade é relançar o investimento produtivo e dar início à
recuperação da atividade económica. A prioridade é esta porque abre caminho à
criação de mais e melhores empregos.”
Aliás, sublinhou essa mesma ideia, repetidamente, nesta
sua intervenção. Como referiu, deparamo-nos agora com um crescimento económico
demasiado tímido e o investimento em queda.
Assim sendo, a pergunta do Grupo Laranja é a seguinte:
caso fosse governo, quais as principais medidas que tomaria para reverter essa
situação? Obrigado.
Maria Luís Albuquerque
Obrigada, Gonçalo. Parabéns e boa sorte para o curso de
Economia.
É bom ver que temos ainda gente que estuda Economia e que
vai tentar com esses conhecimentos contribuir para melhorar a economia do nosso
país. Espero que tenha sorte quer no estudo, quer depois no trabalho a seguir e
que possa ser cá - se quiser!
Também acho que se quiser ter mundo também deve ter essa
possibilidade e essa liberdade e isso também tem muito de positivo. Termos
portugueses a brilhar lá fora, a serem quadros reconhecidos de empresas
internacionais, também é uma coisa de que nos deve orgulhar.
A emigração por vontade, por querer aprender mais, por
querer saber mais e por querer ser competente num meio maior, é algo também a
que devemos estimular os nossos jovens e encorajá-los. Mas, como digo, sendo,
naturalmente, uma opção e também, eventualmente, convencendo os estudantes
estrangeiros que vêm para a Nova também a ficarem cá. Que também queiram ganhar
mundo no nosso país, onde também é possível.
É verdade que eu disse isso em 2013 e repeti-o hoje, em
2016, e continuo com a convicção de que, de facto, a prioridade para qualquer
política económica tem de ser a de relançar o investimento. Nós conseguimos
fazê-lo, conseguimos fazê-lo com um conjunto de medidas.
Eu diria que as medidas individuais - algumas que já
referi aqui hoje até mais do que uma vez – são fundamentais, mas para relançar
o investimento o elemento fundamental é a confiança. É o mais importante. Nós
não nos podemos esquecer que quem investe corre riscos. Os investidores
merecem-nos o maior respeito, porque um investidor corre riscos. Coloca o seu
dinheiro – que não lhe caiu seguramente do céu – num determinado objetivo, na
expectativa de ter um ganho com isso. E corre um risco porque esse ganho pode
vir ou não vir.
Portanto, criar a confiança para levar os investidores a
correr esses riscos é o elemento fundamental. E a confiança cria-se com medidas
concretas, mas com uma atitude geral relativa à economia. Cria-se não
maltratando os investidores externos, não lhes criando dúvidas sobre se
Portugal vai ou não respeitar as suas decisões de investimento. Não lhes
criando dúvidas sobre se vamos ou não voltar a entrar numa situação de recessão
que se traduz em dificuldade, por exemplo, no mercado interno – o elemento
fundamental para a retoma do investimento é a confiança.
Reconquistar a confiança e a credibilidade foi um dos nossos
objetivos maiores durante os quatro anos e meio de governo. Quando nós entrámos
em funções e eu comecei a ir imediatamente aos Eurogrupos e aos Ecofins, logo
em 2011, aquilo que se notava era uma enorme desconfiança em relação a
Portugal. Como se recordarão – e isto já tem sido dito muitas vezes – havia,
quando Portugal pediu o programa de assistência, dois países que já o tinham
feito antes: a Grécia e a Irlanda.
E havia uma perceção muito negativa relativamente à
Grécia, muito negativa relativamente a Portugal e muito menos negativa
relativamente à Irlanda. A Irlanda tinha tido um percurso de sucesso muito
assinalável, que foi elogiado pelo mundo fora, o modelo de crescimento do Tigre
Celta que permitiu aos irlandeses que, na primeira década do Euro, tivessem
tido taxas de crescimento extraordinárias, com enormes investimentos – enfim,
por muitas razões, não vamos agora aqui discutir a política, nomeadamente
fiscal, da Irlanda, mas não importa, são resultados alcançados.
E a forma como os parceiros europeus - e quem olhava de
fora - olhavam para a Irlanda… a Irlanda tinha tido um problema, sobretudo no
setor financeiro, mas, como tinha um histórico de sucesso recente, era um país
em quem os investidores confiavam para ser capaz de dar a volta e retomar essa
trajetória de crescimento – como efetivamente o fez.
Portugal e a Grécia não têm esse passado. A Grécia também
teve umas taxas de crescimento elevadas, mas depois há ali outras explicações.
Mas, ao longo da primeira década do Euro, Portugal e a Itália foram os países
que menos cresceram. Nas mesmas condições que os nossos parceiros da área do
Euro, o desempenho económico de Portugal só foi tão mau como o da Itália –
todos os outros fizeram melhor.
Portanto, quando tivemos de pedir um programa de assistência,
não tínhamos esse sucesso recente para invocar, para dizer: tivemos aqui um
azar, um infortúnio, mas vamos conseguir recuperar. E, portanto, as
expectativas relativamente à nossa capacidade de sucesso eram baixas. E aquilo
que nós conseguimos, ao longo de todo o programa de ajustamento e de todo o
tempo de governo, foi surpreender pela positiva. Foi, junto dos parceiros
europeus, das instituições, dos mercados, dos investidores, surpreender pela
positiva, dizendo: Portugal tinha, de facto, um passado menos positivo do ponto
de vista económico e do ponto de vista das Finanças Públicas, mas, com um
programa muito exigente e perante enormes dificuldades, foi capaz de dar a
volta.
Foi capaz de concluir o programa, foi capaz de voltar a
crescer, foi capaz de reconquistar essa confiança, de voltar a atrair
investimento. Este objetivo é fundamental.
Esse trabalho foi difícil e foi demorado. E o dramático
na questão da confiança e da credibilidade é como a reputação - leva-se uma
vida inteira a construir e destrói-se numa hora. E esse é o principal elemento
para podermos, de facto, ter recuperação do investimento. E é o principal
elemento que nos falta agora. É confiança e credibilidade sobre a trajetória do
país a todos os níveis para criar as condições para esse investimento. Quer
sejam investidores nacionais quer sejam aqueles de que precisamos muito, que
são os investidores estrangeiros.
Se fossemos governo, o que é que faríamos? Nós apresentámos
claramente as nossas propostas às eleições o ano passado. Iríamos, no
essencial, seguir o mesmo caminho, continuar a apostar no reforço da confiança
e da credibilidade, garantindo com isso a redução dos custos de financiamento,
criando um ambiente fiscal tributário mais favorável, combatendo a fraude e a
evasão fiscais para que, aumentando a base, possamos ter mais receita sem
aumentar as taxas e criando maior justiça e equidade fiscal.
Portanto, era com todo esse conjunto de medidas, com a
melhoria nos processos, com a redução da burocracia, com todo esse conjunto de
medidas que iriamos continuar a promover o investimento. Porque esse caminho já
estava iniciado e o mais difícil era reverter a tendência, e nós já o tínhamos
feito. Era continuar e, à medida que fossemos obtendo resultados, ir pondo em
prática novas medidas, novas reformas ou refinamentos das reformas estruturais
que já tinham sido postas em prática para conseguir cada vez melhores
resultados.
Era isso que estaríamos a
fazer se fossemos governo agora.
Nuno Matias
Muito obrigado. Tem agora a palavra, pelo Grupo Castanho,
o Marcelo Morgado.
Deixem-me só dizer-vos que, quando se levantarem, estejam
perfeitamente à vontade porque o microfone apanha bem o som, mesmo à distância.
Não precisam de se aproximar porque o som irá ser captado tranquilamente.
Marcelo…
Marcelo Morgado
Muito bom dia a todos, quero cumprimentar a mesa, em
especial a nossa oradora, a Prof.ª Maria Luís Albuquerque; muito obrigado pela
aula desta manhã.
A pergunta que nós queremos colocar é muito direta, e
tendo em conta as funções económicas do Estado, no qual se pretende que
estabilize a economia para se garantir o seu normal funcionamento, para que se
promova o crescimento e o desenvolvimento económico, e como era iniciativa do Governo
anterior promover a iniciativa privada, como garantir esse investimento? Que
medidas atrativas é que o Estado pode promover para que os investidores
estrangeiros possam investir em Portugal?
Muito obrigado.
Maria Luís Albuquerque
Obrigada, Marcelo.
É um pouco em linha com algumas respostas que já dei aqui
hoje, mas acrescentando ou, se calhar, pormenorizando mais um pouco.
O investimento estrageiro… nós podemos promovê-lo de
muitas formas. Mais uma vez, confiança, credibilidade, previsibilidade, são
fundamentais, mais ainda para investidores estrangeiros. Aquilo que é o
conhecimento da realidade que tem um investidor nacional, permite-lhe
interpretar as políticas, as decisões, de uma forma mais informada. É mais
fácil para um português perceber o que está a acontecer e avaliar o risco
associado do que é para um investidor estrangeiro, que não conhece tão bem a
dinâmica do país e que depende daquilo que são os observadores externos para
formar essa perceção e avaliar se deve ou não correr o risco.
Claro que, depois, para tomar a decisão concreta, tem de
fazer muito mais trabalho de campo e tem de perceber muito mais do detalhe.
Mas, numa primeira fase, vai ver, vai ouvir e ler a opinião daqueles que,
também de fora, observam o país. Falamos das agências de rating , falamos do comportamento do mercado, falamos dos analistas
em geral, falamos dos think tanks ,
enfim, do que for, que analisam a situação de Portugal.
Fazer um acompanhamento adequado desses opinion makers , que é o que são, é –
para referir um aspeto diferente daqueles que já referi hoje -, algo que também
é muito importante. Nós não podemos – ou não devemos – descartar opiniões que
têm eco em Portugal, mas sobretudo no estrageiro, dizendo apenas que estão
desinformados ou que estão ao serviço de outros interesses, ou utilizar
qualquer outro chavão dessa natureza.
Temos de ter a responsabilidade de saber que – e não é
obviamente em todos os casos – muitos desses agentes são fundamentais para
formar a perceção que os estrageiros têm sobre Portugal. Ser capaz de
acompanhar, de dar a informação, de explicar o que está a ser feito, é um
trabalho também muitíssimo importante por parte de quem está no governo e de
muitas instituições públicas. Era uma das coisas que eu fazia quando trabalhava
no IGCP, antes de ir para o governo. Muito do contacto com os investidores, em
que se explica aos investidores, mas também às agências de rating , também aos research dos bancos que queriam falar connosco, o contexto do país, as medidas de
política económica, o que se espera que aconteça e porquê.
Faz parte também daquilo que é importante fazer, ter este
trabalho de acompanhamento. Agora, uma coisa é certa: nós podemos contar melhor
ou pior uma história; mas se a história for má não há maneira de a contar da
forma certa. E, portanto, é muito importante contá-la, é muito importante
explicá-la, mas, acima de tudo, é muito importante que a história seja a
história certa. Que as medidas sejam as medidas corretas e as medidas são…
seria muito continuar e aprofundar aquilo que já tinha sido começado. Tínhamos
de continuar as reformas estruturais, melhorar a eficácia da Justiça, tínhamos
de continuar a reduzir a burocracia do Estado e os entraves ao licenciamento,
ao investimento, a nível ambiental, a nível de concorrência, enfim, a todos os
níveis. Simplificar e melhorar esse enquadramento, continuar a apostar na
qualificação dos portugueses para garantir que temos uma força de trabalho
capaz de responder às exigências, de uma concorrência mundial. Nós vivemos num
contexto globalizado, não estamos a concorrer com o concelho do lado, estamos a
concorrer com o mundo inteiro, temos de ambicionar ser competitivos a esse
nível – a nível europeu, mas também a nível global.
Portanto, temos de ser capazes de investir adequadamente
na educação, com exigência, com rigor, e temos de ser capazes de dar aos
investidores um horizonte que lhes permita não recear grandes surpresas ou
alterações, a cada passo, que possam pôr em causa as decisões que tomou.
Mais um exemplo de que é este o acompanhamento, mas
sempre assente na confiança e credibilidade e, perdoem-me a repetição, mas eu
acho que é mesmo importante repetir que a confiança é aqui o elemento chave.
Nuno Matias
Muito obrigado. Tem agora a palavra, pelo Grupo
Encarnado, o Eduardo Magalhães.
Eduardo Magalhães
Antes de mais, bom dia a todos. Queria agradecer, em nome
do Grupo Encarnado, à organização por esta UV 2016 e à Prof.ª Maria Luís
Albuquerque por esta excelente aula de Economia e Finanças.
Foi dito aqui… diagnosticado que Portugal tem um problema
estrutural a nível do défice da dívida pública que é paralelo, se calhar, um
bocadinho à falta de espírito crítico das pessoas, na medida em que há mais
pensamento nos interesses individuais do que no interesse coletivo.
Este problema, a nosso ver, tem existido, um bocadinho,
cada um como causa e consequência do outro. Porque, no meio da demagogia e
populismo, o défice e a dívida pública têm sido meios para atingir o poder. Ou
seja, a ambição do poder no curto prazo tem destruído o país a pouco e pouco.
Efetivamente, tem havido em Portugal, nas últimas décadas, um ping-pong entre o
despesismo e uma sobriedade orçamental que normalmente cabe absolutamente ao
PSD.
Queremos perguntar à Prof.ª Maria Luís Albuquerque se
concorda que é preciso um choque sistémico que impeça esta situação. Se,
perante a insuficiência do artigo 126.º do Tratado Orçamental e do Pacto de
Estabilidade e Crescimento, dos 3% da meta do défice e dos 60% da dívida
pública, se concorda que devia haver um limite constitucional ao défice e à
despesa pública como há na Alemanha desde 2009 e na Suíça antes disso; se apoia
a medida, na medida em que se a considera compatível com a matriz
social-democrata do partido; se concorda que tem mais valor deixar um futuro
aos jovens do que deixar uma dívida.
Muito obrigado.
Maria Luís Albuquerque
Tantas perguntas numa só. Se fosse o Ministro Vítor
Gaspar, já tinha dito "eu conto aqui quatro ou cinco perguntas”.
[Risos]
Nós temos, de facto, um problema estrutural de défice e
de dívida pública.
Primeiro, a dívida é a memória dos défices passados. Nós
temos dívida porque tivemos défices. A relação é só esta. Em cada ano que
gastamos mais do que temos, aumentamos a dívida. Portanto, cada défice vai ser
pago no futuro e toda a dívida é a memória do que se gastou a mais no passado.
É verdade que há uma tendência natural no ser humano para
pôr os seus interesses pessoais, ou os seus interesses particulares, melhor
dizendo, à frente dos outros. Mas isso chama-se racionalidade, e os
comportamentos racionais podem ser antecipados, previstos, e pode-se atuar com
esse conhecimento.
O que eles não têm é de ser incompatíveis com o interesse
geral. Portanto, o facto de cada um ter o seu interesse legítimo em proteger a
sua posição, não significa que isso seja contrário ao interesse geral e, muito
menos, autoriza a que, em benefício desses interesses, seja prejudicado o
interesse geral.
Mas tocou aí também num ponto que me parece importante,
que é a questão da consciência coletiva dos portugueses. E referiu como exemplo
o facto de haver países, como a Suíça ou a Alemanha, que têm os limites à
dívida e ao défice colocados na Constituição. Há razões do passado histórico
que explicam estes comportamentos diferentes.
Porque é que para alguns países a ideia de ter uma dívida
pública muito alta é inaceitável e outros, aparentemente, convivem muito bem
com essa realidade? Porque é que há países em que todos os partidos de todo o
espectro político, se comprometem – mas comprometem-se a sério – com a
consolidação das contas públicas, e fazem-no, e há outros países onde a
consolidação das contas públicas é – enfim, se calhar um bocadinho conforme os
protagonistas – chamada de obsessão e preocupação com os números, ignorar a
preocupação social e outros disparates do género?
Há obviamente a questão do pragmatismo e de saber quais
são as consequências de ter défice e de como ele se paga, mas há também uma
consciência, uma exigência coletiva que deve ser feita. É preciso que todos
nós, que todos os portugueses, tenham a consciência de que as decisões de
despesa se traduzem, sempre, em consequências no futuro.
Se for uma despesa virtuosa, pode perfeitamente ser
razoável aceitar um défice até maior porque o retorno dessa despesa,
nomeadamente de investimento, vai ser suficiente para pagar a dívida e para
ainda acrescentar valor. O Estado, com a possibilidade que tem de criar
impostos, consegue fazer estas escolhas e decidir fazer hoje uma coisa que é
cara, que tem impacto no défice, mas que tem um retorno positivo que vai
permitir pagar esse défice e gerar mais riqueza ainda.
Mas há a despesa que não é reprodutiva. Que pode ter
objetivos completamente meritórios, mas que não tem esta capacidade, ela mesmo,
de gerar riqueza. E aí, a pergunta que se coloca é: estamos ou não dispostos a
pagar mais impostos para financiar essa despesa?
E seria importante que começássemos todos, coletivamente,
a pensar nestes termos. Quando se avalia cada decisão de despesa – um exemplo,
que me acontece recorrentemente ainda hoje, quando as pessoas me abordam:
porque é preciso investir cada vez mais na saúde, porque a saúde não tem preço.
Completamente de acordo, a saúde não tem preço… mas custa uma fortuna!
E essas escolhas também são importantes. Se nós não
tivéssemos – é um exemplo – se nós não tivéssemos qualquer restrição
orçamental, nós diríamos: todas as inovações, todas as tecnologias, todas as
invenções, tudo, mal acabe de se descobrir, Portugal compra, Portugal tem, tem
em todos os hospitais, para todos, até ao último português.
Se não tivéssemos restrição orçamental, ninguém vai dizer
que isso é mau. As melhores condições para a saúde são necessariamente algo que
qualquer pessoa racional defende, que qualquer partido político defende.
Agora, o que nós precisamos é de ponderar – e eu escolho
o exemplo da saúde porque é particularmente sensível para todos nós – qual é o
investimento que devemos e que podemos fazer.
Ou seja, qual é o investimento que está no limiar da
nossa capacidade, que assegura níveis adequados de proteção e promoção da saúde
dos portugueses… e deixem-me dizer que o Serviço Nacional de Saúde de Portugal
compara belissimamente com os outros sistemas de saúde europeus, já para não
sairmos da Europa, pois aí então eu diria que já nem sequer se compara, está
num patamar tão mais acima que nem sequer se compara – mas é um bom serviço
nacional de saúde.
Mas precisamente porque ele é bom, as escolhas que para
ele são feitas têm de ser devidamente ponderadas. E sempre com a perceção de
que há alguns investimentos que, sendo bons do ponto de vista individual, podem
ser uma despesa de tal forma elevada que ponham a sua sustentabilidade futura
em causa.
E aquilo que acontece, passado algum tempo, é que em vez
de termos um Serviço Nacional de Saúde melhor, temos um Serviço Nacional de
Saúde em crise, sem capacidade para pagar as suas despesas. E portanto, estas
escolhas são fundamentais fazer em todas as áreas, em particular naquelas que
são mais sensíveis e que têm mesmo de ser preservadas, como é o caso dos
cuidados de saúde à população.
Se é necessário um choque? Eu espero que não, porque eu
diria que nós já devíamos ter tido choques suficientes. Portugal já teve três
programas de ajustamento, desde que tem uma Democracia nos anos 70. E,
portanto, eu diria que choques não nos faltaram.
Precisaríamos de – uma expressão que eu tenho utilizado –
consistência de propósito. Quando entramos num caminho, ser capazes de
persistir nesse caminho até ele estar consolidado, e não, aos primeiros
resultados positivos, dizer: pronto, então agora já se ganhou aqui uma "folguinha”,
já se pode voltar a cometer os erros do passado.
Não pode! Temos de ter essa capacidade de levar o caminho
por tempo suficiente para que ele realmente se consolide e para que não
voltemos a encontrar os nossos mesmos problemas. Um limite constitucional ao
défice e à dívida, como sabem, era uma proposta que nós tínhamos. Seria uma
forma de reconhecer e dar força àquilo que é um limite efetivo.
Eu recordo: no dia em que nós não tivermos capacidade de
nos financiar acabou-se o problema do défice; porque só se gasta o que há. O
que isso significa é que deixamos de ter capacidade para fazer face à maior
parte das despesas que hoje achamos que são absolutamente incontáveis,
nomeadamente, pensões, salários, serviço nacional de saúde… segurança, defesa,
enfim, todas aquelas funções que são fundamentais.
No dia em que nós não tivermos capacidade de nos
financiarmos, se deixarmos a dívida pública ir longe de mais, o défice fica
resolvido. Mas o custo dessa opção é infinitamente maior para os portugueses,
para os cidadãos, sobretudo para os mais desfavorecidos, do que o custo de
adotar esta disciplina e de conseguir controlar.
Ter na nossa Constituição
um limite ao défice e à dívida é uma forma de contribuir para interiorizar esta
responsabilidade perante o futuro, porque, de facto, nós aos jovens devíamos
deixar um futuro e não apenas a memória dos erros passados traduzida na dívida
que terão de pagar. Obrigada.
Nuno Matias
Muito obrigado. Tem agora a palavra, pelo Grupo Rosa, o
Adriano Silva.
Adriano Silva
Nom dia. Quero, antes de mais, cumprimentar a Dr.ª Maria
Albuquerque, na sua qualidade de oradora, e agradecer por esta aula
enriquecedora de economia. É sempre bom ouvir sobre este assunto, porque a
minha formação também é da mesma área.
Quero também cumprimentar o Dep. Carlos Coelho, o Dr.
Nuno Matias e os restantes estudantes da Universidade de Verão, na medida em
que é um privilégio estar aqui na UV 2016, onde espero aprender e contribuir
positivamente.
Dr.ª Maria Albuquerque, no seguimento da sua intervenção,
o Grupo Rosa propõe agora um pequeno exercício de reflexão sobre o futuro.
Imagine que num futuro próximo a Sr.ª Dr.ª voltaria a ser ministra e teríamos
ao leme dos destinos nacionais um governo do PSD. Consideraria importante a
criação de um quadro fiscal e económico que protegeria as empresas? Isto é,
caso existisse uma mudança de poder político, as empresas passariam a estar
protegidas no âmbito fiscal? Desta forma, seria possível retomar o clima de
retoma económica e de investimento, onde, consequentemente, haveria mais consumo
e crescimento?
Para finalizar, se nos permitem, o nosso grupo tem ainda
uma questão de teor curioso. A Dr.ª Manuela Ferreira Leite foi a última
Presidente do partido - isto foi há seis anos - e tanto a Dr. Manuela Ferreira
Leite como a Dr.ª Maria Albuquerque têm a mesma área de formação, até estiveram
na mesma Faculdade, cito, ISEG.
Visto que a Dr.ª Maria Albuquerque fez um ótimo trabalho
no governo de Portugal, ao ter sido uma pessoa que mostrou empenho e dedicação
para levar a economia a bom porto, e tal como diz aqui no seu folheto de
apresentação, a qualidade que mais aprecia é a coragem.
Como tal, revia a sua
posição como uma possível presidente do partido? Obrigado.
Maria Luís Albuquerque
Bom, Adriano, nós temos um presidente do partido. Podem
vê-lo na televisão, nos jornais e ao vivo no encerramento desta Universidade.
Portanto, nem sequer percebo de onde é que a questão vem. Temos um presidente e
estamos, aliás, muitíssimo bem servidos.
Só uma correção, em nome da minha casa. Eu fiz o mestrado
no ISEG, mas a minha casa é a Universidade Lusíada de Lisboa, de que eu tenho
também muito orgulho. Portanto, só para ficar claro, fiz o mestrado no ISEG mas
o curso é da Universidade Lusíada de Lisboa.
Quanto à questão de um novo governo PSD, de quando houver
um novo governo PSD, independentemente de quem ocupe as pastas. Há obviamente
maneiras pessoais de estar diferentes, mas o essencial, aquilo que nos deve
motivar, incentivar, é o projeto do PSD. Quem depois vai dar a cara para pôr em
prática essas políticas, obviamente deverá ser bem escolhido, e acho que
tivemos no governo anterior, modéstia à parte, excelentes pessoas, mas não é o
aspeto mais relevante.
Aquilo que me falou, de um quadro fiscal e económico para
proteger as empresas e para estimular o crescimento é aquilo que nós tínhamos
construído e que, naturalmente, nos propomos reconstruir quando voltarmos a ser
responsáveis pelo governo de Portugal, quando isso voltar a acontecer.
A questão é que será mais difícil. É verdade que, como eu
disse há pouco, a dívida é a memória dos défices passados. Mas não é só o
défice que deixa memória, os investidores também têm memória. E depois do
trabalho que foi reconquistar a confiança e a credibilidade, depois de o país
ter batido no fundo e ter estado numa pré-bancarrota e ter pedido apoio em
2011, foi reconquistada essa confiança e essa credibilidade que tem vindo a ser
destruída.
Reconquistá-la vai ser muito mais difícil. Porque não
basta dizer: "agora mudamos de um governo liderado pelo Partido Socialista para
um governo liderado pelo PSD, o PSD tinha conseguido fazê-lo no passado.” Notem
que estas diferenças, para nós, são muito óbvias e fáceis de perceber. Quem
olha lá de fora vê Portugal. Quem olha com atenção sabe quais são as correntes
políticas, quem está ou quem não está. Mas a maior parte dos observadores vê
Portugal. Portugal andou para a frente e depois andou para trás; e porque é que
vão acreditar que é capaz de andar para a frente outra vez? Que argumentos é
que vai ser preciso colocar, que trabalho vai ter de ser feito para convencer
esses investidores? Porque o que está aqui em causa, verdadeiramente, é o País.
Internamente, nós discutimos isto noutros termos.
Discutimos isto em termos de eleições, em termos de partidos, em termos de
alternância democrática. Quem vê de fora, vê isto na trajetória do país e vê
uma trajetória aos soluços. Um país que recupera e cai, recupera e cai.
E a cada nova queda a recuperação é mais penosa. E,
portanto, quando o PSD voltar a ter responsabilidades - e eu continuo a ter…
não, não continuo. Ia dizer que continuo a ter a ilusão de que as coisas possam
não correr tão mal, mas infelizmente não é verdade e, portanto, não tenho. Acho
que, de facto, este modelo está mesmo errado. Sempre achei que estava errado
porque já o vi aplicado no passado e já sei o que é o resultado da aplicação
deste modelo económico. E, se de provas precisasse, infelizmente os indicadores
económicos dão evidência abundante de que o modelo não funciona.
Aquilo que um novo futuro governo do PSD terá de fazer é
recuperar o caminho que vinha do passado e terá de escolher as medidas que
sejam mais eficazes para resolver os problemas que sejam mais prementes no
momento. Todas as medidas de que já aqui falámos são fundamentais. Poderá haver
outras que sejam adequadas, eficazes em face de problemas particulares, mas
teremos, em qualquer caso, de nos empenhar muito seriamente, talvez conseguindo
- ou procurando, pelo menos – o tal consenso partidário, cuja credibilidade
está diminuída pelas quebras recentes de compromisso, mas ainda assim procurar
esse compromisso mais alargado para dar algum conforto aos investidores
externos neste caminho.
Mas será sempre um caminho difícil face àquilo que é a
perda a que já estamos a assistir de capacidade de atração de investimento.
Recuperá-la, em qualquer circunstância, vai ser sempre mais difícil ainda do
que foi da última vez que tivemos de o fazer. Quando os portugueses entenderem
que merecemos essa confiança e nos derem essa responsabilidade, faremos o que
for preciso fazer para conseguir esse objetivo e trabalharemos tanto quanto for
preciso trabalhar para lá chegar. Muito obrigada.
Nuno Matias
Muito obrigado. Tem agora a palavra, pelo Grupo Verde, o
Daniel Pereira.
Daniel Pereira
Muito bom dia. Antes de mais, em nome do Grupo Verde,
obviamente quero dar os parabéns à organização da UV, como também à Prof.ª
Maria Luís, pela aula extremamente elucidativa com que nos presenteou hoje.
A pergunta que eu faço é sobre um assunto não só
importante para mim - e se não é para todos, vai ser um dia mais tarde – que é
como vê a solução para a sustentabilidade da segurança social. Não sendo um
assunto diretamente relacionado com finanças, está lá próximo, e para nós seria
muito importante perceber isso. Obrigado.
Maria Luís Albuquerque
Obrigada. Esta é só uma pergunta, mas que pergunta.
[Risos]
Bom, deixem-me contar-vos um pequeno episódio de uma
conversa que tive durante o período de ajustamento com alguém que me dizia que
nós tínhamos rompido o contrato com os pensionistas por fazer a redução de
pensões. Estávamos a falar da segurança social e eu chamei a atenção para que a
sociedade tinha rompido o contrato com o Estado quando decidimos deixar de ter
filhos.
Este é um problema fundamental. Ou seja, quando se
definiram os padrões da segurança social que hoje temos, nós tínhamos muito
mais jovens e muito menos velhos. As pessoas morriam muito mais cedo, portanto,
tinham muito menos tempo a receber pensão e havia uma reposição de gerações que
garantia… como sabem o nosso sistema de segurança social é um sistema em que
quem está hoje a trabalhar paga para quem está hoje reformado, na expectativa
de que no futuro vá haver alguém a trabalhar para pagar as nossas reformas.
Os pressupostos da criação do modelo já não se verificam
hoje. As pessoas vivem mais tempo, e isso é muito bom, sobretudo porque vivem
mais tempo com mais qualidade; é um feito extraordinário que se deve muito ao
nosso bom Serviço Nacional de Saúde: aumentar a longevidade com qualidade de
vida.
Mas, em simultâneo com esta tendência, houve também a
tendência para as pessoas terem menos filhos. Que é uma tendência que se
observa na maioria das sociedades desenvolvidas e, portanto, não é uma
particularidade nossa. Podemos até encontrar motivos mais ou menos conjunturais
para justificar variações da natalidade, mas a tendência de longo prazo
verifica-se em muitos outros países que têm também populações envelhecidas.
E isto obriga a que, de facto, se repense a segurança social
e se encontre uma forma de enquadrar esta nova realidade, rever os pressupostos
passados quanto à relação entre quem é pensionista e quem trabalha para essa
pensão, perceber de que forma é que conseguimos construir estímulos adequados
para os jovens terem também interesse em contribuir para a sua própria reforma,
assegurando, também, que contribuem para pagar a pensão daqueles que hoje já
são pensionistas.
Nós quisemos fazer essa discussão recentemente, sem
nenhum tipo de condição de partida, ou seja, não pusemos nenhuma condição para
a discussão, mas, nem por isso, a resposta foi positiva, e portanto não
conseguimos sequer começar esta discussão.
A sustentabilidade da segurança social passa por
reconhecer onde estão as ameaças a esta sustentabilidade e pôr em prática
medidas que permitam reverter esta tendência de desequilíbrio, mas é também
muito importante atuar, mais uma vez, sobre a competitividade e o crescimento.
Porque nós temos, para além do problema do aumento da longevidade e da
diminuição da natalidade, uma taxa de desempenho estrutural que é elevada.
Sendo aqueles que trabalham que contribuem para a segurança social, obviamente
que quanto menos pessoas forem, quer por efeito da natalidade, quer por efeito
do desemprego, quer por efeito da emigração, mais se agrava o problema. E,
portanto, temos de atuar por essa forma.
Em qualquer caso, o Estado Social – e agora não é a
segurança social, mas o Estado Social, o modelo social que defendemos e em que
nos revemos – só é sustentável a prazo com crescimento e com competitividade,
porque terá sempre exigências grandes e precisará sempre da tal criação de
riqueza para que possa ser distribuída.
Eu não tenho tempo, manifestamente, para abordar de forma
adequada o tema de qual é a solução para a sustentabilidade da segurança
social, aliás, não há fórmulas mágicas, mas há múltiplos exemplos de reformas
que foram feitas noutros países, que tiveram sucesso e que, com as necessárias
adaptações, poderiam ser consideradas para Portugal. É uma forma de abordar o
problema.
Porque este problema não é exclusivamente nosso.
Manifesta-se mais num país que está mais empobrecido por força das escolhas
erradas que fizemos no passado, mas os problemas demográficos são problemas que
se manifestam em muitos outros países e é, aliás, um problema gravíssimo na
Europa.
E já agora, à laia de conclusão, porque não consigo
responder neste contexto, a Europa está gradualmente a perder a sua relevância
económica mundial, ou a ser relativamente menos importante, e uma das razões é
porque a Europa está envelhecida.
Um continente envelhecido arrisca menos, inova menos, e
tem mais desafios na sustentabilidade do seu modelo social. Tem mais custos de
saúde, tem mais custos de pensões e, portanto, a questão da demografia, das
implicações que isso tem para a economia e para a sustentabilidade do modelo, é
uma questão que, do meu ponto de vista, devia ser discutida na Europa em termos
mais alargados. E pensando se não há a possibilidade de adotar modelos mais
aproximados, tentando conseguir, de alguma forma… sem pôr aqui de parte,
obviamente, aquilo que são as responsabilidades de cada Estado individualmente,
mas conseguir pensar em soluções que ajudem a ultrapassar um problema com que
quase todos nos defrontamos, embora em graus diferentes. E que depois têm
implicações com a imigração – e aqui não estou a falar da saída de pessoas, mas
da entrada de pessoas para a Europa – que possa ser capaz de equilibrar o
desequilíbrio demográfico que a Europa tem. Mas isso, então, abria aqui a
discussão para um outro tema que precisávamos até domingo… e provavelmente
ainda continuaríamos a falar no assunto.
Nuno Matias
Muito obrigado. Tem agora a palavra, pelo Grupo Cinzento,
o José Miguel Saraiva.
José Miguel Saraiva
Exma. Senhora Vice-presidente do partido, Dr.ª Maria Luís
Albuquerque, antes de mais gostaria, em nome do Grupo Cinzento, de agradecer a
palestra, obviamente bem-sucedida com que nos presenteou hoje. Vou tentar ser o
mais breve possível.
O Estado Social consome grande parte da despesa pública
com resultados pouco expressivos. Atualmente o foco prende-se no fomento da
cultura do ócio, da cultura da sustentação insustentável, da conformação
social.
Por outro lado, o proposto pelos partidos
social-democratas, no contexto da terceira via, no final do século XX, propunha
que o foco do Estado Providência caminhasse para uma redistribuição das
oportunidades e não só da riqueza, ou seja, uma igualdade à partida e não só à
chegada, privilegiando necessariamente a iniciativa privada, que é o que traz
realmente crescimento económico.
Assim, queria perguntar-lhe se considera que o modelo
português de Estado Social deve continuar em vigência?
Maria Luís Albuquerque
Obrigada, Zé Miguel.
É verdade que o nosso Estado Social representa uma fatia
imensa da despesa pública e é verdade que os resultados que temos alcançado são
muito desanimadores. Nós continuamos a ter níveis de desigualdade gravíssimos.
Desse ponto de vista, continuamos a ficar muito atrás de muitos dos nossos
parceiros europeus e naturalmente que o Estado Social deveria ser capaz de
fazer mais do que simplesmente acudir às pessoas em estado de necessidade.
A questão de ser capaz, não só à partida, mas à chegada,
de romper o ciclo de pobreza, é fundamental, é difícil. Porque a solução mais
fácil, do ponto de vista da decisão, é dar dinheiro. Pode depois não ser fácil
quando encontramos a restrição financeira, mas dar dinheiro, deitar dinheiro
para cima dos problemas, é uma solução politicamente fácil e que, a curto
prazo, ainda por cima, é popular.
E portanto, os partidos também seguem alguma
racionalidade, naturalmente, e a tendência será, naturalmente, para seguir as
soluções mais fáceis e que sejam mais bem acolhidas. Isso, em si, é uma
característica da democracia, e não tem de ser mau. O que importa é perceber se
essas opções são de facto as melhores opções no curto prazo e se os nossos
objetivos são meramente de curto prazo. E um partido responsável não tem
objetivos meramente de curto prazo.
E nós preocupamo-nos muito com a questão social e com a
questão das desigualdades. É verdade que tem que se redistribuir oportunidades,
e deixem-me dar-vos um exemplo de uma decisão da atual maioria, deste governo,
que me parece que ilustra muito bem o que vai em sentido contrário. Que não tem
a ver com o Estado Social mas tem a ver com a questão das oportunidades, que é
a decisão de reduzir a exigência no ensino, acabando com os exames, por
exemplo.
Reduzir a exigência no ensino prejudica aqueles que têm à
partida menos oportunidades. Sobretudo esses. Aqueles que têm mais rendimento,
melhores condições socioeconómicas, podem sempre escolher uma escola onde o
padrão de exigência seja mais elevado e onde, à saída, tenham de facto uma
preparação que é melhor e uma certificação dessa preparação que é mais
credível.
Quando optamos por reduzir a exigência na escola pública,
estamos a limitar as oportunidades daqueles que estão na escola pública, por
não terem a opção de outro tipo de escola. E isto não é Estado Social, julgo
eu, no âmbito da questão que me colocou, mas é uma política social
importantíssima pelas consequências que tem.
E portanto, promover a igualdade de oportunidades
implica, também, ser capaz de ser exigente, ser exigente com os alunos… eu fiz
exames ao longo de toda a minha vida e não me lembro de ter ficado traumatizada
por nenhum; os meus filhos fizeram exames e, que eu note, também não têm trauma
nenhum, e não consigo aceitar a ideia de que sujeitar pessoas a avaliação é
submetê-las a traumas. Todos nós somos avaliados, permanentemente, na nossa
vida, no nosso local de trabalho, nas nossas funções públicas ou privadas,
todos nós constantemente avaliados. A avaliação faz parte da vida e a exigência
da avaliação contribui para nos promover e para melhorar a nossa qualidade e a
nossa capacidade, e não o contrário.
Portanto, o Estado tem a obrigação de, para além de ser
capaz de acorrer aos seus cidadãos quando eles têm necessidade, tem de ser
também capaz de promover esta igualdade de oportunidades. Do ponto de vista do
Estado Social, isso significa, por exemplo, não permitir que seja possível a
acumulação de benefícios sociais que se traduza num rendimento superior àquele
que a pessoa teria se trabalhasse. Porque as pessoas são racionais – se
trabalhando recebem menos do que recebem se não trabalharem e tiverem só apoios
sociais, não vão trabalhar. E ninguém lhes pode levar a mal que assim façam. É
um comportamento racional.
E portanto, ser capaz de dirigir os recursos para quem
efetivamente precisa, ao mesmo tempo que se põem estímulos para que as pessoas
sejam capazes de trabalhar, para que possam estudar mais, para que possam ter
mais oportunidades, é fundamental. É a solução mais difícil, porque a solução
começa por dizer, àqueles que escolheram racionalmente não trabalhar, que essa
opção já não está disponível, e que agora ou vivem com menos ou terão mesmo de
ir trabalhar.
E essa decisão é mais difícil de tomar, tanto mais que
depois há muito aproveitamento político sobre "coitadinhos, lá estão eles
contra os pobrezinhos”. Aos que dizem que eu tenho alguma coisa contra os
pobres, eu respondo que gostava que houvessem muito menos. Aliás, idealmente,
que não houvesse nenhum. Se isso é ter alguma coisa contra os pobres, lamento…
mas de facto o que eu tenho contra os pobres é apenas isso, é que gostava que
não fossem pobres.
E aquilo que faz parte da obrigação de um governo
responsável é gerir os recursos de forma a evitar essa situação de pobreza,
tanto quanto possível, mas sobretudo criar condições para que ela não se
perpetue e não aconteça aquilo que acontece muitas vezes e que é, de facto, a
maior tragédia, que é a armadilha da pobreza que se transmite de geração em
geração. A ideia de que, quem nasce num meio desfavorecido, não vai ter a
oportunidade de ascender socialmente. Porque não tem a oportunidade de acesso à
mesma qualidade de ensino, porque não tem as mesmas vantagens de partida, e
isso é obrigação de um Estado responsável, de um Estado Social, como nós
defendemos, trabalhar para que não aconteça. Para dar essa igualdade de
oportunidades, mais do que simplesmente distribuir prestações sociais.
Mas esta atitude, este querer, vai muito além das
prestações sociais, vai em colocar exigência e responsabilidade individual,
generalizadamente, quer no exemplo da avaliação ou dos exames que devem ser
feitos, e da exigência que deve ser colocada, porque os bons devem ser
recompensados, o mérito deve ser reconhecido.
E o reconhecimento do mérito e da capacidade é o único
motor eficaz para reduzir as desigualdades. Tudo o resto, limita as
consequências da pobreza, não a combate efetivamente. Só a promoção do mérito,
da qualidade individual, da capacidade individual e a criação de condições para
que as pessoas que demonstram esse mérito e essa capacidade possam, de facto,
progredir e ascender, é que é capaz de se traduzir na redução das
desigualdades.
O resto são paliativos para que as situações sejam um
pouco menos dramáticas. É importante que se faça mas é muito pouco ambicioso.
Temos de ser capazes de fazer muito melhor do que temos feito até aqui.
Nuno Matias
Muito obrigado. Agora, para finalizar as perguntas, pelo
Grupo Bege, o Mário Pedro Cristelo.
Mário Pedro Cristelo
Bom dia. Cumprimentar a Mesa e em particular a Prof.ª
Maria Luís Albuquerque, e endereçar também cumprimentos à organização, por esta
Universidade.
Nós gostaríamos de perguntar em que medida é que as
restrições europeias, nomeadamente ao limite da dívida e do défice orçamental,
plasmados no Tratado Orçamental e no Pacto de Estabilidade, podem ser, neste
momento, um entrave ao crescimento do país e em que medida, também, a resposta
à crise não condicionou o crescimento de Portugal no futuro.
Maria Luís Albuquerque
Obrigada, Mário.
Se as restrições ou as regras do Pacto de Estabilidade e
Crescimento e do Tratado Orçamental, são ou não um entrave ao crescimento? Eu
acho que não e vou explicar porquê.
Reparem que as restrições ao défice e à dívida… podemos
discutir se o número deve ser 3% ou 60%. Eu acho que isso é, seguramente,
matéria discutível, se aquele limite absoluto é o adequado ou não. Foi o
resultado da aplicação de um modelo, mas não me parece, de todo, o mais
relevante.
O relevante é saber se os países se devem comprometer a
limitar o seu défice e a sua dívida. Se alguém me disser que limitações ao
défice e ao crescimento da dívida prejudicam o crescimento, vai ter de me
explicar muito bem porquê, porque eu não entendo.
Ou seja, voltando a um tema, a uma questão de que já aqui
falei hoje. É possível fazer escolhas, e é frequentemente adequado fazer
escolhas que conduzam a um défice elevado num determinado momento. Mas tem de
ser uma escolha que seja capaz de, no futuro, gerar um retorno que permita
voltar a equilibrar as contas.
O que estas regras nos dizem não é que não possa haver
défices ou que não possa haver dívida ou que esta possibilidade de os Estados
gastarem hoje, para terem retorno no futuro, deve deixar de existir. De todo.
Isso era se disséssemos que nunca podia haver défice e a dívida tinha de ser
zero. Isso é que impunha que não houvesse escolhas inter temporais e tinha que
ser sempre a cada ano. Não é de todo isso que se passa. O que se diz é que,
quando alguns destes limites são ultrapassados, se põe em causa o crescimento,
precisamente.
Porque quando entramos numa situação de défices
recorrentes, que vão aumentando a dívida, os encargos com a dívida, nós vamos
limitando cada vez mais a nossa capacidade de escolha. Quanto mais for o peso
na despesa de cada ano que resulta dos défices passados, menos margem nós temos
para decidir gastar em outras coisas que eventualmente teriam maior retorno.
E não podemos dizer: bom, nós acomodados esta dívida… que
parece ser um bocadinho a ideia de quem diz que estas regras limitam o
crescimento, é: se nós não tivéssemos estas regras, nós podíamos fartar-nos de
gastar dinheiro e ter um défice de 10%.
Temos aqui alguns problemas. Primeiro: quem paga? Quem é
que financia este défice de 10%? Se eu quero gastar mais 10% do que aquilo que
produzo, tenho de convencer alguém a emprestar-me dinheiro para o fazer.
Primeiro ponto.
Segundo ponto: qual foi o resultado positivo no
crescimento da última vez que nós tivemos défices elevados? Só para tentar,
enfim, encontrar alguma colagem com a realidade de quem acha que ter défices
muito elevados é bom para o crescimento do país. Porque se há coisa que nós
temos, no país, de experiência, é de défices elevados e crescimento anémico.
O défice elevado, em si mesmo, não tem mérito
absolutamente nenhum. Pode ser compreensível pontualmente, numa circunstância
muito específica. Mas só assim. Caso contrário, a única coisa que gera é dívida
e limitação futura.
As regras são perfeitamente racionais e, convenhamos, são
mais do que flexíveis, porque nós nunca cumprimos. E, portanto, a ideia de que
há uma grande intransigência é uma ideia falsa, porque Portugal nunca esteve,
por razões diferentes e com muitas justificações, não é isso que eu estou a
dizer, mas a verdade é que – Portugal e outros países – nunca foram
verdadeiramente penalizados, do ponto de vista institucional, por não cumprirem
estas regras. Mas são penalizados, na prática e na realidade, pelos mercados.
Porque lá está, para gastar mais do que aquilo que tenho, tenho de convencer
alguém a emprestar-me. Quanto mais eu gastar e menos conseguir de retorno, mais
vou ter de pagar para que alguém me empreste. E há depois um limite para este
raciocínio. E o resultado não pode ser dizer… pergunta se a resposta à crise
condiciona o crescimento no futuro. As crises são… condicionam obviamente as
opções, também têm em si oportunidades. E a maior oportunidade de uma crise
terá de ser reconhecer quais foram os erros que levaram a essa crise para
garantir que não os repetimos e não voltamos a uma mesma crise.
Se tivermos de voltar a entrar em crise, ao menos que
seja por erros diferentes e não por estarmos sempre os erros que já cometemos
no passado. Aquilo que verdadeiramente condiciona o nosso futuro são as razões
que levaram à crise e não aquilo que teve de ser feito para a ultrapassar.
E por isso é que é tão preocupante ver que voltamos a
cometer os mesmos erros que se tinham cometido no passado. E dizer-se que o
défice não importa e que não temos de nos preocupar com os números é a maior
irresponsabilidade social que pode haver. Porque nós sabemos bem, todos, na
pele, quais são as consequências dessa atitude e como é que resulta para as
pessoas dizer que o défice não tem importância. Tem!
O défice tem importância porque tem impacto na dívida,
porque tem despesa futura. Dizer: não pagamos a dívida, bom… mais uma vez,
resolve o problema do défice, porque, se dissermos que não pagamos a dívida, ninguém
mais nos empresta dinheiro e, portanto, temos o défice logo a zero. Gastamos o
que há, o que não há não se gasta.
Ou, numa modalidade mais branda, seria uma reestruturação
que não impedisse o acesso ao financiamento. Mas, o que é que acham? Imaginem
que são investidores, que emprestaram dinheiro à espera de receber o capital
com um determinado montante de juros no final. E depois se lhe dizem, bom, nós
agora não temos condições de pagar e, portanto, vamos pagar só metade, ou vamos
pagar em mais tempo com juros mais baixos.
Eu não digo que isto não possa ser feito. O que eu acho
fundamental é que na discussão as consequências sejam ponderadas. Quando se
voltar a pedir dinheiro a esses investidores, acham que vão emprestar mais caro
ou mais barato?
O ponto é: pode muito bem acontecer que, numa situação
dessas, faz-se uma reestruturação de dívida, para baixar os encargos com a
dívida, pede-se menos dinheiro emprestado e acaba-se a pagar o mesmo. Isto traz
vantagens para o crescimento do país, em quê?
Portanto, como digo, já disse isso hoje aqui, há sempre
alternativas, algumas são piores do que outras, mas a questão de perceber
porque é que as regras existem, perceber que nós devemos controlar o défice e a
dívida, não porque assinamos o Tratado Orçamental, não porque aderimos ao Pacto
de Estabilidade e Crescimento, não por termos medo das ameaças ou das sanções,
mas porque isso é do nosso interesse, é do interesse dos portugueses resolver
este problema, é do interesse dos portugueses serem capazes de viver em cada
ano com a riqueza que são capazes de produzir. É do interesse de todos nós
reduzir a dívida pública, muito mais do que para cumprir um tratado, um pacto
ou para evitar sanções de quem quer que seja.
Porque se, de facto, tudo isso fosse negativo, então mais
valia nós sairmos e desistirmos. Mas a minha convicção, a nossa convicção,
daqueles que são europeístas, é que isto é do nosso interesse. Nós aderimos
voluntariamente a essas regras porque entendemos que isso melhora o nosso
futuro, de facto.
E, portanto, nós temos de pensar não em formas de
conseguir que nos perdoem um défice mais alto, mas em formas mesmo de termos um
défice mais baixo, porque isso é melhor para nós. E é melhor, em particular,
para vocês, que estão a começar a vida e que, como já foi dito aqui hoje, não
merecem ter como única expectativa de futuro uma dívida muito grande para
pagar, ou uma segurança social que não vos garanta aquilo que outros, hoje, têm
garantido.
Merecem um futuro melhor e, mesmo para acabar, o PSD, com
as propostas que tem, estará sempre disponível para trabalhar para esse futuro
melhor, com vocês e com todos aqueles que tenham, de facto, vontade de
construir um Portugal melhor para as gerações atuais e sobretudo para as
gerações futuras em quem temos francamente de pensar. Muito obrigada.
Dep.Carlos Coelho
Muito obrigado. Nós concluímos a primeira aula da
Universidade de Verão 2016. Eu vou acompanhar a nossa convidada à saída,
juntamente com a Margarida. O Nuno e os conselheiros vão continuar os
procedimentos e eu regresso dentro de dois minutos para vos dar duas ou três
informações antes de fecharmos para almoço.
Em nome de todos, em nosso nome, em vosso nome, um
especial agradecimento à Prof.ª Maria Luís Albuquerque pela espetacular aula de
Economia e Finanças que nos proporcionou esta manhã. Muito obrigado.
[Aplausos]
Nuno Matias
Antes de mais o Paulo Colaço pediu-me para vos informar
que na Intranet e na vossa área têm à vossa disposição já um desafio do JUV
sobre esta aula. Portanto, quem tiver curiosidade, seria interessante poder
contribuir porque o JUV é vosso e também se baseia muito naquilo que são os
vossos contributos e as vossas interações.
Em relação a esta votação, vocês têm nas vossas pastas
uns cartões de votação para nós podermos saber, no fim de cada uma das aulas,
qual a utilidade do tema. Portanto, desde 1 a 5, vamos fazer essa votação.
Toda a gente tem os cartões, certo? Alguém tem alguma
dúvida em relação à metodologia? Nós vamos votar a utilidade do tema. Nós vamos
fazer votação por filas, vamos só aqui fazer um compasso de espera.
Entretanto, dar nota também que à saída toda a
documentação que vos foi entregue para deixarem junto do staff deve ser
colocada nas urnas que estão à saída da sala. E, já sabem, têm no programa, a
aula da tarde do "Falar Claro”, começa às 14.30 horas.
Bom, muito bem. Toda a gente percebeu qual é o objetivo?
A questão da utilidade do tema da aula.
Vamos votar por filas. Peço então à primeira fila que
levante o voto.
Bom, a questão é, para além da utilidade do tema, como é
óbvio, a utilidade da aula…
Dep.Carlos Coelho
Desculpem, o que se vai perguntar agora é se vocês acham
se o exercício que tivemos foi útil para vocês. É de certa forma uma avaliação
global. Por voto secreto, vocês têm que decompor a vossa avaliação. Têm que ver
se o tema é importante ou não é importante, se a aula foi interessante e se ela
trouxe novidades. Isso é o que vão fazer, por escrito, decompondo a vossa avaliação.
Mas há uma avaliação global que é: o facto de vocês terem estado aqui duas
horas e meia, quase, a ouvir falar de economia e de finanças, foi útil ou não foi
útil. É esta a pergunta que se vai fazer. Vocês consideraram isto útil, ou não?
E têm 5 para "muito útil”, 4 para "bastante útil”, 3 para "assim, assim”, 2
para "pouco útil” e 1 para "completamente inútil”.
Nuno Matias
Primeira fila. Podem baixar.
Segunda fila. Podem baixar.
Terceira fila. Muito obrigado, podem baixar.
Quarta fila. Muito obrigado, podem baixar.
Quinta fila. Muito obrigado.
Sexta fila. Ok, muito obrigado.
Não se esqueçam de deixar à
saída, então, a documentação. Bom almoço.