Jantar formal de Abertura
Saudação ao Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, Dr. António Nobre Pita
Intervenção do Dr. Duarte Freitas, Presidente do PSD Açores
Dep.Carlos Coelho
Sr. Presidente da Câmara Municipal, Sr. Dr. Duarte Freitas, Sr. Presidente da JSD, Srs. Diretores Adjuntos, Sr. Deputado, minhas senhoras e meus senhores, todos os jantares da Universidade de Verão vão começar com um momento cultural. Trata-se da escolha de um poema e da sua leitura pelos diversos grupos.
Hoje à noite, num dos sorteios que vamos realizar, vai ser definido qual é a vossa vez. Cada um dos grupos terá a oportunidade, ao longo dos cinco jantares-conferência, dois grupos em cada jantar, de escolherem um poema e de o declamarem.
Neste primeiro jantar, que é o jantar formal de abertura, é um jantar em que essa responsabilidade é nossa e, por essa razão, o Paulo Colaço, que já conhecem da UVTV e que vão conhecer melhor durante a semana, coitados… [risos] vai ler um poema chamado "Os Fuzilamentos de Goya”.
"Os fuzilamentos de 3 de Maio”, como também é conhecido, é a designação formal do quadro que está na imagem projetada e que é da autoria do pintor Francisco de Goya. A obra é do século XIX, é de 1814, encontra-se no Museu do Prado, em Madrid, é uma imagem que nos recorda a violência de um dos antecedentes da guerra da independência espanhola, quando o povo de Madrid se revoltou a 2 de maio de 1808. Na sequência desse levantamento, o Comandante das forças francesas ordena uma resposta terrível, mais de 400 vítimas numa única noite, fuziladas de 2 para 3 de maio.
O poema que nós vamos ouvir representado por Paulo Colaço foi escrito por Jorge de Sena, um nome especial das letras portuguesas, falecido em 1978, com 58 anos.
Vamos ouvir o som de uma magnífica interpretação do Concerto de Aranjuez, a terra espanhola, cujo motim levou ao levantamento do povo de Madrid. O texto está também distribuído a todos vós, é um daqueles documentos que podem juntar aos vossos dossiers, e é um texto notável da carta de um pai aos seus filhos.
Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya, Paulo Colaço.
[Música "Concerto de Aranjuez”]
Paulo Colaço
Não sei, meus filhos, que futuro será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isso, nem seja sequer isso
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda que lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas a
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse "com suma piedade e sem efusão de sangue.”
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou as suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não haviam cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão de ser em vão.
Muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objeto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam "amanhã”.
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
[Aplausos]
Dep.Carlos Coelho
Muito obrigado, Paulo.
Este jantar é também o último jantar durante a Universidade de Verão em que eu tenho a ocasião de fazer um brinde. Todos os próximos jantares, ao longo da semana, serão vocês a fazerem o brinde.
Nós vamos escolher, hoje à noite, cinco grupos, que serão os grupos do brinde. Serão os grupos que vão saudar os nossos convidados, e cinco grupos que serão os grupos-anfitrião.
Os grupos-anfitrião vão-se sentar nesta mesa. Esta mesa, que hoje não tem nenhum estandarte, vai ter um dos vossos estandartes que vai ser escolhido por sorteio. Isso significa que os nossos convidados, que vão fazer as conferências, estarão aqui na mesa de um dos vossos grupos – o grupo que for escolhido como anfitrião estará durante toda a noite a conversar com o nosso ou a nossa convidada.
Portanto, esta é a última oportunidade que eu tenho de fazer um brinde. Como não podia deixar de ser, o meu brinde é para o Presidente da Câmara, Dr. António Pita. Ele não gosta de ouvir isto, fica sempre muito incomodado, mas eu acho que ele é um homem notável. É um homem notável enquanto percurso de cidadania, um homem que disse presente, que foi vereador, que trabalhou na Câmara e que hoje, por mérito próprio, é Presidente da Câmara Municipal.
E é um homem que, pela sua formação em História, dá uma qualidade especial, empresta uma qualidade especial à forma como pensa a sua terra e como concebe as políticas para a sua terra. Por razões que aqueles que decidirem fazer connosco a visita, na quinta-feira, a pé, a Castelo de Vide, perceberão. Esta é uma terra em que a história se vive em cada uma das esquinas.
O Dr. António Pita esteve particularmente visível na comunicação social recentemente, por uma tragédia que ocorreu aqui em Castelo de Vide. Num festival, houve um incêndio, e houve 444 veículos que foram incinerados. A imagem que eu tenho da televisão é uma imagem de tragédia, é o fogo a consumir os pertences, mas é uma imagem de serenidade e dignidade do Presidente da Câmara. O Presidente da Câmara soube reagir com eficácia ao problema, soube assegurar a prontidão dos serviços de Proteção Civil e soube sublinhar que, graças a Deus, não há nenhuma vítima humana a lamentar.
Tudo aquilo que se tem de lamentar, que é grave, são apenas desgastes materiais. E particularmente quando a sofreguidão de algumas seguradoras não pretende dar a compensação a quem ficou privado do seu veículo.
Eu sei que o Dr. António Pita foi criticado por querer que o festival viesse, permanecesse em Castelo de Vide. Eu acho que a sua determinação fez com que este festival das famílias, da solidariedade e da amizade e do respeito pela diferença, aqui se consolidasse, e também por isso, pela sua tenacidade e pela dignidade com que reagiu à adversidade, merece o nosso respeito e a nossa admiração. E por isso, pedia que subissem a vossa taça e bebêssemos ao Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, ao Dr. António Pita, ao seu sucesso e à sua felicidade.
[Aplausos]
António Pita
Obrigado.
Muito boa noite a todos. Quero, naturalmente em primeiro lugar, cumprimentar o Diretor desta Universidade de Verão, que nos dá a honra, o privilégio, o enorme prazer de, mais uma vez, estar em Castelo de Vide. E, naturalmente, agradecer estas palavras que eu muito agradeço, possivelmente exageradas, mas efetivamente foi um momento marcante. Para quem já viveu os incêndios de 2003 intensamente, na altura como Vice-presidente da Câmara em funções, porquanto o Senhor Presidente estava ausente, então, em 2003, com duas mortes e dois amigos que faleceram nesse incendio lamentável, obviamente que estas experiências são marcantes e ficam para o resto da vida.
Efetivamente, não só por aquilo que foi o trabalho da proteção civil, mas também, é justo dizê-lo, em jeito de parêntesis, em função daquilo que foi aqui dito, que a própria organização, do tal festival de famílias, se não fosse de facto o festival que é, com certeza teríamos hoje a lamentar, mortos e eventualmente outros danos que não apenas os danos materiais. Portanto, não seria justo, da minha parte, não sublinhar, efetivamente, o trabalho que foi feito, nomeadamente, o funcionamento do plano de evacuação com o maior sucesso.
Quero, naturalmente, também cumprimentar o Senhor Presidente do PSD dos Açores. Veio de longe para estar aqui numa terra que não está geminada com os Açores, mas onde se fala açoriano, sobretudo nas zonas mais antigas de Castelo de Vide, por influência de outras migrações - se tiver oportunidade, amanhã, vai ver que está um pouco na sua casa.
E, naturalmente, também cumprimentar o Sr. Presidente da JSD que está sempre aqui nesta família.
Eu queria, naturalmente, sublinhar aquilo que já aqui foi dito e que vocês, alunos, ouviram; este trabalho que está a ser feito e que vai para o décimo quarto ano consecutivo em Castelo de Vide, para além de tudo aquilo que já foi dito, importa também sublinhar o facto de ser feito no interior do país. E o facto de ser no interior do país, e não numa qualquer cidade, resistindo, naturalmente, ao apelo… e hoje falou-se aqui das cidades e percebemos, de facto, os fluxos migratórios, não só fluxos migratórios, mas tudo aquilo que as cidades têm, sempre a capacidade, a nível de outros eventos, de poder captar. Ter uma realização desta dimensão, catorze anos consecutivos no interior do país, não pode passar despercebido e temos, naturalmente, e enquanto Presidente da Câmara, não só por ser do PSD, mas também por ser um cidadão do interior do país, tenho que enaltecer esta postura do PSD, porquanto não vemos isso noutros partidos.
Portanto, para nós é extremamente importante, porque é uma forma também de coesão social e coesão territorial. Portanto, o Senhor Diretor, também por isto, para além de todas as qualidades que aqui foram já sublinhadas, também por este motivo, está de parabéns, dando outra lição, também, nomeadamente a outros partidos, porquanto teve esta capacidade de estender a mão a um território onde, naturalmente, este tipo de eventos acabam por ser mais difíceis de realizar.
No meu currículo não foi dito que, quando tinha a vossa idade, fui candidato a uma Junta de Freguesia. Perdi, perdi por quatro votos, e com angústia de perder, porquanto, como também já hoje foi dito pelo Eng.º Moreira da Silva, quem está nestas funções tem que, naturalmente, ter um espírito de missão que é enorme, enorme. Porque, quem não tiver esse espírito de missão pela causa pública, nunca poderá ter um desempenho político com sucesso.
Quando tinha a vossa idade, concorri, perdi por quatro votos, fiquei muito angustiado, mas olhando hoje para trás, possivelmente os eleitores escolheram muito bem. Eu achava, naturalmente, que tinha todas as condições para ganhar, que o meu projeto era o melhor, mas, efetivamente, fluindo este tempo todo, e filtrando as ambições, olhando para trás, percebo que, efetivamente, não tinha condições para ser… não seria seguramente o melhor candidato e o povo escolheu, como faz sempre, muito bem.
Eu se tivesse hoje aí – de facto, é a mensagem que eu vos queria dar como autarca, já o ano passado o disse e este ano digo de uma forma muito mais sentida e redobrada, porque, nos outros anos anteriores, habitualmente vinha às sessões mais formais. No ano passado tive a oportunidade de privar um pouco mais de perto e de ter estado em muito sessões, fui, digamos, um infiltrado, e que me permitiu fazer uma análise muito diferente daquilo que eu pensava que era a Universidade de Verão, para o positivo, como é óbvio. E percebi a preparação política, de cidadania, de valores que, de facto, durante esta semana, vocês irão conviver e, com certeza, vão ser muito importantes ao longo da vida.
Já agora, por curiosidade, podiam pôr, de braço do ar, quem tem ambições políticas, autárquicas… digam a verdade…. ótimo.
Acho que vos vai ser muto útil essa vontade legítima, e muito genuína, que acabaram por evidenciar, esta experiência que vocês aqui têm, porque, na minha geração, nós não tivemos essa experiência, e obviamente a experiência que acabamos por ter foi a experiência da vida, no desempenho de funções, a cometer muitos erros. Teríamos cometido muito menos erros, teríamos tido uma visão muito mais consolidada, com certeza, da missão de fazer serviço público, se tivéssemos uma experiência como aquela que vos é dada nesta oportunidade.
Falou-se aqui, sobretudo na intervenção do nosso Diretor, do valor da liberdade. O valor da liberdade é um valor ecuménico, mas na terra de Salgueiro Maia tem um valor especial. E por essa razão, também, Sr. Diretor, quero deixar aqui um sublinhado, porque na terra de Salgueiro Maia, para nós, vemos a transmissão desses valores de uma forma ainda mais sentida.
Portanto, aproveitem esta oportunidade, eu também vos quero dizer aqui ao vosso Presidente, e aos vossos conselheiros, e ao Duarte – não sei se está por aí – que as dez horas são as dez horas, mas os bares, às quatro horas são as quatro horas, não é às quatro e cinco, não é às quatro e dez, não é às quatro e quinze. Portanto, eu também tenho aprendido que nos anos anteriores tem havido algum laxismo no cumprimento dos horários, mas vão compreender que às quatro horas é mesmo quatro horas, Senhor Diretor.
Obrigado e desfrutem desta Universidade. Obrigado.
[Aplausos]
Dep.Carlos Coelho
Sr. Presidente da
Câmara Municipal, Sr. Dr. Duarte Freitas, Sr. Deputado Cristóvão Crespo, Sr. Presidente
da Assembleia Municipal, Sr. Deputado Duarte Marques, Dr. Nuno Matias, Sr.
Presidente da JSD, Sr. Deputado Simão Ribeiro, minhas senhoras e meus senhores.
O ano passado
tivemos aqui o Dr. Horta Osório que brindou, com a sua presença, o jantar de
abertura da Universidade de Verão, dando a sua opinião sobre a evolução da
economia nacional.
Hoje temos um
convidado diferente, o Dr. Duarte Freitas, que é candidato a Presidente do
Governo Regional dos Açores, e que generosamente aceitou interromper a sua
campanha nos Açores para vir falar na abertura da Universidade de Verão, o que
lhe estou muito agradecido.
Eu sou suspeito
porque conheço o Dr. Duarte Freitas há algum tempo. Fui colega dele no
Parlamento Europeu e sou testemunha do respeito que ele granjeou nos seus
colegas de diversos países, respeito, aliás, que o Engª. Jorge Moreira da Silva
já referiu hoje na sessão de abertura. E também da grande consideração que ele
tem junto dos principais deputados nos Estados Unidos da América, quer na
Câmara dos Representantes quer no Senado norte-americano. Um ou dois deles com
raízes portuguesas, luso-descendentes, e com raízes nos Açores, mas a maior
parte dos quais sem essa referência geográfica que possa justificar uma maior
proximidade, mas que têm no Dr. Duarte Freitas uma referência e uma relação
privilegiada com Portugal.
Como o Eng.º Jorge
Moreira da Silva disse hoje, ele é um homem que faz bem os dois lados do
Atlântico. Conhece bem a Europa, conhece bem os Estados Unidos, e pode
emprestar a sua qualidade, o seu prestígio, a sua reputação, a sua inteligência
e a sua capacidade ao serviço dos Açores.
O nosso convidado
de hoje tem como hobby brincar com os filhos – tem três filhos, uma filha muito
simpática e dois filhos, que eu conheci em pequeninos, cheguei a dar biberon
aos gémeos. Agora já têm 10 anos e acho já não estão à espera que eu lhes dê
biberon.
[Risos]
A comida preferida
é a alcatra de peixe, o animal preferido é a vaca. Dirá se é como o Prof.
Cavaco Silva que gosta do sorriso dela, se a vê como alimentação ou como animal
de estimação. O livro que sugere é o "Arquipélago”, de Joel Neto; o filme que
nos sugere, "A Sereia do Mississípi” de François Truffaut; e a qualidade que
mais aprecia é o empenhamento.
E o homem que nos
vai falar e que nos vai brindar neste jantar é um homem empenhado, pelas causas
em que acredita, as causas regionais e as causas sectoriais. Vi sempre este
homem a abraçar com determinação as causas em que acredita. Espero o melhor
para ele, o melhor para os Açores.
Minhas senhoras e
meus senhores, no primeiro jantar da Universidade de Verão 2016, o candidato à
Presidência do Governo Regional dos Açores, Dr. Duarte Freitas.
[Aplausos]
Duarte Freitas
Senhor Reitor,
Magnífico Reitor da Universidade de Verão, meu querido amigo Carlos Coelho,
amigo de longa data com quem aprendi muito e que para mim representa a face
digna, credível, responsável da política em Portugal. E é por isso também que é
respeitado no nosso país e lá fora e é uma honra para mim privar da sua
amizade, de tudo aquilo que temos de experiência comum, mas também daquilo que,
aprendendo com o Carlos Coelho, tentei levar para a minha ação política.
Neste início de
conversa quero dizer-vos que, nos Açores, encerramos ontem a terceira
Universidade de Verão. Uma iniciativa que bebeu a génese e o impulso daquilo
que aprendi com o Carlos Coelho. Tinha o sonho, já há muito, de criar, como ele
criou aqui, a Universidade de Verão. Conseguimos fazê-lo, já comigo como
Presidente do partido há três anos, esta foi a terceira edição.
Com a edição deste
ano, já formámos cerca de cem jovens nos Açores. Alguns deles, os primeiros que
passaram na primeira e na segunda Universidade de Verão, já são candidatos às
eleições legislativas regionais de outubro próximo. E com isso queremos
qualificar cada vez mais a juventude açoriana.
Eu tenho dito que
o cumprimento deste sonho, de criar a Universidade de Verão nos Açores que,
como disse, se deve, no fundo, no fundo, a uma pessoa como o Carlos Coelho, que
criou aqui e que espalhou este conceito e esta inspiração por outros sítios de
Portugal, como é o caso dos Açores. Esta Universidade de Verão, nos Açores e
também aqui, mais do que uma escola política, é uma escola de cidadania. E é
uma escola onde se deve incentivar, impulsionar os jovens a serem empenhados.
Quando eu referi
que a característica mais aprecio é o empenhamento, tem a ver também com a
forma como eu vejo que devemos estar na sociedade e na política – empenhados a
100% no que fazemos. Dignos quando saímos, mas empenhados enquanto estivermos.
A fazer seja o que for: a estudar, a fazer desporto, a fazer política, em
qualquer coisa – empenhamento máximo, para que fiquemos de consciência
tranquila de que nos entregamos naquilo que fazemos.
É nisso também que
Carlos Coelho é uma inspiração para mim e para todos nós, certamente, neste
empenhamento que se exige. E aquilo que vos peço aqui nestas primeiras palavras
é que, seguindo esta inspiração, sejamos também empenhados, nesta Universidade
de Verão, em toda a ação cívica – mais do que política –, em toda a ação
cívica, tornando-nos melhores cidadãos, cidadãos empenhados em melhorar aquilo
que é a nossa terra, como o Carlos se tem empenhado em melhorar o que é
Portugal, o que é o PSD, e até, digo-vos, por testemunho próprio, a melhorar
aquilo que é a Europa, a vários níveis.
Muito obrigado,
Carlos, por esta amizade e por este convite.
Queria também
cumprimentar, naturalmente, o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Castelo de
Vide, António Pita. Desde já estabelecemos aqui alguns contactos que podem ser
profícuos no relacionamento entre Castelo de Vide e os Açores, nomeadamente
Ponta Delgada, porque há aqui uma raiz comum de tradição de judeus, e que nós
devemos incentivar a vários níveis não só de preservação do património, mas
também até nas componentes turísticas que aqui poderão estar envolvidas.
Cumprimento
também, naturalmente, o Sr. Presidente da JSD, Simão Ribeiro, que não pôde
deslocar-se aos Açores devido aos constrangimentos que existiram no aeroporto
de Lisboa nos dias recentes.
Cumprimento
também, naturalmente, o Sr. Presidente da Assembleia Municipal de Castelo de
Vide, o Deputado Cristóvão Crespo, o Presidente da JSD de Portalegre e também
aqui de Castelo de Vide. E permitam-me também que cumprimente um grande amigo, o
Duarte Marques, que aqui está connosco, que esteve nos Açores, e que nos tem
ajudado muito – sei que ajuda muito também o Carlos e a Universidade de Verão,
aqui –, mas que me tem ajudado muito pessoalmente, a vários níveis, na ação
política que desenvolvemos e naquilo que é o trabalho que temos feito também
para a Universidade de Verão nos Açores.
Quero falar-vos da
nobreza na ação política. Mas, antes disso, quero explicar-vos um pouco porque
é que estou na política. Quando tinha 18/19 anos, a idade de alguns de vós, nem
gostava especialmente da política. E depois foi pela aproximação das atividades
cívicas, quer seja junto de clubes de futebol, de teatro, de associações de
agricultores, que me fui aproximando da política, sem dar por isso sequer.
E depois
apercebi-me que o expoente máximo dessa atividade comunitária, do serviço
público, às causas públicas, que poderia ser a política. E é por isso que
também vos disse há pouco, antes de pensarem na política pensem em ser cidadãos
completos, inteiros. E se calhar, a pouco e pouco, vão ver, alguns de vós vão
sentir o chamamento para exponenciar esse trabalho comunitário através de um
trabalho político.
E daqui também
chegaremos à nobreza da ação política de que vos gostaria de falar daqui a
pouco. Mas, nesse trajeto, fui aprendendo. E fui aprendendo também por que é
que temos que ter uma energia todos os dias para fazer política, quem gosta de
a fazer de corpo inteiro, na tal perspetiva de trabalho cívico, de trabalho
pela nossa terra.
Eu costumo dizer
que estou na política pelo meu avô, eu já vos explico muito brevemente. Porque
nos Açores, na minha ilha, como em todo o Portugal, houve ao longo de muitas
gerações pessoas que tiveram que sair da sua terra para sobreviver. Isso
aconteceu também com a minha família, como se calhar com quase todos vós. Nos
Açores não há nenhuma família que não tenha pessoas no Canadá ou na América. As
dificuldades eram muitas ao longo de muitos séculos nos Açores. ´
Os irmãos do meu
avô todos emigraram; e a emigração, naquela altura e também hoje, para muita
gente é quase como quem arranca parte de um corpo e vai longe. O meu avô passou
a vida toda a pensar e a sonhar quando é que ia visitar os irmãos à Califórnia.
Ele parecia que conhecia a Califórnia, sem nunca ter estado lá. Às vezes
perguntavam: o senhor José conhece os Estados Unidos ou a Califórnia? E ele
dizia: não conheço pessoalmente.
Mas conhecia pelo
sonho que tinha. Mas atenção, já vos explico. Ele não ficou a gostar menos da
sua terra, terra que foi madrasta para aqueles de quem ele gostava. Ele ficou a
gostar mais, e ficou a empenhar-se mais, amou ainda mais a sua terra e quis
fazer na sua terra algo para que não fosse só a paixão pela terra a razão de
ficar nela.
E é por isso que
estou na política – para fazer da minha terra uma terra melhor. E é isso que
vos convido a todos, primeiro como cidadãos, depois quem fizer uma opção pela
política, que tenha isso sempre em atenção. A melhor satisfação que nós podemos
ter – que eu tenho – é sentir que contribuí positivamente para o bem da minha
terra, dos meus concidadãos.
[Aplausos]
E, caras amigas e
caros amigos, como dizia, entendo que a ação política só faz sentido quando se
enquadra nestes nobres objetivos e objetivos positivos. Dito de outra forma: o
que nos deve nortear é o serviço público e a satisfação das necessidades dos
cidadãos que servimos. São eles que nos elegem para participarmos, em sua
representação, naturalmente, na escolha das melhores soluções para a gestão da
coisa pública.
Os políticos,
pois, devem ter, como fim último, o servir. Servir – é isto que nos deve
nortear, é este que deve ser o fim último da nossa ação como políticos. No
âmbito dessa atividade – da atividade política – os políticos têm de gerir bens
públicos e influir também, naturalmente, muitas vezes, sobre bens privados,
tendo em vista gerar o bem-estar e a qualidade de vida para a sociedade e a
comunidade em que vivem.
Os bens públicos
são de todos e são escassos, diria cada vez mais escassos, face às necessidades
crescentes dos cidadãos e, até, ao próprio funcionamento do Estado. A crescente
exigência da ação política requer, pois, atores cada vez mais preparados, no
plano cívico, ético, político, técnico, cultural, académico, mas especialmente
empenhados no serviço público.
As pessoas e os
políticos têm que estar preparados para serem pessoas do tempo atual, mas
naturalmente, sendo do tempo atual, sempre preparadas para inovar.
A Democracia só se
fortalece e renova se percebermos que esse caminho tem de ser realizado lado a
lado com o Estado, seja ele nacional, regional ou local, e Administrações onde
existam dois princípios fundamentais: a meritocracia e o primado do Direito.
A democracia – e
eu gostaria que retivessem isto -, na minha opinião, a democracia não se detém
e não se pode deter na democracia política. Et
pour cause , tem de contribuir para o fortalecimento de vetores que
sustentam as nossas liberdades. A democracia na educação, na cultura, na saúde,
na transparência, a democracia na economia. A democracia tem que chegar e ser
vista em todo o lado, não pode ser meramente uma democracia política, não nos
podemos deter aí.
E a
social-democracia, com certeza, também tem que ter sempre estes objetivos.
Os políticos tomam
decisões e gerem bens públicos, e ao disporem de bens comuns têm de fazê-lo com
a máxima competência e isenção por forma a não desbaratarem, antes
acrescentarem, aquilo que nos foi legado pelos que nos antecederam.
Um Estado forte é
aquele que é entendido como um garante da ordem pública, que administra a
justiça acima das partes, com isenção, e cujos titulares de poder agem no
estrito âmbito da lei e respeitam os direitos e garantias dos cidadãos. É, no
fundo, um Estado em quem podemos confiar e em quem devemos acreditar. E o
mérito é a medida exata que deve presidir à escolha de quem trabalha e ocupa
cargos no Estado, na Administração Pública.
Aqui deixo um
primeiro desafio, a bem da confiança no sistema: que se definam muito bem e que
se enumerem os cargos que são de confiança política e os cargos administrativos
de cariz eminentemente técnico. O recrutamento e progressão na carreira para
quem ocupa cargos administrativos deve assentar em critérios objetivos de
qualificação e de mérito.
Só uma
administração pública cada vez mais profissional e afastada dos interesses
partidários garantirá um quadro estável de progresso e de combate ao
clientelismo. Esta administração deve zelar pela burocracia do Estado de forma
competente, isenta e tratando os cidadãos sem qualquer discriminação.
Já, por outro
lado, os cargos de eleição ou de confiança política serão escolhidos e
escrutinados pelos cidadãos e pela opinião pública e avaliados em eleições,
naturalmente, e devem durar os mandatos que os executivos asseguram.
É esta separação
das águas que permitirá, na minha opinião, contribuir para restabelecer a
confiança e aumentar a eficácia da administração do Estado.
Caros jovens, os
políticos e as novas gerações de políticos, devem encontrar caminhos e
programas de atuação que rasguem as fronteiras da tradicional divisão entre
esquerda e direita. Os desafios do presente combatem-se, não com ferramentas
ideológicas, ditas de esquerda ou de direita, mas com uma grande sensibilidade
política para os grandes desafios do nosso tempo.
Porque a par dos
grandes progressos económicos e civilizacionais, crescem casos de catástrofes
provocadas pelos conflitos, pelas guerras, pela corrupção, pelo ambiente, pela
apropriação e pelo usufruto ilegítimo de bens públicos.
O poder político
deixou-se, muitas vezes, subalternizar aos interesses económicos, pactuando com
a gestão ruinosa de empresas e grupos económicos que atuam em setores
estratégicos e que depois afetam toda a economia de um país – como aconteceu
com Portugal.
Como já todos
percebemos, digo eu, dolorosamente, o resultado desta atuação do poder político
provoca mais gastos públicos para fazer face às desregulações do mercado e aos
efeitos do desemprego, sobrecarregando naturalmente os cidadãos.
E caros alunos
desta Universidade de Verão, o espírito e objetivos desta Universidade só serão
cumpridos se conseguirmos refletir em conjunto e transmitir experiências que
fomentem políticas renovadas, credíveis e atuais.
Quero, por isso,
dizer-vos também que aquilo que é a nossa matriz e a nossa visão
social-democrata, a minha visão. Temos no PPD/PSD uma matriz social forte que
nos faz defender políticas sociais na educação, na saúde e segurança social.
Políticas que permitam criar patamares de qualidade de vida e de esperança aos
portugueses.
O Partido Social
Democrata é, antes de mais, social. E há muita gente hoje, nos Açores, em
Portugal, a atravessar enormes dificuldades. É para esses que se deve dirigir o
nosso primeiro olhar.
[Aplausos]
No PPD/PSD
encaramos o empreendedorismo e a iniciativa individual ou coletiva, no âmbito
da sociedade civil, como motores fundamentais e insubstituíveis para o
crescimento económico. No PPD/PSD queremos um Estado regulador, imparcial,
cumpridor da lei, com palavra, que não seja predador da riqueza individual e
coletiva, mas que seja justo e retribuidor.
E no PPD/PSD
queremos políticos que cumprem, que inovam, que percebem os anseios do seu
tempo e interpretam os sinais do futuro. Os políticos e os partidos – o nosso
partido – não podem resumir a sua ação à conquista do poder pelo poder. Esse
conceito, de conquista do poder pelo poder, ou de manutenção do poder pela
manutenção do poder, esgotou-se ou deve estar a esgotar-se. E esses tempos de
poder pelo poder não respeitam a vontade dos cidadãos, nem respondem aos tempos
que vivemos.
Caros amigos, a
terminar, permitam-me que relembre que nos Açores há ciclos de governação,
democrática, é certo, que duraram 20 anos. Alguns de vós nem eram nascidos e já
o Partido Socialista governava nos Açores. O regime socialista açoriano já tem
duas décadas.
O ser humano e os
grupos sociais, sejam eles quais forem, ao fim de vinte anos geram conivências
e proteções recíprocas que desvirtuam a procura do bem comum e a boa
governação. A genética leva ao favorecimento da família, todos nós sabemos
disso, a amizade e a troca de favores levam ao compadrio, todos nós
experimentamos isso e vemos isso. E a corrupção corrói as instituições.
Estes fatores
retiram o foco dos governos da sua missão principal que é – ou devia ser –
trabalhar para o bem comum e governar com justiça e equidade. E nos Açores, mus
caros amigos, vinte anos de regime socialista provocaram o baixar das guardas
da defesa da verdadeira representação democrática, da defesa do Estado de
Direito, da igualdade de oportunidades e da equidade.
Quero dizer-vos:
eu estou neste combate da renovação e do fortalecimento da sociedade. De
fortalecimento da sociedade, da economia e da democracia dos Açores. Conto com
a ajuda de todos, nesta luta em que o PPD/PSD se envolve nos Açores em favor de
uma causa maior.
Cremos e queremos
que, perante nós, estão atuais e futuros titulares de funções políticas capazes
de pensar e agir a nível local, regional, nacional e internacional. Políticos
competentes, cumpridores da lei, respeitadores dos mandatos que recebam do
povo, empenhados em levar bem longe o nosso partido. Mas, mais do que isso, e
assim termino mesmo, capazes de levar bem longe o bem de cada uma das nossas
terras.
Bem hajam!
[Aplausos]
Dep.Carlos Coelho
Muito obrigado.
Duas notas finais.
Primeiro, os mais
atentos – geralmente são as senhoras, os homens são mais distraídos – terão
reparado que, a envolver o vosso guardanapo, tinham uma construção em cartolina
laranja e que, dentro dessa cartolina, tinham a ementa do jantar. Isto não foi
pedido por nós… Numa universidade em que todo o detalhe é preparado, foi uma
iniciativa do Diretor do Hotel e do chef do restaurante, a quem estamos muito gratos, que perceberam a lógica do
funcionamento da Universidade de Verão. E vão reparar que esta cartolina, que
traz a ementa e que envolve o nosso guardanapo, vai mudar de cor todos os dias,
de acordo com a cor do sorteio do grupo anfitrião.
Hoje é laranja
porque é a cor da casa. Mas, se o sorteio determinar que amanhã, por exemplo,
será o grupo amarelo o grupo anfitrião, esta cinta terá a cor amarela.
Isto é uma prova
de que os detalhes da Universidade de Verão passaram para outras entidades,
neste caso para a Direção do Hotel, por iniciativa deles, o que muito
reconhecemos e agradecemos.
Segunda coisa: vamos,
às dez e vinte, iniciar os trabalhos de grupo. Às dez e vinte. Lá em baixo, na
sala de aula, com o Rafael Neto, estarão os grupos encarnado e verde. Eu não
sei quem estabeleceu isto, mas o Rafael tem a bandeira nacional. Portanto, lá
em baixo, na sala de aula, o Rafael estará com os grupos encarnado e verde.
Encarnado de um lado, verde no outro.
E o Jorge Varela
estará com os grupos laranja e rosa. Duas cores também muito parecidas, embora
politicamente muito distantes.
Aqui em cima
(vamos ter que deixar um bocadinho de tempo para que o pessoal do hotel possa
limpar esta sala), neste espaço onde estamos a jantar, vão funcionar os grupos
amarelo e azul, com a Juliana Mendes Correia; os grupos bege e roxo, com a
Sofia Oliveira; e os grupos cinzento e castanho, com o Fausto Matos.
E dito isto, dou
por encerrado o jantar de abertura da Universidade de Verão, agradecendo ao Sr.
Presidente da Câmara e ao Dr. Duarte Freitas o facto de terem estado connosco.