Simulação de Assembleia: Fixar quotas mínimas para as mulheres na administração das empresas
Joana Barata Lopes
Pedia-vos que trocassem os vossos lugares.
Queria agradecer à Diana, porque nos deu a oportunidade
de ver o Duarte mostrar que tem sentimentos, o que é raro. Mas, ó Diana, eu
como passo a vida a chorar, estou sempre do teu lado, portanto estou contigo.
Se quiserem podem fazer mais rápido. O Governo é o Grupo
Verde. Cinzento do lado esquerdo, Oposição 1. E o Azul do lado direito,
Oposição 2.
Pedia-vos para agilizar.
Os grupos estão a demorar muito tempo a trocar de lugar e
depois não conseguimos cumprir o horário.
Muito bem, vamos dar início ao sétimo ponto da nossa
Ordem de Trabalhos. Fixar quotas mínimas para as mulheres na administração das
empresas. Para apresentar a proposta, pelo Governo Verde, tem a palavra o
senhor Ministro David Luís. Dispõe de cinco minutos.
David Luís
Senhor presidente da Assembleia da República, senhoras e
senhores Deputados;
Hoje, aqui, fazemos história. Ao darmos início à
discussão parlamentar relativa às quotas de género na administração das
empresas, damos o primeiro passo de uma caminhada que é de todos os
portugueses, em direção a um futuro novo. Um futuro mais tolerante e mais
competitivo. E é precisamente no futuro que tem que estar o nosso foco, e a
nossa esperança, porque no presente, com muita tristeza nossa, o cenário é
francamente negativo.
Por essa razão é que, para além de uma ideia, hoje,
trazemos aqui uma solução. Na sua elaboração levamos em conta diversas
recomendações da UE, da ONU e observamos também os exemplos e as legislações de
países como a Alemanha, a Itália, a França ou a Holanda, que têm as taxas de
participação feminina na administração das empresas fixadas entre os 24% e os
33%, o dobro e o triplo da taxa portuguesa, que é inferior a 11%. Isto
coloca-nos, aliás, em 24.º lugar no ranking desta matéria na União Europeia.
Porque acreditamos que Portugal merece o progresso e não
a retrogradação, propomos então que se apliquem quotas mínimas de participação
nas empresas pelo género sub-representado. Isto porque, apesar de o problema
principal, e aquilo que vimos hoje combater, ser realmente a participação
feminina, o ideal base na nossa proposta é realmente a promoção da diversidade
nos locais de trabalho e nas políticas de contratação. Portanto, se existir,
por acaso, uma situação inversa, aplicar-se-á a quota exatamente da mesma
maneira.
Essas quotas são um sistema progressivo que começará com
20%, a cumprir até 2019, de seguida o objetivo será 25% até 2020, e só aí
estaremos nivelados com a média da União Europeia, e por último, 33% em 2025.
O incumprimento destes objetivos vai resultar na anulação
das nomeações e na suspensão das remunerações das administrações infratoras. A
transparência e o acompanhamento dos processos têm um papel fundamental na
nossa proposta. Por isso é que vamos introduzir um conjunto de medidas complementares,
como: a divulgação das listas com proporções de género, elaboração de um
relatório das aplicações das medidas, um documento que vai descrever os comités
de nomeação e vai clarificar processos e políticas, que é de extrema
importância.
Por último, também a reformulação dos códigos de ética
empresariais. O anúncio da abertura a concurso das vagas não executivas irá
contribuir de igual forma para os mesmos objetivos. Porque a supervisão é
também fundamental, será criado um comité completo para avaliar progressos e
publicar resultados. Irá também ter a função de formar formadores que depois
terão a função de ajudar na aplicação destas medidas junto das empresas.
Esta proposta, na sua globalidade vai reforçar os ideais
de tolerância, igualdade e diversidade, reduzir casos disciplinares associados
ao género, ao mesmo tempo que vai criar mais riqueza, mais competitividade,
mais eficácia e, mais importante, vai credibilizar Portugal como um país
desenvolvido em matérias sociais de igualdade de género.
Existirem em Portugal mais mulheres qualificadas e ver
depois essa formação traduzir-se em nove vezes a colocação inferior à
masculina, deveria ser uma impossibilidade estatística. Não sei como é que isto
continua a acontecer, e como é que esta realidade continua a estar presente no
nosso país. É absolutamente imperativo acabar com este estigma, com este
estereótipo, a competência esta toda lá, está toda aqui. O tamanho da nossa
ambição [ Joana Barata Lopes : Senhor
Ministro, dispõe de 30 segundos.] nunca pode ser condicionado pura e simplesmente
porque se é mulher ou porque se é homem. Nós somos assumidamente diferentes, e
ainda bem, mas nas oportunidades é obrigatório que sejamos declaradamente
iguais. Temos que provar isto a Portugal, temos que provar isto ao mundo, e
para isso é preciso termos mais mulheres nas nossas empresas, e para isso temos
que aprovar a nossa legislação.
Muito obrigado.
[Aplausos]
Joana Barata Lopes
Muito obrigada, senhor Ministro. Para a primeira
interpelação ao Governo pela Oposição 1, do Grupo Parlamentar Cinzento, tem a
palavra o senhor Deputado Hugo Martins. Dispõe de três minutos.
Hugo Martins
Boa tarde, senhora Presidente da Assembleia da República,
senhor Primeiro-ministro e restantes membros do Governo, senhoras e senhores
Deputados;
Antes de mais, deixem-me fazer um reparo, vocês estão a
defender uma proposta que nem vocês conseguem cumprir. Estou a ver aqui seis
homens, uma mulher, acho que a quota não é cumprida por vocês.
[Aplausos]
Ao analisar a vossa proposta, as características que
realçaram foi a incoerência e a perversidade, duas características que não são
muito bonitas numa proposta que deve ser séria, e que deve contribuir para a
evolução do nosso país. Deixem-me dizer-vos que, mais perverso do que aplicar a
fixação das quotas, é que essas quotas sejam direcionadas para a administração
de uma empresa, porque eu, para o meu país, pelo menos, quero o melhor, quero
os melhores nos melhores cargos, quero que seja definido por mérito e não por
sexo, se é masculino se é feminino. Isso não tem nada a ver. Simplesmente tem
que ter mérito e chegar lá.
[Aplausos]
A linha orientadora tem que ser a meritocracia, a linha
orientadora do Governo tem que ser a meritocracia, e não aquilo que vocês estão
a defender. Só os melhores chegam lá, e as mulheres são bem capazes disso. Não
é só os homens que chegam lá. As mulheres são capazes.
Imaginemos uma situação em que dois sócios abrem uma
empesa e têm uma vaga para ocupar. Concorre um homem e uma mulher, e vocês,
pela vossa política que estão a querer implementar, obrigatoriamente o homem
vai ser excluído, porque a mulher tem que entrar, independentemente de ser uma
mulher de limpeza, não tenha qualificações. Não estou a descredibilizar a
mulher de limpeza, simplesmente é um trabalho honesto e digno como todos os
outros, mas tem que haver qualificações para chegar a esse cargo. E assim estão
a excluir o melhor, possivelmente o melhor, porque o homem podia ser o melhor,
e assim estão a excluí-lo automaticamente, à partida.
Com esta proposta o Governo está a menosprezar as
mulheres. Estão a querer dizer que, se não for esta quota de fixação, que vocês
querem fixar, as mulheres não conseguem chegar lá, o que não é verdade. As
mulheres não precisam dessa fixação das quotas. As mulheres são capazes, basta
acreditar nelas. Elas conseguem chegar lá e não precisam que o Governo fixe uma
quota para chegar a esses lugares cimeiros.
Pior do que estar a fazer esta proposta, é vocês
acreditarem naquilo que estão a dizer, porque simplesmente [ Joana Barata Lopes : Dispõe de 30
segundos, senhor Deputado.] vocês não conseguem cumprir isso, por isso não
acreditam na vossa proposta.
Melhor do que isso, vocês têm que fazer uma proposta em
que acreditem, que tenham a convicção que ela vai funcionar para o país.
Obrigado.
[Aplausos]
Joana Barata Lopes
Muito obrigada, senhor Deputado. Para segunda
interpretação ao Governo, pela parte do Grupo Parlamentar Azul, tem a palavra o
senhor Deputado Inácio Prieto. Dispõe de três minutos.
Inacío Prieto
Obrigado, Exma. Presidente da Assembleia da República,
senhores membros do Governo, e senhoras e senhores Deputados;
Para começar eu gostava de congratular o Governo dos
Verdes pela elaboração deste programa, em particular ao facto de promover a
igualdade de género na sociedade portuguesa. Só é pena que, mais uma vez, o
façam da maneira errada.
Em vez de promover uma evolução da mentalidade portuguesa
e da educação social, impõem de uma maneira totalitária, esquecendo-se de algo
importantíssimo que se chama liberdade individual, liberdade de escolha e
igualdade de oportunidades.
Nesta vossa proposta o que não faltam são más ideias,
senhor Primeiro-ministro. Começamos por esquecer algo fundamental em Portugal
que se chama mérito. Mérito no trabalho e mérito no esforço que cada um aplica
para atingir os seus objetivos.
Pelo caminho que o vosso Governo tenta traçar, isto é a
promoção de uma igualdade tão desigual nestas quotas, sendo nada mais do que
uma discriminação que nos irá levar para todo o tipo de diferenças, sejam elas
de género, de raça, de crédito, orientação sexual.
Um dos vossos argumentos fortes para aprovação deste
diploma é a necessidade desta lei para ser cumprido o artigo 13.º da
Constituição da República Portuguesa. Ridículo, legislar para fazer cumprir uma
coisa que já está prevista no documento basilar da nossa República.
Mais uma vez, congratulamos os Verdes num assunto tão
importante como a igualdade de género, conseguir inferiorizar, desvalorizar a
capacidade intelectual e cognitiva da mulher de uma maneira tão subtil, como
dar uma palmadinha nas costas afirmando: já que não conseguem progredir
sozinhas, não se preocupem, o Governo cria uma lei para vos ajudar.
Mas já que assentam esta proposta na justiça de género,
por que sugerem inicialmente 20%? Devia ser 50% logo à partida. É justo, mas é
só um bocadinho justo. Até diria melhor, é mais uma política de poucochinho.
Bem, não consigo pensar numa maneira mais redutora do
papel da mulher na sociedade do século XXI do que esta vossa proposta. Sendo eu
um defensor acérrimo da meritocracia feminina, apresento-me a fazer uma crítica
construtiva a esta vossa proposta. E já que estão a prever a igualdade de
género, podia ser uma mulher a apresentar a vossa proposta. Pena é que no vosso
governo só realmente haja uma. Realmente, uma mulher qualificada… Ah, mas
esquecemo-nos, elas não são capazes. Ah, ainda não há quotas.
[Aplausos]
Joana Barata Lopes
Muito obrigada, senhor Deputado. Para responder às
interpelações, pelo Governo Verde, tem a palavra o senhor Ministro Gonçalo
Silva.
Desde já, fiquei bastante intrigado sobre qual o momento
em que estes dois grupos de deputados chegaram à sala, porque parece que não
ouviram nada daquilo que nós dissemos.
E depois, permitam-me dizer que também fiquei intrigado
com outra coisa. Foi o facto de o Partido Cinza, aquando da nossa sondagem
sobre se concordava ou não com as medidas deste governo – porque nós somos
democráticos e gostamos de ouvir a oposição –, ter maioritariamente dito que
concordava com este governo. E eu pergunto como é que alguém que renuncia aos
seus próprios ideais em favor das diretivas partidárias vem aqui falar de um
ideal tão importante para os sociais-democratas como a própria igualdade.
[Aplausos]
Vocês, de facto, têm um problema qualquer com a
democracia.
Perguntam os senhores deputados: porque é que nós não
damos o exemplo no governo e só temos uma mulher? Pois os senhores deputados desconhecem
que 80% dos nossos Secretários de Estado são mulheres. Mas já agora sobre isso,
senhor Deputado, mais uma vez você não leu o nosso documento. É que o nosso
documento diz que para os cargos executivos, e neste caso estamos a falar de um
governo, para os cargos executivos, então aí teremos que ter cuidado e teremos
que nomear de forma mais particular, com critérios diferentes, porque são
cargos de enorme responsabilidade.
E depois falam na meritocracia. Senhores deputados, falam
na meritocracia perguntando porque é que uma mulher tem que ir necessariamente
se o homem for mais competente. Ó senhores deputados, presumir que num determinado
concurso, em dez pessoas, os cinco homens vão ter mais competência do que as
cinco mulheres, parece-me, deveras, arriscado, senhores deputados. E uma grande
desvalorização face às mulheres. E, além disso, eu acrescentaria que hoje em
dia – e aí o senhor deputado está em concordância comigo – há mais mulheres a
concluir o ensino superior do que homens.
Senhores deputados, falaram também na Constituição. Se a
Constituição funcionasse por si própria, 85% dos cargos não eram ocupados por
homens e haveria uma maior igualdade. Só 15% das mulheres é que ocupam. A
Constituição tem que ser materializada, e as medidas que nós apresentamos
contribuem nesse sentido.
[ Joana Barata
Lopes : Tem de 30 segundos, senhor Ministro.]
Concluo já, senhora Presidente. E concluo dizendo o
seguinte: se há muitas dívidas do vosso lado, saibam que do nosso lado há uma
grande certeza. É que enquanto formos governo não tomaremos medidas que
desfavoreçam alguém por ter nascido desta ou daquela maneira, por ter nascido
homem ou mulher.
Tenho dito.
[Aplausos]
Joana Barata Lopes
Muito obrigada. Vamos agora passar às votações. Quem
entende que foi o Governo, o Grupo Verde, que ganhou este debate, levante o
braço, por favor.
Muito obrigada, podem baixar.
Quem entende que foi o Grupo Cinzento, Oposição 1, que
venceu este debate, por favor levante o braço.
Muito obrigada, podem baixar.
Quem entende que foi a Oposição 2, o Grupo Azul, a vencer
este debate, por favor levante o braço.
De acordo com a nossa contagem, foi o Grupo Cinzento que
venceu este debate, sendo que a diferença para o Governo é de um voto.
[Aplausos]
Parabéns a todos.
Por fim, relativamente à matéria em questão, quem entende
que se devem fixar quotas mínimas para as mulheres na administração das
empresas, por favor levante o braço.
Quem entende que não devem ser fixadas quotas…
Resulta claro que a grande maioria é contra a fixação de
quotas mínimas.
Muito obrigada. Passo a palavra ao magnífico Reitor.
Dep.Carlos Coelho
Eu devo dizer que discordo da vossa votação, acho que o Governo
ganhou claramente o debate. Ganhou nos argumentos e ganhou na prestação
parlamentar. A argumentação mais sólida foi do Governo. Quer o David, quer o
Gonçalo, que fizeram, aliás, uma dupla espetacular, estiverem muito bem na
representação parlamentar. O David com um excelente jogo de mãos. Muito solto,
muito comunicativo, com uma elegância na malícia, quando sublinhou que ainda
bem que havia diferença entre homens e mulheres. E quer o David quer o Gonçalo
aproveitaram o tempo ao segundo. Dispuseram de um aproveitamento integral do
tempo que lhes tinha sido atribuído.
O Hugo e o Inácio, o que é que eu acho? O Hugo mostrou
uma boa retórica; gostei sobretudo da referência à incoerência e à
perversidade. O que é que eu acho que o Hugo fez de pior e o que e que eu acho
que o Inácio fez de pior.
O que o Hugo fez de pior foi o "vocês”. O "vocês” é uma
palavra proibida em linguagem parlamentar. O ministro não é você, é o senhor
ministro; o deputado não é você, é o senhor deputado. Os senhores, o vosso
partido, o vosso governo, mas nunca o vocês, e vocês foi a palavra que o Hugo
utilizou mais vezes. É um defeito de discurso que está enraizado, porque foi sobre-utilizado
e que o Hugo tem de corrigir.
O Inácio conversou com o documento. Em vez de conversar
com o governo, afundou-se no documento e, algumas das vezes, até os sorrisos
fazia para o documento. O documento não lhe vai nem responder nem devolver o
sorriso. E foi isso que correu pior, na minha opinião, nas duas oposições.
Duarte Marques
Eu concordo com o Carlos em tudo. Acho que o governo
ganhou claramente, porque quer o David, quer o Gonçalo, tiveram um à vontade
brutal a falar, sem ler, a olhar para vocês, a olhar para o tempo, muito
descontraídos.
Cometeram dois erros… eu acho que esta palavra não
existe. O David quis dizer o contrário de retrógrado e disse retrogradação, ou
assim uma coisa muito esquisita. Existe? Eu disse que não sabia se existia, mas
eu nunca ouvi. Se existe, muito bem, mas quero ir ver ao dicionário.
Por outro lado, um membro de um Governo e de uma Câmara
não pode, perante um problema, dizer eu não sei como é que isso está a
acontecer. Tens que saber. Se não sabes, vais-te informar. Mas um membro do
Governo não pode estar espantado como uma coisa, quando está em funções, tem
que saber e não pode dizer isso. Pode dizer que não tem o detalhe. Agora, não
pode fazer esse ar desesperado, que não sei como é que isto aconteceu. Já
pareces o Costa daqui a uns meses.
O Hugo foi muito esperto no início, quando começou logo a
falar, e demonstrou muita segurança, desde aquilo do "vocês”. Mas acho que correu
bastante bem. Mas, de facto, os argumentos deles ganharam porque foram muito
mais soltos, também estão de frente para o público e isso ajuda.
O Inácio, só te queria chamar a atenção de uma coisa, eu
nem ia dizer muito mais. Tu tens uma voz "do caraças”, tens bons argumentos,
falas bem, podias ter o problema do microfone, porque és muito alto. Ser alto
dá jeito para as miúdas, para jogar basquete, para os microfones não dá, porque
ficas muito longe do microfone. Mas tu, com a tua voz, nem precisas do microfone
para nada. Tu já jogaste rugby? A malta quando se põe num "mêlée” mete-se
assim. Tu podias estar num "mêlée”. É que tu nem vias os de trás nem os da
frente, afunilaste mesmo. E os teus colegas estavam-se a rir, e se fossem uns
gajos mais porreiros, tinham dado um toque para tu te chegares para trás. Eles
estavam-se a rir e esqueceram-se de te avisar. E tu foste cada vez enterrando
mais, enterrando mais. Apesar de estares a falar muito bem, parecias há bocado
o Nuno Gaspar, a falar muito bem, muito bem, mas a afocinhar em baixo. Pensa
nisso, aprendeste? A voz é boa, não precisas do micro, tranquilo, o resto
impecável.