ACTAS  
 
9/4/2016
Sessão de Encerramento da UNIV
 
Dep.Carlos Coelho

Senhor Presidente do Partido Social Democrata, senhor Presidente da JSD, meu caro Simão Ribeiro, a quem agradeço a colaboração amiga e eficaz, senhor Secretário-geral do PSD, a quem se deve a realização da Universidade de Verão em Castelo de Vide, e que hoje é credor de um abraço de parabéns, senhor Presidente da Câmara Municipal, a quem agradeço a hospitalidade, senhor Presidente da Assembleia Municipal, senhor Vice-presidente da Câmara, senhores Diretores Adjuntos, Duarte Marques e Nuno Matias, senhores Deputados Teresa Morais, Margarida Balseiro Lopes, Cristóvão Crespo, Carlos Gonçalves, senhores Administradores do Instituto Francisco Sá Carneiro, senhor Presidente do Congresso Nacional do JSD, senhor Presidente da Comissão Política do PSD, senhor Presidente da CCDR, minhas senhoras e meus senhores;

Termina hoje a Universidade de Verão 20016. Desde que há catorze anos realizámos aqui a primeira edição, temos sido fiéis a um esforço sério e reconhecido de formação de quadros apostando nos jovens. Jovens que, uma vez mais, deram provas de empenho e de rigor, de pontualidade e de trabalho. Agradeço aos dez grupos da Universidade de Verão de 2016 o entusiasmo e o esforço e as demonstrações de solidariedade de que deram eloquentes provas durante a semana.

Muito obrigado a todos.

[Aplausos]

Quero agradecer às personalidades que connosco partilharam o seu saber e experiência e com o seu prestígio e inteligência valorizaram a nossa iniciativa.

Jorge Moreira da Silva, Duarte Freitas, António Pita, Maria Luís Albuquerque, Rodrigo Moita de Deus, Jaime Gama, Carlos Pimenta, Miguel Poiares Maduro, Luís Marques Mendes, Carlos Moedas, Hugo Carvalho, Mónica Ferro, Nour Machlah, Paulo Rangel, Helena Matos, Salvador da Cunha, Filipe Botton, Miguel Pavão, Laura Vidal, Miguel Neiva, Joana Barata Lopes e Kyriakos Mitsotakis.

E ainda os que nos responderam a perguntas à distância.

Fernando Santos, Joana Carneiro, Margarida Rebelo Pinto, César Mourão e Luís Montenegro.

A todos, o nosso muito, muito obrigado.

[Aplausos]

E um último agradecimento a um conjunto especial de pessoas.

Ao Duarte Marques e ao Nuno Matias.

Aos cinco conselheiros, ao Jorge, à Juliana, ao Fausto, à Sofia e ao Rafael Neto.

Aos avaliadores, ao Esteves e à Margarida.

Ao apoio, ao Pedro, à Susana, à Filipa e ao Fábio.

À equipa do JUVE, ao Colaço, ao Júlio e ao João.

À equipa da informática e da revista de imprensa, ao Hugo e à Lorena.

À equipa da UVTV, dos audiovisuais e da logística, ao Teixeira, ao Tiago, ao Pedro, ao Marcos e ao Rafael Bento.

Um grande obrigado a esta equipa, uma equipa única, de que me orgulho de fazer parte.

[Aplausos]

Senhor Presidente do PSD, termino como iniciei a sessão de abertura.

Este é Van Niekerk, ganhou a final dos 400 metros masculinos nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. Ganhou a medalha de ouro. E bateu o record do mundo. Mas o que lhe deu mais prazer foi uma conquista pessoal. É que Van Niekerk é filho de Odessa Swarts, uma atleta sul-africana que começou a correr na escola primária. Foi campeã escolar, venceu campeonatos regionais e despontou como uma das melhores revelações do seu país, mas nunca participou nos Jogos Olímpicos devido ao regime do apartheid.

O filho desfrutou da liberdade e da fama de que a mãe foi privada.

Esta é outra atleta distinta, Samia Yusuf Omar, uma corredora somali que participou nas Olimpíadas de Pequim em 2008. Representou a Somália nos 200 metros femininos. Samia continuou a treinar e tinha o sonho de conquistar uma medalha – mas não conseguiu.

Partiu rumo à perigosa e longa jornada de muitos que tentaram fugir da guerra e da violência. Em 2012 tentou cruzar o Mediterrâneo num bote de borracha que naufragou e morreu nas águas deste mar que o Papa Francisco disse que se está a transformar no maior cemitério da Europa.

Para ela não houve liberdade.

E estas são imagens de muitas crianças a que a guerra na Síria e a violência no mundo lhes retira a infância, lhes nega o futuro, lhes aniquila a esperança. Crianças que não sabem o significado da palavra liberdade.

Vocês são livres, desfrutam da liberdade de pensar, de agir, de participar. Ou a liberdade de abstrair, de recusar, de ignorar. E o que tentamos dizer-vos, e fazer-vos sentir ao longo desta semana na Universidade de Verão, é que vale a pena dizer presente, que faz sentido reagir às injustiças, que não é saudável negar o valor da sociedade. Que não devemos renunciar a um Portugal mais desenvolvido e a um mundo mais justo e sustentável.

Conheci um jovem que muito cedo, muito cedo, disse presente. Que participou e interveio, que não se calou, mas falou sempre de forma serena e não histriónica, que apoiou causas e assumiu divergências, que propôs soluções e submeteu-se ao sufrágio democrático.

Este jovem cresceu e amadureceu. Estudou e preparou-se, e chegou a Primeiro-ministro de Portugal. Aí não se deu ao facilitismo nem à demagogia. Não foi comprar votos, nem cultivou o discurso fácil. Não se ofereceu para fazer o que não tinha condições e tirou Portugal do buraco onde outros o tinham metido.

Tenho justificado orgulho em ter estado com ele enquanto jovem, e de ele ser hoje o Presidente do meu partido.

[Aplausos]

E espero, daqui a alguns anos, poder encontrar-vos na vida política. No governo, na assembleia, nas autarquias ou na sociedade civil. Sejam médicos, juristas, cientistas, informáticos ou outra coisa qualquer, mas não calando a vossa voz, e intervindo e fazendo participação cívica ou política em nome de causas ou de valores. E na altura direi, com orgulho, que vos conheci em jovens e que juntos partilhámos uma Universidade de Verão, onde a liberdade que prezamos e afirmamos não é a liberdade de ignorar, mas é a liberdade de agir e de participar.

Muito obrigado.

[Aplausos]

 
Simão Ribeiro

Bom dia a todos.

(Desta vez, e este ano, não vos vou falar daquilo que achava que pudesse ter sido uma semana e uma noite difícil.)

Disse Emídio Guerreiro, então secretário-geral do PSD, no primeiro Congresso Nacional da Juventude Social Democrata. Passo a citar.

Jovens da JSD, tende sempre, sempre o espírito crítico. Para vós não deve haver tabus. Dentro do respeito que me mereceis, vós mesmos deveis criticar impiedosamente tudo, mas tudo quanto existe. Sim, criticar sem receio que vos chamem demolidores, porque vós sois os demolidores do mal, os construtores do futuro ideal.

Caro Reitor da Universidade de Verão, Carlos Coelho, caro Presidente do PSD, Dr. Pedro Passos Coelho, caro Secretário General do PSD, e que hoje merece um cumprimento muito especial, porque faz anos, cara Dr.ª Teresa Morais, demais deputados, dirigentes da JSD e do PSD;

Permitam-se que me dirija especialmente àqueles que foram os alunos da Universidade de Verão desse ano de 2016. A Universidade de Verão foi, como, aliás, sempre é, um excelente ponto de partida. Mas, como julgo ter tido a oportunidade de dizer a muitos de vós, ela não é sequer um fim em si mesma, e espero que nunca a encarem como tal.

Eu, particularmente, conto muito convosco, a JSD conta muito convosco, e Portugal conta muito com a vossa capacidade e com a vossa vontade de fazer e de ter intervenção cívica e política amanhã.

E neste dia, em que eu espero que se inicie efetivamente uma nova fase na vossa vida, em que tenho a certeza que olharão para as coisas de uma forma completamente diferente daquela que faziam há uma semana atrás, eu vou pedir antecipadamente desculpa pela atitude arrogante de correr o risco de vos dar alguns conselhos.

Bem sei, como diz um famoso vídeo motivacional de que eu gosto particularmente, que dar um conselho não passa ou não vai muito mais além do que repescar algumas experiências, reciclá-las, e depois tentar vendê-las a um amigo por um preço superior àquilo que realmente vale. Mas, ainda assim, arriscarei àqueles que são os melhores quadros, à seleção nacional desta Universidade de Verão, àqueles de quem eu espero muito no futuro político nacional, a deixar alguns conselhos daquilo que foram as minhas experiências, que hoje aqui faço em tom de reciclagem.

Como dizia Emídio Guerreiro, sejam sempre, sempre críticos, sejam tenazes, sem medo absolutamente de nada, a não ser da vossa própria consciência. Sem medo dos outros, sem medo da opinião alheia, sem medo da crítica e sem medo de oposições fáceis.

Sem medo – perdoe-me, senhor Presidente – daquilo que possa pensar o nosso partido de cada um de vós. Sem medo, aliás, do que eu próprio possa pensar.

Sejam sociais-democratas, e defendam sempre um Estado presente, garantístico e impulsionador de igualdades de oportunidade, à partida.

Oponham-se ferozmente a totalitarismos de qualquer espécie e sejam sempre, sempre incómodos.

Exijam coerência, lealdade e seriedade aos vossos pares. E, ao contrário do que alguém me disse esta semana, perdoem-se a inconfidência, façam amigos na política, porque na política também há espaço para fazer amigos. Aliás, arrisco a dizer, divirtam-se a fazer política. Mas sejam sempre livres e independentes, pessoal e profissionalmente, dessa mesma política.

Sejam acérrimos defensores daquilo em que acreditam, e nunca pessoalizem demais as disputas, transformando-as muitas vezes em ódios. E digo-vos, acreditem, não vale a pena.

Valorizem sempre os elogios que vos dão genuinamente, mas nunca se deixem embebedar por eles. E ignorem aquelas palavras más e destrutivas que, tantas vezes, nos fazem querer desistir. E no dia em que isso acontecer, façam-me um favor: ajudem-me a perceber como é que se faz.

Não percam o pragmatismo nunca e pensem fora da caixa. Tenham a nossa ideologia sempre presente. Sejam justos, mas não sejam anjinhos na política. E digam não, não ao amiguismo.

Sejam humildes, mas não o sejam em demasia. E nunca, mas mesmo nunca, deixem que vos digam que vocês são novos demais. E no dia em que isso acontecer – sim, porque vai acontecer – agradeçam o elogio e não se chateiem, não passa de inveja, acreditem.

[Aplausos]

Deem a cara, e sempre a cara, defendendo os vossos pares. Mas não se enganem, eles não têm sempre, sempre razão em tudo. Duvidem sempre daqueles que vos oferecem ascensões meteóricas na política e valorizem aqueles que trabalham ao vosso lado, de forma solidária e sem pedir nada em troca.

Estejam disponíveis para a causa cívica e política. E meus amigos, e minhas amigas, perdoem-se a frontalidade, muito, mas mesmo muito cuidado com os ídolos que escolhem na vida política.

Sejam fugazes, assertivos, façam política sempre como se fosse a última coisa que farão na vida e acordem quase como se fosse de propósito para fazerem política e intervenção cívica.

Mas no dia em que tudo isto que acabei de dizer deixe de fazer sentido dentro de cada um de vocês, no dia em que todas estas palavras sejam desprovidas de sentido e ocas, cá dentro, em cada um de vocês, eu vou-vos dizer uma coisa: façam um favor a Portugal e abandonem, saiam da política.

Vocês podem ser muita coisa, nessa altura. Excelentes médicos, excelentes advogados, excelentes economistas, quiçá, com algum talento e alguma sorte, pasmem-se, até, se calhar, razoáveis políticos.

Mas uma coisa eu vos sei dizer de experiência própria. No dia em que perderem esse entusiamo, esse querer, essa vontade, esse frio no estômago que nos faz levantar, quando vimos para a política e para a JSD, vocês são muita coisa, mas da JSD é que já não são.

[Aplausos]

Minhas amigas e meus amigos, perdoem-me a arrogância, nesse dia, cada um de nós, está cá a mais. Estamos cá a mais da mesma forma que considero, desculpem a frontalidade, que o primeiro-ministro António Costa está a mais na política portuguesa. Eu não perderei aqui tempo, nem sequer uma vírgula, a tentar falar sobre a forma como António Costa chegou à liderança do Partido Socialista, e muito menos a Primeiro-ministro de Portugal. Mas sim sobre a forma como António Costa exerce o poder político no dia-a-dia e, sobretudo, a favor de quem é que exerce esse poder político.

Os jovens portugueses têm o direito de saber qual a agenda governativa do nosso país. Os jovens têm o direito de saber que este governo não pensa em vocês quando governa, mas pensa sempre, e apenas, num conjunto de organizações que garantem a sua sobrevivência política. A pensar no Bloco de Esquerda, a pensar no Partido Comunista Português, a pensar em como é que há de alimentar todo um conjunto de clientelas e máquinas sindicais corporativas, defensoras de interesses instalados, e que prejudicam – salvo raras exceções, como é evidente – a construção de um Portugal mais aberto, mais justo, mais transparente e mais amigo dos jovens.

Senhor Presidente do PSD, senhor Reitor da Universidade de Verão, senhor Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, minhas amigas e meus amigos, eu não tenho qualquer problema em afirmar diretamente: António Costa está a mais na política portuguesa.

Mas não é só António Costa que está a mais na política portuguesa. É mesmo todo o governo que está a mais. Está a mais o Ministro da Educação, por exemplo, quando, ainda estes dias, tive a oportunidade de observar que este governo vinculou apenas cerca de cem professores à função pública, quando o governo liderado por aquele homem que ali está sentado, em dois anos, vinculou à função pública mais de quatro mil docentes no nosso país.

E, afinal, pergunto eu, eramos nós, ou é o Partido Socialista, que põe os professores a trabalhar no regime de precariedade, desrespeitando aquilo que é uma das classes mais importantes do nosso país e que tantas gerações formaram.

[Aplausos]

Relembrando uma frase antiga – e perdoem-me a brincadeira – será esta a boa moeda?

E, meus amigos, perdoem-me que vos diga, está a mais também o senhor Ministro do Trabalho. Após ter sido tornado público o escândalo que está a acontecer com os estágios profissionais, o senhor ministro e o presidente ou diretor do IEFP, lavaram as mãos como Pilatos. E um governo que não defende a parte mais fraca da equação na nossa sociedade só poder ser um governo que está a mais.

Nós não podemos ter alguns maus exemplos, por poucos que sejam, no nosso país, de empresas que exploram os jovens portugueses e, ainda por cima, o façam com o alto patrocínio do Estado e com uma enorme conivência do nosso governo.

Minhas amigas e meus amigos, está a mais também o senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Prometeu que as universidades e politécnicos não seriam prejudicados com esta agenda de esquerda. Pois bem, ainda estão em falta cerca de cinquenta milhões de euros para o regular funcionamento das instituições de ensino superior no nosso país, neste momento.

Onde está o prometido reforço ao apoio aos estudantes do ensino superior, pergunto eu. Onde está a tão prometida reorganização da rede do ensino superior? Onde está a tão aguardada estratégia para uma economia baseada na ciência, na inovação, na tecnologia e no conhecimento?

Perdoem-me que vos diga, na minha opinião, está na mesma gaveta funda onde António Costa enfiou a ideologia socialista do seu partido, como um partido de centro, moderado, europeísta e transatlântico.

[Aplausos]

Mas atenção, está também a mais o senhor Ministro do Ambiente, o senhor ministro que tutela o programa Porta 65.

Depois de vermos durante quatro anos inteiros, de uma forma exaustiva, o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português, a criticarem uma eventual falta de reforço de meios para um programa tão importante para a emancipação dos jovens em Portugal, pasmem-se que nos últimos tempos cortaram cerca de dois milhões ao programa Porta 65. E eu agora pergunto onde está a Catarina Martins e Jerónimo de Sousa quando o Partido Socialista corta verbas a um programa tão importante como o Porta 65.

Pergunto eu: é esta a justiça social e a agenda da esquerda portuguesa?

É este o tão aclamado tempo novo da esquerda portuguesa. Dar o dito por não dito, satisfazer agendas sindicais, e empurrar com a barriga para a frente a concretização de medidas essenciais aos jovens portugueses.

E por isso vos digo que, na minha opinião, a única linha política deste governo é a sobrevivência. A única coisa que o Primeiro-ministro deseja é poder chegar ao fim do dia, olhar-se a si mesmo ao espelho, e dizer: bolas, consegui, mais um dia em que ainda sou Primeiro-ministro.

[Aplausos]

Este é o conceito de justiça social da esquerda portuguesa.

E permitam-me que termine de uma forma diferente. Permitam-se que termine com um pequena derivação, e sublinho, uma pequena derivação, de um poema de António Aleixo.

Vós, que lá do vosso império, prometeis o tempo novo, calai-vos, que pode o povo querer um tempo novo a sério.

Muito obrigado.

Viva a JSD, viva Castelo de Vide e viva Portugal.

[Aplausos]
 
Dr.Pedro Passos Coelho

Bons dias a todos. Chegou a minha vez de proceder ao encerramento desta sessão da Universidade de Verão da JSD, que ao longo de toda esta semana marcou mais uma geração de quadros políticos, ou que pelo menos tem a possibilidade de ser quadros políticos no seio da JSD e no seio do PSD.

Cumprimento, já o fiz ontem, mas quero fazer hoje de uma forma solene ao reitor desta universidade, o deputado Carlos Coelho, com toda a sua equipa tão profissional por esta edição da Universidade de Verão. E também por todas as edições que precedendo, foram ao longo destes anos, proporcionando uma escolha mais informada e ao mesmo tempo mais formada para todos aqueles que querem olhar para a ação política e dedicar o melhor de si próprios a defender aquilo que na política, naquilo que ela tem de mais nobre, na sua missão, pode representar para o futuro: Conseguir um mundo de maior prosperidade, conceder que a liberdade não é algo que devemos condescender, é um direito que devemos muitas vezes conquistar e fazer por merecer em todos os dias da nossa participação cívica, cultural, económica e política.

Essa talvez seja a melhor forma de começar esta minha intervenção. Já antes de mim foram feitas várias observações muito importantes e pertinentes sobre o que é a política, o que nos move e porque é que aqui estamos.

Creio que cada um de vós não terá muita dificuldade em responder à questão. Nós estamos na política da mesma forma que os médicos estão na medicina, os enfermeiros na enfermagem, os engenheiros na engenharia e por aí fora. Procuramos dar com o nosso contributo tudo o que está ao nosso alcance para melhorar a felicidade, o bem-estar, a prosperidade - não apenas individual, quando pensada de forma mais egoísta, mas coletiva quando olhamos para a sociedade em geral.

Muitas vezes, as escolhas que temos de fazer são conflituantes; muitas vezes, aquilo que pode parecer, ou mesmo ser, (e por vezes no curto prazo) melhor do ponto de vista pessoal, individual, egoísta, nem sempre é aquilo que interessa à maior parte das pessoas, ao interesse geral e à coletividade.

Na política, para quem está na ação partidária, mas também para quem como ser humano participa civicamente na sociedade, muitas vezes é-se chamado para arbitrar este conflito. A que dar mais prioridade? Àquilo que nos interessa no imediato a cada um de nós, ou àquilo que do nosso ponto de vista pode ser mais justo e mais importante para a generalidade das pessoas?

Julgo que ambas as decisões são compreensíveis, mas aquelas que aprendemos a valorizar mais são as que são menos egoístas e as que são mais solidárias. Aquelas que estão em primeira linha orientadas para a preocupação com o bem geral, com a coletividade, com aquilo que são os objetivos de uma nação, de um país, de uma sociedade.

É por isso que se exige dos políticos que saibam fazer essa destrinça, que declarem os conflitos de interesses que tenham, para que percebamos bem se eles procuram na sua retórica melhorar apenas a sua situação individual ou dos seus, ou se realmente estão interessados, de uma forma transparente, em melhorar a posição de todos os outros.

Os bons profissionais em cada ramo de atividade, como os bons políticos - creio eu e pelo menos é a essa a orientação que tenho para mim próprio - são aqueles que se preocupam primordialmente com os outros. Preocupando-se com eles, não se preocupam apenas com a satisfação das necessidades imediatas mas sobretudo com o horizonte do futuro.

Numa universidade com esta característica tão particular, que é a de ser constituída no essencial pela maior esperança que uma sociedade pode ter, que são os jovens, nada me parece mais apropriado do que dizer: são os jovens que, em primeira instância, não podem nunca abdicar de questionar o poder, a sociedade e tudo o que pode relacionar-se com a sua perspetiva de longo-prazo.

Porque não há longo-prazo sem juventude e não há, do ponto de vista coletivo, um futuro para a nossa sociedade, se só o curto-prazo, o imediatismo, o dia presente, orientarem as nossas decisões.

Quando na política, que tem uma importância extraordinária no que se passa nas nossas sociedades, nos preocupamos sucessivamente com o dia-a-dia, mesmo que pelas melhores razões, perdemos a oportunidade de fazer aquilo que é importante para um horizonte de futuro.

Vivemos, hoje, um mundo extremamente exigente. Nesse mundo, as sociedades, os países, que não fazem as reformas necessárias no tempo em que elas devem ser feitas, pagam sempre um preço muito elevado no médio e no longo-prazo.

A minha preocupação - e estou certo que também é a vossa preocupação - é que nós não fiquemos para trás enquanto país, não estejamos a perder as oportunidades de fazer aquilo que é preciso, a pensar justamente no futuro e não apenas em melhorar um bocadinho a situação presente.

Quando no passado, se procurou melhorar a situação presente sem atender às consequências que isso poderia implicar para futuro, o futuro revelou-se bastante mais difícil, a exigir muitos sacrifícios e a retirar ao dia-a-dia de cada um, um horizonte de maior felicidade como era de seu direito que não acontecesse.

Estamos a viver um tempo em que as oportunidades de construir uma sociedade ainda mais próspera do que aquela que herdámos, está de certa maneira em jogo.

Nós sabemos que vivemos num país que apesar de tudo se insere entre sociedades e economias que são consideradas avançadas. Quase a terminar a sua intervenção o Carlos Coelho projetou várias imagens que dão conta de situação dramáticas que envolveram jovens e, portanto, o futuro dos respetivos países, mostrando como vivemos em sociedades diferentes e como o mundo apesar da globalização continua a ser particularmente injusto e cruel para muitos jovens, muitas crianças, muito adultos e muitos idosos.

Reconhecendo, no entanto, que o mundo viu nos últimos anos em várias partes do globo superar muitas destas situações, não nos podemos conformar, apenas porque somos portugueses e isso não se passa entre nós, com o drama da guerra da Síria, com os problemas graves que afetam uma parte significativa do continente africano ainda hoje, e com o que hoje se passa em muitos países do Oriente que não evoluíram tanto quanto outros que viram salvar milhões e milhões de vidas de uma morte, ou de um destino que ninguém desejaria para si próprio ou para os seus.

A nossa solidariedade, o nosso ativismo, em defesa da melhoria destas condições globais, deve ser importante.

Mas não nos devemos esquecer, apesar de tudo, o caminho que já fizemos e a sociedade que somos. Somos uma das sociedades mais evoluídas do planeta, temos um rendimento por pessoa muito acima daquele que a grande maioria das pessoas no mundo dispõem. No entanto, temos noção que isso não é suficiente para assegurar a felicidade e o bem-estar a que julgamos ter direito.

Digo isto, portanto, para dizer que se por vezes nos parece extremamente relativo a forma como comparamos os desenvolvimentos obtidos em cada sociedade e os resultados que são alcançados em cada economia, isso não é uma desculpa para não ambicionarmos fazer melhor, e ir além com as condições de que dispomos.

Temos um Serviço Nacional de Saúde e um sistema de educação, que são a par da Segurança Social e do Seguro Social, dos mais avançados do mundo. Não digo que são o mais avançado, mas é dos mais avançados do mundo. No entanto, somos das sociedades com maiores desigualdades sociais e económicas.

[APLAUSOS]

Pergunta-se: como é isto possível? Então se somos uma nação tão desenvolvida e evoluída, como é possível que exista, quando comparados com outros países, níveis de desigualdades que outros não têm?

Nós precisamos hoje de questionar muitas das políticas que executámos ao longo de muitos anos.

Não para as deitar abaixo, porque como digo, nós vivemos numa sociedade desenvolvida, mas porque podemos e devemos ter uma sociedade bastante mais justa, ainda mais próspera, em que as desigualdades que são geradas às vezes pelos próprios processos de crescimento possam ser atenuadas e que seja conferido a cada um, uma oportunidade de escolha que não deixe ninguém para trás e nos permita a cada um escolher o que é melhor para o seu futuro.

[APLAUSOS]

É isso que desejamos na política. Queremos, portanto, reafirmar que o primado da política é sempre a pessoa e a sua dignidade.

Devemos encará-la com respeito e oferecer a todos os cidadãos a garantia de que não estamos apenas a cumprir calendário e a fazer o que é possível, estamos todos os dias a pensar no futuro da nossa sociedade e em como não podemos desperdiçar as oportunidades para fazermos muito melhor do que fizemos. Aprendendo com os erros do passado e acrescentando horizonte para futuro.

Quando, como sociedade, nos descuidámos - volto a dizê-lo -, pagámos um preço elevado. Não queremos voltar a pagar esse preço e é por isso, com a experiência de já ter sido Primeiro-Ministro em circunstâncias particularmente adversas - para não dizer as mais adversas de que temos memória pelo menos desde 1974 -, que por vezes chamo à atenção para riscos que estão a ser tomados e que não deviam estar a ser incorridos.

Quando chamo a atenção para esses riscos é porque os resultados que vamos observando nos inspiram preocupação.

Nós - como já referi -, não queremos ser cúmplices de uma situação em que o país tenha de passar por novos sacrifícios apenas para satisfazer a ideia de subsistência, sobrevivência, política ou partidária, seja de quem for.

[APLAUSOS]

Chamo à atenção, portanto, para que não se venha a dar o caso que já ocorreu no passado, de aqueles que nunca quiseram na sua autossuficiência reconhecer os erros que estão a cometer, repelindo as críticas e chamadas de atenção, queiram depois responsabilizar aqueles que tiveram a coragem de chamar a atenção para os erros para serem coautores das decisões que se impõem na altura de compor o que foi descomposto.

[APLAUSOS]

Não venham, no futuro, aqueles que hoje tomam as decisões vir a responsabilizar pelos resultados os que chamaram a atenção para os erros que estavam a ser cometidos.

Espero que quem hoje tem a responsabilidade de governar, governe a pensar no futuro. Mas governar a pensar no futuro é - como disse há pouco - empreender reformas que permitam que o nosso futuro possa realmente corrigir desigualdades e oferecer a cada um dos portugueses a possibilidade de escolher melhor a sua vida, o seu modelo de felicidade, aquilo que representa a sua forma de realização nesta vida.

Está este governo e a maioria que hoje nos governa, a empreender essas reformas? Não creio. Creio, antes pelo contrário, que esta solução de governo está esgotada.

É uma solução que se concentra no curto-prazo, no imobilismo, em que manifestamente a dificuldade de encontrar entendimentos entre a maioria para suportar as reformas que devem ser feitas, ocasiona um status quo que não acrescenta futuro e, pelo contrário, nos empurra para o passado.

Ora, é muito importante que o governe arrepie caminho. Se queremos ter um futuro melhor precisamos de atender a problemas importantes que ainda temos de resolver. Não vale a pena vir com o espantalho da austeridade. A austeridade foi iniciada pelos socialistas em 2010. Façam o favor - hoje com Internet isso é fácil – de fazerem uma pequena busca sobre o que se passou entre o verão e o outono de 2010. Consultem os jornais da época, as notícias da época e vejam os cortes de benefícios, de salários, os aumentos de impostos, a perda de prestações sociais, vejam uma panóplia imensa de medidas que foram tomadas por um governo socialista para fazer face ao descalabro da situação económica e financeira.

Nós fizemos um esforço tremendo nestes anos para evitar que esse tipo de reação tivesse de se repetir. Deixemos, portanto, o espantalho da austeridade que foi trazida pelos socialistas e que nós tivemos de cumprir também, quando estivemos no governo, para voltar a dar sustentabilidade às nossas contas públicas.

O que importa é o que precisamos de fazer para crescer mais no futuro e para que esse crescimento esteja à disposição da generalidade dos portugueses. É isso que interessa.

De que é que precisamos? De leis que estejam hoje mais voltadas para proteger os direitos adquiridos, ou de leis que estejam mais orientadas para responder às necessidades de quem ainda não entrou no sistema, de quem ainda não beneficiou dos privilégios que foram distribuídos no passado?

Se queremos ter futuro, temos de perguntar a cada um dos instalados de hoje: quer pensar no seu dia-a-dia, ou quer pensar no futuro dos seus filhos e dos seus netos?

[APLAUSOS]

Eu julgo que quando esta questão é colocada de forma adequada a generalidade dos portugueses responde de uma forma expectável. Diz sempre: sim, eu pessoalmente estou disponível para sacrificar alguma coisa dos meus direitos, do que tenho hoje, para acrescentar aos meus filhos ou aos meus netos. Porque essa é a condição normal de pessoas normais e de seres normais. Porém, pela primeira vez, também em Portugal, estamos a passar pela perspetiva de as novas gerações poderem ter menos de herança do que aquilo que a geração precedente teve; de um filho ficar aquém do seu pai em nível de bem-estar, de realização profissional, de escolhas livres que possa fazer.

Quando é assim, quando os nossos filhos não podem na prática, com realismo, ambicionar ter mais do que aquilo que nós conseguimos alcançar, isso não nos deixa tranquilos, pelo contrário. Aquilo que queremos ver é o que é ainda vamos a tempo de fazer para inverter essa perspetiva de futuro. O que é que ainda podemos fazer, no nosso tempo, para evitar que os nossos filhos estejam condenados a receber menos, ou a esperar menos do futuro, do que nós conseguimos alcançar.

O que precisamos de fazer, portanto, para sermos essa sociedade que acrescenta, ao contrário de diminuir, para o futuro? Precisamos de olhar para as nossas condições objetivas, para a realidade e atuar em função dela.

O PSD foi sempre um partido realista. Não nos interessa fazer demagogia barata. O que é que interessa se formos chamados a executar essas ideias e tivermos de fazer como os outros que andaram a dizer que acabou a austeridade, mas agora não têm dinheiro para pagar aos fornecedores da saúde, às associações e fundações da cultura?

[APLAUSOS]

De que é que isso interessa? Que prazer podemos ter em engolir o que dissemos antes? Não temos nenhum interesse em ajudar a cavar mais fundo nesse buraco imenso de descrédito em que muitas vezes se coloca a política e os políticos como se fosse tudo igual. Não temos nenhum interesse nisso.

Temos interesse, mesmo na oposição, em dizer alguma coisa que possamos concretizar chegando ao governo. Então, quando olhamos para aquilo que é preciso fazer temos de atender às nossas condições e, portanto, temos de se r realistas naquilo que apresentamos aos portugueses.

Para se ser realista tem de se partir, portanto, do que é observado. O Partido Socialista, há pouco mais de um ano, disse acerca da economia portuguesa - porque eles sabiam, tinham evidentemente esse segredo - que sabiam como pô-la a crescer muito mais, tinham uma estratégia para esse efeito, iam repor os rendimentos mais depressa do que nós estávamos a fazer e isso iria impulsionar o consumo interno. E esse consumo interno iria fazer a economia mexer mais, as empresas iriam produzir mais, todos ficaríamos a ganhar. Mas os resultados não mostram isso, pelo contrário.

Apesar de o governo estar realmente a devolver rendimentos a um ritmo acelerado, afinal o consumo não está a crescer o que se esperava, mas pelo contrário, o investimento está a cair a pique.

Lembram-se dos socialistas nos acusarem de estarmos a pôr em causa o futuro porque não tínhamos despesa de investimento público, que promove o crescimento no longo-prazo. Pois bem, eles gastam ainda menos em despesa de investimento. Essa tem sido mesmo a principal variável de ajustamento orçamental; imaginem, os socialistas preocupados com ajustamento orçamental e não deixam gastar dinheiro nem nas infraestruturas de Portugal, nem em outras empresas públicas!

[APLAUSOS]

Não lhes transferem o dinheiro que nós lhes transferíamos porque não têm. Porque não têm! Resultado: a economia está a crescer muito menos do que no ano passado e estamos a regressar ao ritmo de 2014, o que não é bom, porque esse foi o primeiro ano em que começámos a crescer anualmente depois da crise. Portanto, andar em direção a 2014 não é um bom indicador.

Se no final deste ano, as coisas estiverem de acordo com os resultados que observamos hoje, a economia também não poderá crescer muito mais.

Qual será então a boa estratégia? Creio que aquela que já tinha mostrado que funcionava. Porque nós, em 2014, crescemos 0,9%, em 2015 crescemos 1,5% e era nosso propósito que em 2016 continuássemos o caminho reformista que estávamos a prosseguir e conseguíssemos reforçar a confiança que pudesse atrair o investimento que traria novos empregos, novas empresas e, portanto, mais rendimento produtivo.

Os socialistas não o conseguem atrair e eu percebo. É muito difícil aos investidores privados arriscarem o seu investimento numa economia e num país que é governado por ideias comunistas, bloquistas, que são antimercado.

Como dizer aos agentes de mercado, confiem em quem desconfia de vós? É muito difícil e é por isso que esta solução está condenada ao fiasco e ao fracasso. Porquê? Porque não tem capacidade reformadora. Se tiverem de reformar alguma coisa desentendem-se todos, não há apoio para o fazer; só há apoio para desfazer as reformas que nós fizemos no passado e andar para trás, portanto, e para gerir o dia-a-dia.

Até podem cá estar quatro anos, mas não conseguirão com isso gerar um grama de expectativa positiva sobre o futuro.

[APLAUSOS]

Nós precisamos, portanto, de fazer as reformas que são conhecidas. As que fizemos tinham de ser reavaliadas e uma nova fornada deveria estar a caminho. Reformas a pensar na saúde, na educação e na Segurança Social e no sistema de pensões. Reformas nas pensões, que permitissem que as pessoas adquirissem confiança no Estado social.

Para não acontecer o que ocorreu no passado, com pensões cortadas, menos rendimentos, em quem já não tem possibilidades de obter outras fontes de rendimento.

Na educação, reformas orientadas para um ensino exigente, qualificado - sem qualificação e sem exigência, ninguém está verdadeiramente preparado para fazer melhor e competir num mundo global. O mesmo na saúde, pagando a horas e tendo a certeza que de acordo com os nossos recursos não faltam recursos na saúde para que todos possam ser atendidos no serviço público. Ou se isso não for possível, noutros serviços, noutras ofertas, nomeadamente da economia social por exemplo, protocoladas pelo Estado, de acordo com as escolhas que as próprias pessoas possam fazer pelos melhores serviços que pudessem obter.

Queremos, portanto, um Estado social que funcione melhor para todos e não que acumule dívidas e desculpas de mau pagador.

Mas queremos também, que a nossa economia possa gerar emprego sustentável. Não o emprego que se está a ver agora. Parte do emprego novo que é gerado é positivo e é importante que esteja a ser gerado mais emprego do que aquilo que era previsto, mas depois não nos pode escapar que uma parte significativo desse emprego é não-remunerado.

Imaginem o que dizia o Bloco de Esquerda sobre o voluntariado nas associações sem fins lucrativos, nas instituições de solidariedade social, que na altura apelidavam de subemprego, desemprego encapotado, e agora o que é o emprego não-remunerado?

[APLAUSOS]

Para ter essa economia, precisamos portanto de mostrar que Portugal não está fechado sobre si próprio, olha para o exterior, olha para o que de melhor se faz em qualquer parte do mundo e pretende, nas nossas condições, que empreendedores e investidores possam olhar para Portugal como um mundo de oportunidades.

Não a olhar para o nosso mercado interno, porque ele é muito pequenino e somos poucos a consumir em Portugal. Ninguém irá investir com certeza em Portugal a pensar estritamente no nosso mercado, mas a pensar naquilo que a partir de Portugal se pode fazer para todo o mundo, para que as nossas exportações possam voltar a crescer e não a diminuir como já aconteceu com o novo governo.

Para que a nossa balança comercial possa continuar a melhorar. Quanto mais dinheiro puder entrar em Portugal pelos bens e serviços que produzimos e prestamos, mais emprego e mais rendimento ficará para os portugueses.

[APLAUSOS]

E se olharmos para o mundo, as nossas possibilidades são quase ilimitadas. Porquê olhar para o pequeno mundo do nosso pequeno mercado?

Mas para isso não podemos ser protecionistas, não podemos andar a discriminar os investidores. Para isso, não podemos dividi-los entre filhos e enteados. Para isso, temos de agir com transparência. Para isso, no Estado temos de distinguir muito bem o que é o comportamento orientado pelo interesse geral daquilo que é o comportamento a pensar naqueles que nos são mais próximos. Tudo diferente do que se está a passar.

Dirão assim: bom, mas realmente está ao nosso alcance ter esse país mais moderno, mais aberto, em que os nossos impostos sejam bem aplicados nos setores sociais, em que cada um possa escolher melhor em função das oportunidades, porque a igualdade de oportunidades à partida será melhor realizada? Se Portugal é um bom destino para atrair investimento estrangeiro, para atrair empreendedores do outras partes do mundo, como se verificou com a Web Summit que foi transferida da Irlanda para Portugal ainda eu era Primeiro-Ministro de Portugal, se é assim, porque é que este governo não faz? Estará mal intencionado?

Deixem-me usar a expressão que há pouco foi utilizada pelo Presidente da JSD: "Não se trata disso”. Não fazemos acusações dessa natureza aos nossos concorrentes ou aos nossos adversários. Não lhes fazemos ataques pessoais, não dizemos que eles são mal-intencionados, que querem o mal seja para quem for. É verdade que às vezes parece que poderia ser justo que eles provassem do seu próprio veneno, porque muitas vezes eles fizeram-nos isso no passado.

Fizeram-nos acusações de natureza pessoal, que não deveriam estar - é verdade, caro Presidente da JSD - no debate político. Nós não replicamos essa retórica, mas queremos dizer que "de boas intenções está o inferno cheio”. Não são apenas as boas intenções que contam, eu prefiro alguém bem-intencionado do que a alguém mal-intencionado, com certeza e no meu secreto julgamento para mim próprio tendo-me a aproximar-me mais daqueles que julgo estarem bem-intencionados, do que relativamente a outros sobre os quais eu possa ter dúvidas. Mas a questão não é essa, não basta ser bem-intencionado, é preciso pôr em prática alguma coisa que esteja em acordo com esse conjunto de valores que defendemos e é aqui que nos distinguimos.

Muitos têm proclamado realidades que não existem. Esses sim, vivem em mundos ilusórios e nessa medida as ilusões que semeiam, não tendo sustentabilidade na realidade, só semeiam o fiasco e o fracasso.

O que nós queremos é realmente sermos bem-sucedidos como já estávamos a ser no passado. Isso está ao nosso alcance se soubermos tirar partido de boas oportunidades daquilo que é a nossa inserção no espaço europeu e daquilo que são as oportunidades que o mundo global nos oferece.

Deixem-me dizer uma última coisa sobre o espaço europeu que partilhamos. Durante a Universidade de Verão, li nas notícias, que foi aqui dito que há um risco de recrudescimento do populismo, da demagogia, do radicalismo de direita e de esquerda à medida que o projeto europeu para muitos cidadãos europeus se distancia daquilo que era o seu objetivo.

É verdade, hoje a Europa cresce menos do que devia. Tal como Portugal, está a ficar mais velha, com menos jovens do que devia ter, com menos dinamismo do que aquele que é necessário para sustentar o nosso Estado social, a nossa realização social. E a crise dos últimos anos fragmentou mais a Europa.

Para quem olha para o futuro e gostaria de ter uma Europa mais coesa como nós gostaríamos, não pode deixar de ficar preocupado por ver que certos nacionalismos estão novamente a enraizar-se e a tomar voz. E no centro moderado começam a aparecer políticos que, em desespero, com medo do que esses radicalismos de esquerda ou de direita possam promover, substituem o seu discurso moderado, realista, por outro mais radical, com medo de deixar a demagogia e o radicalismo triunfarem à sua esquerda ou à sua direita.

Julgo que no PSD essas tentações não existem. Temo-las observado noutros partidos. Em Portugal, em Espanha, em Itália, em vários outros países europeus aparecem pessoas que tradicionalmente considerávamos moderadas a dizer coisas que estamos mais habituados a ouvir em personalidades mais extremistas e radicais.

Fazem-no - como eu dizia - para evitar o crescimento do radicalismo, mas quem diz aquilo em que não acredita, por conveniência tática, quem se quer apresentar como não é para impedir o radicalismo, acaba sempre por morrer às mãos do radicalismo e da demagogia.

[APLAUSOS]

Nós, hoje, vivemos tempos desafiantes na Europa. A Europa não será a mesma depois do Reino Unido sair, não terá a mesma importância política, não terá a mesma capacidade para se defender. E a defesa, mesmo a defesa militar, é importante na Europa que tem visto ameaças reais. Algumas delas bem à sua porta. Já aconteceu no séc. XX algumas vezes, não gostaríamos que isso voltasse a acontecer.

A União Europeia sem o Reino Unido vale menos. Há quem esteja só preocupado com o impacto económico. Eu também estou preocupado com o impacto político. Seremos mais fracos, teremos mais dificuldades em defendermo-nos, ficará registado pela primeira vez que alguém quer sair de um processo em que até aqui todos queriam entrar. Se estes querem sair, outros quererão sair também.

O que está a correr mal? O que podemos fazer de diferente? Normalmente, aparecem duas visões, quase antagónicas. Uma mais radical: devemos sair também, já ninguém acredita na Europa, ela não tem salvação, é a fonte do nosso mal e se hoje estamos mal é porque a Europa não nos deixa estar bem. Não é verdade !

Para aqueles que tinham dúvidas sobre o mal que é estar no Euro e na União Europeia, vejam o que se passou na Grécia e com o Primeiro-Ministro Tsipras. Quando faltou o dinheiro na caixa multibanco, Tsipras assinou o terceiro resgate, porque sabia que saindo da Europa e do Euro, o que esperava aos gregos e à Grécia era o caos, a anarquia e o desastre. Nem Tsipras desejava, evidentemente, gerir o caos, a anarquia e o desastre.

Se a Grécia não saiu do Euro e da União Europeia por essa razão, pela mão de uma força política como o Syriza, então eu creio que não vale a pena estarmos a perder mais tempo sobre esse radicalismo que é pensar que a Europa é fonte de todos os problemas. Quando a Europa tem sido, ao longo de todos estes anos, um projeto de paz e prosperidade que pode ser melhor aproveitado, mas que não é a fonte do nosso mal.

[APLAUSOS]

Não podemos fazer aqui nenhuma concessão. Mas depois, no outro extremo, aparecem aqueles que dizem que a Europa só tem futuro se for uma federação, se tiver um governo europeu, um orçamento europeu e evidentemente se os países ricos pagarem as dívidas dos países pobres, porque sem essa situação que se chama de mutualização pública, não conseguiremos sobreviver.

Não acredito nesta visão maximalista. Disse-o no congresso do PSD neste ano e reafirmo-o hoje: a Europa pode melhorar dentro de um quadro de reforço de responsabilidades nacionais e dentro de uma partilha solidária e, em particular, na zona Euro, de responsabilidades europeias.

Nós precisamos que a União Bancária seja uma realidade mais depressa e uma realidade mais verdadeira. Não está a ser. Nós precisávamos de ter uma verdadeira união de mercados financeiros. Para quê? Para que os investidores pudessem investir em qualquer país independentemente da geografia.

Que não fossem penalizados pela geografia: "porque tu és da Europa do Sul”, ou "porque tu és da Europa do Norte”. Lamento muito que ainda existam responsáveis políticos e até personalidades que chefiam governos que vejam a Europa dessa maneira: "a Europa do Sul tem de se organizar para bater o pé à Europa do Norte”. Não é fazendo estas divisões que a Europa vai progredir.

[APLAUSOS]

Nós precisamos que a Europa seja realmente para as empresas, para os trabalhadores, aquilo que é para os estudantes que sabem que podem circular nas universidades europeias, fazendo Erasmus. Assim nós queríamos que fosse com os profissionais. Assim queríamos que fosse na área da energia, assim queríamos que fosse na área do digital, na área das comunicações. Porque é que havemos de nos estar a fragmentar a voltarmos as costas uns para os outros, quando podemos em conjunto viver melhor, prosperar mais?

Mas nada substitui a responsabilidade de cada Estado. Portugal não tem de se dissolver na Europa, para ter futuro e para a Europa ser bem-sucedida. Pelo contrário, a Europa será tão mais bem-sucedida quando cada país souber ser responsável, souber fazer as reformas que precisa e não andar sempre com desculpas de mau pagador e não andar demagogicamente a sacudir a água do capote.

[APLAUSOS]

Cada um de nós, sobretudo os que partilham a mesma moeda, viveriam melhor se estas instituições que são comuns funcionassem melhor a pensar realmente não nos portugueses, nos espanhóis, nos italianos, mas em todos nós. A solução para a Europa, portanto, não é o caos da desorganização de um lado, ou a imposição não-democrática de uma solução federal por outro. É cada um de nós assumir as suas responsabilidades enquanto europeus e enquanto nacionais para podermos, em conjunto, termos mais credibilidade, mais exigência, mais disciplina e podermos, ao mesmo tempo, sermos mais solidários com aqueles que não podem, que por qualquer razão ficaram para trás e precisam da nossa ajuda e do nosso apoio para voltar a ter uma verdadeira oportunidade de serem realmente cidadãos plenos de uma Europa que é um dos espaços mais avançados do mundo.

[APLAUSOS]

Concluo, portanto, dizendo que não precisamos de recorrer a paradigmas extremos para fazer aquilo que nos compete. Da mesma maneira que quem se põe, como já se pôs no passado, a baixar impostos e a fazer aumentos salariais não suportados pelas economias, pelas empresas, pelos contribuintes, se vê depois obrigado depois à austeridade como os socialistas fizeram ainda em 2010, também não precisamos de ficar à espera do mundo perfeito para agir.

Para agir não precisamos, portanto, desses paradigmas extremos. Precisamos de conhecer a realidade, procurar escolher os melhores, colocá-los ao serviço dos outros para que todos possam melhorar. De modo a que a sociedade sempre acrescente àquilo que recebeu em cada geração.

Essa é a responsabilidade de qualquer político e ainda mais de qualquer estadista.

Espero que nesta sala depois desta semana estejam ambos em abundância: políticos e estadistas que possam aos seus cidadãos não ficar a discutir a espuma dos dias mas transmitir aquilo que é verdadeiramente importante para futuro. E o verdadeiramente importante não é termos pressa de regressar ao poder, ao governo, para nos desforrarmos para voltarmos a ser o que já fomos, isso não interessa nada. Uma vez disse e isso foi um tanto polémico: "que se lixem as eleições”. Disse, evidentemente, por palavras simples que me preocupava mais salvar o País do que salvar a minha pele ou os resultados eleitorais do meu partido nas eleições. Se as duas coisas forem conciliáveis, tanto melhor, mas se tiverem que escolher entre aquilo o que vos parece firmemente certo e um resultadozinho na eleição seguinte, escolham sempre aquilo que vos parece inteiramente certo.

[APLAUSOS]

De cada um de nós, portanto, ninguém espera ouvir "que se lixe o País, o que é preciso é salvar a pele”, pelo contrário, o que importa é o País e os portugueses. É isso, julgo eu, que o conjunto de valores desta Universidade de Verão que é consistente com a genética do PSD vos deve ter transmitido nesta semana de trabalho, de preparação, de disciplina e de exigência.

Temos de ser exigentes connosco próprios e com os outros para que valha a pena fazer a diferença.

Obrigado.

[APLAUSOS]