Bons dias a todos. Chegou a minha vez de
proceder ao encerramento desta sessão da Universidade de Verão da JSD, que ao
longo de toda esta semana marcou mais uma geração de quadros políticos, ou que
pelo menos tem a possibilidade de ser quadros políticos no seio da JSD e no
seio do PSD.
Cumprimento, já o fiz ontem, mas quero fazer
hoje de uma forma solene ao reitor desta universidade, o deputado Carlos
Coelho, com toda a sua equipa tão profissional por esta edição da Universidade
de Verão. E também por todas as edições que precedendo, foram ao longo destes
anos, proporcionando uma escolha mais informada e ao mesmo tempo mais formada
para todos aqueles que querem olhar para a ação política e dedicar o melhor de
si próprios a defender aquilo que na política, naquilo que ela tem de mais
nobre, na sua missão, pode representar para o futuro: Conseguir um mundo de
maior prosperidade, conceder que a liberdade não é algo que devemos
condescender, é um direito que devemos muitas vezes conquistar e fazer por
merecer em todos os dias da nossa participação cívica, cultural, económica e
política.
Essa talvez seja a melhor forma de
começar esta minha intervenção. Já antes de mim foram feitas várias observações
muito importantes e pertinentes sobre o que é a política, o que nos move e
porque é que aqui estamos.
Creio que cada um de vós não terá muita
dificuldade em responder à questão. Nós estamos na política da mesma forma que
os médicos estão na medicina, os enfermeiros na enfermagem, os engenheiros na
engenharia e por aí fora. Procuramos dar com o nosso contributo tudo o que está
ao nosso alcance para melhorar a felicidade, o bem-estar, a prosperidade - não
apenas individual, quando pensada de forma mais egoísta, mas coletiva quando
olhamos para a sociedade em geral.
Muitas vezes, as escolhas que temos de
fazer são conflituantes; muitas vezes, aquilo que pode parecer, ou mesmo ser,
(e por vezes no curto prazo) melhor do ponto de vista pessoal, individual,
egoísta, nem sempre é aquilo que interessa à maior parte das pessoas, ao
interesse geral e à coletividade.
Na política, para quem está na ação
partidária, mas também para quem como ser humano participa civicamente na
sociedade, muitas vezes é-se chamado para arbitrar este conflito. A que dar
mais prioridade? Àquilo que nos interessa no imediato a cada um de nós, ou
àquilo que do nosso ponto de vista pode ser mais justo e mais importante para a
generalidade das pessoas?
Julgo que ambas as decisões são
compreensíveis, mas aquelas que aprendemos a valorizar mais são as que são
menos egoístas e as que são mais solidárias. Aquelas que estão em primeira
linha orientadas para a preocupação com o bem geral, com a coletividade, com
aquilo que são os objetivos de uma nação, de um país, de uma sociedade.
É por isso que se exige dos políticos que
saibam fazer essa destrinça, que declarem os conflitos de interesses que
tenham, para que percebamos bem se eles procuram na sua retórica melhorar
apenas a sua situação individual ou dos seus, ou se realmente estão
interessados, de uma forma transparente, em melhorar a posição de todos os
outros.
Os bons profissionais em cada ramo de
atividade, como os bons políticos - creio eu e pelo menos é a essa a orientação
que tenho para mim próprio - são aqueles que se preocupam primordialmente com
os outros. Preocupando-se com eles, não se preocupam apenas com a satisfação
das necessidades imediatas mas sobretudo com o horizonte do futuro.
Numa universidade com esta característica
tão particular, que é a de ser constituída no essencial pela maior esperança
que uma sociedade pode ter, que são os jovens, nada me parece mais apropriado
do que dizer: são os jovens que, em primeira instância, não podem nunca abdicar
de questionar o poder, a sociedade e tudo o que pode relacionar-se com a sua
perspetiva de longo-prazo.
Porque não há longo-prazo sem juventude e
não há, do ponto de vista coletivo, um futuro para a nossa sociedade, se só o
curto-prazo, o imediatismo, o dia presente, orientarem as nossas decisões.
Quando na política, que tem uma
importância extraordinária no que se passa nas nossas sociedades, nos
preocupamos sucessivamente com o dia-a-dia, mesmo que pelas melhores razões,
perdemos a oportunidade de fazer aquilo que é importante para um horizonte de
futuro.
Vivemos, hoje, um mundo extremamente
exigente. Nesse mundo, as sociedades, os países, que não fazem as reformas
necessárias no tempo em que elas devem ser feitas, pagam sempre um preço muito
elevado no médio e no longo-prazo.
A minha preocupação - e estou certo que
também é a vossa preocupação - é que nós não fiquemos para trás enquanto país,
não estejamos a perder as oportunidades de fazer aquilo que é preciso, a pensar
justamente no futuro e não apenas em melhorar um bocadinho a situação presente.
Quando no passado, se procurou melhorar a
situação presente sem atender às consequências que isso poderia implicar para
futuro, o futuro revelou-se bastante mais difícil, a exigir muitos sacrifícios
e a retirar ao dia-a-dia de cada um, um horizonte de maior felicidade como era
de seu direito que não acontecesse.
Estamos a viver um tempo em que as
oportunidades de construir uma sociedade ainda mais próspera do que aquela que
herdámos, está de certa maneira em jogo.
Nós sabemos que vivemos num país que
apesar de tudo se insere entre sociedades e economias que são consideradas
avançadas. Quase a terminar a sua intervenção o Carlos Coelho projetou várias
imagens que dão conta de situação dramáticas que envolveram jovens e, portanto,
o futuro dos respetivos países, mostrando como vivemos em sociedades diferentes
e como o mundo apesar da globalização continua a ser particularmente injusto e
cruel para muitos jovens, muitas crianças, muito adultos e muitos idosos.
Reconhecendo, no entanto, que o mundo viu
nos últimos anos em várias partes do globo superar muitas destas situações, não
nos podemos conformar, apenas porque somos portugueses e isso não se passa
entre nós, com o drama da guerra da Síria, com os problemas graves que afetam
uma parte significativa do continente africano ainda hoje, e com o que hoje se
passa em muitos países do Oriente que não evoluíram tanto quanto outros que
viram salvar milhões e milhões de vidas de uma morte, ou de um destino que
ninguém desejaria para si próprio ou para os seus.
A nossa solidariedade, o nosso ativismo,
em defesa da melhoria destas condições globais, deve ser importante.
Mas não nos devemos esquecer, apesar de
tudo, o caminho que já fizemos e a sociedade que somos. Somos uma das
sociedades mais evoluídas do planeta, temos um rendimento por pessoa muito
acima daquele que a grande maioria das pessoas no mundo dispõem. No entanto, temos
noção que isso não é suficiente para assegurar a felicidade e o bem-estar a que
julgamos ter direito.
Digo isto, portanto, para dizer que se
por vezes nos parece extremamente relativo a forma como comparamos os
desenvolvimentos obtidos em cada sociedade e os resultados que são alcançados
em cada economia, isso não é uma desculpa para não ambicionarmos fazer
melhor, e ir além com as condições de
que dispomos.
Temos um Serviço Nacional de Saúde e um
sistema de educação, que são a par da Segurança Social e do Seguro Social, dos
mais avançados do mundo. Não digo que são o mais avançado, mas é dos mais
avançados do mundo. No entanto, somos das sociedades com maiores desigualdades
sociais e económicas.
[APLAUSOS]
Pergunta-se: como é isto possível? Então
se somos uma nação tão desenvolvida e evoluída, como é possível que exista,
quando comparados com outros países, níveis de desigualdades que outros não
têm?
Nós precisamos hoje de questionar muitas
das políticas que executámos ao longo de muitos anos.
Não para as deitar abaixo, porque como
digo, nós vivemos numa sociedade desenvolvida, mas porque podemos e devemos ter
uma sociedade bastante mais justa, ainda mais próspera, em que as desigualdades
que são geradas às vezes pelos próprios processos de crescimento possam ser
atenuadas e que seja conferido a cada um, uma oportunidade de escolha que não
deixe ninguém para trás e nos permita a cada um escolher o que é melhor para o
seu futuro.
[APLAUSOS]
É isso que desejamos na política.
Queremos, portanto, reafirmar que o primado da política é sempre a pessoa e a
sua dignidade.
Devemos encará-la com respeito e oferecer
a todos os cidadãos a garantia de que não estamos apenas a cumprir calendário e
a fazer o que é possível, estamos todos os dias a pensar no futuro da nossa
sociedade e em como não podemos desperdiçar as oportunidades para fazermos
muito melhor do que fizemos. Aprendendo com os erros do passado e acrescentando
horizonte para futuro.
Quando, como sociedade, nos descuidámos -
volto a dizê-lo -, pagámos um preço elevado. Não queremos voltar a pagar esse
preço e é por isso, com a experiência de já ter sido Primeiro-Ministro em
circunstâncias particularmente adversas - para não dizer as mais adversas de
que temos memória pelo menos desde 1974 -, que por vezes chamo à atenção para
riscos que estão a ser tomados e que não deviam estar a ser incorridos.
Quando chamo a atenção para esses riscos
é porque os resultados que vamos observando nos inspiram preocupação.
Nós - como já referi -, não queremos ser
cúmplices de uma situação em que o país tenha de passar por novos sacrifícios
apenas para satisfazer a ideia de subsistência, sobrevivência, política ou
partidária, seja de quem for.
[APLAUSOS]
Chamo à atenção, portanto, para que não
se venha a dar o caso que já ocorreu no passado, de aqueles que nunca quiseram
na sua autossuficiência reconhecer os erros que estão a cometer, repelindo as
críticas e chamadas de atenção, queiram depois responsabilizar aqueles que
tiveram a coragem de chamar a atenção para os erros para serem coautores das
decisões que se impõem na altura de compor o que foi descomposto.
[APLAUSOS]
Não venham, no futuro, aqueles que hoje
tomam as decisões vir a responsabilizar pelos resultados os que chamaram a
atenção para os erros que estavam a ser cometidos.
Espero que quem hoje tem a
responsabilidade de governar, governe a pensar no futuro. Mas governar a pensar
no futuro é - como disse há pouco - empreender reformas que permitam que o
nosso futuro possa realmente corrigir desigualdades e oferecer a cada um dos
portugueses a possibilidade de escolher melhor a sua vida, o seu modelo de
felicidade, aquilo que representa a sua forma de realização nesta vida.
Está este governo e a maioria que hoje
nos governa, a empreender essas reformas? Não creio. Creio, antes pelo
contrário, que esta solução de governo está esgotada.
É uma solução que se concentra no
curto-prazo, no imobilismo, em que manifestamente a dificuldade de encontrar
entendimentos entre a maioria para suportar as reformas que devem ser feitas,
ocasiona um status quo que não
acrescenta futuro e, pelo contrário, nos empurra para o passado.
Ora, é muito importante que o governe
arrepie caminho. Se queremos ter um futuro melhor precisamos de atender a
problemas importantes que ainda temos de resolver. Não vale a pena vir com o
espantalho da austeridade. A austeridade foi iniciada pelos socialistas em
2010. Façam o favor - hoje com Internet isso é fácil – de fazerem uma pequena
busca sobre o que se passou entre o verão e o outono de 2010. Consultem os
jornais da época, as notícias da época e vejam os cortes de benefícios, de
salários, os aumentos de impostos, a perda de prestações sociais, vejam uma
panóplia imensa de medidas que foram tomadas por um governo socialista para
fazer face ao descalabro da situação económica e financeira.
Nós fizemos um esforço tremendo nestes
anos para evitar que esse tipo de reação tivesse de se repetir. Deixemos,
portanto, o espantalho da austeridade que foi trazida pelos socialistas e que
nós tivemos de cumprir também, quando estivemos no governo, para voltar a dar
sustentabilidade às nossas contas públicas.
O que importa é o que precisamos de fazer
para crescer mais no futuro e para que esse crescimento esteja à disposição da
generalidade dos portugueses. É isso que interessa.
De que é que precisamos? De leis que
estejam hoje mais voltadas para proteger os direitos adquiridos, ou de leis que
estejam mais orientadas para responder às necessidades de quem ainda não entrou
no sistema, de quem ainda não beneficiou dos privilégios que foram distribuídos
no passado?
Se queremos ter futuro, temos de
perguntar a cada um dos instalados de hoje: quer pensar no seu dia-a-dia, ou
quer pensar no futuro dos seus filhos e dos seus netos?
[APLAUSOS]
Eu julgo que quando esta questão é
colocada de forma adequada a generalidade dos portugueses responde de uma forma
expectável. Diz sempre: sim, eu pessoalmente estou disponível para sacrificar
alguma coisa dos meus direitos, do que tenho hoje, para acrescentar aos meus
filhos ou aos meus netos. Porque essa é a condição normal de pessoas normais e
de seres normais. Porém, pela primeira vez, também em Portugal, estamos a
passar pela perspetiva de as novas gerações poderem ter menos de herança do que
aquilo que a geração precedente teve; de um filho ficar aquém do seu pai em
nível de bem-estar, de realização profissional, de escolhas livres que possa
fazer.
Quando é assim, quando os nossos filhos
não podem na prática, com realismo, ambicionar ter mais do que aquilo que nós
conseguimos alcançar, isso não nos deixa tranquilos, pelo contrário. Aquilo que
queremos ver é o que é ainda vamos a tempo de fazer para inverter essa
perspetiva de futuro. O que é que ainda podemos fazer, no nosso tempo, para
evitar que os nossos filhos estejam condenados a receber menos, ou a esperar
menos do futuro, do que nós conseguimos alcançar.
O que precisamos de fazer, portanto, para
sermos essa sociedade que acrescenta, ao contrário de diminuir, para o futuro?
Precisamos de olhar para as nossas condições objetivas, para a realidade e
atuar em função dela.
O PSD foi sempre um partido realista. Não
nos interessa fazer demagogia barata. O que é que interessa se formos chamados
a executar essas ideias e tivermos de fazer como os outros que andaram a dizer
que acabou a austeridade, mas agora não têm dinheiro para pagar aos
fornecedores da saúde, às associações e fundações da cultura?
[APLAUSOS]
De que é que isso interessa? Que prazer podemos
ter em engolir o que dissemos antes? Não temos nenhum interesse em ajudar a
cavar mais fundo nesse buraco imenso de descrédito em que muitas vezes se
coloca a política e os políticos como se fosse tudo igual. Não temos nenhum
interesse nisso.
Temos interesse, mesmo na oposição, em
dizer alguma coisa que possamos concretizar chegando ao governo. Então, quando
olhamos para aquilo que é preciso fazer temos de atender às nossas condições e,
portanto, temos de se r realistas naquilo que apresentamos aos portugueses.
Para se ser realista tem de se partir,
portanto, do que é observado. O Partido Socialista, há pouco mais de um ano,
disse acerca da economia portuguesa - porque eles sabiam, tinham evidentemente
esse segredo - que sabiam como pô-la a crescer muito mais, tinham uma
estratégia para esse efeito, iam repor os rendimentos mais depressa do que nós
estávamos a fazer e isso iria impulsionar o consumo interno. E esse consumo
interno iria fazer a economia mexer mais, as empresas iriam produzir mais, todos
ficaríamos a ganhar. Mas os resultados não mostram isso, pelo contrário.
Apesar de o governo estar realmente a
devolver rendimentos a um ritmo acelerado, afinal o consumo não está a crescer
o que se esperava, mas pelo contrário, o investimento está a cair a pique.
Lembram-se dos socialistas nos acusarem
de estarmos a pôr em causa o futuro porque não tínhamos despesa de investimento
público, que promove o crescimento no longo-prazo. Pois bem, eles gastam ainda
menos em despesa de investimento. Essa tem sido mesmo a principal variável de
ajustamento orçamental; imaginem, os socialistas preocupados com ajustamento
orçamental e não deixam gastar dinheiro nem nas infraestruturas de Portugal,
nem em outras empresas públicas!
[APLAUSOS]
Não lhes transferem o dinheiro que nós
lhes transferíamos porque não têm. Porque não têm! Resultado: a economia está a
crescer muito menos do que no ano passado e estamos a regressar ao ritmo de
2014, o que não é bom, porque esse foi o primeiro ano em que começámos a
crescer anualmente depois da crise. Portanto, andar em direção a 2014 não é um
bom indicador.
Se no final deste ano, as coisas
estiverem de acordo com os resultados que observamos hoje, a economia também
não poderá crescer muito mais.
Qual será então a boa estratégia? Creio
que aquela que já tinha mostrado que funcionava. Porque nós, em 2014, crescemos
0,9%, em 2015 crescemos 1,5% e era nosso propósito que em 2016 continuássemos o
caminho reformista que estávamos a prosseguir e conseguíssemos reforçar a confiança
que pudesse atrair o investimento que traria novos empregos, novas empresas e,
portanto, mais rendimento produtivo.
Os socialistas não o conseguem atrair e
eu percebo. É muito difícil aos investidores privados arriscarem o seu
investimento numa economia e num país que é governado por ideias comunistas,
bloquistas, que são antimercado.
Como dizer aos agentes de mercado,
confiem em quem desconfia de vós? É muito difícil e é por isso que esta solução
está condenada ao fiasco e ao fracasso. Porquê? Porque não tem capacidade
reformadora. Se tiverem de reformar alguma coisa desentendem-se todos, não há
apoio para o fazer; só há apoio para desfazer as reformas que nós fizemos no
passado e andar para trás, portanto, e para gerir o dia-a-dia.
Até podem cá estar quatro anos, mas não
conseguirão com isso gerar um grama de expectativa positiva sobre o futuro.
[APLAUSOS]
Nós precisamos, portanto, de fazer as
reformas que são conhecidas. As que fizemos tinham de ser reavaliadas e uma
nova fornada deveria estar a caminho. Reformas a pensar na saúde, na educação e
na Segurança Social e no sistema de pensões. Reformas nas pensões, que
permitissem que as pessoas adquirissem confiança no Estado social.
Para não acontecer o que ocorreu no
passado, com pensões cortadas, menos rendimentos, em quem já não tem
possibilidades de obter outras fontes de rendimento.
Na educação, reformas orientadas para um
ensino exigente, qualificado - sem qualificação e sem exigência, ninguém está
verdadeiramente preparado para fazer melhor e competir num mundo global. O
mesmo na saúde, pagando a horas e tendo a certeza que de acordo com os nossos
recursos não faltam recursos na saúde para que todos possam ser atendidos no
serviço público. Ou se isso não for possível, noutros serviços, noutras
ofertas, nomeadamente da economia social por exemplo, protocoladas pelo Estado,
de acordo com as escolhas que as próprias pessoas possam fazer pelos melhores
serviços que pudessem obter.
Queremos, portanto, um Estado social que
funcione melhor para todos e não que acumule dívidas e desculpas de mau
pagador.
Mas queremos também, que a nossa economia
possa gerar emprego sustentável. Não o emprego que se está a ver agora. Parte
do emprego novo que é gerado é positivo e é importante que esteja a ser gerado
mais emprego do que aquilo que era previsto, mas depois não nos pode escapar
que uma parte significativo desse emprego é não-remunerado.
Imaginem o que dizia o Bloco de Esquerda
sobre o voluntariado nas associações sem fins lucrativos, nas instituições de
solidariedade social, que na altura apelidavam de subemprego, desemprego
encapotado, e agora o que é o emprego não-remunerado?
[APLAUSOS]
Para ter essa economia, precisamos
portanto de mostrar que Portugal não está fechado sobre si próprio, olha para o
exterior, olha para o que de melhor se faz em qualquer parte do mundo e
pretende, nas nossas condições, que empreendedores e investidores possam olhar
para Portugal como um mundo de oportunidades.
Não a olhar para o nosso mercado interno,
porque ele é muito pequenino e somos poucos a consumir em Portugal. Ninguém irá
investir com certeza em Portugal a pensar estritamente no nosso mercado, mas a
pensar naquilo que a partir de Portugal se pode fazer para todo o mundo, para
que as nossas exportações possam voltar a crescer e não a diminuir como já
aconteceu com o novo governo.
Para que a nossa balança comercial possa
continuar a melhorar. Quanto mais dinheiro puder entrar em Portugal pelos bens
e serviços que produzimos e prestamos, mais emprego e mais rendimento ficará
para os portugueses.
[APLAUSOS]
E se olharmos para o mundo, as nossas
possibilidades são quase ilimitadas. Porquê olhar para o pequeno mundo do nosso
pequeno mercado?
Mas para isso não podemos ser
protecionistas, não podemos andar a discriminar os investidores. Para isso, não
podemos dividi-los entre filhos e enteados. Para isso, temos de agir com
transparência. Para isso, no Estado temos de distinguir muito bem o que é o
comportamento orientado pelo interesse geral daquilo que é o comportamento a pensar
naqueles que nos são mais próximos. Tudo diferente do que se está a passar.
Dirão assim: bom, mas realmente está ao
nosso alcance ter esse país mais moderno, mais aberto, em que os nossos
impostos sejam bem aplicados nos setores sociais, em que cada um possa escolher
melhor em função das oportunidades, porque a igualdade de oportunidades à
partida será melhor realizada? Se Portugal é um bom destino para atrair
investimento estrangeiro, para atrair empreendedores do outras partes do mundo,
como se verificou com a Web Summit que foi transferida da Irlanda para Portugal ainda eu era Primeiro-Ministro de
Portugal, se é assim, porque é que este governo não faz? Estará mal
intencionado?
Deixem-me usar a expressão que há pouco
foi utilizada pelo Presidente da JSD: "Não se trata disso”. Não fazemos
acusações dessa natureza aos nossos concorrentes ou aos nossos adversários. Não
lhes fazemos ataques pessoais, não dizemos que eles são mal-intencionados, que
querem o mal seja para quem for. É verdade que às vezes parece que poderia ser
justo que eles provassem do seu próprio veneno, porque muitas vezes eles
fizeram-nos isso no passado.
Fizeram-nos acusações de natureza
pessoal, que não deveriam estar - é verdade, caro Presidente da JSD - no debate
político. Nós não replicamos essa retórica, mas queremos dizer que "de boas
intenções está o inferno cheio”. Não são apenas as boas intenções que contam,
eu prefiro alguém bem-intencionado do que a alguém mal-intencionado, com
certeza e no meu secreto julgamento para mim próprio tendo-me a aproximar-me
mais daqueles que julgo estarem bem-intencionados, do que relativamente a
outros sobre os quais eu possa ter dúvidas. Mas a questão não é essa, não basta
ser bem-intencionado, é preciso pôr em prática alguma coisa que esteja em
acordo com esse conjunto de valores que defendemos e é aqui que nos
distinguimos.
Muitos têm proclamado realidades que não
existem. Esses sim, vivem em mundos ilusórios e nessa medida as ilusões que
semeiam, não tendo sustentabilidade na realidade, só semeiam o fiasco e o
fracasso.
O que nós queremos é realmente sermos
bem-sucedidos como já estávamos a ser no passado. Isso está ao nosso alcance se
soubermos tirar partido de boas oportunidades daquilo que é a nossa inserção no
espaço europeu e daquilo que são as oportunidades que o mundo global nos
oferece.
Deixem-me dizer uma última coisa sobre o
espaço europeu que partilhamos. Durante a Universidade de Verão, li nas
notícias, que foi aqui dito que há um risco de recrudescimento do populismo, da
demagogia, do radicalismo de direita e de esquerda à medida que o projeto
europeu para muitos cidadãos europeus se distancia daquilo que era o seu
objetivo.
É verdade, hoje a Europa cresce menos do
que devia. Tal como Portugal, está a ficar mais velha, com menos jovens do que
devia ter, com menos dinamismo do que aquele que é necessário para sustentar o
nosso Estado social, a nossa realização social. E a crise dos últimos anos
fragmentou mais a Europa.
Para quem olha para o futuro e gostaria
de ter uma Europa mais coesa como nós gostaríamos, não pode deixar de ficar
preocupado por ver que certos nacionalismos estão novamente a enraizar-se e a
tomar voz. E no centro moderado começam a aparecer políticos que, em desespero,
com medo do que esses radicalismos de esquerda ou de direita possam promover,
substituem o seu discurso moderado, realista, por outro mais radical, com medo
de deixar a demagogia e o radicalismo triunfarem à sua esquerda ou à sua
direita.
Julgo que no PSD essas tentações não
existem. Temo-las observado noutros partidos. Em Portugal, em Espanha, em
Itália, em vários outros países europeus aparecem pessoas que tradicionalmente
considerávamos moderadas a dizer coisas que estamos mais habituados a ouvir em
personalidades mais extremistas e radicais.
Fazem-no - como eu dizia - para evitar o
crescimento do radicalismo, mas quem diz aquilo em que não acredita, por
conveniência tática, quem se quer apresentar como não é para impedir o
radicalismo, acaba sempre por morrer às mãos do radicalismo e da demagogia.
[APLAUSOS]
Nós, hoje, vivemos tempos desafiantes na
Europa. A Europa não será a mesma depois do Reino Unido sair, não terá a mesma
importância política, não terá a mesma capacidade para se defender. E a defesa,
mesmo a defesa militar, é importante na Europa que tem visto ameaças reais.
Algumas delas bem à sua porta. Já aconteceu no séc. XX algumas vezes, não
gostaríamos que isso voltasse a acontecer.
A União Europeia sem o Reino Unido vale
menos. Há quem esteja só preocupado com o impacto económico. Eu também estou
preocupado com o impacto político. Seremos mais fracos, teremos mais
dificuldades em defendermo-nos, ficará registado pela primeira vez que alguém
quer sair de um processo em que até aqui todos queriam entrar. Se estes querem
sair, outros quererão sair também.
O que está a correr mal? O que podemos
fazer de diferente? Normalmente, aparecem duas visões, quase antagónicas. Uma
mais radical: devemos sair também, já ninguém acredita na Europa, ela não tem
salvação, é a fonte do nosso mal e se hoje estamos mal é porque a Europa não
nos deixa estar bem. Não é verdade !
Para aqueles que tinham dúvidas sobre o
mal que é estar no Euro e na União Europeia, vejam o que se passou na Grécia e
com o Primeiro-Ministro Tsipras. Quando faltou o dinheiro na caixa multibanco,
Tsipras assinou o terceiro resgate, porque sabia que saindo da Europa e do
Euro, o que esperava aos gregos e à Grécia era o caos, a anarquia e o desastre.
Nem Tsipras desejava, evidentemente, gerir o caos, a anarquia e o desastre.
Se a Grécia não saiu do Euro e da União
Europeia por essa razão, pela mão de uma força política como o Syriza, então eu
creio que não vale a pena estarmos a perder mais tempo sobre esse radicalismo
que é pensar que a Europa é fonte de todos os problemas. Quando a Europa tem
sido, ao longo de todos estes anos, um projeto de paz e prosperidade que pode
ser melhor aproveitado, mas que não é a fonte do nosso mal.
[APLAUSOS]
Não podemos fazer aqui nenhuma concessão.
Mas depois, no outro extremo, aparecem aqueles que dizem que a Europa só tem
futuro se for uma federação, se tiver um governo europeu, um orçamento europeu
e evidentemente se os países ricos pagarem as dívidas dos países pobres, porque
sem essa situação que se chama de mutualização pública, não conseguiremos
sobreviver.
Não acredito nesta visão maximalista.
Disse-o no congresso do PSD neste ano e reafirmo-o hoje: a Europa pode melhorar
dentro de um quadro de reforço de responsabilidades nacionais e dentro de uma
partilha solidária e, em particular, na zona Euro, de responsabilidades
europeias.
Nós precisamos que a União Bancária seja
uma realidade mais depressa e uma realidade mais verdadeira. Não está a ser.
Nós precisávamos de ter uma verdadeira união de mercados financeiros. Para quê?
Para que os investidores pudessem investir em qualquer país independentemente
da geografia.
Que não fossem penalizados pela
geografia: "porque tu és da Europa do Sul”, ou "porque tu és da Europa do
Norte”. Lamento muito que ainda existam responsáveis políticos e até personalidades
que chefiam governos que vejam a Europa dessa maneira: "a Europa do Sul tem de
se organizar para bater o pé à Europa do Norte”. Não é fazendo estas divisões
que a Europa vai progredir.
[APLAUSOS]
Nós precisamos que a Europa seja
realmente para as empresas, para os trabalhadores, aquilo que é para os
estudantes que sabem que podem circular nas universidades europeias, fazendo
Erasmus. Assim nós queríamos que fosse com os profissionais. Assim queríamos
que fosse na área da energia, assim queríamos que fosse na área do digital, na
área das comunicações. Porque é que havemos de nos estar a fragmentar a
voltarmos as costas uns para os outros, quando podemos em conjunto viver
melhor, prosperar mais?
Mas nada substitui a responsabilidade de
cada Estado. Portugal não tem de se dissolver na Europa, para ter futuro e para
a Europa ser bem-sucedida. Pelo contrário, a Europa será tão mais bem-sucedida
quando cada país souber ser responsável, souber fazer as reformas que precisa e
não andar sempre com desculpas de mau pagador e não andar demagogicamente a
sacudir a água do capote.
[APLAUSOS]
Cada um de nós, sobretudo os que
partilham a mesma moeda, viveriam melhor se estas instituições que são comuns
funcionassem melhor a pensar realmente não nos portugueses, nos espanhóis, nos
italianos, mas em todos nós. A solução para a Europa, portanto, não é o caos da
desorganização de um lado, ou a imposição não-democrática de uma solução
federal por outro. É cada um de nós assumir as suas responsabilidades enquanto
europeus e enquanto nacionais para podermos, em conjunto, termos mais
credibilidade, mais exigência, mais disciplina e podermos, ao mesmo tempo,
sermos mais solidários com aqueles que não podem, que por qualquer razão
ficaram para trás e precisam da nossa ajuda e do nosso apoio para voltar a ter
uma verdadeira oportunidade de serem realmente cidadãos plenos de uma Europa
que é um dos espaços mais avançados do mundo.
[APLAUSOS]
Concluo, portanto, dizendo que não
precisamos de recorrer a paradigmas extremos para fazer aquilo que nos compete.
Da mesma maneira que quem se põe, como já se pôs no passado, a baixar impostos
e a fazer aumentos salariais não suportados pelas economias, pelas empresas,
pelos contribuintes, se vê depois obrigado depois à austeridade como os
socialistas fizeram ainda em 2010, também não precisamos de ficar à espera do
mundo perfeito para agir.
Para agir não precisamos, portanto,
desses paradigmas extremos. Precisamos de conhecer a realidade, procurar
escolher os melhores, colocá-los ao serviço dos outros para que todos possam
melhorar. De modo a que a sociedade sempre acrescente àquilo que recebeu em
cada geração.
Essa é a responsabilidade de qualquer
político e ainda mais de qualquer estadista.
Espero que nesta sala depois desta semana
estejam ambos em abundância: políticos e estadistas que possam aos seus
cidadãos não ficar a discutir a espuma dos dias mas transmitir aquilo que é
verdadeiramente importante para futuro. E o verdadeiramente importante não é
termos pressa de regressar ao poder, ao governo, para nos desforrarmos para
voltarmos a ser o que já fomos, isso não interessa nada. Uma vez disse e isso
foi um tanto polémico: "que se lixem as eleições”. Disse, evidentemente, por
palavras simples que me preocupava mais salvar o País do que salvar a minha
pele ou os resultados eleitorais do meu partido nas eleições. Se as duas coisas
forem conciliáveis, tanto melhor, mas se tiverem que escolher entre aquilo o
que vos parece firmemente certo e um resultadozinho na eleição seguinte, escolham
sempre aquilo que vos parece inteiramente certo.
[APLAUSOS]
De cada um de nós, portanto, ninguém
espera ouvir "que se lixe o País, o que é preciso é salvar a pele”, pelo
contrário, o que importa é o País e os portugueses. É isso, julgo eu, que o conjunto
de valores desta Universidade de Verão que é consistente com a genética do PSD
vos deve ter transmitido nesta semana de trabalho, de preparação, de disciplina
e de exigência.
Temos de ser exigentes connosco próprios
e com os outros para que valha a pena fazer a diferença.
Obrigado.
[APLAUSOS]